[Romance LGBTQ+] AMOR DE PESO - 01X12 - Parintins, a terra dos bumbás

Pai e mãe,

Eu não sei qual é o problema do Richard. Sério, às vezes, acho que ele deve ter caído de cabeça no chão quando era um bebê. A gente tenteou reparar toda a confusão, ainda bem.

Acordei ainda na madrugada e fui ao banheiro fazer xixi. Nossa, tive que desviar de todas as redes, não queria acordar ninguém. Fiz o meu serviço, e voltei para a minha cama, ou melhor, rede. Acordei com um toque no meu rosto, era o Zedu, o garoto mais lindo de todos. Ele havia acordado cedo, e me chamou quando o café da manhã saiu. Fiquei deitado alguns minutos, e acabei criando coragem.

Ramona: - Bom dia.

Yuri: (levantando da rede) – Bom dia.

Ramona: - Nossa, não dormiu bem?

Yuri: - Não. Ainda não me acostumei.

Giovanna: (aparecendo com o cabelo todo bagunçado)

Zedu: - O que aconteceu?

Giovanna: - Aparentemente, a água do Rio Negro não curte o meu cabelo. Vou fazer chapinha.

Richard era loiro, olhos verdes e com maçãs do rosto rosadas, calma, não se engane, meu irmão era um garoto muito bonito e faria sucesso quando crescesse, mas seu comportamento era completamente estranho. Ele levou um sermão de duas horas, eu disse, duas horas da tia Olívia. Ela estava cuidando do Richard com olhos de água. A gente até cogitou amarrar o meu irmão na cadeira. Por sorte, Carlos não deixou, odeio pessoas sensatas. Meu irmãozinho ficava muito impaciente quando era proibido de fazer alguma coisa.

Richard: - Vai demorar muito?

Carlos: - Um pouco. Você mudou a rota do barco.

Richard: - Será que a Serafina tá bem?

Carlos: - Onde você arrumou aquela cobra?

Richard: (rindo) – Você tem medo de cobra, né?

Carlos: - Garoto. Você é estranho. Já terminou o teu café?

Richard: - Sim. (saindo da cadeira e indo até a rede) – Tia.

Olivia: - (olhando alguns papéis) – Oi?

Richard: - Podemos adotar um boi?

Olivia: - Como é?

Richard: - Vi que a festa de Parintins é simbolizada por dois bois. Eu quero um.

Olivia: - Claro que não. Vai brincar. Ah, e sem acolher animais peçonhentos, mudar nossa rota ou colocar fogo no barco.

Richard: (saindo)

Giovanna: - Essa cidade não chega mais? Meu repelente está acabando e...

Yuri: - Para de reclamar. A tia já está estressada.

Giovanna: - Não tenho culpa. Não queria estar aqui. Sou tão vitima quanto ela. Deixa eu dar um jeito nesse cabelo. (saindo)

Zedu: - A rainha do drama atacou de novo?

Yuri: - Sempre.

Zedu: - O pessoal está falando que vamos chegar em duas horas.

Yuri: - Graças a Deus. Adorei viajar de barco, mas dois dias são demais.

Juarez: - Bom dia, crianças.

(ninguém dando bola para Juarez que ficou vermelho de raiva)

Juarez: - Bom dia!

Yuri: - Ah, bom dia.

Zedu: - Bom dia cara.

Ramona, Brutus e Letícia: - Bom dia.

Juarez: - Que alegria, hein?

Letícia: - Ficar tanto tempo em um barco não é de Deus.

Juarez: - Pensei que vocês fossem acostumados?

Ramona: - Como assim?

Juarez: - Vocês não são acostumados a pegar carona em barcos? (saindo sem dar tchau)

Brutus: - Não gostei dele.

Ramona: - Hum. Eu nem ligo, depois dessa viagem a gente nunca mais vai ver a face dele.

Letícia: - Face?

Decidi deitar na rede e ouvir música, o Zedu chegou um tempo depois e deitou comigo, nos olhamos e rimos, sem motivo aparente. Era aquilo que eu amava nele, a gente se entendia, até por demais. Fiquei fazendo carinho no cabelo dele. Ele pegou o lado esquerdo do fone e colocou no ouvido. A música que estava tocando era uma das minhas favoritas "Don't Look Back In Anger', do Oasis.

Zedu: - Você já ouviu essa música quantas vezes?

Yuri: - É um clássico do rock, Zedu. Precisa ser ouvido quantas vezes for necessário. Não se pode medir uma música dessa...

Zedu: - Só tenho uma dúvida?

Yuri: - Qual?

Zedu: - Quem é essa tal de Sally. (rindo)

Yuri: (beijando Zedu)

"

Então Sally pode esperar

Ela sabe que é tarde demais

Enquanto ela está caminhando por aí

A minha alma desliza

Mas não olhe para trás com rancor!

Não olhe para trás com rancor!

Ouvi você dizer", Oasis

Finalmente, o barco chegou em Parintins, fiquei surpreso com a movimentação em frente a cidade. Saltaram até fogos de artifício quando a gente chegou. A Giovanna se sentiu uma celebridade, isso foi o que ela disse depois. A minha tia avisou a todos que ventiladores seriam instalados no barco, afinal, a gente dormiria lá. Um guarda também faria a segurança, e só quem tivesse a pulseira poderia entrar. O porto era uma bagunça, pessoas para todos os lados. Vários barcos ficaram na mesma situação que a nossa, eu realmente gostaria de ir para um hotel, mas a titia queria mostrar apoio ao grupo de dança.

Olivia: - Então, essas são as regras. Meninos da dança, acho que vocês vão ficar aqui também.

Juarez: - Eu vou dormir na casa de uns parentes. Vejo vocês depois. (saindo)

Ramona: - Não consigo engolir esse menino.

Letícia: - Deixa ele. Vamos explorar a cidade.

Mundico: - Vocês querem que eu seja o guia de vocês?

Yuri: - Claro. Pode sim.

Mundico: - Vou só calçar meu tênis. (saindo)

Yuri: - Tia Olívia. Nós vamos explorar a cidade.

Olivia: - Tomem cuidado. E lembrem do caminho do Porto. Ah, e levem seus irmãos.

Yuri: - Tia, mas...

Olivia: - Sem desculpas. Leve eles.

Zedu: (rindo da situação)

Yuri: - Não ri.

Brutus: - Estou pronto. Vamos?

Yuri: - Estamos esperando o Mundico. Ele conhece a cidade.

Zedu: - Tudo é o Mundico. (resmungando)

Brutus: - Tá com ciúmes? (rindo de Zedu)

Zedu: - Ciúmes? Eu? Jamais.

Mundico: (chegando sem avisar) - Vamos?

Mundico realmente conhecia a cidade. Registrei todo o passeio, nunca tirei tantas fotos bonitas, a cidade era pequena, mas tinha um grande charme. Decidimos almoçar no Centro da cidade, nem preciso dizer que a comida estava deliciosa. Entramos numa rua, onde tudo era azul. O Mundico explicou que a cidade era dívida entre o Garantido, o boi vermelho, e o Caprichoso, o boi azul.

Yuri: - Então, essa parte da cidade é toda azul?

Giovanna: - Eu não moraria aqui. O azul não me cai bem.

Zedu: - Estamos perto da Escolinha do Caprichoso, né?

Richard: - O Boi tem uma escola?

Mundico: - Escolinha do Caprichoso é um lugar onde a diretoria do Caprichoso ensina arte para as crianças.

Yuri: - Entendi.

Ramona: - Será que podemos ir lá?

Mundico: - Bem, eu já dancei no Caprichoso, conheço uma das instrutoras da escola. Vocês querem ir lá?

Letícia: - Eu gostaria.

Brutus: - Eu tô dentro.

Escola de Arte Irmão Miguel de Pascale, esse era o nome oficial da Escolhinha do Caprichoso. A gente chegou e foi bem recebido, o Mundico fazia parte do corpo de dança do Boi Caprichoso. Ficamos encantados com o espaço, e chegamos na hora em que os itens mirins iam fazer uma apresentação.

Giovanna: - Acho que já podemos ir, né? Não quero ver...

A apresentação começou, e a minha irmã ficou completamente apaixonada, principalmente pela sinhazinha mirim. Era uma menina da idade dela que dançava. Era realmente muito bonito ver aquelas crianças se apresentando. Uma moça veio falar conosco, e perguntou se a gente queria fazer parte da apresentação.

Hélida: - Mundico. Tudo bem? São seus amigos.

Mundico: - Sim. Eles são de Manaus.

Hélida: - Hum. Estão gostando da cidade?

Todos: - Sim!

Hélida: - Que ótimo. Gente, eu vi vocês e queria fazer uma proposta....

Zedu: - Qual?

Hélida: - Estamos precisando de pessoas para compor uma das alegorias. Será que vocês gostariam de participar?

Ramona: - Claro.

Brutus: - Nem precisa perguntar duas vezes.

Letícia: - Sim.

Zedu: - Eu quero.

Giovanna: - Sim. Vou brilhar!

Yuri: - Eu não sei... acho que não.

(Todos olham para o Yuri)

Yuri: - Mas se vocês quiserem não tem problema. Eu só não gosto. (rindo sem graça)

Hélida: (entregando um crachá para todos) – Bem. Esse crachá dá acesso ao bumbódromo. Vocês precisam estar lá, amanhã, às 18h em ponto. (entregando um cartão para Zedu) – Me mandem um whatsapp.

Zedu: (olhando o cartão) – Obrigado.

Hélida: - Eu que agradeço. Com licença. (saindo)

A gente. Saindo em uma alegoria do Festival de Parintins? Meu Deus. E agora? O que vou fazer? O Zedu notou a minha preocupação, enquanto voltávamos para o barco, ele pegou no meu ombro, e disse algo que quase faz eu me derreter.

Zedu: - Você está bem, bebê?

Yuri: (ficando vermelho e soltando um riso sem graça) – Eu tô.

Zedu: - Não parece. Tem algo te preocupando?

Yuri: - Não. Está tudo bem. De verdade.

Zedu: - Eu não vou cansar de dizer como tú é lindo, você mudou tanto a minha vida, e pra melhor, claro. Não deveria se preocupar com a opinião dos outros. Você deve se divertir.

Yuri: - Obrigado. (abraçando Zedu)

Naquela noite não parava de pensar no convite de Hélida. Até a minha tia achou bacana a ideia e deu permissão para os meus amigos. Que droga, hein. A gente não podia só assistir ao festival? No dia seguinte, acordei com os gritos de algumas dançarinas, levantei assustado e todos corriam dentro do barco. As malas espalhadas pela embarcação me deixou assustado, comecei a andar e esbarrei com uma dançarina, ela parecia ter sido atacada por algum tipo de animal.

Yuri: (segurando uma garota) – O que aconteceu?

Garota: - O diabo. Ele tá solto no barco. (desmaiando)

Yuri: - Deus. Que diabo. (deixando a menina no chão)

Encontrei minhas amigas em cima das mesas do barco, e o Brutus e Zedu, correndo atrás de alguns bichos. Eles estavam tendo dificuldades, a cena era engraçada e confusa ao mesmo tempo. O animal era feio, parecia um rato careca e muito grande, meu coração disparou na hora. Zedu conseguiu chutar um que caiu fora do barco na água. Brutus não teve muita sorte, o animal, subiu nele e no desespero, o meu amigo, pegou o animal pela cauda e o jogou longe.

Ramona: - Yuri. Cuidado. Eles estão soltos.

Yuri: - Quem?

Mucura: (passa entre as pernas de Yuri)

Yuri: - Ahhh!

Giovanna: (passa correndo com uma mucura na cabeça) – O cabelo não, o cabelo não! (caindo do barco, dentro d'água)

Yuri: - Giovanna. (correndo e pulando na água)

A água estava quente, uma mucura passou nadando do meu lado, eu gelei na hora, imaginei os outros animais que podiam estar ali. A Giovanna se segurava em uma boia do barco. Ajudei a minha irmã, e subi novamente no barco. A minha tia chegou e não entendeu a movimentação. Todo mundo começou a falar junto, e quase ficou impossível de entender o que realmente havia acontecido no barco.

Olivia: - Calma. Um por vez.

Ramona: - O grupo de dança saiu cedo para o ensaio, tipo, muito cedo. E depois algumas meninas voltaram para tomar banho, e abriram a porta do banheiro... e...e.. várias mucuras saíram correndo e começaram a nos atacar.

Olivia: - E você não ouviu nada? (olhando para Yuri)

Giovanna: (enxugando os cabelos) – Esse aí não houve nem um terremoto quando está dormindo.

Yuri: - Te salvei, sua má agradecida.

Zedu: - Achei melhor não o acordar. Ele odeia qualquer tipo de animal.

Giovanna: - Ah, claro. Enquanto eu sou atacada. Olha, titia... (fingindo um choro que nem ela mesmo acreditou) – Meu cabelinho. Tá acabado.

(todos riem discretamente)

Richard: (tentando sair da área, e Olivia, o pega pela orelha)

Olivia: - Venha cá. Onde você estava de manhã cedo?

Richard: - Dormindo. Eu juro. (fazendo uma careta engraçada)

Olivia: - Richard. Não faz eu ficar zangada.

Richard: - Elas estavam perdidas titia. Eu precisava ajudá-las.

Olivia: - Meu amor, as mucuras são perigosas. Elas podem passar doenças.

Richard: - Elas são fofinhas titia. (tirando uma mucura pequena do bolso)

Olivia: (se espanta com o animal)

Mucura: (olha para Giovanna e a ataca)

Giovanna: (sai correndo de um lado para o outro) – No cabelo não!!!!!

Aquele início de manhã foi agitado. Demos mais uma volta pela cidade, o lugar estava completamente lotado. Eram pessoas de todas as nacionalidades. Ouvi pessoas falando em português, espanhol, inglês, e até japonês. Fomos assistir ao ensaio do grupo de dança, eles levavam a sério, graças a Deus, que o enjoado do Juarez parecia muito ocupado para jogar alguma indireta.

Ramona: - Quer dizer que você dançava assim, era? (pegando no ombro de Zedu)

Brutus: - Com direito a sunguinha e penugem?

Zedu: - Não enche. (rindo)

Euclides: - José Eduardo? Não acredito.

Zedu: - Seu Euclides. (levantando e abraçando o homem) – Quanto tempo.

Euclides: - Eu que o diga. Você sumiu rapaz. Tinha um futuro tão promissor.

Zedu: - Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Tive que fazer escolhas.

Euclides: - Sei bem como. (olhando em volta) – São seus amigos?

Zedu: - Sim. (apontando) – Esses são Brutus, Letícia, Ramona e Yuri.

Todos: (acenando)

Euclides: - Saibam que o amigo de vocês foi um grande dançarino de boi.

Yuri: - Olha só. Um dançarino reconhecido.

Zedu: - Não é para tanto.

Euclides: - Eu soube o que aconteceu com você. O jacaré comeu seu pé. (rindo)

Zedu: - Sim. Eu me perdi na floresta. Mas tudo acabou bem. Fiquei apenas com um arranhão no pé.

Euclides: - Fico feliz.

Verdade. A recuperação do Zedu foi muito rápida, e os médicos fizeram um ótimo trabalho. Quase não dá para ver a cicatriz, ficou parecendo um arranhão. Euclides falava com muita empolgação do Zedu dançarino, chegava até a ser engraçado. Ele pegou o celular e começou a mostrar várias fotos do meu namorado. O meu namorado, de sunguinha e cocar na cabeça, uau. Olhei para ele que ficou vermelho de tanta vergonha. Imagina quantas pessoas não desejavam estar no meu lugar?

Yuri: - Você tá lindo nessa foto.

Zedu: - Para.

Brutus: - Ah, é assim que você fica de sunguinha e penugem. (rindo)

Letícia: - Zedu. Parabéns. (batendo palmas lentamente) – Que corpo meu amigo.

Ramona: - Não ri muito, Brutus. Você vai ficar assim no dia do festival.

Brutus: - Mas eu sou mais bonito que o Zedu, então... estarei à vontade. (passando a mão na cabeça)

Euclides: - Beleza não é tudo. É preciso ter talento. E o José Eduardo é mais bonito que você.

Yuri: - Nisso eu tenho que concordar.

Brutus: - O que é isso? É o Clube do Zedu? Até onde sei, não me inscrevi para nada. (parecendo emburrado)

O Richard estava de castigo absoluto. A minha tia o deixou deitado em uma rede, ele só poderia sair dali se fosse uma emergência. O meu irmão ficou olhando para o teto, bufando. Ele começa a ouvir umas crianças brincando no barco ao lado. Richard levantou e observou a brincadeira durante alguns minutos. Uma das crianças, a pequena Alana tinha uma personalidade parecida com a do meu irmão. Eles se deram bem logo de cara.

Alana: - Ei, garoto. Vem brincar. (olhando para o Richard)

Richard: - Não posso.

Alana: - Porque?

Richard: - Enchi o barco de Mucura. Estou de castigo.

Alana: - Puxa. Tudo bem. (pulando na água e nadando)

Richard: - Droga.

Eu e Zedu conseguimos escapar dos nossos amigos e seguimos para um restaurante. A gente pediu a comida e ficamos imitando alguns personagens que gostamos. Estar com o Zedu era maravilhoso, ele me entendia, sabia todos os meus gostos. Apesar de fingir, eu queria realmente que ele me pedisse em namoro.

Zedu: - Você está distante.

Yuri: - Eu? Desculpa. Ainda tô pensando nas mucuras. Aqueles bichos são horrorosos.

Zedu: - O teu irmão é uma figura. Quase mijei de rir. Ele sempre foi assim?

Yuri: - Sempre. Ele tem uma imaginação muito fértil. O que me deixa preocupado muitas vezes.

Zedu: - Ele é inteligente, apesar da hiperatividade. (pegando na mão de Yuri) – Engraçado, né?

Yuri: - O quê? (apertando a mão de Zedu)

Zedu: - A vida. Como as coisas funcionam. Você vindo para o Norte, se mudando para o meu bairro, praticamente ao lado da minha casa, invadindo a minha vida e mudando meus conceitos.

Yuri: - Você mudou muitas coisas em mim também.

Zedu: - Não esqueço o dia que transamos. Eu fiquei muito nervoso, o meu coração... nossa... explodiu. Quase não senti a dor na perna.

Yuri: - Foi o momento mais feliz da minha vida, José Eduardo.

Zedu: - Tenho medo de fazer alguma besteira e perder você.

Yuri: - Você não vai. É mais fácil você me deixar.

Zedu: - Porque diz isso?

Yuri: - Você é bonito, simpático e amigo de todos. Qualquer pessoa ficaria feliz em namorar você.

Zedu: - Seu nome agora é qualquer pessoa?

Yuri: (rindo) – Seu bobo.

Zedu: (tirando uma caixinha do bolso) – Eu sei que não é nada muito caro, mas comprei um presente para você. (abrindo a caixa e tirando uma pulseira)

Yuri: - Que lindo.

Zedu: - (Colocando a pulseira em Yuri)

Yuri: - (rindo)

Zedu: - Qual é a graça?

Yuri: (tirando uma caixinha do bolso) – Estamos muito previsíveis. (tirando uma pulseira e colocando em Zedu) – Zedu. Você quer namorar comigo?

Zedu: - Quero. (sorrindo e derretendo o coração de Yuri) – Você foi a melhor coisa que me aconteceu este ano.

A gente não se beijou no restaurante por motivos de 'não somos loucos', mas a vontade foi grande. Estava feliz, leve (sem trocadilhos) e namorando. Nada poderia me deixar para baixo, quer dizer, pelo menos é o que eu achava.

Mundico estava empenhado, ele começou a ensaiar uma sequência de músicas que fariam parte das apresentações. Ele caiu algumas vezes, e ficou surpreso quando Juarez entrou na sala de ensaio. Apesar de ficar sem graça, Mundico continuou o treino e caiu.

Juarez: (se preparando) – Tá errado.

Mundico: - O quê?

Juarez: - A posição da tua perna. (se aproximando de Mundico) – Eu posso?

Mundico: - Pode.

Juarez: (levantando uma das pernas de Mundico) – Você não precisa forçar essa perna.

Mundico: (ficando excitado) – Entendi.

Juarez: - Só precisa lembrar disso. (segurando Mundico numa posição desconfortável)

Mundico: - Entendi. Er... você... você pode me soltar?

Juarez: (ficando sem graça) – Claro. (soltando Mundico) – Faça isso. Espero que consiga, mas sabe, né? Sou melhor que você. (Saindo)

Mundico: (batendo no pênis) – Ele não vai te fazer feliz. Esse babaca.

A minha tia nos acompanhou nos ensaios, como eu suspeitava, a parte dos meus amigos envolvia poucas peças de roupas, eles seriam ribeirinhos.

Olivia: - Tem certeza que você não quer participar?

Yuri: - Hum rum. Tia. Eu não sou um bom ator. Lembra quando eu tive que atuar na peça da escola?

Olivia: - Nem me lembra. Você vomitou em todas as pessoas da primeira fileira. Graças a Deus que eu cheguei atrasada.

Yuri: - Obrigado. (rindo)

Richard: (tentando sair de perto da minha tia)

Olivia: (segurando orelha de Richard) – Fique aqui.

Richard: - Credo tia.

Depois do ensaio, o nosso grupo decidiu comer pizza. A minha tia e Carlos foram convidados para um jantar na casa do prefeito de Parintins, infelizmente, não recebemos o convite. Queria comer na casa de alguém rico, sempre é bom, né? Voltamos para o barco e encontramos Mundico, ele conversava com alguns amigos.

Mundico: - Ei, galera. Como foi o ensaio.

Ramona: - Ótimo. Só precisei fingir que lavava roupa.

Brutus: - Isso não lava roupa nem em casa, imagina em Parintins.

Ramona: (beliscando Brutus)

Zedu: - Verdades doem. (rindo)

Letícia: - Vou tomar um banho. Até depois. (soltando vários beijinhos)

Brutus: - Vamos tomar banho? (abraçando Ramona)

Ramona: - Sim. Você está precisando. Com licença. (entrando com Brutus no barco)

Yuri: (olhando para os irmãos) – Vocês dois... banhos também. E o senhor. (olhando para Richard) – Cuidado. Vão.

Giovanna: - Não precisa me mandar tomar banho, com licença.

Richard: - Eu não quero.

(Richard e Giovanna entrando no barco)

Ficamos conversando até tarde. Subimos e fomos jantar, nem preciso dizer que a comida estava deliciosa. Dei um jeito de tomar banho com o Zedu. Apesar do espaço pequeno a gente deu um jeito, e que jeito. Ficamos nos olhando por alguns minutos, e eu o beijei.

Zedu: - E meu namorado está preparado para o Festival? (ele disse passando sabonete nas minhas costas)

Yuri: - Sim. Sempre vi pela televisão, agora vou poder sentir. Realmente, Parintins é a terra da magia.

Zedu: - Já, vira de frente e levanta os braços.

Yuri: - Você me faz sentir uma criança. (levantando os braços)

Zedu: - Você é minha criança. (passando sabão nas axilas de Yuri)

Yuri: (rindo)

Zedu: - Que foi?

Yuri: - Nunca imaginaria, nem em um milhão de anos, que em Manaus eu teria um namorado que me daria banho. (rindo)

Zedu: (rindo)

Depois de um banho gostosinho, a gente subiu para encontrar os meninos que conversavam na parte de cima do barco. A empresa da titia trouxe uns ventiladores industriais para ajudar no calor da Amazônia. Começamos a falar sobre várias coisas, principalmente, sobre o retorno das aulas. O Mundico disse que mudaria de escola depois de se meter em problemas.

Letícia: - Vai dar tudo certo, Mundico.

Yuri: - Verdade. (sentido frio) - Nossa. Até que não tá tão quente.

Mundico: - Vocês tiveram sorte. Tem dias que está horrível.

Zedu: - Vamos brincar de alguma coisa?

Brutus: - Que tal verdade e desafio? (piscando para Ramona que riu)

Letícia: - Credo, isso é tão sétima série. Vamos brincar de abecedário!

Passamos a noite brincando e acabamos dormindo na parte externa da embarcação. Pela manhã, senti um braço pesando no meu rosto, era o do meu príncipe. Levantei e cocei a cabeça. Arrumei o Zedu e o deixei dormindo com os meus amigos. Desci e minha tia estava conversando com alguém no telefone, e Carlos ajudava a tia do barco a servir o café.

Carlos: - Bom dia.

Yuri: - Bom dia. Tá tudo bem?

Carlos: - Sim. O Richard tá tomando banho, então nada de ruim aconteceu.

Yuri: - (rindo) – Verdade. Acho que vou tomar o meu também.

No outro dia, Mundico e seus amigos tiveram uma surpresa. Os dançarinos disputariam para conseguir uma dança solo na primeira noite do festival. Juarez foi o primeiro e impressionou a todos. Mundico dançou algum tempo depois, e dizem que ele conseguiu realizar uma grande performance.

Hélida: - Gente. Vocês fizeram um trabalho maravilhoso. Mas infelizmente apenas um vai conseguir o solo. A gente demorou para escolher o dançarino, mas a pessoa é...

(Expectativa)

Hélida: - Raimundo... ou melhor... Mundico. (aplaudindo)

Juarez: (levantando e saindo) – Como assim? Isso é ridículo. Eu sou o melhor dançarino desse lugar. Maldito. (jogando uma garrafa contra a parede)

Mundico: (quase chorando) – Eu consegui. Eu consegui.

O lado positivo do festival de Parintins é que várias celebridades visitam a ilha para conhecer a festa. Naquela edição, convidaram vários artistas, mas descobri que a Lilian Nóbrega havia sido convidada, ela era a minha escritora favorita. Recebemos uma dica de um homem que falou o hotel onde eles estavam. Seguimos para o hotel, eu, Letícia e Ramona. Já Brutus e Zedu, foram passear por outros lugares.

Zedu: - Olha. Adorei essa camisa. (olhando o preço e se assustando) – Jesus. Compro cinco em Manaus com esse valor.

Brutus: - Ei. E como estão as coisas entre você e o grandão?

Zedu: (mostrando a pulseira) – Estamos namorando.

Brutus: - Pensei que já estavam.

Zedu: - Não.

(silêncio)

Zedu: (rindo)

Brutus: - O que foi?

Zedu: - Nunca imaginei conversar sobre meus namorados com você.

Brutus: - Isso é de boas. Vacilei muito com vocês. Mas não tenho problemas, cê sabe. (pegando no ombro do Zedu)

Zedu: - Eu sei. Você é meu melhor amigo. Agora, vamos falar de romance hétero? Fala sobre você e a Ramona?

Brutus: - Você já transou com o Yuri?

Zedu: (ficando mega vermelho e engasgando ao tentar falar)

Brutus: - Calma.

Zedu: - Porque você perguntou isso?

Brutus: - É que a Ramona... ela é linda... e...e...

Zedu: - Nada de ação para o pequeno Brutus?

Brutus: - Mais ou menos isso.

Zedu: - Que merda, hein?

Brutus: (se tocando) – Como assim pequeno Brutus?

Zedu: - Vai dizer que é grande?

Brutus: - Claro que é.

Zedu: - Quero provas.

Brutus: (fazendo menção que vai baixar a calça)

Zedu: (segurando Brutus) – Aqui não, gênio. Quer ser preso?

Brutus: - Quer apostar?

Zedu: - O que?

Brutus: - Quem tiver o maior pau ganha.

Zedu: - Ganha o que?

Brutus: - Dois meses de lanche na escola.

Zedu: - Fechado. (apartando na mão de Brutus)

Não muito longe dali, Juarez ajudava Mundico. Eles ensaiaram durante três horas direto. Os dois caíram no chão exaustos pela correria. Mundico queria impressionar, aquela oportunidade era única para ele seguir a carreira de dançarino. Juarez buscava o mesmo objetivo, por isso, passou a entender melhor o colega. No início, Juarez ficou com ódio de Mundico, mas aquele ensaio de alguma forma mudou aquele sentimento.

Juarez: - Preciso me desculpar.

Mundico: - Qual seria o motivo?

Juarez: - Meu comportamento.

Mundico: - Não precisa se preocupar.

Juarez: - Sei lá. A minha família me acostumou a ser assim, um babaca. Todos são assim. E vendo você e seus amigos, sei lá. (rindo)

Mundico: - Tudo bem.

No hotel, eu e as meninas, parecíamos aqueles fãs lunáticos. Consegui fotos com a Gretchen, Luana Piovani, e uma ex-BBB que eu nem lembro o nome. Até que eu a vi, infelizmente estava sem meus livros, mas corri para encontrá-la. Ela prontamente me atendeu, aparentava ser tudo aquilo que eu imaginava. Cheguei falando várias coisas, pelo menos na minha cabeça faziam sentido, porém a realidade era dura, a coitada da Lilian não entendeu nada.

Lilian: - Calma. (rindo) – Vamos começar de novo? Olá meu jovem, como vai?

Yuri: - (respirando fundo) - Quero dizer que você é uma grande inspiração para mim. Eu leio todos os seus livros. Todos. E estou ótimo, e você? (colocando a mão na cintura, um pouco ofegante)

Lilian: - Eu estou com calor, mas bem. Sério, que você lê meus livros? Fico muito feliz com isso.

Yuri: - Eu não trouxe nenhum dos meus para você autografar.

Lilian: - Que pena. Qual é o seu favorito?

Yuri: - "Sombras de uma noite ao luar". Esse livro mudou a forma como eu enxergo a sociedade.

Lilian: (tirando um livro da bolsa) – Por sorte, eu tenho uma cópia desse livro. (pegando uma caneta e autografando para Yuri)

Yuri: - Não acredito.

Lilian: - Está aqui. (entregando para Yuri)

Yuri: - Obrigado. Posso te dar um abraço?

Lilian: - Claro.

Ela era magnífica. Uma mulher tão culta, que sem saber me ensinou tantas coisas. Quase desmaiei de tanta felicidade. A gente ainda ficou tietando outros artistas, haviam muitos jornalistas na frente do hotel também, mas ainda bem que quase ninguém conhecia a Lilian. Cheguei no barco completamente acabado e praticamente desmaiei na rede. Acordei um pouco antes do jantar, o Zedu me acordou na verdade, ele queria atenção.

Zedu: (deitando na rede junto comigo) – Afasta garoto.

Yuri: - Espera. (ficando apertado na rede) – E como foi o passeio com o Brutus? Muitas gatinhas na cidade?

Zedu: - Várias. (rindo e embalando a rede com o pé direito) – Você não vai acreditar, mas... (olhando em volta) – O Brutus ainda é virgem. (rindo)

Yuri: - Não? (parecendo surpreso) – Eu jurava que ele já tinha transado.

Zedu: - Pois é. Ele quer aproveitar a viagem para perder com a Ramona, mas ela não está cooperando.

Yuri: - Zedu. No que você está pensando?

Zedu: - Em dar uma forcinha para o Brutus.

Yuri: - Claro. Vai ser a fada madrinha da putaria? (rindo) – Você tem cada ideia.

Zedu: - Meu pequeno, Yuri. Homem de pouca fé. Tenha paciência. (encostando a cabeça no meu ombro)

Yuri: - Só não vai fazer nenhuma besteira.

O Festival estava se aproximando, realmente, todo mundo já estava sem paciência. A cidade era pequena, então a diversão parecia muito limitada. Afinal, a gente não podia ir para os bares, esses sim, viviam lotados. Richard fez amizade com alguns meninos que estavam no barco ao lado. Ele explicou que vinha de outra cidade, que morava com a tia e gostava de aprontar. Quem ficava de olho era a minha tia.

Olivia: - Quem são aqueles guris que estão com o Richard?

Carlos: - Relaxa, amor. São crianças.

Olivia: - Quero ver você relaxado quando ele trouxer várias cobras para o barco.

Carlos: (tossindo) – Pensando bem, deixa eu checar esse menino.

Ramona: (passando rápido) – Oi, Olivia.

Olivia: - Oi. Nossa que velocidade.

Ramona estava com problemas femininos, ela correu para pedir ajuda de Letícia, mas não a encontrou. A minha amiga achou Brutus do lado de fora da embarcação, e pediu para o namorado ir até a farmácia comprar absorvente. Brutus foi meio contra a vontade.

Kellen: - Olá?

Brutus: - Oi... (ficando com vergonha) – É você que atende?

Kellen: - É meu pai, mas ele está no estoque. Eu sou funcionária, se for algo simples, acho que posso te ajudar.

Brutus: - Eu preciso de... de... um... eer... abdjowdwihwpij.

Kellen: - O quê? (rindo)

Brutus: - Eu disse... sadashiijdijpwdjipvdihpcsjpic!

Kellen: - Você está bem? (ela disse arrumando o cabelo)

Brutus: (pegando um absorvente e colocando em cima da bancada) – Quero um desses.

Kellen: - Para a sua mãe? (registrando o produto) – R$ 10.

Brutus: - Na...na..morada. (rindo e entregando o dinheiro para Kellen)

Kellen: - Obrigada. E volte sempre. (piscando para Brutus)

Brutus: - Obrigado. (saindo da loja rapidamente)

Kellen: - Interessante. Espero ver esse gostoso de novo. (arrumando os peitos)

Ramona não sabia, mas teria um grande problema em suas mãos, na verdade, dois grandes problemas. A primeira noite do festival chegou, de repente, duas filas se formaram no Bumbódromo, equivalente ao Sambódromo do Rio de Janeiro. O caos se instaurou no barco, afinal, todos tinham que se arrumar, os meninos saíram mais cedo para participar da apresentação.

Olivia: - Você não quis ir mesmo?

Yuri: - Não. Eles vão ficar praticamente pelados.

Olivia: - A Giovanna está se arrumando, então acho que vamos esperar por mais duas horas.

Yuri: - E a senhora?

Olivia: - O que tem eu?

Yuri: - Quando vai começar aproveitar o festival? (tomando a prancheta de Olivia)

Olivia: - Ei, eu preciso disso para...

Yuri: - Não, hoje você vai se divertir.

Richard: - Tia. Quero ver os bois.

Giovanna: - Pronto. Podemos ir. (andando como se estivesse em câmera lenta)

Yuri, Olivia e Richard: (rindo de Giovanna)

Minha irmã parecia um papagaio rosa. Ela pegou todas as penas e brilhos rosas da ilha de Parintins, e jogou no corpo. A gente que ia ficar no camarote tínhamos que usar umas blusas da empresa de titia. A minha por pouco não ficou apertadinha. Chegamos no Bumbódromo e o lugar estava lotado. Era realmente muito lindo, a energia dos torcedores nos contagiava. Tiramos várias fotos. No backstage, os meus amigos se preparavam para entrar na arena.

Juarez: - Olha só. Zedu. Ficou um gato com essa tanguinha.

Zedu: - Obrigado.

Brutus: - Ficou mesmo. (batendo na bunda de Zedu) – Arrasou gatinho. (rindo)

Ramona: - Vocês são dois moleques. (olhando no espelho) – Essa maquiagem vai servir.

Letícia: - A casa está lotada.

Juarez: - Vocês sabem que vão ficar dentro de uma alegoria, né? Não vão ter destaque.

Mundico: - Gente. Tá tudo mundo preparado?

Ramona: - Olha. Mundico? É você?

Mundico: - Sim. Ganhei uma dança de destaque. Minha indumentária vai ser diferente. (ficando vermelho)

Juarez: (correndo para uma área atrás do bumbódromo) – Droga. Não vai dar tempo. Eu preciso avisar o Mundico. Merda. (correndo, mas sendo impedido por um segurança)

Segurança: - Esse portão só para alegorias. Você precisa dar a volta.

Juarez: - Você sabe com quem está falando?

Segurança: - Com alguém que está doido para ser banido de vez do festival.

Juarez: (correndo para a saída) – Droga. Isso não tá acontecendo.

Para Mundico, aquela oportunidade seria única. Ele sempre foi um bom garoto, com um enorme coração, ajudou quem precisava. Aquele era seu momento de brilhar. Ele começaria o Festival sendo uma verdadeira estrela. Ele tinha um corpo bonito, pelo menos, eu achava. Deixei a minha família nos camarotes e segui para a concentração, consegui com a Hélida uma permissão. Vi, o Mundico se preparar.

Mundico: - Acho que vou vomitar.

Yuri: - Qual é. Você vai arrasar. Eu tenho certeza.

Mundico: - Vê se tira fotos bonitas.

Yuri: - Vou ficar perto do fosso. (Fosso: lugar destinado para a imprensa registrar o festival)

Produtor: - Vamos Raimundo. Você vai ser erguido. (saindo)

Yuri: - Vai lá. Arrasa. Quebra a perna e merda.

Continuei o meu caminho, e encontrei o Richard com outras crianças. Como aquele peste havia entrado ali? Comecei a segui-lo. Ele entrou em uma grande estrutura de metal. "Pivete", pensei. Com dificuldade consegui subir e entrar na tal estrutura. Mal entrei, alguém foi e fechou a entrada.

Yuri: - Richard!!!

Richard: - O que você está fazendo aqui? (ligando a lanterna do celular)

Yuri: - Eu que te pergunto. (pegando pelo braço do irmão) – Você vai sair agora.

Alana: - Quem é esse homem?

Richard: - É meu irmão, mas é adotado.

Yuri: (apertando o braço do irmão) – O adotado é ele. Vamos. (tentando sair, sem sucesso) – O que está acontecendo. (batendo na porta) – Socorro.

Richard: - Ele tá se mexendo.

Alana: (gritando)

Yuri: (segurando Richard e Alana) – O que é isso? Vocês sabem?

Richard e Alana: - Não.

O objeto que entramos começou a se mexer. A gente parecia estar dentro de um liquidificador, sem as lâminas, é claro. Tá, parecia uma grande máquina de lavar. Consegui fazer um furo na parede, na verdade era bem mole, e dei um grito. Estávamos dentro de uma das alegorias do Festival. Era um sapo gigante suspenso por um guindaste.

Yuri: (enforcando Richard) – Estamos dentro de uma alegoria.

Alana: - Moço para. (tentando afastar os irmãos)

Yuri: - Eu vou morrer antes de casar com o Zedu! Desgraçado!!

Richard: - Eu não tenho culpa. (chutando Yuri nas bolas)

Yuri: (caindo para o outro lado) – Aí. Essa foi baixa. (choramingando)

Zedu estava tentando me ligar. O meu namorado ficou de me encontrar na concentração e não conseguia falar comigo. Ele estava uma delícia. Um cocar na cabeça, um cordão feito com sementes de açaí, e uma tanguinha azul. Nem preciso dizer que usamos essa fantasia em outras ocasiões. Hélida, os direcionou para a alegria que eles ficariam, que eram pequenos barcos.

Ramona: - Nada do Yuri? E as minhas fotos... quer dizer... nossas fotos.

Letícia: - Estranho isso.

Brutus: (vamos lá garotos, beijando os músculos do braço)

Zedu: (guardando o celular) – Cadê você?

O Festival havia começado. O primeiro boi a se apresenta naquela noite era o Caprichoso. O negócio é o seguinte, a cada noite, as equipes dos bois se apresentam para os jurados que dão notas para os itens que representam esses bois. O primeiro a entrar na Arena do Bumbódromo foi o Apresentador, que contou um pouco sobre a lenda dos bumbás. Eu não vi nada, o motivo? Estava pendurado naquela droga de alegoria.

Chegou a vez do Mundico. Só que as cordas que o seguravam não estavam tão firmes como no ensaio. O vento começou a soprar, e a estrutura começou a cair. Mundico despencou e caiu em cima do sapo. Ouvimos o estrondo e o teto cedeu. Ele caiu praticamente nos meus braços.

Yuri: - Mundico? O que aconteceu?

Mundico: - Eu... eu... (desmaiando)

Todos ficaram horrorizados com o que aconteceu, mas ninguém parou. Eles não podem perder tempo com nada. Rapidamente, a estrutura do Sapo começou a se desfazer, e nós quatro quase caímos. Pedi ao Richard que se segurasse nas estruturas de ferro. Alana ficou perto de mim, ela segurava a lanterna do celular.

Alana: (chorando) – Vamos cair.

Yuri: - Não vamos. Eles vão começar a descer.

Richard: - Eu... eu... tô com medo.

Yuri: - Tá vendo. O que acontece quando você é malcriado.

Richard: - Perdão, Yuri. Não queria que nada disso acontecesse.

Yuri: - Droga, Mundico. Acorda.

A estrutura começou a ser movida. Por pouco, o Richard não caiu. Segurei Alana e Mundico. A minha tia quase enfartou no camarote. Ela e Carlos foram atrás das autoridades. Finalmente, a equipe começou a baixar o grande sapo. Uma equipe médica já nos aguardava. Eles pegaram o Mundico, e o levaram ao hospital. Fomos levados para uma sala reservada, a polícia começou a fazer mil perguntas. Expliquei tudo mil vezes.

Olívia: - Meus filhos. (abraçando Yuri e Richard)

Carlos: - Como vocês subiram até lá?

Yuri: - Dá uma opinião? (olhando para Richard)

Olívia: - Eu não sei mais o que fazer. Eu juro que... (saindo da sala)

Yuri: - Você vacilou feio. (olhando para Richard e saindo da sala)

Alana: - Eu te disse que era perigoso. Você não acreditou. (saindo da sala)

Carlos: (sentando ao lado de Richard e o abraçando) – É cara. Essas merdas acontecem.

Juarez: - O que aconteceu? Cadê o Mundico?

Yuri: - Na ambulância. Estamos indo para o hospital... quer... quer... uma carona?

Juarez: (Com os olhos vermelhos) – Não... eu... eu... vou ficar por aqui.

Hélida: - Juarez. Graças a Deus. Precisamos que você entre no lugar do Mundico.

Juarez: - Eu... eu...

Hélida: - Por favor... venha... (levando Juarez)

Os meninos se apresentaram e eu nem assisti. Acabei sendo expulso do Festival. Não poderia entrar nas outras noites. A titia tentou evitar conversar com o Richard, ele sentiu muito daquela vez. Zedu soube de toda a história e me abraçou forte. Como é bom ter alguém que nos ame. Seguimos para o hospital.

Olívia: - Ele está bem?

Médico: - Vai ficar. Está em observação.

Olívia: - Os ferimentos foram sérios?

Médico: - Ele fraturou uma perna, sorte que a outra estrutura amaciou a queda. Caso contrário... (balançando a cabeça negativamente)

Olívia: - Oh, Deus.

Yuri: (pegando no ombro de Olivia) – Tia. Está tudo bem? Como está o Mundico.

Olívia: - Ele vai receber os devidos cuidados.

Yuri: - Tia. Podemos conversa. (olhando para Carlos e Zedu) – Só nós dois.

Olívia: - Claro. (Indo com Yuri para uma parte mais reservada do hospital)

Yuri: – Olha. Eu sei que a senhora está furiosa com o Richard, mas ele ainda é uma criança.

Olívia: (respirando fundo) – Yuri. Você e a Giovanna não são desse jeito. A tua irmã pode ter o rei na barriga, mas ela possui um filtro. E nenhum de vocês já colocou o outro em risco.

Yuri: - Eu sei. Mas não quero que a senhora o trate com indiferença.

Olívia: - Estou pensando em levá-lo a um profissional. Você fez terapia, lembra?

Yuri: - Também não desconsiderei essa ideia, tia. Mas precisamos ir devagar com o Richard. Ele pode se rebelar.

Olívia: - Entendi. (respirando fundo mais uma vez) – Deixa eu ir falar com o monstrinho.

Quase não dormimos naquela noite. Todo mundo ficou preocupado com a saúde do Mundico. Fiquei na rede com Zedu, era muito bom ter com quem conversar, o meu namorado era meio na dele, mas sempre estava disposto a me ouvir. Letícia chegou um tempo depois, e deitou na rede ao nosso lado. Brutus levou Ramona para passear no porto.

Brutus: - Eu gosto muito de estar com você. (beijando a namorada)

Ramona: - Eu também.

Brutus: - Escuta. Amanhã vamos fazer algo diferente? Vamos pular um dia de festival e ficar juntos.

Ramona: - Será? Com tudo o que está acontecendo.

Brutus: - Bebê. A gente precisa aproveitar um tempo junto. Faz o seguinte, a Letícia vai no salão com a Giovanna amanhã. Você deveria ir. (entregando dinheiro para Ramona)

Ramona: - Claro que eu vou. (rindo) – Ainda mais quando o meu namorado paga. (rindo e beijando Brutus)

No dia seguinte, as coisas se acalmaram mais. A titia voltou a tratar o meu irmão bem, e ele até que se comportou. As meninas decidiram ir ao salão fazer penteados para a segunda noite do festival. Brutus nos chamou, e disse que precisava de nossa ajuda. Ele explicou todo o seu plano de uma noite romântica com a namorada.

Brutus: - Conseguiu?

Yuri: (mostrando um molho de chaves em sua mão) – Claro que consegui.

Zedu: - Tua tia não reparou?

Yuri: - Disse que o Juarez pediu para pegar algumas coisas, mas você deve ter cuidado.

Brutus: - Vou ter. Agora me ajudam a fazer as coisas?

Yuri: - Eu até que adoraria, mas preciso visitar o Mundico.

Zedu: - Mas você precisa ajudar a gente. Eu não entendo nada de decoração ou romantismo.

Yuri: (beijando Zedu) – Claro que entende meu amor, volto mais tarde. Boa sorte, Brutus... ah... e estou achando super fofo o que você está fazendo. Espero que o meu namorado faça algo parecido. (saindo)

Zedu: - Tô lascado. Tá vendo o que você fez?

Cheguei no hospital, e encontrei Juarez. Ele parecia muito preocupado, andando de um lado para o outro. Pensei em conversar com ele, mas decidi ir direto com o Mundico. Ele estava muito triste, pois, acabará de perder uma oportunidade e tanto de mostrar o seu talento.

Yuri: - Ei, para com isso. Você perdeu uma chance, outras vão vir.

Mundico: - Será?

Yuri: - Tenho certeza. E você conseguiu avisar o teu pai?

Mundico: - Consegui, mas tem uma coisa.

Yuri: - O quê?

Mundico: - Ele não sabe que eu vim para Parintins. Ele pensa que estou na casa de uma tia.

Yuri: - Claro. (pegando na cabeça) – E agora? Você precisa falar com a tua tia. Diz que caiu e quebrou o pé.

Mundico: - Verdade. Ela vai ficar furiosa.

Yuri: - O seu pai é contra você dançar?

Mundico: - Ele enxerga a dança como bagunça, mas por parte eu entendo. O meu pai é um homem simples, que sempre trabalhou para conseguir as coisas. E ele quer um futuro melhor para mim.

Yuri: - Eu entendo. Espero que consiga resolver essa situação.

Ramona e as meninas voltaram do salão, Luciana e Giovanna foram se arrumar para o festival, mas Zedu interceptou a minha amiga e a levou para uma orla que ficava perto do barco. Lá, o Brutus, esperava minha amiga com várias flores na mão.

Zedu: - Com licença. (saindo)

Ramona: - O que significa tudo isso?

Brutus: - Uma demonstração de carinho para a minha namorada, não posso?

Ramona: - Pode, mas tem algum motivo especial?

Brutus: - Sim. Eu te amo. (beijando a namorada)

Ramona: - Obrigada. Você é tão lindo. (beijando Brutus)

Zedu e Yuri: (observam a cena do barco)

Yuri: - Tá feliz?

Zedu: - Hum rum.

Yuri: (rindo)

Zedu: - Qual é a graça?

Yuri: - Você. Que quando quer sabe ser romântico.

Zedu: - Ah, e eu tenho uma novidade.

Yuri: - Qual?

Zedu: - Vamos ganhar lanche na escola por um bom tempo.

Yuri: - Sério? Que economia, mas como? (desconfiado)

Zedu: - Fiz uma aposta e ganhei. (rindo sem graça) – Não se preocupa, um dinheiro justo e limpo.

Yuri: - Acho bom. (olhando para o pôr do sol) – Zedu...

Zedu: - Oi?

Yuri: - Na escola... digo... você está preparado para a escola?

Zedu: - Bem, não pensei nisso, mas te beijei no meio da escola, lembra? E todos devem estar sabendo.

Yuri: - Você não tá com medo?

Zedu: - Um pouco, mas vamos ter aula apenas semana que vem. Vamos pensar no agora? (pegando na mão de Yuri)

Lá fomos nós para a segunda noite do festival. Naquela noite, pude aproveitar mais a festa, afinal, não estava preso em uma alegoria. Estávamos suados, mas gostando de tudo o que via. No barco, Brutus e Ramona, jantavam e ouviam músicas românticas. Eles conseguiram um vinho, copos e seguiram para a cabine da embarcação.

Ramona: - Estou muito feliz, Brutus, de verdade.

Brutus: - Fico feliz em saber disso. (beijando a namorada)

Ramona: (retribuindo o beijo)

Brutus: (tirando a camiseta)

Ramona: - O que está fazendo?

Brutus: - Quero ficar mais confortável, não posso?

Ramona: Er... tá quente aqui... (tentando levantar e batendo a cabeça no beliche da cabine) – Aí.

Brutus: (levantando e deixando cair a camisinha e lubrificante)

Ramona: - O que significa isso?

Brutus: - Qual é... estamos namorando e ainda não falamos de sexo.

Ramona: - E assim que você avisa?

Brutus: - Não é um crime querer transar com a minha namorada.

Ramona: - Você é ridículo. (com a mão na cabeça)

Brutus: - Você está sangrando. Deixa eu ver isso. (verificando) – Vou na farmácia comprar algo. (saindo)

Ramona: - Meu Deus. O que ele vai pensar quando descobrir? (Chorando) – O que eu faço?

Dhiego Ramos
Enviado por Dhiego Ramos em 11/08/2019
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