LIBERTATEM - capítulo 09
- Essa coisa de me tornar super humano é meio escandalosa. Não sei, não.
- Nada lhe será imposto. Caso decida nos ajudar, terá toda infraestrutura necessária.
- Por que escolheram um nome parecido com a iniciativa anterior deturpada?
- Justamente para que governos, militares e poderosos entendam que há um caminho alternativo que os exclui de todo o processo.
- E há outras pessoas sendo preparadas, como pretendem fazer comigo?
- Sim! São poucos, mas é grupo coeso e confiável, que pode gerar ótimos resultados.
Aceitei a proposta e permaneci bom tempo entre eles, no subsolo profundo, que parecia um mundo à parte. Prepararam-me para o trabalho que iria desenvolver, mas nada disseram além do que precisava saber. Ausência total de informações sobre o local em que estávamos e os mundos de onde se originavam os visitantes, e se aprendi a distinguí-los e entender os idiomas foi pelo uso de tecnologia inserida em meu cérebro.
Quando voltei à superfície, o baixinho disse que me deixaria descansar por uma semana ou mais, para que me acostumasse à nova situação.
- Que nova situação, cara?
- Se ainda não percebeu, vai perceber ao longo dos próximos dias.
Não entendi, mas antes que o questionasse, evaporou-se. Saí para comprar algumas coisas, pensando em me trancar em casa, largadão. Normalmente, ao fazer as compras no mercado, meu paladar dirigia o carrinho, e tinha vontade de comer tudo que pegava, no ato. Naquele momento, porém, parecia ter acabado de engolir um boi inteiro. Tentei lembrar de minha última refeição, e só então me dei conta que o que comera por último fora aquela coisa estranha na minha geladeira, vinte dias antes. Espantei-me.
Comecei a refazer a trajetória das últimas três semanas, e vi que não tinha urinado ou evacuado, não tinha dormido nada e me sentia muito bem disposto, sem nenhum cansaço, fome ou outra necessidade. Perfeitamente são e ativo!
Saí do mercado sem comprar nada. No caminho, fui parado por uma blitz, e logo surgiu um daqueles gorilas de preto, por trás dos policiais que me pediam documentos. Quando fez menção de chegar em mim, tanto ele quanto os demais, passaram a olhar o vazio e me deixar de lado. Peguei os documentos, fui embora e os doidos ficaram ali, zumbizando à toa. Em casa já me esperava Thráfsma, sentadinha no sofá, com aquele sorriso indefinido e lindo.
- Começou a se dar conta das mudanças?
- Vocês me modificaram pra valer. Não como, não durmo e nem sinto falta de nada.
- Pode fazer tudo isso, se quiser, mas não precisa. Basta se concentrar e fará de novo.
- Interessante!
- Sua casa também está protegida. Quem vier atrás de você se perderá pelo caminho, sem atinar com o motivo. Os que o importunarem, pessoalmente, sofrerão o mesmo processo.
- Isso quer dizer que ninguém pode me atingir?
- Quase! Desorientação é uma medida que tomamos para evitar violência.
Enquanto falava, sua imagem se desvanecia, e fiquei só.
Saí e andei a esmo, observando. Topei com viatura policial, parando, abruptamente, dois sujeitos de mochila. Os policiais chutaram os coitados, cuspiram neles, deram coronhadas, e aí cheguei junto (impulso suicida). Esperei pancada, mas os “poliça” logo zumbizaram. Quando os mochileiros viram a coisa bagunçar, afastaram-se de mim, pegaram suas mochilas e me mostraram uma faca. Pareciam apavorados.
- Que é isso, cara? Acabei de salvá-los e me ameaçam?
- Você é alguma espécie de mago negro? É feiticeiro?
- Nada disso! Acalmem-se e vamos conversar.
- Não tem conversa com gente demoníaca como você.
- Vocês preferiam ter sido presos ou executados por eles?
Ambos assentiram que sim. Preferiam a prisão ou execução a me encararem.
Saíram correndo e se benzendo, gritando que eu era do mal e deveria ir pro inferno.
Demonstração clara de como nós, terráqueos, somos, completamente, abobados.
Imagine se eu fosse um ete ou algo mais diferentão, hein?