LIBERTATEM - capítulo 12

A semana de descanso ou reflexão passou voando, e fui chamado àquele subsolo.

Em sala enorme de formato semi circular, vi perto de cinco mil pessoas, que Thráf disse terem sido treinadas e instruídas para agirem qual prepostas (como eu). Senti medo, diante do que parecia algo muito além de minha capacidade, mas a insegurança teve de se recolher diante do que aconteceu. Vários personagens fantásticos surgiram diante de nós todos, que aguardávamos, ansiosos. E quando digo fantásticos, estou me referindo a Buda, Krshna, Lao Tse e muitos outros desse nível, além do grande mestre Jesus, que assumiu uma prédica.

- Almas afins, que se prontificaram a auxiliar os irmãos visitantes, em sua fraternal meta, recebam nossos mais sublimes eflúvios e nada temam, mas carreguem a certeza de que, por mais obstáculos que enfrentemos, estamos unidos, lutando a boa luta em prol da verdade, e as únicas armas que empunharemos serão tolerância, compreensão, equidade e universalismo. É preciso compreender que não lograremos esclarecer a presença de outros povos, de distantes mundos, entre a maioria simples do povo terreno, senão através de um trabalho demorado, extenso, que pode durar décadas. O planeta Terra entrará, a breve tempo, em período de muito desenvolvimento tecnológico, e poderemos utilizar a nova realidade na difusão da verdade, ao mesmo tempo em que exibiremos as mentiras dos poderosos. Somente quando, por fim, estiver bem presente, em todos os quadrantes do orbe, a ideia da multiplicidade das formas e expressões entre seres que permeiam o universo, será a hora da revelação explícita.

Enquanto o ouvíamos, imagens e mensagens penetravam em nossas mentes.

Ao final do pronunciamento, Ele e todos os outros desapareceram, repentinamente.

Não sei como explicar, mas algo emanou daquela tropa divina, que nos deixou a todos em êxtase. Durante minutos houve silêncio total. Pouco depois apareceu um visitante enorme, bem moreno, olhos de um amarelo vivo, que não emitiu nenhum som, mas transmitiu, mentalmente, mensagem muito instrutiva, sobre procedimento padrão, alternativas, sistemas de apoio e outros detalhes. Ao final de poucos minutos tinha nos passado tanta informação, que se as recebêssemos de forma convencional, ficaríamos ali muitas horas. Salientou que nosso trabalho seria volumoso, longo, e demandaria, praticamente, toda nossa existência, e que se algum de nós decidisse não prosseguir, seria compreendido e aceito, sem nada em contrário. Outro silêncio prolongado se estabeleceu, em que ninguém se moveu.

Durante os dois pronunciamentos eles preencheram nossas mentes com vislumbres do que estava por vir no mundo, e foi espantoso imaginar tanta mudança, que modificaria toda a maneira de ser e agir de nós todos. Os nós na cabeça se multiplicavam.

O morenão nos olhou, sorriu, agradeceu nossa ajuda e sumiu. Logo após, todos os que estavam ali, como eu, foram sumindo, assim, sem mais nem porquê. E só me dei conta de que o mesmo aconteceu comigo, porque despertei na minha cama, na manhã seguinte. Só percebi que não tinha sonhado aquilo tudo, porque Aldeín e Thráf estavam juntinho à porta.

- Daqui pra frente caminharemos juntos, Natan. E o apoiaremos em tudo.

- Pelo que disseram, a coisa vai se estender para além do ano dois mil.

- Acreditamos que sim. Talvez duas ou três décadas além. Há muito por fazer.

- Então começaremos com espionagem, sabotagem, até podermos revelar à luz do dia?

- Nada tão agressivo! Porém, a meta será desacreditar os mentirosos.

Foi assim que tudo começou, e até hoje ainda perambulo por muitos lugares, eliminando o que não presta e plantando a semente da nova realidade, que está prestes a se concretizar. Presenciei muita coisa incrível (e algumas horrendas, também), e sou grato ao abençoado dia em que me tornei agente da LIBERTATEM, e até do baixinho invocado me tornei amigão.

Não pude evitar de ir até aquele delegado maledeto, e lhe fazer provar o próprio veneno. Ao me ver, quis apelar para a violência, e, abusando de minha privilegiada situação, fiz com que ele próprio se estapeasse, enquanto centenas de memorandos voavam pela sala, em que se lia: “DELEGADO INESCRUPULOSO”. O coitado parecia querer botar os olhos pra fora, de tão arregalado que estava, e só me pedia clemência. Quando saí, tinha urinado na calça.

A maioria dos viventes não tem noção do que se passa fora de sua realidade imediata, e se soubessem o que sei, talvez não conseguissem levar a vida adiante, serenamente. O fim de minha missão se aproxima, e isso será o início de um novo ciclo, para todos, para o mundo.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 03/11/2019
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