ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO

Assalto ao coração desarmado !

Sinopse

Sara era uma menina igual a muitas da sua idade. Esbanjava alegria e boa disposição e era conhecida como a menina do sorriso largo e contagiante.

Era de uma família sem posses mas com o mínimo pra viver. Seu pai era um homem muito ocupado e sempre ausente em viagens a procura de melhores condições pra família. Ele era o herói de Sara. Até ela crescer e começar a questionar as constantes ausências do seu pai.

Mas nada a preparou pra o que ia descobrir. E esse segredo mudou completamente a vida de Sara.

De menina meiga e alegre , ela se transformou numa mulher fria e vingativa. Mas ninguém muda completamente, e a vida vai testar-lhe a cada passo.

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Nova viagem meus queridos 😊😁😅

Não sei se estão tão ansiosos quanto eu por esta nova aventura.

Não se esqueçam de gostar e comentar. É graças as vossas ideias e a interação que eu melhoro a cada história.

😍💖😍

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 1

SARA

Sentada em frente ao espelho, eu admirava meu próprio talento em me transformar numa pessoa completamente diferente usando produtos de beleza. O reflexo no espelho era uma mulher completamente o oposto de quem eu era na realidade. Mas o mundo não precisava da verdadeira Sara. O mundo era cruel com pessoas como eu. Eu vestia uma máscara toda vez que saia a rua e essa era a pessoa que todos conheciam. Excepto Maura, minha melhor amiga.

Conhecemo-nos no primeiro ano da faculdade e no pior momento da minha vida. Não foi amor a primeira vez, foi mais ódio e desprezo. Eramos agua e azeite, mas em meio a toda hostilidade nasceu uma amizade pra vida inteira.

Tínhamos dezoito anos na altura e Maura já morava sozinha. Eu acabava de descobrir que meu pai tinha outra família e havia confrontado minha mãe a respeito. E ela disse-me que sempre soube e nunca disse nada a mim e aos meus irmãos porque não queria nos magoar. Foi um golpe duro pra mim.

A minha relação com meus pais nunca mais foi a mesma e acabei me mudando pra viver com Maura. Arranjei alguns trabalhos como garçonete e até como babá pra pagar a faculdade e contribuir com as contas de casa. Mas nem sempre era possível e Maura nunca me cobrou nada. Nunca a havia questionado como ele arranjava dinheiro pra conseguir arrendar um apartamento e pagar todas contas. No fundo eu não queria saber, dizem que a ignorância é uma bênção. Mas sentia-me mal em viver as custas dela.

Por várias vezes meu pai tentou uma aproximação mas eu estava demasiado magoada pra querer ouvi-lo. Eu o admirei por anos, tinha orgulho dele , tinha o colocado em pedestal. Minha mãe era a outra e eu e meus irmãos eramos um segredo sujo que ele guardava em sete chaves. Nós eramos pobres , e a outra família tinha uma vida bem melhor. Minha mãe vendia em um mercado pra poder nos alimentar enquanto a outra esposa sequer trabalhava.

Sim, investiguei. Eu estava curiosa pra saber quem eram os outros. Meu nome, Sara, foi dado em honra a mãe dele e eu tinha uma meia-irmã chamada Sara também.

Mas o que mais me deixava furiosa é minha mãe ter se resignado a ser a outra, se contentar em o ter duas a três vezes por mês. Quando podia ter ido atras da sua felicidade com alguém que não tivesse de partilhar. Ela já foi linda quando jovem. Hoje quase não se vê o seu brilho. A vida foi dura com ela.

“ Sara!!! Despacha-te, não podemos chegar atrasadas.” Ouvi Maura gritar no corredor.

“ Já estou pronta. Saio já.”

Ajustei a blusa sem mangas e que deixava exposto o umbigo, com o logo da empresa pra quem íamos trabalhar esta noite. Olhei-me no espelho uma última vez antes de sair. A combinação da roupa e da maquiagem me deu a confiança que precisava pra vestir a minha mascara e enfrentar o mundo la fora.

O carro que nos vinha buscar estava a porta na hora marcada e sem demoras eu e Maura entramos e seguimos viagem com outras colegas.

“ Tenho um bom pressentimento sobre esta noite.” Ela murmurou pra que só eu ouvisse.

Eu esbocei um sorriso e abanei a cabeça achando essa ideia de pressentimento uma bobagem.

“ A sério, hoje será um bom dia. Ouvi dizer que essa festa não é pra qualquer um. E sabes o que significa ?”

Sim, eu sabia. Quando eu soube como ela conseguia o dinheiro fiquei escandalizada a principio. Mas hey, quem sou eu pra julgar. Eu vivia as custas dela.

Durante algum tempo fiquei sem trabalho , não estava fácil arranjar um emprego a tempo parcial e eu não tinha dinheiro para pagar faculdade no período pós-laboral.

Decidi pedir ajuda a Maura. Ela recusou-se , dizendo que eu não tinha perfil. Eu insisti e ela decidiu dar-me uma chance. Ela ensinou-me tudo que eu precisava saber para me desenrascar naquele mundo que ela estava a introduzir-me. E aqui estamos, anos depois na mesma vida.

Chegamos ao local e todas caminhamos até a entrada de serviço. Uma mulher elegantemente vestida esperava-nos do outro lado e a reconheci logo que entramos. Lola , como todos a chamávamos, conduziu-nos até ao salão onde a festa iria decorrer.

“ Não vejo caras novas, portanto já conhecem as regras. Gostaria de lembrar que ninguém é obrigada a fazer nada que não queira. Somos todos adultos e donos das nossas decisões. O Artur e Pedro estão aqui pra tomar conta de vocês caso algum convidado da festa esteja a abusar da vossa boa vontade. Espero que divirtam-se a trabalhar queridas, são jovens e a vida é mesmo pra aproveitarmos ao limite. “

Todas dispersamos quando o discurso terminou e assumimos as nossas posições a espera do momento que as portas seriam abertas dando inicio ao evento.

Maura e mais duas foram colocadas pra servir na ala VIP. Eu tinha mães experiencia em trabalhar em lugares mais apertados e cheios de pessoas e geralmente me colocavam sempre do lado do resto da população “menos privilegiada”.

Em menos de vinte minutos o local já estava cheio de gente. Mas era fácil identificar as garçonetes. As blusas brilhavam na luz e os minúsculos calções e as sapatilhas eram prateados.

Maura e as outras que serviam na ala VIP estavam de salto alto mas a roupa era idêntica.

Era um mar de gente espalhada por todos os cantos. Passar por toda aquela gente manejando uma travessa com copos era um exercício quase impossível. Mas já estávamos habituadas e com destreza navegávamos no mar de gente tentando não derrubar a bebida por cima das pessoas.

Já começava a sentir alguma cansaço mas a festa ainda estava a meio gás. Eu servia uma das mesas no longe no pátio quando senti uma mão nas minhas pernas. Olhei pro lado e o culpado sorria feito um idiota. Tive que respirar fundo pra não esvaziar a garrafa de vinho que tinha na mão na cabeça dele.

Sim, não sou santa, mas ao contrário do que devem estar a pensar, meu crime não envolve sexo. Embora o que faço não seja nobre, mas meu corpo não esta a venda.

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“ Tenho que dar os parabéns a Lola. Nunca me decepciono com as caras lindas que nos servem nas festas que ela organiza”

Disfarçando , afastei a minha perna e com um sorriso falso virei para os restantes ocupantes da mesa.

“ Desejam mais alguma coisa?”

“ Gostaria de levar-te a casa quando terminares aqui.” O idiota do meu lado falou.

Ignorei o comentário e afastei-me indo em direção a outra mesa. Um par da horas depois a festa já estava no auge e metade das pessoas já havia bebido acima da conta. Agora começava a hora das minhas actividades extras.

Lola pagava um salario fixo só por estar ali e servir as mesas. Depois tínhamos um bónus se conseguíssemos vender garrafas acima de um certo preço. Muitos podem achar que na área VIP é mais fácil de conseguir o bônus. Mas não, os que facilmente gastam dinheiro estão misturados ao resto do mundo tentando impressionar tanto mulheres como homens exibindo a sua riqueza. E quando já estão bêbados nem sequer percebem o que lhes cobramos. Simplesmente entregam os cartões de credito com um sorriso no rosto. É roubo?? Sim é. E não é só isso. Artur, um dos nossos guarda-costas tem um esquema bem montado de “ desvio de bens roubados” . Nós “aliviamos” os clientes dos seus bens de grande valor e Artur nos da a nossa parte. Esta é a parte que menos gosto, mas a que dá-nos maiores ganhos. Artur consegue ser bastante “ generoso”.

Eu até já sabia quem seria uma das minhas vítimas. Ele devia ter mantido sua mão longe do meu corpo.

Eu já havia feito cinco vezes mais o meu salario só com garrafas vendidas e podia ter deixado passar sem tirar nada de ninguém. Mas as vezes era mais forte que eu. Voltei a mesa do idiota e mais de metade dos ocupantes estava algures no meio da multidão. Mas o meu alvo continuava la e abriu um sorriso logo que me viu aproximar.

“ Sabia que aceitarias a minha oferta” ele falou despindo-me com o olhar.

“ Como? És vidente?” perguntei esboçando um sorriso.

“ És um mulher inteligente, e sabes que podes sair a ganhar com isso.”

Não precisava ser um grande génio pra saber do que ele falava. Pousei a minha travessa na mesa e com um sorriso malandro sentei-me no seu colo. Ele colocou suas mãos em minha cintura e estava tão concentrado em olhar pro meu peito que não viu o que se passava a sua volta. Em pouco menos de trinta segundos eu havia lhe tirado o celular de ultima geração que ele gritava aos quatro ventos ter adquirido naquela semana, e a carteira e colocava entre aa confusão de copos e latas de cerveja na travessa.

“ Seria um prazer ter um homem lindo e tão gentil levar-me a casa hoje. Mas infelizmente já me comprometi a ir com outra pessoa. Quem sabe uma próxima vez?” falei num tkm bastante sugestivo.

“ Tenho certeza que eu seria melhor companhia que essa outra pessoa.” Ele falou levantando a cabeça pra olhar-me.

“ Concordo “ sussurrei aproximando meu rosto do seu. Apesar do bafo a álcool ainda era possível sentir o aroma do perfume que com certeza devia ser caro.

Levantei de seguida quebrando o momento e levei a travessa comigo. Logo que atravessei as portas pra área de serviço entreguei o celular e a carteira ao Artur.

Voltei rapidamente para o salão e só dei alguns passos quando senti um puxão agressivo em meu braço.

O homem me arrastava para um canto atrás do bar onde ninguém nos podia ver ou ouvir.

“ Solta-me” eu gritava furiosa

Ele só o fez quando teve certeza que estávamos realmente fora do alcance de olhares curiosos.

“ Devolve o que roubaste e eu não chamo a policia” ele falou sem papas na língua.

Estava assustada, mas tinha que manter a calma e a serenidade. Não era a primeira vez que era apanhada, mas sempre consegui safar-me sem envolver a polícia. Desta vez não seria diferente.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 2

SARA

Respirei fundo e o encarei determinada a safar-me sem grandes esforços.

“ Não sei do que falas”

“ Sabes sim, e não estou com paciência pra discutir. Já estou a ser bastante generoso em dar-te a oportunidade de saíres disto sem manchar o teu nome.”

“ Acho que me estas a confundir” Insisti

“ Ok. Já vi que será a mal. “ ele falou e tirou o celular do bolso.

Droga. Não ia conseguir nada fazendo-me de desentendida . Plano B.

“ Não por favor, eu imploro.” Falei mudando pra a minha faceta de Maria desesperada.

“ Tarde demais.” Ele falou tentando manter seu celular fora do meu alcance.

Eu já estava aos prantos. Bom, lágrimas de crocodilo ao extremo, mas vale tufo pra não ir parar a cadeia.

“ Eu não tenho como devolver. Sabes como é difícil arranjar um emprego nos dias de hoje. E neste meio, basta ser uma cara bonita se espera um certo comportamento.” Falei soluçando.

Ele parou o que fazia e olhou-me. Bom, tinha conseguido chamar a sua atenção.

“ Aqui nos dão a escolher entre roubar ou…ou….” E mais choros.

“ Hey…calma” ele falou aproximando-se.

“ Desculpa…” falei entre soluços.

Ele abraçou-me pra me consolar. Por um instante perdi-me no calor daquele abraço, no aroma gostoso do seu perfume e na voz rouca que tentava me acalmar. Mas sempre vem ao de cima o meu pior lado. Voltei a simular o meu choro desesperado e ele ficou sem saber o que fazer. O abraço ficou mais apertado e em meio aquele momento eu tirei-lhe o celular e a carteira.

“ Prontos, não chores mais. Vou deixar passar desta vez. Mas acho melhor parares de trabalhar pra estas pessoas. Um dia encontrarás alguém que não seja tão amigável quanto eu. E honestamente, o meu amigo vai se recuperar da perda. “ ele falou pra me tranquilizar.

“ Obrigada..” falei limpando as lágrimas e me afastando dele.

“ Agora vai, antes que eu mude de ideias.”

Sem esperar nem mais um segundo sai. Passei pelo Artur para lhe entregar o celular e a carteira e avisar-lhe que tinha sido apanhada. Ele ia inventar uma desculpa por mim. Queria sumir antes que o meu herói descobrisse que havia ficava um pouco mais “ leve” depois do nosso momento.

A sorte estava do meu lado, pois logo que atravessei a porta vi um táxi parar. Corri pra la e entrei, dei meu endereço e só respirei de alivio quando o táxi pôs-se em movimento.

Entrei no apartamento e fui directo ao banho. Quando saí estava mais relaxada. Estava exausta e fui a cama onde apaguei de imediato.

Acordei depois das 11 da manhã e Maura já estava em pé e bem disposta.

“ Bom dia” falei tentando abafar um bocejo.

“ Optimo dia, querida” ela falou esboçando um sorriso de orelha a orelha.

“ Hum..a que se deve toda essa animação?” falei franzindo a testa.

“ Eu disse-te que tinha um bom pressentimento sobre a noite passada. O dinheiro que fiz vai dar pra pagar a renda todo este ano e ainda ficar com algum pra esbanjar.” Ela falou animada.

“ Oohh. Fico feliz por ti.”

“ Va la , pelo que ouvi ontem bateste o recorde de vendas. Teu bônus é de dar inveja. Tu sempre foste boa a convencer as pessoas, Sara. “

Sim, sou boa a argumentar. Dai ter escolhido a faculdade de direito. Bom , esse não foi o único motivo da escolha.

“ Tive sorte apenas. As minhas mesas estavam repletas de idiotas, endinheirados e que queriam exibir-se. Mas nem tudo correu bem, acabei sendo apanhada e por pouco dormiria numa cela.”

A expressão no rosto de Maura mudou completamente. Ela aproximou-se preocupada

“ E não me disseste nada!!” ela falou aflita.

“ Calma, acabei dando a volta ao assunto. Mas creio que terei que parar com os trabalhinhos por um tempo.”

“ Justo. Ainda bem que foi um bom dia. Com o dinheiro que fizeste podias ficar o ano tofo sem trabalhar.” Ela falei suspirando de alivio.

“ Sabes que não posso. Esse dinheiro já tem destino.”

Maura terminou de preparar o pequeno - almoço e nos sentamos a mesa pra comer. A conversa girou em torno da festa da noite passada mas deixei de lado o meu encontro com o meu herói agora provavelmente inimigo. Tenho certeza que ele deve querer a minha cabeça num especto depois que descobriu que foi roubado.

Quando terminamos a refeição eu lavei a loiça e limpei a cozinha enquanto Maura se arrumava pra sair. Me recolhi pro meu quarto feliz pelo silêncio pois conseguiria concentrar-me nos processos em que estava a trabalhar.

As horas passaram e eu nem me dei conta. Estava tão enterrada em trabalho que so me apercebi quando olhei pra janela que era noite. Teria um dia cheio na manhã seguinte e precisava descansar.

Fui a cozinha comer alguma coisa e voltei a ler por mais um bocado antes de dar o dia por terminado.

A segunda-feira chegou e eu acordei mais cedo que o habitual. Preparei-me para o trabalho sem pressa e até consegui comer algo antes de sair.

“ Não sei porque o fazes. Somos amigas há tanto tempo e continuas um mistério pra mim” Maura falou sentada no sofá ainda de pijamas.

“ Faço porque gosto e porque alguém tem de faze-lo. Nem toda gente tem condições de pagar um advogado, mas todos merecem um que se importe. E alguns até pagam o que podem”

“ No mês passado, uma cliente tua pagou-te com um saco de batatas. “ Maura falou entre risos.

“ E deu-nos jeito o saco.” Respondi alegremente.

“ Sabes bem o que quero dizer. Com as notas com que graduaste podias conseguir um emprego melhor. Mas preferes continuar a servir mesas aos fins de semana e ser a salvadora dos pobres no resto dos dias. Juro que não te entendo.”

Ela tinha razão. Qualquer pessoa pensaria que sou louca. Mas se eu fosse trabalhar pra um escritório de advogados não teria tempo para atender as pessoas desfavorecidas. Servir as mesas me permite ter tempo durante a semana e claro, paga as contas e ainda sobre algum para pagar as custas judiciais dos meus clientes. Eu cresci num lugar sem condições e tive poucas pessoas a estenderem-me a mão. Decidi fazer o que posso para ajudar os que não tem condições mas precisam de assistência jurídica.

Olhei-me ao espelho antes de sair e esbocei um sorriso ao ver a diferença entre a Sara garçonete e a Sara advogada. As roupas formais, uma saia lápis e uma camisa social cuidadosamente arrumada dentro da saia. Os sapatos não muito altos e fechados e a bolsa e a pasta com os vários documentos que precisava para o dia de trabalho. Ninguém me reconheceria como a Sara garçonete vestida deste jeito e sem toda aquela maquiagem no meu rosto.

Despedi-me de Maura e sai. Caminhei até ao edifício onde ficava o gabinete de assistência jurídica onde trabalhava. Era uma instituição do governo e alguns , como eu, eramos voluntários. Mas eu fazia questão de estar la a horas e cumprir com o horário como os funcionários pagos. Eu amava esta profissão e sempre quis ajudar os menos privilegiados.

O meu dia estava cheio com sessões no tribunal e quando finalmente cheguei a última estava faminta e exausta. Na companhia de uma colega , fomos até um café próximo ao tribunal pra comer algo.

“ Foi melhor do que esperávamos” Leila falou logo que nos sentamos.

“ Foi. Confesso que vim armada até aos dentes e fiquei ligeiramente decepcionada por não poder usar toda munição. Foi fácil demais.”

Leila soltou uma gargalhada depois do meu comentário.

“ As vezes acho que tu gostas demais das batalhas judiciais. Enquanto eu prefiro quando chegam a acordo no principio e me poupam trabalho.”

Eu gostava mesmo da adrenalina de uma boa discussão. A troca de palavras, usar as fraquezas do adversário e o sabor da vitória esmagadora, depois de horas de argumentação. Era o que mantinha meu coração a bater e o sangue a circular.

Fizemos o nosso pedido e estávamos aa meio da refeição quando a porta do café abriu e um grupo animado entrou e sentou-se numa mesa no canto oposto ao nosso.

Mas o que chamou minha atenção foi uma cara familiar no meio deles. Infelizmente não sabia o nome e havia decidido chamar-lhe meu herói. Eu sei, é um pouco parvo.

Naquela noite o nosso encontro foi breve e não pude olha-lo como agora. Mas antes que pudesse fazer o meu raio-x básico, seu olhar encontrou o meu.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 3

SARA

Completamente hipnotizada por aquele olhar, perdi noção do tempo e espaço. Ele tinha uma expressão quase angelical, mas aqueles lábios tinham tudo pra me arrastar com ele pro inferno.

Wow, o que se passa comigo?

Eu ouvia fragmentos do discurso de Leila , que falava do meu lado pois minha atenção estava no homem que me despia com o olhar. Mas do nada ele desviou o olhar , devolvendo o ar pros meus pulmões.

“ ..não achas?” Leila falou e eu virei pra ela sem entender nada

“ Ham??!!”

“ Onde essa cabeça estava?” ela perguntou franzindo a testa.

“ Desculpa. Estou com mil coisas na mente. “

“ Claro, nunca vi ninguém dedicar-se tanto a um trabalho voluntário.” Ela falou com um sorriso nos lábios.

Nos minutos que se seguiram ele não voltou a olhar em minha direção. Estava aliviada e decepcionada por ele não me ter reconhecido. Pois ele deixou, com certeza ,sua marca em mim e depois da nossa troca de olhares sei que não vou esquece-lo.

Pagamos a conta e saímos do café. Despedi-me de Leila e cada uma seguiu seu caminho. Pensei em passar do escritório, mas pensei melhor e decidi ir directo pra casa. Havia sido um dia longo e estava partida.

Caminhei até a praça de táxis mais próxima e quando ia entrar num deles um carro parrou ao lado. A forma como o fez foi tão abrupta que afastei assustada.

Não tive nem tempo de recuperar do susto e vi um vulto aproximar-se de mim.

“ Acho que nós dois temos contas a ajustar” ele falou determinado.

Levantei a cabeça e fui recebida com um par de olhos cor de chocolate e aquele aroma que reconheceria em qualquer lugar. Mas o momento logo passou quando ele fechou a porta do táxi de forma violenta e segurou-me pelo braço me obrigando a entrar no seu carro.

“ Solta-me.” Falei furiosa.

“ Haaa não. Desta vez não te safas “ ele falou irritado

“ Solta-me ou eu grito” falei num tom ameaçador.

“ Grite a vontade. Vais poupar-me a viagem de levar-te a policia.”

Num movimento ele empurrou-me pra dentro do carro e fechou a porta, trancando-me no interior. Vi-o dar a volta e entrar para o lado do motorista e acelerar dali pra fora.

Os primeiros minutos da viagem foram coroados de silencio. Mas eu tinha que pensar em algo pra me livrar da situação em que me encontrava.

“ Vais mesmo levar-me a policia” falei calmamente.

“ Depende..”

“ Depende de quê?”

“ Se vou acreditar ou não na mentira que me vais contar desta vez..” ele falou sem tirar os olhos da estrada.

“ Então pra onde vamos?”

“ Diz-me tu. Eu quero o meu celular e a carteira de volta. Vais levar-me pra onde estão.”

“ Não sei onde estão. A esta altura, podem estar bem longe daqui.”

Ele encostou o carro na berma da estrada e encarou-me. Céus aqueles olhos!!!

“ Quase não te reconheci, toda formal e elegante. Quando vi-te no café, achei que estivesse a ter alucinações por ter passado os últimos dias a procura de uma mulher que todos diziam não existir”

Ele soltou um longo suspiro e desviou o olhar pra estrada.

“ E o que me denunciou?” Eu estava curiosa pra saber.

“ A tua voz. Ouvi-te quando te despedias da tua amiga.” Ele falou sem olhar pra mim.

Nesse momento eu estava boquiaberta. Ele me reconheceu pela voz. Uau!!!

“ Olha, sinto muito pelos teus bens. Mas por favor não me entregues pra policia.” Falei suplicando.

“ Não sejas cínica. Não sentes coisa nenhuma. Eu só quero os meus bens de volta e te deixo ir.”

“ Não tenho como te devolver. A pessoa pra quem trabalho já deve ter despachado tudo. “

Ele ficou em silencio por alguns instantes. Via- se que ele estava a decidir o meu destino.

Bem feito Sara, porque tinhas de ser louca a ponto de roubar o teu herói.

“ Bom, nesse caso, não vejo outro alternativa senão entregar-te as autoridades.

“ Por favor , não. Eu imploro. Faço qualquer coisa…” bom não pensei bem essa ultima frase.

Qualquer coisa?? A sério Sara. Estás preparada pro que ele vai pedir? Droga.

“ Qualquer coisa?” ele falou com um sorriso malandro no rosto.

Droga! Droga! Mil vezes droga. Eu estava em sarilhos.

“ É só uma forma de expressão. Não quer dizer que faço mesmo qualquer coisa.” Falei tentando rectificar as minhas palavras.

Ele riu-se. Com toda razão, se eu não estivesse tão desesperada teria o acompanhado no riso. Talvez ache piada daqui a alguns anos. No momento eu só queria uma saída pro meu problema.

“ Hum..deixa pensar..” ele falou colocando a mão no queixo.

Eu esperei ansiosa pelo veredito final. Estar no lugar do réu não nada agradável.

“ Bem, vamos concordar que eu mereço uma compensação no valor dos meus bens e claro pelos danos causados.” Ele falou me encarando.

“ Não tenho dinheiro pra te pagar”

“ Então pode ser uma compensação em serviços prestados.”

“ Desde que não seja nada ilegal.”

Ele soltou uma gargalhada e só ai percebi a ironia da minha exigência.

“ É engraçado, vindo de ti. Mas tudo bem, nada ilegal. “ Ele falou entre risos.

Eu o ignorei e esperei pacientemente pra ouvir o que ele tinha em mente.

“ Vais trabalhar pra mim. Serás uma espécie de mocinha de recados. Terás que estar disponível pra mim a qualquer hora e com um sorriso no rosto.”

“ Pra fazer o que exactamente?”

“ Quase tudo, posso querer um motorista, alguém pra levar minha roupa a lavandaria, pra ir pagar minhas contas, fazer as coisas chatas do dia-a-dia que eu não gosto de fazer.”

“ E essa escravatura será por quanto tempo?”

“ Humm….dois meses. Por teres roubado a mim e ao meu amigo”

“ Hey, eu tenho uma vida. Pessoas que dependem de mim. Não posso ficar dois meses a brincar de escrava pra ti” falei frustrada.

“ É isso ou cadeia. Você escolhe.” Ele falou determinado.

Droga, como fui me meter nesta embrulhada. Já sei, por teimosia e por achar que podia safar-me.

“ Não me deixas grandes alternativas. “

“ Optimo. Agora que chegamos a acordo , peço o endereço da senhorita para poder deixa-la a porta de casa.”

“ Não será necessário. Eu posso apanhar um táxi…” ele não me deixou acabar a frase.

“ E eu vou deixar-te escapar novamente? O endereço?”

Soltei um longo suspiro de frustração e dei-lhe o endereço. Ele fez questão de subir comigo até ao apartamento e logo que chegamos obrigou-me a fazer uma confissão por escrito em que eu assumia ter furtado os dois celulares e respectivas carteiras. Se não cumprisse com o nosso acordo ele iria entregar-me a policia. Eu estava nas mãos dele.

“ Bom descanso. Vou deixar-te em paz hoje. Mas a partir de amanhã , és minha propriedade, por dois meses.” Ele falou esboçando um sorriso.

Eu retribui com um ,igualmente falso. Porque o que eu queria era fechar a porta na sua cara e partir-lhe o nariz de bônus.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 4

SARA

O meu celular tocou e o som não era do despertador.

Estiquei o braço ate a mesa de cabeceira e alcancei o celular. Atendi sem abrir os olhos e pronta pra soltar o inferno em forma de palavras.

“ Bom dia , minha escrava preferida. Acorda, tens vinte minutos pra chegar até a minha casa. Mandei o endereço por mensagem . “

Ele nem me deixou falar, desligou a chamada logo que terminou de dar ordens. Olhei pra hora e levantei da cama furiosa. Eram quatro da manhã , e o sol sequer havia nascido.

A cada minuto que passava minha fúria aumentava e queria mesmo descarregar toda raiva mal o visse.

Depois de rapidamente tratar da minha higiene e vestir-me, liguei pra uma das companhias de táxi que usava sempre que trabalhava ate tarde e em poucos minutos um táxi estava a porta. Dei o endereço e felizmente o lugar não era distante.

Quando o táxi parou em frente ao edifício já se via o sol a espreitar. Paguei e saí do carro mas não dei nem um passo e o homem que me sacudiu da cama apareceu a minha frente , sorridente.

Eu juro que eu estava furiosa, mas aquele sorriso me desarmou num piscar de olhos.

“ Bom dia. Estás atrasada. Espero que estejas com bastante energia, pois irás acompanhar-me na minha caminhada. “Ele falou bem humorado.

“ Não faço caminhadas e não vim preparada pra isso.” Respondi irritada.

Ele olhou-me dos pés a cabeça e eu senti um calafrio atravessar meu corpo. Eu trazia vestido uma calça jeans e uma blusa de algodão de manga cava, sapatilhas e uma bolsa tiracolo onde só tinha espaço pra chaves e celular.

“ Hum…bom, hoje terá que servir. Vamos” ele ordenou ignorando tudo que havia dito.

Toda minha fúria voltou em força total mas respirei fundo pra tentar controlar meus ânimos.

“ Olha, nem todos gostamos dessa vida saudável e fitness. Eu estou feliz com a minha bem sedentária” falei cruzando os braços

“ Então devias ter chegado em 20 minutos e teríamos tempo de falar sobre as tuas tarefas para o dia de hoje. Eu já devia estar a caminhar e estou aqui parado a discutir tolices. Segue-me ou vá embora. E nosso arranjo termina aqui”

Ele deu-me costas e começou a caminhar. Ponderei minhas opções por alguns instantes e o segui quando cheguei a conclusão que não tinha outra saída.

Ele era alto e seus passos eram gigantes. Eu tive que correr algumas vezes para o acompanhar. Pelo caminho , não deu pra falar, e eu estava ofegante demais pra dizer uma palavra sequer. Quando não deu mais , parei. Não ia conseguir dar nem mais um passo. Ele andou alguns metros e parou quando se deu conta que eu não o seguia.

“ Ainda não fizemos nem metade. Mexe-te” ele ordenou.

Ele só podia estar a tentar me matar. Eu até sou uma pessoa bastante activa, mas nunca fui fã de ginásio ou de qualquer exercício físico.

Vendo que eu não me movia, ele recuou até onde eu estava parada. Entregou-me uma chave e mandou-me voltar pro seu apartamento. Apesar do alivio de não ter que continuar naquela tortura, o caminho de volta foi doloroso. Quando entrei no apartamento , minhas pernas tremiam. Atirei-me no sofá e puxei o ar por alguns instantes. Depois que me senti recuperada sentei-me.

O lugar era bem simples, poucos móveis e as cores predominantes eram o branco e preto. A separação da sala e da cozinha era feita por uma ilha que servia de mesa de jantar. Havia um sofá de canto preto em frente a um enorme ecrã fixo na parede.

Levantei-me do sofá e fui até ao lado da cozinha . Os eletrodomésticos tinham todos a mesma cor , tudo preto. Eu sempre fui muito curiosa, e não resisti e comecei a mexer e a espreitar por todos compartimentos. O apartamento não era grande, mas os cômodos eram espaçosos. Quando ia abrir uma das portas no pequeno corredor ouvi batidas na porta.

Congelei no lugar nos primeiros segundos, depois pensei melhor e fui até la. Abri a porta e um homem me olhava dos pés a cabeça.

“ Bom dia” falei chamando sua atenção pro meu rosto.

“ Bom dia, linda. O Tiago está?” ele perguntou sorridente.

Tiago??? Droga eu nem sequer sabia o nome dele.

“ Depende.”

“ Não entendi. Ele está ou não.? E quem és tu?” ele perguntou tentando espreitar pro interior do apartamento.

“ Ninguém importante. É a nova diarista.” Respondeu uma voz grave e ofegante que se aproximava.

Quando ele apareceu a minha frente eu tive que me segurar pra não cair dura no chão. Todo suado, com a t-shirt dobrada colocada no ombro deixando a mostra mais do que devia ser permitido a corações frágeis como o meu, ele caminhava devagar até nós.

Ele passou por mim e o visitante misterioso o seguiu. Eu abanei a cabeça pra sair da hipnose e só depois as palavras dele chegaram ao meu cérebro. Diarista???

Abri a boca pra protestar e ele foi mais rápido.

“ Sara, Filipe. Filipe ela é a Sara.”

“ Podes emprestar-me a tua diarista? Eu preciso urgentemente de uma.” o Filipe falou me despindo com os olhos.

“ Terás que arranjar uma sozinho. E o que fazes aqui tão cedo?Estou atrasado e não tenho tempo pra conversar.”

Eu estava encostada a porta ouvindo a conversa dos dois. Ia deixar o amigo ir embora e explicar ao meu herói convencido que eu não iria fazer trabalhos domésticos.

“ Meu carro esta com uns problemas e pensei em ir contigo ao trabalho.” Filipe falou sem tirar seus olhos de mim. Ele nem sequer tentava ser discreto.

“ Ok. Dê-me alguns minutos. Me espera no carro.”

“ Eu não me importo de esperar aqui.”

“ E continuares a deixar a miúda desconfortável. Não. Me espera no carro.” Tiago falou e atirou as chaves pra Filipe .

“ Até a próxima, Sara. Foi um prazer conhecer-te.” Ele falou e saiu de seguida.

A porta fechou e de repente o lugar ficou pequeno demais pra nós dois.

“ Peço desculpas por meu amigo. Ele as vezes não se controla.” Ele falou quebrando o silêncio.

“ Tudo bem.”

Nos encaramos por uns instantes e ele acabou com minha tortura quando desapareceu pelo corredor pra preparar-se pro trabalho. Respirei fundo, pois em algum momento eu havia parado de respirar.

Calma Sara, é suposto odiares o idiota não fantasiar com ele.

Ele reapareceu minutos depois, e em nada ajudou o meu pobre coração. As calças e o casaco azul escuro e a camisa de um azul céu o deixavam ainda mais lindo.

Ai ai ,meu pobre coração. Isto só pode ser castigo pelos meus inúmeros pecados.

“ Já não tenho tempo pra muito. Irei enviar-te por mensagem as tuas actividades pra hoje. Deixei uma cópia da chave do apartamento por cima da mesa de centro. Nem penses em roubar-me, tenho câmaras instaladas por toda a casa. “

“ Já aprendi que roubar-te é péssima ideia” falei frustrada

“ Optimo. Fique a vontade, podes preparar algo pra comeres. Falamos mais tarde.”

Ele levou o celular que estava por cima da ilha e saiu de seguida. Ele saiu mas o aroma do seu perfume ficou pra trás pra me torturar um pouco mais.

Quando ele finalmente mandou a mensagem eu já havia terminado de preparar o pequeno almoço. Não era muita coisa, e conseguiria ter tempo pra ir ao meu trabalho voluntário. Sentei-me pra comer enquanto organizava o meu dia. Arrumei a cozinha e sai, levando comigo as chaves do seu apartamento que ele havia me confiado.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 5

TIAGO

“ O que aconteceu com a senhora simpática que vinha limpar a tua casa? Irei sentir saudades dos biscoitos amanteigados que ela fazia pra ti.” Filipe falou logo que entrei no carro.

No fundo, eu sempre soube que esta ideia era parva. Mas não resisti. Quando me dei conta, naquela noite, que ela havia roubado o meu celular e a carteira me senti o maior idiota do mundo. Logo eu, que normalmente dava a volta aos outros e sempre me safava na conversa. Nem sob tortura iria confessar ao Filipe a natureza da minha relação com Sara.

“ Sara está ainda numa fase experimental. A Matilde continuará a vir e depois decido com qual das duas ficarei.” Respondi sem desviar os olhos da estrada.

“ Hum..ok. Se no fim do probatório, não a quiseres , por favor não te esqueças de mim” ele falou entre risos.

“ Terei isso em consideração.”

Como já deu pra perceber, Filipe é o amigo alegre. Contam-se as vezes que o vi de cara fechada. A boa disposição é parte de quem ele é, mas existe muito mais. É um amigo leal, um profissional sem igual e a companhia perfeita pra qualquer loucura.

Chegamos ao edifício onde trabalhamos e atravessei a cancela em direção ao parque subterrâneo reservado aos funcionários.

Entramos pro elevador e quando as portas iam fechar ouvimos alguém gritar pedindo pra esperar.

“ Bom dia” ela falou ofegante.

“ Bom dia” respondemos em uníssono.

Filipe esboçava um sorriso de orelha a orelha e nos poucos minutos que durou a viagem de elevador eles já haviam combinado um encontro para mais tarde . Ela desceu primeiro despedindo-se de nós com bastante entusiasmo.

“ Tu és inacreditável. “ falei revirando os olhos.

“ O quê? Ele praticamente implorou pra sair comigo. O que querias que eu fizesse?” ele falou entre risos

“ Implorou? Então foi pura caridade. “

“Claro. Tu sabes que meu coração é enorme. Cabe todo mundo”.

Chegamos no nosso andar e separamo-nos indo cada um pra sua sala.

Agora que estava só, todos pensamentos que empurrei pro fundo da minha mente voltaram. Na noite em que a vi a primeira vez, ela estava sentada no colo de um dos meus amigos e tirava sorrateiramente o celular e a carteira dele.. Quando a confrontei e ela negou eu estava decidido a entrega-la a policia. Mas depois ela estava aos prantos encostada no meu peito e não sei o que me deu, voltei atrás na minha decisão. Pior erro da minha vida. Acabei fincando sem o celular e a carteira.

Respirei fundo e tentei trabalhar. Mas minha mente não estava a colaborar. Peguei no celular e hesitei por vários minutos pra ligar pra ela. Decidi escrever uma mensagem.

Tiago: O que fazes?

Apaguei logo de seguida sem enviar

Tiago: Já terminaste as tarefas que dei-te?

Apaguei novamente e deixei o celular do lado. Voltei minha atenção ao ecrã do computador e no mesmo instante minha porta abriu.

Olhei pra porta e respirei fundo pra não falar o que me ia na alma.

“ Bom dia Tiago” Tatiana falou enquanto fechava a porta e aproximou-se. Com toda elegância ela sentou-se por cima da mesa , cruzando as pernas praticamente na minha cara.

Levantei a cabeça pra olhar pro seu rosto , evitando a todo custo a vista proporcionada pelo par de pernas a minha frente.

“ Bom dia , Tatiana.” Respondi e estava orgulhoso de mim quando ouvi minha voz calma e controlada.

Não sou um santo, passo longe disso. Mas uma coisa é ser assediado numa festa e outra bem diferente é a tua chefe sentada na secretária com uma saia que ficava quase inexistente quando cruzava as pernas.

“ De toda minha equipe, tu és o meu preferido. Sempre dedicado e empenhado.” Ela falou num tom sugestivo.

“ Obrigado” falei desviando o olhar pro ecrã do computador.

“ Mas és o único que não confirmou a presença no “happy hour” do departamento esta sexta-feira. “ Ela segurou minha gravata e puxou-me devagar me obrigando a olha-la.

Eu senti como se o nó da gravata apertasse mais e quase me sufocasse. Segurei no colarinho e tentei soltar um pouco.

“ Tenho um compromisso importante que não posso faltar.” Falei a primeira coisa que me veio a cabeça.

Na verdade, desta vez o evento trimestral em que nos juntávamos fora do ambiente de trabalho seria em casa da Tatiana e não fazia questão nenhuma de participar. E honestamente, já era difícil lidar com o assédio no escritório, o que seria de mim no seu território?

Eu gostava do meu emprego, e me envolver com ela não era boa ideia. Se a relação não desse certo eu corria mais riscos.

“ Hum…o que é tão importante que não possas adiar?”

“ Não sei se é correcto partilhar assuntos pessoas com a minha chefe.” Tentei enrolar pra ganhar tempo e pensar em algo.

Tatiana abriu a boca pra falar mas o som do meu celular a fez parar. No ecrã o nome da Sara brilhava e Tatiana inclinou pra ver melhor.

“ Quem é Sara?” ela perguntou sem se importar com o facto de que parecia uma namorada ciumenta e não minha chefe.

Eu olhei pro celular e depois pra Tatiana pensando no que responder.

“ Hum…já percebi. Ela é o compromisso importante. Sempre pensei que não fosses do tipo que se apaixona. Dizer que estou ligeiramente decepcionada seria pouco.” Ela falou levantando da minha mesa e caminhando até a porta.

O celular parou de tocar por uns segundos e do novo vibrava por cima da mesa.

“ Atenda, não vais querer deixar a Sara a espera, pois não…” ela falou com alguma acidez no tom de voz.

Eu peguei no celular e ela saiu logo em seguida.

“ Alô”

“ Já terminei . Há mais alguma coisa? “ Sara perguntou impaciente.

“ Por agora , não. Ligo-te se precisar de ti.”

“ Ok. “

Sem despedidas nem boas maneiras, ela desligou a chamada na minha cara. Sem me aperceber me pus a lembrar a cara que ela fazia quando estava irritada e um sorriso se materializou no meu rosto. Ela era linda , e tinha um sorriso que iluminava tudo a sua volta. Quando a vi naquele café eu me perdi por instantes nos seus olhos brilhantes, naquela boca que implorava que a tocasse e na harmonia que era o seu rosto. Eu não conseguia tira-la da minha cabeça e achei que estivesse a ter alucinações . Até ouvir a sua voz e todas as dúvidas caírem por terra.

O plano, como sempre, era recuperar meus bens e entrega-la a policia. Mas entre o café e a viagem de carro, meus planos mudaram. Eu queria vê-la mais vezes, queria tê-la por perto. É loucura, eu sei. Mas quem nunca fez uma loucura na vida?

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 6

SARA

O dia foi corrido, mas no final estava feliz por ter conseguido tempo pra mim. Entrei no meu apartamento e dei de caras com Maura esticada no sofá.

“ Olá” cumprimentei deixando a bolsa por cima da mesa.

“ Oi. O que aconteceu hoje? Levantaste com as galinhas.”

Havia decidido não contar nada pra ela. Quanto menos pessoas souberem melhor.

“ Tinha um caso que precisava estudar. E queria estar no escritório cedo pra ter paz e poder concentrar-me melhor.”

“ Amiga, não sei porque te dedicas tanto. Nem sequer te pagam.” Ela falou, confusa.

“ Nem tudo gira em torno do dinheiro. Eu gosto de ajudar as pessoas.” Respondi esboçando um sorriso.

“ Tu não és deste mundo. Mas falando em dinheiro, há uma festa este fim de semana, algo mais reservado. Não pagam tão bem como as festas de Lola mas é melhor que nada. Alinhas ou ainda estás com medo de ser apanhada?”

Já havia sido apanhada , mais valia fazer dinheiro.

“ Conta comigo.” Falei enquanto caminhava para o meu quarto. Mal abri a porta ouvi meu celular tocar. Frustrada , voltei a sala pra busca-lo.

“ Alô!" atendi enquanto fazia o caminho de volta pro quarto. Maura franziu a testa mas, não disse uma palavra.

“ Amanhã, a mesma hora. Vem preparada pra caminhada.” Ele falou e o som da sua voz fez meu corpo se arrepiar todo.

“ Eu não…” a chamada cortou e eu olhei pro celular indignada.

O homem é irritante e esta a dar-me cabo dos nervos. Deixei o celular por cima da cama e fui ao banho. Minutos mais tarde, me juntei a Maura e jantamos vendo um filme que passava na tv.

Fui a cama depois que o filme terminou e, do jeito que estava cansada, o sono não demorou a chegar.

Acordei na manhã seguinte com o som do meu celular, outra vez. Nem precisava olhar pra saber quem era.

“ Alô” atendi sem abrir os olhos.

“ São seis da manhã Sara. Queres me explicar porque continuas na cama quando já devias estar aqui a mais de uma hora?”

“ Hum…perdi a hora. Estava exausta.” Respondi calmamente.

“ Não te estás a ajudar. Acho que esqueceste que tem mais a perder neste nosso arranjo. “

Soltei um suspiro , frustrada.

“ Estarei ai em vinte minutos.” Falei enquanto levantava da cama.

“ Optimo” ele respondeu e desligou a chamada.

Ele é lindo de morrer , mas é rude e malcriado na mesma proporção.

Em poucos minutos estava pronta e sai do apartamento. Felizmente Maura ainda não havia acordado, senão iria perder mais tempo respondendo ao seu interrogatório.

Cheguei a porta do Tiago e abri com a minha chave. Mas me arrependi imediatamente.

Tiago estava em pé , encostado a ilha,com apenas uma toalha enrolada na cintura e uma chávena de café na mão.

Assim meu coração não aguenta.

“ Bom dia” falei tentando manter meus olhos no rosto dele. Mas eles não obedeciam e me vi a espiar aquele tronco nu por várias vezes.

“ Finalmente. Fiz uma lista pra ti. “ ele falou apontando pro bloco de notas por cima da ilha.

“ Ok.” Falei num sussurro, pois tava difícil me concentrar com ele daquele jeito.

Felizmente , a tortura não durou muito. Ele foi ao quarto preparar-se pro trabalho. Caminhei até a ilha e peguei no bloco pra ler o que me reservava meu dia. E não era nada demais. Ele podia muito bem ter me entregue as autoridades , mas em vez disso ele me manda ir fazer recados. Hoje , iria as compras. Ele fez uma lista das coisas que precisava mas, eu tinha uma leve suspeita que a lista não estava completa. Resolvi acrescentar algumas coisas que achei que fossem necessárias.

Ele regressou minutos depois, e como no dia anterior , estava de tirar o fôlego. Um terno escuro, com uma camisa preta e gravata preta. Parecia um daqueles barões da máfia italiana.

Sara, tira a cabeça da sarjeta.

Voltei minha atenção ao bloco de notas tentando ignorar a presença dele.

“ O que fazes?” ele perguntou vendo-me escrever no bloco

“ Uns ajustes a tua lista” respondi sem desviar minha atenção do bloco.

“ Deixa ver. “ ele falou aproximando-se e parando do meu lado.

Acho que meu cérebro parou de funcionar quando o senti encostar em mim. O aroma do seu perfume me deixava ainda mais fraca. Eu queria afastar-me, juro que queria. Mas não encontrava forças pra mexer-me.

“ Hun...” ele murmurou e aquele tom grave me deixou toda arrepiada.

Tenham piedade. Assim não da.

Ele levantou a cabeça e quando virou pra olhar-me nossos rostos estavam a poucos centímetros. Confesso que desejei que ele inclinasse um pouco mais e me deixasse provar aqueles lábios que me tentavam.

Mas uma batida na porta acabou com o momento. Tiago recuperou rápido e foi a porta, pra meu desgosto.

“ Bom dia” Filipe cumprimentou animado.

“ Bom dia” eu respondi e Tiago apenas murmurou algumas palavras imperceptiveis.

“ Alguém não esta muito feliz por me ver.” Filipe falou em tom de brincadeira enquanto se aproximava de mim.

Eu apenas esbocei um sorriso, ainda recuperando do momento a segundos atrás.

“ Se achares que não aguentas o seu mau humor, podes vir trabalhar pra mim. Eu sou bem mais alegre” ele cochichou pra mim.

Eu não resisti e soltei uma gargalhada. Realmente Filipe era bem mais alegre. Mas havia um certo charme no Tiago e todo aquele seu ar tão sério. Minha mente começava a viajar pra lugares proibidos e tive que lembrar a mim mesma o que fazia ali.

“ Se vens comigo, sugiro que pares de namoriscar e me sigas “ Tiago falou enquanto abria a porta .

“ Até amanha Sara. “ ele falou seguindo Tiago.

Sentei-me num dos bancos encostado a ilha e respirei fundo. Uma pessoa sensata se manteria longe de Tiago. infelizmente, sensatez nunca foi uma das minhas qualidades. Enquanto eu devia estar a correr na direção oposta, eu estava ali sentada a imaginar como teria sido se não tivéssemos sido interrompidos.

“ Meu Deus, Sara. Recompõe-te . “ Murmurei pra mim mesma.

Meu celular tocou me acordando , Tiago ligava.

“ Alô”

“ Esqueci-me de deixar-te com o cartão. Peço que venhas levar . Te mando o endereço por mensagem.”

E desligou a chamada sem me deixar falar. Soltei um suspiro e levei minha bolsa , chaves , celular e saí. Queria despachar-me rapidamente e aproveitar o resto do dia pra tratar dos meus casos pendentes.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 7

TIAGO

“ Hey, calma. Não precisamos correr. Temos tempo de sobra pra chegar ao trabalho.” Filipe gritou enquanto caminhava apressado pra conseguir alcançar-me.

“ Se dependesse de ti, só chegaríamos ao meio-dia.” Falei irritado.

“ Céus, haja mau humor.” Ele murmurou.

A viagem de elevador foi feita em silencio. Entramos no carro e Filipe não conseguiu mais manter a boca fechada.

“ Queres me explicar o que se passa entre vocês? Porque essa história de diarista só acredita quem não te conhece.”

“ Não se passa nada. Ela trabalha pra mim.” Falei sem desviar o olhar. Não era mentira, apenas omiti alguns detalhes.

“ Então não vais te importar que eu convide Sara a ir comigo ao happy hour na sexta-feira.”

Ele estava a testar-me, eu sabia. Mas não sei o que me deu e agi por impulso.

“ Sara esta fora dos limites. Vai brincar noutro quintal.”

“ Hum…” ele murmurou esboçando um sorriso.

“ O quê?”

“ Nada.”

Não dissemos mais nada o resto da viagem. Chegamos ao trabalho e cada um seguiu seu caminho pra sua sala. Mal sentei liguei pra ela a pedir que viesse ao meu trabalho levar o cartão que acabei esquecendo de entregar. Sim, minha mente ficou toda baralhada depois que quase a beijei. Mandei o endereço por mensagem e deixei o celular de lado pra concentrar-me no trabalho.

De nada adiantou, ela inundava meus pensamentos como uma praga. Afastei os papeis, frustrado. E fiquei a olhar pro vazio, mas a mente viajava de volta aquele momento.

Batidas na porta me trouxeram de volta .

“ Entre” falei ajeitando-me na cadeira.

Sara espreitou primeiro e esboçou um sorriso. Eu não me cansava de vê-la, e um sorriso se formou em meu rosto.

“ Oi.” Ela falou , tímida, fechando a porta trás dela.

“ Desculpa por te obrigar a vir até aqui.” Falei enquanto levantava pra entregar-lhe o cartão.

“ Ao menos agora sei que não trabalhas em nada ilegal” ela falou em tom de brincadeira.

Estendi o braço pra passar o cartão e nossos dedos tocaram-se na troca e senti um choque electrico atravessar meu corpo. Nos olhamos e tive a impressão que ela sentiu também.

O silencio parecia ter durado uma eternidade e eu estava a um passo de cometer uma loucura.

“ Ham…acho melhor ir andando.” Ela sussurrou puxando o cartão.

“ Claro. “ Falei ligeiramente desapontado.

“ O código? Não tens medo que te limpe a conta?” ela falou esboçando um sorriso, mas conseguia ver seu nervosismo.

“ Te mando o código por mensagem. E acho que és inteligente o suficiente pra saber que não vale o risco. E nesse cartão só tem o suficiente pra pagar as compras.”

Ela soltou uma gargalhada e acenou com a mão despedindo-se. Quando a porta fechou , respirei fundo e voltei a sentar-me.

“ O que esta a passar-se comigo?” murmurei no silencio da minha sala.

O resto do dia foi pouco produtivo. Apesar da carga de trabalho que tinha, não consegui me concentrar pra executar nem metade. Precisava arrancar aquela mulher da minha cabeça e da minha vida. Tinha que parar com este arranjo idiota.

Saí do trabalho directo pra casa. Havia tomado uma decisão, mas esperaria pra falar com Sara na manhã seguinte. Prolongar a tortura não era aconselhável, mas não conseguia evitar.

Abri a porta do meu apartamento e congelei no lugar quando vi Sara deitada no sofá num sono profundo. Fechei a porta devagar e deixei as chaves e o celular por cima da ilha. Em silencio, me aproximei do sofá e fiquei a olha-la por alguns instantes. Ela mexeu-se e abriu os olhos lentamente. Quando me viu em pé a sua frente levantou-se imediatamente.

“ Ham…Tiago..eu..errr.” ela falou atrapalhada.

“ O descanso foi bom?” falei disfarçando meu estado.

“Me desculpe. Eu sentei-me por uns instantes pra descansar e acabei adormecendo. Acho que não tinha noção do quanto estava cansada “

Virei e caminhei de volta pra ilha e ela seguiu-me

“ Ainda bem que te encontrei aqui. O nosso pequeno arranjo não me esta a agradar e acho melhor pararmos por aqui.”

A expressão de horror no seu rosto me fez perceber que ela havia entendido tudo errado.

“ Eu fiz tudo que me pediste. Eu não gosto de fazer ginástica mas…posso , sei la, tentar…”

Eu a cortei antes que ele tivesse um ataque do coração a minha frente.

“ Calma!! Não irei entregar-te a policia. Estás livre.” Falei tranquilizando-a.

Ela franziu a testa desconfiada.

“ A sério , Sara. És livre. Mas tem cuidado com o que fazes. És inteligente e deves saber onde isso vai levar-te.”

“ Quero de volta a confissão assinada “ ela falou determinada

“ Eu destrui o papel no mesmo dia. Era só uma forma de te intimidar.” Falei entre risos.

“ Não acredito."

Eu no lugar dela também não acreditaria. Ela tinha todos os motivos pra desconfiar de mim.

" Terás que confiar na minha palavra. Nunca te dei motivos pra duvidar."

Seguiu-se uma pequena pausa .

“ Fiz alguma coisa que te chateou? “ ela perguntou sem olhar pra mim.

“ Não exactamente.” Respondi sem saber o que dizer.

Seguiu-se um breve silencio e ela levou a bolsa que estava colocada por cima da mesa de centro.

“ Então , Adeus..” ela falou parando em frente a porta .

Por um instante , pensei ter visto alguma tristeza em seu olhar. Mas só me deixou mais confuso. Ela devia estar feliz por se livrar de mim. No entanto estava parada em frente a porta esperando eu falar.

Eu queria pedir-lhe pra ficar. Queria voltar atrás e manter nosso arranjo. Mas sabia que não iria sobreviver no final, sem me envolver com ela. Era demasiado arriscado.

A coisa certa a fazer era deixa-la ir.

“ Adeus, Sara.” Falei angustiado.

Ela abriu a porta e saiu. Tive que me segurar pra não correr atrás dela. Ela havia roubado mais do que a carteira e o meu celular. Ela havia me tirado a minha paz.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 8

SARA

Devia estar aos pulos e eufórica por estar livre do meu castigo sem ir parar a cadeia. Mas meu humor parecia de alguém que havia perdido um ente querido.

“ O que se passa contigo?” Maura perguntou depois que notou meu silencio .

“ Nada.” Respondi sem desviar o olhar da tv.

“ Tu tens noção que não consegues mentir-me…” ela insistiu

“ Deve ser cansaço. Acho melhor ir a cama.” Falei sem ânimo.

Levantei de seguida e vi Maura me olhar curiosa. Ignorei e fui até meu quarto. Tirei o celular da bolsa e olhei pro ecrã esperando encontrar uma chamada ou mensagem dele. Quando ia deixar a bolsa ouvi o barulho de chaves e o molho caiu no chão. Eram as chaves do Tiago. Estava tão atordoada com a noticia que não me lembrei de as devolver. Pensei em ligar-lhe, mas logo descartei essa ideia. Decidi ir ao trabalho dele na manhã seguinte pra devolver as chaves.

Depois de horas a revirar na cama , o corpo cedeu ao cansaço e adormeci.

Acordei na manhã seguinte e preparei-me pra ir fazer meu voluntariado. Hoje tinha algumas sessões no tribunal, então vesti a rigor.

Saí de casa sem ter certeza se queria ver Tiago mais uma vez, mas parece que gosto de torturar-me. Cheguei no edifício onde ele trabalha e cumprimentei a recepcionista que era bastante simpática. Perguntei pelo Tiago e outra voz respondeu por ela.

“ Ele esta em uma reunião de momento. Posso ajuda-la?”

Virei pra olhar a mulher que se aproximava. Alta e bonita, vestida formalmente com excepção da saia que parecia ser um pouco curta demais para os padrões que estou habituada. Mas talvez aqui não sejam tão rígidos.

“ Bom dia, só queria entregar-lhe algo.” Falei esboçando um sorriso.

“ Posso entregar-lhe , se quiseres.” Ela falou

Hesitei por uns instantes e olhei pra recepcionista que estava em silencio desde que a outra mulher apareceu.

“ Desculpe, nem me apresentei. Sou a Tatiana. Sou colega do Tiago.” Ela falou estendendo a mão.

“ Sara. “ respondi apertando sua mão.

“ Oh! Prazer Sara. O que queres entrega-lo?” ela perguntou de imediato.

“ Ham…são apenas chaves. Mas posso voltar noutra…”

“ Eu faço isso por ti. Não há necessidade de dar-te a massada de vir ca várias vezes.” Ela cortou-me, falando por cima da minha voz e praticamente me arrancando as chaves.

“ Obrigada” falei ligeiramente surpresa pela atitude dela.

“ De nada querida. Venha eu acompanho-te a porta.” Falou enquanto colocava a mão nas minhas costas guiando-me em direção a saída.

Acenei pra recepcionista e caminhei com Tatiana , que parecia com pressa de livrar-se de mim. Decidi não perder meu tempo pensando nas atitudes de alguém que eu acabava de conhecer. Talvez tenha sido melhor assim, eu devia seguir com a minha vida e esquecer Tiago. Ele já o fez com certeza.

As sessões no tribunal foram um desastre. Tive dificuldades em concentrar-me e esqueci completamente todos os argumentos que havia preparado. Felizmente era casos sem muitas complicações e consegui safar-me sem grandes estragos.

Cheguei a casa e, pra minga alegria, Maura não estava. Tomei um banho e sentei-me no sofá a estudar alguns processos. Uma vez a outra olhava pro celular por cima da mesa de centro, a espera de algum retorno de Tiago. Ele nem sequer iria agradecer ou confirmar que recebeu as chaves?

Mas o que esperavas , Sara? Que fosses fazer falta? Ele tinha uma vida antes de apareceres.

Provavelmente eu fazia parte do grupo das memórias más. E ele não via a hora de esquecer-me.

Quando Maura chegou, eu já havia deixado de lado o trabalho e via uma comédia na tv.

“ Ola miúda” ela falou animada

“ Oi. “ respondi esboçando um sorriso.

“ Pronta para o trabalho amanhã?” ela perguntou enquanto descalçava e atirava-se no sofá , do meu lado

“ Claro. Preciso do dinheiro.”

“ Bom este não vais poder ganhar com as garrafas. Terás que ser criativa..” ela falou com um sorriso malandro.

“ Terei que me contentar apenas com o pagamento oficial. Preciso de um tempo. “

“ Ainda com medo de ser apanhada? Isso faz parte do trabalho. Tens é que ser mais cuidadosa.”

Respirei fundo e voltei minha atenção ao filme. Levantamos do sofá pra ir jantar e de lá fui a cama.

Esperei todo dia por algum sinal de Tiago e não veio nenhum. Estava claro que do mesmo jeito que nossos caminhos se cruzaram, agora iam em direções opostas. Eu era , com certeza, algo que ele preferia esquecer. Eu devia fazer o mesmo.

Não sai de casa durante todo dia. Quando a hora do evento começou a aproximar-se , dei inicio a minha habitual preparação. Felizmente o visual escolhido era mais reservado, calças jeans , uma t-shirt ou blusa vermelha e sapato do salto alto vermelho. Fiquei feliz por não ter de comprar nada. Tinha toda a indumentária necessária.

Saímos de casa um pouco depois das seis da noite e apanhamos um táxi que nos levou ao local da festa. Quando o táxi parou, ambas estávamos maravilhadas com a casa onde seria o evento. Logo fomos indicadas a entrada de serviço que dava para um jardim enorme , já decorado e iluminado com mesas altas espalhadas pelo espaço e sofás e poufs brancos. As cores alternavam e coloriam o jardim.

Tivemos uma breve reunião com o gerente que nos contratou e logo nos espalhamos ajudando a terminar a decoração e cada uma tomando nota das mesas sob sua responsabilidade. Os convidados começaram a chegar e reconheci a anfitriã quando ela apareceu para os receber.

“ Quem é ela?” perguntei ao barman.

“ É a dona da casa. Pelo que entendi a festa é do departamento que ela lidera onde trabalha .”

Meu coração começou a bater acelerado com a possibilidade de ver Tiago novamente. Mas será que estou preparada? E será que ele quer ver-me ou vai ignorar-me por completo.

De repente a ideia de vê-lo já não parecia tão boa.

Um par de horas depois, o lugar estava lotado. Apesar de estar a correr de um lado pro outro , conseguia perder alguns segundos pra procurar por Tiago entre a multidão.

Cheguei ao bar e estava a ditar os meus pedidos ao barman quando oiço alguém chamar por mim. Virei pro lado e vi Filipe caminhar em minha direção.

“ És mesmo tu!” Ele falou esboçando um sorriso.

“ Oi Filipe.” Falei retribuindo o sorriso.

“ É bom ver-te. Pedi seu contacto ao Tiago e quase me arrancou a cabeça. Ele disse-me que não trabalhas mais pra ele.”

“ Sim, não deu muito certo.”

“ Não vou dizer que lamento, porque estaria a mentir. Mas…sempre podes vir trabalhar pra mim, deve ter alguma coisa que possas fazer..” ele falou com um sorriso malandro.

Eu soltei uma gargalhada. Das poucas vezes que estive em sua companhia, Filipe sempre estava bem disposto , o oposto de Tiago que estava sempre tão sério e controlado.

“ Fome não vou passar. Como vês , sei me virar muito bem” falei entre risos.

“ Mas se precisares de trabalho me procura.” Ele piscou um olho e entregou-me um cartão de visita.

“ Obrigada”

“ Podes procurar-me mesmo sem for sobre trabalho. Nunca fui de dispensar a companhia de uma mulher bonita.” Ele falou enquanto se afastava , voltando pro meio da multidão.

Queria ter perguntado sobre Tiago, mas não tive coragem. Abanei a cabeça e voltei minha atenção a travessa , agora cheia, e continuei com meu trabalho.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 9

TIAGO

Depois que Sara foi embora, não tive ânimo pra mais nada. Fui a cama cedo e revirei a noite toda. Acordei atrasado pro trabalho e graças a Filipe que veio bater a minha porta. O meu mau humor piorou quando ele começou a fazer perguntas sobre Sara.

“ Ela não trabalha mais pra mim.” Falei pensando que encerraria o assunto.

“ Hum… nesse caso , podes dar-me o contacto dela? “

Eu soltei minha ira por cima do pobre coitado e só não pedi desculpas porque tinha servido pra calar Filipe durante o resto da viagem até ao trabalho.

O resto dos dias passou tão devagar que quando finalmente chegou a sexta-feira eu sentia como se tivesse carregado o mundo as costas.

Estava concentrado num relatório quando a porta da minha sala abriu e Tatiana entrou sorridente.

“ Bom dia , Tiago” ela falou enquanto fechava a porta e a vi abanar um molho de chaves.

“Bom dia” respondi voltando a atenção pros meus papeis.

“ Então, conto contigo mais logo” ela falou parando em frente a minha mesa.

“ Hum…já falamos sobre isso. Eu…” ela cortou-me e sentou-se na cadeira em frente que normalmente ofereço as visitas.

“ A sara…” ela falou e fez uma pausa.

“ Conheci-a há uns dias. Encantadora…”

Agora ela tinha toda a minha atenção. Como ela conhece Sara?

“ Ela veio devolver as chaves do teu apartamento. Imagino que signifique que acabou o que havia entre vocês, e claro o teu assunto urgente e inadiável pra hoje também foi cancelado.” Ela falou com um sorriso nos lábios.

Eu parei de ouvir no momento que ela falou de devolver minhas chaves. Sara veio ao meu trabalho e não me avisou? Nem sequer uma mensagem. Não sei do que estava a espera. Eu a chantageei pra mante-la perto e quando ela se viu livre porquê continuaria a querer a ver-me?

“ Então, conto contigo mais tarde. “ ela falou levantando-se e deixando as chaves por cima da mesa.

Quando ela fechou a porta , peguei no celular mas não tive coragem de ligar pra Sara. Eu no lugar dela, também correria pro lado oposto.

E agora já não tinha uma desculpa pra faltar ao happy hour. Soltei um longo suspiro, e voltei ao trabalho, frustrado.

Fiquei a trabalhar até depois do horário normal. Filipe passou por minha sala antes de sair e como sempre bem humorado, me fez prometer que passaria pela casa de Tatiana .

Saí do escritório depois das oito da noite.Fui pra casa pra refrescar-me e trocar de roupa. Quando cheguei a casa de Tatiana a rua estava cheia de carros . Tive que estacionar o carro um pouco distante.

Logo que coloquei o pé na casa vi Tatiana vir ao meu encontro.

“ Já começava a pensar que precisaria sair e te arrastar para fora escritório.” Ela falou me abraçando.

“ Não será necessário.” Falei , desconfortável com o abraço.

“ Venha, quero fazer-te uma visita guiada da casa.” Ela pegou-me pela mão e mesmo com meus protestos ele guiava-me para o interior da casa.

Passei por alguns dos nossos colegas , acenando e cumprimentando. No interior da casa, Tatiana falava animada, gesticulando e apontando com a mão livre enquanto a outra segurava-me firme .

“ Tatiana, podíamos deixar pra depois? Ainda não falei com nenhum dos outros colegas .” Insisti.

“ Porquê a pressa? E não sei se depois terei esta oportunidade.” Ela falou conduzindo-me por um corredor.

Parei e ela virou-se pra encarar-me.

“ Acho que já vi o suficiente” falei segurando minha irritação. Ela era no fim de contas minha superior.

“ És um homem difícil, Tiago. E talvez seja isso que me encanta em ti.” Ela falou me encostando na parede.

“ Tatiana, não podemos.”

“ Não existe nada que proíba. E não existe melhor dia como hoje.”

Abri a boca pra protestar e ela aproveitou a oportunidade e beijou-me. Eu estava em choque, porque apesar dos seus avanços, nunca pensei que ela fosse capaz de faze-lo com a casa cheia de colegas nossos.

Quando recuperei e a afastei meu olhar foi de encontro a uma sombra no inicio do corredor. Sara estava parada e olhava em nossa direção. Sem pensar, larguei Tatiana e fui atrás de Sara que desapareceu quando me viu olhar pra ela. Quando cheguei ao pátio havia várias vestidas do mesmo jeito que ela.

“ Olha só quem decidiu se misturar.” Filipe falou entre risos

“ Viste a Sara?” perguntei sem me importar com o que ele iria pensar

“ Há algumas horas , sim.”

“ Não. Agora, viste-a” falei aflito.

Mas não esperei ele responder, pois vi Tatiana aproximar-se. Afastei-me de Filipe e misturei-me com o resto dos colegas olhando para todos os lados procurando por ela. Foi quando finalmente a vi, escondida atrás do bar. Determinado, caminhei até ela.

“ Sara..” chamei quando a alcancei.

Ela estava de costas e levou algum tempo a virar-se.

“ Sara!” Insisti.

“ Não devias ter me seguido. Preciso voltar pro trabalho.” Ela falou e tentou contornar-me pra sair dali. Mas eu a segurei pelo braço e puxei-a pra mim.

“ Solta-me Tiago”

“ Não antes de falarmos.”

“ Não temos nada pra falar.” Ela falou irritada

“ Eu tenho, então ao menos ouve-me.”

Eu a soltei e ela parou a minha frente cruzando os braços num gesto desafiador.

“ Porque não me ligaste quando foste ao meu trabalho?”

“ Fui só devolver as chaves, não sabia que havia um protocolo a seguir.”

“ E decidiste entregar as chaves a primeira pessoa que passou?? “

Ela olhava-me como se fosse soltar o inferno na minha cabeça. Mas eu queria entender como ela chegou até Tatiana.

“ Não foi a primeira, mas ela disse que era tua colega. Mas já percebi que é mais do que isso. Portanto não há problema nenhum. É tudo?”

“ Não.” Falei me aproximando dela. Ela levantou o rosto e nos encaramos por alguns segundos. Aqueles olhos brilhantes me olhavam e eu me perdi neles. Não sabia, até aquele momento , quanta falta ele me fez todos estes dias.

“ Diz logo o que queres, não posso arriscar que a tua namorada nos encontre aqui e decida não me pagar.”

“ Tatiana é minha chefe” respondi sem pensar e me arrependi quando vi o choque no rosto da Sara.

Ela tentou contornar-me novamente e veio de encontro ao meu corpo. Eu a segurei firme contra mim.

“ Tiago…” ela protestou mas eu não cedi

“ Eu não tenho nada com Tatiana. O que viste foi um mal entendido.”

“ Não me deves nada, e eu não quero saber quem beijas ou com quem tens uma relação. Solta-me ou eu grito.” Ela falou enquanto tentava libertar-se do meu abraço.

Como se um íman me puxasse pra ela, inclinei e nossos lábios tocaram-se pela primeira vez. Esperei pelo momento em que ela fosse empurrar-me ou dar-me um estalo pelo meu atrevimento. Mas o que se seguiu foi surpreendente. Sara enrolou seus braços no meu pescoço, e ficou em bicos dos pés , tão ávida quanto eu por finalmente sentir o sabor do seu beijo.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 10

SARA

Eu acho que alguém devia beliscar-me, porque decididamente eu só posso estar a sonhar.

Tiago tinha suas mãos firmes em minha cintura enquanto me devorava com aquele beijo que quase me fez pegar fogo.

Quanta injustiça! Ele tinha que ser aquela visão do paraíso e ainda por cima beijar tão bem que te faz levitar do chão.

Quando ele interrompeu o beijo, afastando-se ligeiramente, eu queria implorar por mais. Felizmente o bom senso me impediu de fazer essa triste figura.

“ Ham..isto foi completamente fora do normal pra mim. Desculpa” falei tentando disfarçar a minha vergonha.

“ Não vou desculpar-me pelo beijo. Eu queria ter feito isto há mais tempo.” Ele falou esboçando um sorriso.

Calma Sara! Estas a ter alucinações

“ Como podes dizer isso? “

“ Porque é a verdade. De que adianta negar o que esta diante dos nossos olhos. Eu me sinto atraído por ti , Sara.”

Eu abanei a cabeça , tentando apagar da minha memoria suas ultimas palavras .

“ Irão me desculpar por interromper o reencontro dos pombinhos, mas preciso que ela volte pro seu posto.”

Eu e Tiago viramos na direção da voz e Tatiana estava parada há poucos metros , com cara de poucos amigos. Sem perder tempo, contornei Tiago e sai disparada misturando-me com o resto dos convidados. Olhei pra trás e vi que Tiago continuava ali , falando com Tatiana. Soltei um longo suspiro e voltei minha atenção aos integrantes da mesa que atendia.

Voltei ao bar e comecei a ditar os pedidos ao barman quando Tatiana aproximou-se.

“ Hum, Sara..” ela falou esboçando um sorriso tão falso que era assustador.

Não me movi, apenas a encarei esperando ela dizer o que queria.

“ Não sabia que Tiago começou a baixar o nível das suas conquistas. Uma garçonete, uau.” Ela falou com desdém.

“ Não vejo mal nenhum em ser garçonete. “ falei num tom casual, sem me deixar intimidar.

“ Claro que não querida. É só isso que conheces. Mas Tiago tem um futuro promissor , devia ver com quem se associa.”

“ Acho que ele não concorda contigo”

“ Ainda por cima é insolente. Tens noção que estás em minha casa e posso mandar atirar-te a rua?”

“ Não será necessário. Eu me recuso a trabalhar pra pessoas mesquinhas e preconceituosas como tu. Eu demito-me.” Falei, explodindo de raiva.

Passei por ela, e fui directo ao lugar onde havíamos deixado as bolsas e levei a minha. Saí pela porta de serviço , furiosa e com vontade de dar um pontapé em alguém.

“ Sara!” ouvi Tiago chamar , mas não parei.

“ Sara, espera!”

Ele alcançou-me e segurou-me pelo braço , obrigando-me a parar.

“ O que queres agora?” perguntei irritada

“ O que se passa?” ele falou aflito, vendo meu estado.

“ Não é da tua conta. Devias voltar pra festa senão acabas sem trabalho, como eu”

“ Deixa-me levar-te a casa. “

Franzi a testa e o encarei por alguns minutos.

“ E a festa?”

“ Na verdade eu nem queria ter vindo. Mas não me arrependo pois pude ver-te novamente. E agora que vais embora, o meu interesse pela festa foi reduzido a zero.”

“ Devias ter cuidado com as coisas que dizes. Alguém pode interpretar mal” falei nervosa.

“ Não vejo o que pode ser mal interpretado no meu discurso.” Ele falou num tom mais suave, como se tentasse me acalmar.

“ Outra podia pensar que estás interessado nela.” Falei desviando o olhar.

A expressão no seu rosto era neutra, e ele encostou mais em mim.

“ E tu o que achas?” sussurrou provocando calafrios em meu corpo.

“ Tiago…” falei tentando intimida-lo. Mas de nada adiantou. Seu rosto estava cada vez mais próximo do meu.

“ Eu estou interessado em ti. É directo o suficiente?” aquela voz rouca sussurrando baixinho era minha perdição. Por mais que eu quisesse ser sensata e pratica, Tiago estava a conseguir me deixar burra e louca.

“ Porquê eu?” perguntei quase ofegante pois a proximidade não ajudava em nada a minha decisão de não me deixar levar pelo momento.

Já havia cometido o erro de beija-lo há momentos atrás.

“ Quem me dera saber.” Ele falou e senti honestidade nas suas palavras. Nem eu sabia porquê, mas sempre que estava perto dele meu cérebro parava de funcionar, meu coração batia acelerado e o ar abandonava meus pulmões. Pensando bem, parece que descrevi uma doença terminal.

Sim, sou capaz de morrer se me deixar levar. Mas como resistir a um homem lindo , depois dizer com todas a letras que é a ti que quer. Se alguém souber a resposta, por favor , me diga.

“ Vamos?” ele perguntou esperançoso.

“ Vamos.” Respondi a seguir.

Ele esboçou um sorriso de orelha a orelha e segurou minha mão conduzindo-me até onde seu carro estava estacionado.

Ele abriu a porta pra mim e depois deu a volta pra entrar do lado motorista. Fizemos o caminho até meu apartamento em silencio.

Aproveitei o tempo pra colocar minhas opções na balança. No fim, decidi que seria melhor cortar o mal pela raiz, antes que as coisas se complicassem mais. Tatiana , apesar do seu jeito rude disse uma verdade. Eu e Tiago não frequentamos o mesmo círculo social. E quando nossos caminhos se cruzam , eu sou a empregada que o serve , e aos seus amigos.

Quando ele estacionou a porta eu abri a porta e sai. Ele rapidamente , saiu do carro , vindo ao meu encontro.

“ Tenho a impressão que estás a fugir de mim.” Ele falou.

“ Obrigada por me trazer e obrigada por não ter me entregue a Policia. Somos de mundos e realidades diferentes. Não quero iniciar uma relação que já sei como terminará. “ falei na esperança que fosse o suficiente para o convencer a não insistir.

“ Não tens como saber. “

“ Tiago, pelo amor de Deus, estamos aqui hoje porque roubei-te a carteira.” Falei irritada

“ E o celular. Mas sei que tu és esperta o suficiente pra deixar essa vida.” Ele insistiu.

“ Não. Não quero que cries expectativas. Eu sou o que sou. “

“ Sara…” eu o cortei na hora, colocando um dedo sobre seus lábios.

“ Adeus ,Tiago.” Dei meia volta e entrei no edifício, deixando-o plantado no meio da rua.

Felizmente ele não me seguiu. Entrei no apartamento e fui directo pro banho. Precisava lavar a alma depois de dizer não, quando tudo que queria era abraçá-lo e dizer sim.

Mas eu sabia bem que , apesar de tudo parecer lindo quando estamos no auge da paixão, mais cedo ou mais tarde a realidade bate a porta.

Minha mãe nunca foi sofisticada o suficiente pra ser a esposa que meu pai iria apresentar aos amigos.

Porque o ama, aceitou viver nos bastidores. Aceitou ser o segredo guardado a sete chaves. Não quero ser refém desse sentimento. E sei que não seria difícil me apaixonar por Tiago. Portanto, não. Vai custar, vai doer, mas vai passar.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 11

SARA

Estava a meio do banho quando ouvi batidas fortes na porta. Fechei a agua e amarrei uma toalha a volta do meu corpo e fui até la. Abri a porta e Tiago estava parado a porta.

“ Não me interessa o que os outros vão pensar. Eu tenho direito a escolher com quem quero ficar. E terás que convencer-me que não queres o mesmo.”

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa ele avançava sobre mim e fechava a porta atrás dele. Eu dei um passo atrás mas não foi suficiente, ele estava sobre mim e seus lábios tomavam os meus de assalto. Ele estava determinado, e o beijo mostrava o quão decidido ele estava em derrubar todas as barreiras que me impediam de me render a atração que sentia por ele.

E haja determinação!

Porque quando ele afastou-se eu quase cai , totalmente zonza depois do beijo avassalador e ardente que acabava de receber.

“ Depois disto, podes dizer o que quiseres , Sara, mas nós dois sabemos a verdade. Estamos no mesmo barco e eu decidi que não vou abrir mão. “ ele falou ofegante.

Aquele beijo havia provocado um curto circuito em meu cérebro, pois eu não conseguia formar uma única frase coerente.

“ És louco e ingénuo.” Falei depois de algum tempo.

“ Talvez, mas pelos vistos partilhamos a mesma loucura.”

Abanei a cabeça, sem conseguir crer no que ouvia. Começava a ficar sem argumentos para pô-lo a correr.

“ Vou deixar-te descansar. Mas eu volto. “

Ele deu-me um beijo carinhoso na testa e saiu de seguida. A porta fechou e eu continuei ali, lembrando ao detalhe tudo que acabava de acontecer. Levei a mão a boca, tocando de leve meus lábios como se isso fosse me convencer que não estava a sonhar.

Fui a cama, e adormeci depois de horas a tentar apagar a imagem de Tiago da minha mente. Ele era como uma erva daninha , que crescia descontrolada em todo lugar.

“Oh Deus, não deixes que ele chegue ao meu coração” Murmurei no silêncio do meu quarto instantes antes de me render ao cansaço.

Quando acordei na manhã seguinte, não estava melhor que no dia anterior. Com muito esforço me arrastei pra fora da cama, dando inicio ao meu ritual da manhã.

Depois de vestir, fui a cozinha e fiquei aliviada em ver que Maura ainda estava a dormir. Tomei uma caneca de café e sai para fazer o bem a outras pessoas. Fiquei toda a manhã a receber pessoas que buscavam aconselhamento jurídico. Ajudou-me a distrair-me do drama que era a minha vida naquele momento.

Depois do meio -dia, estava inquieta. Tiago estava em silencio desde a noite passada. Comecei a achar que talvez ele tivesse mudado de ideias. E , quando pela lógica ,isso devia me deixar feliz, o irracional do meu coração se comprimia em meu peito.

As duas da tarde já não consegui disfarçar meu mau humor. Decidi parar e ir pra casa relaxar. Sai do edifício e parei quando vi Tiago encostado ao carro estacionado em frente a porta do edifício.. Ele esboçou um sorriso quando me viu .

Caminhei até ele , com um sorriso bobo no rosto.

“ Oi” falei parando a uma distancia considerável.

“ Oi. Pensei que nunca mais fosses sair .” ele falou num tom de brincadeira.

“ Tens sorte, hoje não estou nos meus melhores dias. Senão , corrias risco de passar a noite ai a espera.” Debochei.

“ É sábado Sara.” Ele protestou.

“Como sabias onde me encontrar?” perguntei consciente de que nunca havia falado do voluntariado pra ele.

“ Fui a tua casa e a tua amiga disse-me onde encontrar-te.”

“ Tenho que ter uma conversa séria com ela.” Murmurei

“ Vou levar-te a comer algo. Estás com cara de poucos amigos.”

Por que ele tem que ser gentil e atencioso. Preciso de uma falha onde me agarrar, qualquer coisa.

“ Não posso. “ falei sem dar mais detalhes.

“ Tu és frustrante, sabias?” ele falou desencostando do carro e vindo ao meu encontro.

“ E tu és teimoso.” Respondi conseguindo manter o tom da minha voz neutro.

“ Eu sei como arrancar de ti todas essas emoções que tentas arduamente esconder. Mas para o bem da minha sanidade mental , não irei fazer o que tenho vontade de fazer contigo neste exato momento. “ Ele sussurrou baixinho ao meu ouvido.

Tenho certeza que a temperatura do meu corpo subiu alguns graus só de ouvir aquele comentário. E aquela voz que dominava todas as minhas fantasias só piorava minha situação , eu era uma bomba relógios prestes a explodir.

“ Sei que estas a pensar no que dizer pra me por a milhas. Desista, eu não vou a lado nenhum.” Ele falou olhando nos meus olhos.

E eu é que sou frustrante. Ele não percebe que tento fazer o melhor pros dois. Ele só vai adiar o obvio.

“ Preciso de tempo. Preciso pensar nisto…” falei, derrotada.

“ Ok. Mas não me deixes a espera tempo demais. “

“ Vou tentar.”

“ Vamos. Vou levar-te a casa” ele falou segurando minha mão.

Eu o segui até ao carro. Ele abriu a porta pra mim e deu a volta pra entrar do outro lado.

“ Cada vez que descubro algo sobre ti, fico mais confuso e curioso” ele falou logo que nos pusemos a estrada.

“ Não entendi.”

“ Tens uma licenciatura em direito e fazes voluntariado quando podias ter um bom emprego. Mas preferes ser garçonete e outras coisas mais que não entendo por que o fazes.”

“ Tenho minhas razões.” Falei com mágoa, ao lembrar as voltas que minha vida deu e as situações em que me coloquei pra chegar aqui.

“ Gostaria que algum dia fosses capaz de confiar em mim pra me contar. “ Ele falou depois de estacionar o carro em frente ao edifício onde moro.

“ Sabes que podias estar a usar o teu tempo pra algo melhor.”

“ Dás pouco crédito a ti mesma. Apesar das circunstancias que nos juntaram, tudo que sei sobre ti até agora só me faz querer-te mais. Meu tempo esta a ser usado naquilo que me faz bem. Tu me fazes bem, Sara.”

Ele colocou sua mão no meu rosto obrigando-me a olhar pra ele.

“ Eu não vou desistir.” Ele falou e aproximou-se , beijando-me.

Eu virava uma manteiga derretida sempre que ele me tocava. E aquele beijo , carregado de desejo e ternura estava a deixar-me com dúvidas. E se ele tivesse razão? E se nossa história fosse ser diferente. Meu medo não me deixava correr riscos.

Nos afastamos e eu não conseguia encara-lo. Abri a porta e sai. Ele não me seguiu, mas chamou por mim e eu virei pra olha-lo uma última vez.

“ Não me deixes muito tempo a espera.” Ele lembrou.

Eu acenei com a cabeça e continuei meu caminho. Muita coisa havia mudado em pouco tempo. Aquela erva daninha já começava a alastrar-se em mim.

“ Droga” praguejei , e a senhora do meu lado me olhou indignada.

Desculpei-me com o olhar e felizmente o elevador parou no meu andar nesse instante.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 12

TIAGO

Contra a minha vontade eu a deixei ir , na esperança que não precisaria esperar muito tempo pra tê-la definitivamente. Mas dias se passaram sem sinal dela.

“ Queres me dizer o motivo desse mau humor?” Filipe falou , olhando-me desconfiado.

“ Estou cansado apenas. “ respondi sem tirar os olhos dos papeis na minha mesa.

“ Tens trabalhado como um louco. Mas disso falaremos mais tarde. O que se passa?”

Levantei a cabeça e suspirei, frustrado.

“ Sara. Sara é o que se passa, ou não se passa. Já nem sei.” Confessei , finalmente.

Filipe esboçou um sorriso de orelha a orelha.

“ Eu sabia! “ ele falou triunfante.

Abanei a cabeça , sem conseguir conter meu riso.

“ Meu amigo, tu podes tentar, mas a mim não enganas. Eu sabia que havia algo entre vocês.”

“ Na verdade não há nada entre nós. Não que eu não queira. Mas Sara foge de mim como se eu fosse uma praga.”

“ O que fizeste a pobre rapariga?”

Agora que pensava nisso, uau!! Como explicar que a chantageei pra ela trabalhar pra mim por dois meses sem salario? Pensando bem , ela tem razão em não querer nada comigo.

“ Droga!!” murmurei

“ Tiago??!! O que foi que fizeste?” Filipe insistiu vendo a preocupação estampada em meu rosto.

“ Nós nos conhecemos de forma pouco convencional. É uma longa história.”

“ Tenho tempo.” Filipe falou dando-me total atenção.

Eu precisava falar com alguém e Filipe era meu melhor amigo. Então não me segurei mais, e contei tudo, desde o meu primeiro encontro com Sara até a nossa última conversa a dias atrás.

“ Sabes, eu gostei dela assim que a vi. Não sei porquê. E apesar de teres tentando negar , estava estampado na tua cara que estavas interessado nela.”

“ Tentei resistir. Mas há algo nela que me faz voltar. Eu abri o jogo e mesmo assim ela me colocou a pão e agua. Disse que precisava de um tempo mas já la vai uma semana e nada. Acho que vou enlouquecer.”

Estava por um fio. Eu queria vê-la. Não, precisava vê-la.

“ E estás a espera de que pra ir atrás dela?? Bênção do Papa??” ele falou entre risos

“ Não queria me impor. Eu quero que ela venha por vontade dela.”

“ Está claro que ela precisa de um pequeno empurrão. Queres que vá falar com ela?” Filipe ofereceu-se.

“ Por Deus, não. Eu posso resolver meus próprios problemas.”

“ Então levanta já daí e vai atrás dela. Ou eu terei que faze-lo por ti. Não aguento mais essa tua cara de funeral.”

Soltei uma gargalhada e levantei, levando minhas chaves e o celular comigo. Entrei no carro decidido a não voltar sem uma decisão dela.

Cheguei a porta do apartamento de Sara e hesitei por uns instantes. Estava uma pilha de nervos. Me sentia como um adolescente a porta da primeira namorada pronto pra enfrentar o pai para leva-la a sair. Bati a porta e esperei ansioso. A porta abriu mas não era Sara a minha frente.

“ Tiago, tudo bem?” Maura falou olhando para trás. Sara estava deitada no sofá e levantou-se logo que ouviu meu nome.

“ Oi. “ falei sem saber o que dizer agora que a via.

“ Vou deixar-vos conversar. “ Maura falou desaparecendo pelo corredor.

Aproximei-me dela sem saber se sentava ou continuava em pe.

“ Tiago, eu..ham…” ela falou atrapalhada.

“ Tudo bem. Percebo que tenhas algumas reservas, principalmente pela forma como te forcei a trabalhar pra mim.” Falei cortando-a.

“ Bem, sim. Mas , não acho que seja boa ideia alimentarmos o que sentimos.”

Sentei-me do lado dela e segurei suas mãos.

“ Fiquei uma semana longe de ti e pareceu um ano. Meu humor estava tão mau que ninguém mais me aturava no trabalho. Eu estava a ponto de enlouquecer quando Filipe praticamente me obrigou a vir aqui. Pra dizer que, mesmo sem alimentar, eu já estou perdido.”

“ Tu não sabes o que dizes” ela falou afastando suas mãos.

“ Ao menos dá-me uma chance de te provar que o que digo é verdade. Uma chance de te provar que podemos ser felizes juntos. “

“ E se não der certo? Como será depois?”

“ Eu também estou a correr riscos. Talvez no fim serás tu a deixar-me com o coração partido. Mas eu não quero ficar sentando a imaginar como teria sido. “

Ela levantou-se e deu alguns passos, pensativa. Depois de um tempo levantei também e me aproximei dela segurando-a pela cintura para a fazer parar.

“ Sara…” falei olhando pros seus olhos.

“ Eu não sei se isto é boa ideia.”

“ Uma chance, é tudo que peço.”

E antes que ela pudesse responder eu a beijei. Eu quis faze-lo desde o momento que a vi. E o momento pareceu-me mais do que apropriado. Tinha esperanças que o beijo ajudasse a convence-la que somos compatíveis, que pode dar certo.

Quando nos afastamos , seus olhos brilhavam mais do que o normal e eu tive esperanças.

“ Ok.” Ela murmurou baixinho.

Não me contive e a beijei novamente. Sara enrolou seus braços a volta do meu pescoço e me puxou mais pra ela, correspondendo ao meu beijo intensamente. Afastei-me alguns centímetros e murmurei sem tirar meus olhos dela.

“ Eu gostaria de continuar, mas tenho noção que não estamos sozinhos.”

Ela soltou um riso e deu-me um beijo carinhoso no rosto antes de afastar-se.

“ Acho que teremos que continuar outro dia” falou guiando-me pra porta.

Paramos por um instante e nos encaramos.

“ Então….ligo-te quando chegar a casa.” Falei, hesitante

“ Ok. Ficarei a espera.” Ela respondeu com um sorriso.

Despedi-me com um beijo e sai me sentindo um novo homem. Conforme prometido, liguei pra ela logo que cheguei a casa e fui ao banho de seguida.

Quando fui a cama , resisti a vontade de voltar a ligar. Precisava ter calma pra não assusta-la .

Os dias que se seguiram foram ainda melhores. Falamos todos os dias e saímos pra almoçar juntos algumas vezes. Eu estava feliz e sentia que ela também. Mas havia ainda barreiras por derrubar. Sara falava pouco dela e no único dia que perguntei algo sobre sua família ela simplesmente cortou-me de forma agressiva.

Sei que é cedo, mas gostaria que ela pudesse se abrir comigo. Eu quero saber tudo sobre ela, quero estar do seu lado tanto nos bons como nos maus momentos. Ela não faz ideia do quanto é importante pra mim.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 13

SARA

Estamos juntos ha quase um mês e tem sido maravilhoso. Tiago é carinhoso, atencioso , um perfeito cavalheiro. Mas quando a esmola é demais o Santo desconfia.

Todas as coisas boas em minha vida duraram pouco ou provaram ser uma mentira. Tenho medo de pensar em qual delas Tiago se enquadra.

Mas logo que entrei no restaurante onde ia encontrar-me com Tiago, todas as inseguranças e pensamentos desapareceram. Ele sorria pra mim, vendo-me aproximar da mesa.

“ Desculpe o atraso. A sessão levou mais tempo que o previsto.” Falei sentando-me.

Ele inclinou e deu-me um beijo rápido.

“ Estás desculpada.” Falou esboçando um sorriso.

Um garçon aproximou-se e fizemos nossos pedidos.

“ Vais trabalhar este fim de semana?” Tiago perguntou depois que o garçon afastou-se.

“ Na sexta apenas. Porquê?”

“ Filipe completa anos esta semana e seus pais não querem que passe em branco. Filipe não quer nenhuma festa, então será apenas um jantar num restaurante que Filipe ficou por me dizer. Gostaria que me acompanhasses. “

“ Quando será?”

“ No sábado.”

Há alguns dias que Tiago falava que queria que eu conhecesse sua família. Sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. Mas preferia que fosse mais tarde. Conhecer sua família implicaria apresenta-lo à minha. Lembro-me de ele dizer que Filipe era mais que um amigo e que ele considerava a família do Filipe como sua. E agora , este jantar que ele quer que o acompanhe. Será que ele quer usar isto pra me pressionar? Será que seus pais estarão também no jantar e vai aproveitar para me apresentar?

“ O que estás a pensar , Sara?” Ele perguntou , me devolvendo ao presente.

“ Nada.”

“ Eu te conheço minimamente bem pra saber que algo te incomoda. Diz-me o que é?”

“ Não sei se é boa ideia te acompanhar nesse jantar.”

“ Porquê? Tu e Filipe dão-se bem. Bem demais pro meu gosto. “ ele falou tentando me convencer.

Sim, é verdade que eu e Filipe tornamo-nos bons amigos. Ele é divertido e uma pessoa fácil de se gostar. Mas apesar da pontinha de ciúmes nas palavras de Tiago, Filipe não tem interesse romântico em mim. Muita da vezes ele só diz coisas pra irritar Tiago por diversão. Mas está feliz por nós dois.

“ Eu acho que podíamos esperar um pouco antes de me apresentares pra todo mundo “ falei por fim.

“ Eu já queria te apresentar ao mundo no primeiro dia. Mas me contive porque tu não te sentias preparada. Eu quero sim que as pessoas importantes pra mim te conheçam. Que saibam o motivo pelo qual estou sempre com este sorriso idiota, conheçam a mulher que me faz feliz. E tenho certeza que todos eles irão gostar de ti.”

Ele me desarma quando diz estas coisas. É incrível como ele consegue deixar-me sem argumentos.

“ Ok. Eu vou contigo” falei esboçando um sorriso.

Ele aproximou-se e acariciou meu rosto. Nos olhamos por alguns instantes, completamente inconscientes do que se passava a nossa volta. E era sempre assim quando estávamos juntos, era como se o mundo inteiro desaparecesse . Ele inclinou e beijou-me, lenta e suavemente , afastando de vez todas as minhas preocupações.

O som de alguém a limpar a garganta nos fez acordar e nos afastamos. Não deu pra segurar o riso quando vi a cara do garçon. Ele colocou nossos pratos e desapareceu em seguida.

“ Coitado..” falei entre risos.

“ A culpa é tua , não consigo manter-me afastado.” Ele falou plantando um beijo suave no meu pescoço.

“ Tiago!” protestei vendo os olhares curiosos a nossa volta

“ Ok, ok. Vou me comportar. Por agora..” Ele falou com um sorriso malandro estampado em seu rosto.

Eu soltei uma gargalhada e decidi ignorar o último comentário. O resto do tempo falamos sobre o meu trabalho no gabinete de assistência jurídica. Ele sempre perguntava sobre meus casos e ouvia atentamente eu falar animada sobre o que gostava de fazer.

Saímos do restaurante e ele insistiu em levar-me de volta ao trabalho. Nos despedimos com um longo e apaixonado beijo. Fiquei mais algumas horas a rever processos e a arquivar os casos encerrados. Saí do trabalho e caminhei até meu apartamento.

Falei com Tiago mais tarde e fui a cama sentindo-me a mais sortuda e feliz das mulheres.

Quando o sábado chegou, eu estava com os nervos a flor da pele. Foi um pesadelo escolher a roupa pra vestir. Meu quarto tinha roupas espalhadas pelo chão, e eu continuava indecisa em dois conjuntos.

“ O que aconteceu aqui?” Maura falou entrando na zona de guerra em que meu quarto havia se transformado.

Eu estava frustrada e indecisa. Soltei um longo suspiro e sentei na cama.

Maura aproximou-se tentando não pisar nas roupas espalhadas pelo chão.

“ Pareces precisar de ajuda. O que posso fazer por ti?” ela falou sentando-se do meu lado.

“ Nunca me senti tão insegura. Estou a horas a tentar decidir o que vestir. E nem sequer vou conhecer os pais dele. Não sei o que será de mim quando esse dia chegar.” Falei aflita.

“ Então porque estás tão nervosa?”

“É a primeira vez que serei apresentada como sua namorada. E os pais de Filipe são como família pra ele. É errado eu querer causar uma boa impressão?”

“ Não. Não é errado. Mas acho que estas a ser muito dura contigo. Tu és adorável ,Sara. E sei que Tiago partilha da minha opinião. Seja tu mesma e tudo vai dar certo.” Ela falou tentando me animar.

“ E se ninguém gostar de mim. Droga!!!”

“ Hey calma. Deixa-me ajudar-te a escolher o que vestir.” Ela falou virando sua atenção para as roupas por cima da cama.

Maura fez algumas mudanças no visual que havia separado e o resultado final foi surpreendente. Olhei-me ao espelho e fiquei satisfeita com o que vi. O vestido floreado de alças ajustava-me ate a cintura e abria depois terminando no joelho. Escolhi uma bolsa pequena vermelha combinando com a sandália plataforma que Maura sugeriu.

Ouvimos batidas na porta e Maura foi abrir me deixando sozinha pra terminar os últimos detalhes. Saí do quarto e ouvia vozes animadas que vinham da sala.

Tiago abriu um sorriso de orelha a orelha quando me viu.

“ Uau….” Ele falou aproximando-se.

“ Oi” falei embaraçada.

“ Acho que não vamos mais ao jantar. Vou fechar-te no meu apartamento longe dos olhares de outros homens.”

Soltei um riso que Tiago engoliu com um beijo.

“ Ok pombinhos. Vamos embora senão chego atrasado ao meu jantar de aniversário.” Filipe falou entre risos.

Contra nossa vontade, nos afastamos.

“ Oi Filipe. Não te tinha visto ai.” Falei envergonhada

“ Acho que quando Tiago esta todos nós ficamos invisíveis.” Ele falou em protesto.

Tiago murmurou algo que não consegui perceber e os três saímos do apartamento.

Em pouco tempo Tiago parava em frente ao restaurante e saímos do carro entrando no lugar. Conversávamos animados quando Filipe nos deixou pra trás e foi abraçar uma mulher.

“ Sara??!” ouvi alguém chamar e desviei meu olhar de Tiago .

Congelei no lugar quando vi meu pai parado a minha frente, do lado da mulher que Filipe abraçava e chamava mãe.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 14

SARA

Todos os olhos estavam postos em mim depois que meu pai falou. Tiago continuava do meu lado segurando minha mão.

“ Sara??” ele sussurrou vendo que eu não movia.

“ Pai, conheces a Sara?” Filipe falou virando sua atenção para o homem a minha frente

Levei algum tempo mas consegui por meu cérebro a funcionar e sem dizer nada larguei Tiago e dei meia volta, caminhando apressada pra fora do restaurante.

“ Sara, espera” Tiago gritava tentando me alcançar.

Quando atravessei a porta me apercebi que havia parado de respirar todo este tempo e lutava pra puxar o ar.

“ Sara o que se passa?” Tiago falou me abraçando.

Mas aquele abraço só serviu pra abrir as comportas e tudo que guardei saiu em forma de lágrimas e choro.

“ Sara, não chores. Diz-me o que se passa?” ele sussurrou tentando me acalmar.

“ Preciso ir embora” falei soluçando.

“ Ok. Vamos”

Tiago caminhou comigo ate onde seu carro estava. Abriu a porta pra mim e depois que eu estava confortavelmente sentada ele fechou a porta e deu a volta entrando do lado do motorista.

Seu celular tocou e ele soltou um suspiro quando viu quem ligava.

“ Alô!” ele falou e seguiu-se um breve silencio.

“ Agora não, Filipe. Falamos mais tarde.”

Ele franzia a testa enquanto ouvia Filipe do outro lado da linha.

“ Ok.” Ele desligou a chamada em seguida.

Eu já estava mais calma e olhei pra Tiago preocupada. Eu sai de la sem me despedir de Filipe e agora Tiago não iria participar do jantar por minha causa.

“ Eu posso apanhar um táxi.” Falei olhando pra Tiago.

“ Não. Não vou deixar-te sozinha nesse estado. Seja la o que for que aconteceu ali, vou esperar me contares quando estiveres preparada.”

“ E Filipe??”

“ Ele é meu melhor amigo e vai entender.”

Depois disso não disse mais nada. Viajamos em silencio mas vi ele fazer um desvio saindo da rota que nos levaria ao meu apartamento.

“ Tiago..”

“ Eu disse que não te deixaria sozinha. Vamos pro meu apartamento.’ Ele falou cortando-me.

Não tinha forças pra discutir então deixei-me estar. Não viu meu pai há tanto tempo que as vezes parecia que ele não existia. E vê-lo ali com sua outra família abriu uma ferida que achei que tivesse sarado. Chegamos ao edifício onde Tiago morava e ele atravessou a cancela entrando no estacionamento reservado somente aos moradores.

Saí do carro e ele segurou-me pela mão guiando-me ate ao elevador. Não me apetecia falar e fiquei aliviada em ver que Tiago não forçava nenhuma conversa.

Entramos no apartamento, Tiago acendeu as luzes e fechou a porta .

“ Vem, precisas de um banho pra relaxar.” Ele falou me conduzindo até a suite.

Deixei a bolsa por cima da cama e Tiago aproximou-se abrindo o zipe na lateral do vestido. Uma a uma ele afastou as alças dos meus ombros e o vestido caiu no chão fazendo uma poça a volta dos meus pés. Nos olhamos por uns instantes e senti o ar abandonar meus pulmões e a temperatura do meu corpo subir.

Ele não disse nada e com bastante perícia libertou-me do resto da roupa que ainda cobria meu corpo. Ele pegou-me pela mão e levou-me até ao chuveiro. Ele desapareceu por alguns minutos e eu fiquei ali , apenas a sentir a agua quente molhar meu corpo da cabeça aos pés .

Quando ele regressou estava apenas de calções e juntou-se a mim ficando a uma distancia em que o chuveiro não o molhava. Ele pegou no gel de banho e molhou uma toalhinha e começou a passar suavemente em meu corpo. Eu apenas o olhava sem dizer nada. Mas estava comovida com a forma como ele cuidava de mim.

“ Vira-te” ele falou depois que terminou de ensaboar toda parte frontal do meu corpo.

Eu obedeci e ele continuou a passar a toalhinha pelo meu corpo. Eu ainda estava sensível depois do encontro inesperado com meu pai , e quando me dei conta lágrimas escoriam pelo meu rosto, misturando-se com a agua.

Tiago deve ter percebido que eu chorava pois largou a toalha e virou-me , abraçando-me de seguida. Eu não chorava mais por ter visto o único homem que amei em toda minha vida feliz do lado da família perfeita. Agora eu chorava por ter Tiago do meu lado , me amparando, me acarinhando sem esperar nada em troca. Eu chorava pela possibilidade de talvez isso não durar pra sempre. Porque minha vida era assim, todas as coisas boas não duravam. O Tiago era bom demais pra ser verdade.

Tinha a cabeça encostada no seu peito e chorava baixinho quando ouvi ele sussurrar em meu ouvido.

“ Parte-me o coração ver-te assim, Sara.”

Ele colocou sua mão no meu rosto , levantando minha cabeça pra olhar nos meus olhos.

“ Diz-me o que fazer pra te ajudar” ele falou num tom de súplica.

“ Ama-me” respondi engolindo um soluço.

Ele inclinou a cabeça e beijou-me.

Toda mágoa e angustia saiu pela janela, depois que seus lábios tocaram os meus. Ele parecia em uma missão em fazer-me esquecer tudo a minha volta, pois sua boca devorava a minha e suas mãos tocavam meu corpo em lugares que faziam meu corpo estremecer. Ele tirou-me do chão e enrolei minhas pernas em sua cintura enquanto ele caminhava comigo de volta pro quarto. Com cuidado deitou-me em sua cama e veio por cima de mim sem interromper o beijo.

“ Sara, nós não devíamos..” ele falou hesitante mas eu o cortei colando a mão sobre sua boca.

“ Por favor, Tiago. Eu preciso esquecer. Somos só nós dois hoje.” Implorei.

Ele me olhou por uns instantes e vi incerteza em seu olhar.

“ Por favor…” insisti.

Ele não falou mais nada, mas nas horas que se seguiram ele me amou como se minha sobrevivência dependesse disso.

E quando finalmente adormecemos, exaustos, foi nos braços um do outro. Aquela erva daninha tinha chegado ao meu coração e o ocupava triunfante. Eu estava completamente apaixonada por Tiago apesar de todas as barreiras que ergui a volta e só podia rezar pra que ele cuidasse e valorizasse o que crescia entre nós a cada dia.

Mal sabíamos que a realidade se preparava pra testar-nos e em breve o paraíso seria arrancado de nós.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 15

TIAGO

Acordei com o som do meu celular que tocava sem parar. Olhei pro lado e Sara dormia com cabeça em meu peito. Com cuidado , para não a acordar, afastei-me. Ela mexeu-se murmurou algo, mas continuou a dormir.

Tirei o celular do bolso das calças que trazia ontem e vi o nome de Filipe no ecrã. Sai do quarto pra não acordar Sara e atendi a chamada enquanto caminhava pra sala.

“ Alô”

“ Estou há quase meia hora a bater na tua porta. Importas-te de abrir?” Filipe falou impaciente.

Abri a porta e ele entrou disparado passando por mim. Com toda calma fechei a porta e virei-me pra encara-lo.

“ Não achas que é cedo demais pra visitas?”

“ Sem gracinhas. O que ela te contou?”

“ Nada”

Ele passou a mão na cabeça, tentando conter suas emoções.

“ O destino gosta de brincar connosco. De todas as pessoas , ela tinha que cruzar meu caminho…” ele falou nervoso.

“ O que esta a passar-se?” perguntei enquanto preparava café pra ambos.

“ Lembras que te falei que vez encontrei minha mãe aos prantos em plena madrugada, quando ainda eramos adolescentes?”

Eu acenei positivamente com a cabeça. Filipe havia aparecido em minha casa completamente fora de si . Não dizia coisa com coisa e depois de um tempo, quando acalmou-se, foi embora sem se explicar.

“ Ela confessou-me que meu pai tinha uma amante. Que tinha até filhos com ela. Na altura eu o confrontei e ele prometeu parar de ver a tal mulher. Por um tempo minha mãe voltou a ficar feliz e parecia que ia tudo bem. Mas no fundo todos sabíamos que ele não iria cumprir com sua promessa.”

Eu sentei-me num dos bancos completamente sem chão.

“ Sara é filha da outra mulher.” Ele falou apagando qualquer duvida.

Naquele momento se fez luz e percebi porquê Sara saiu transtornada.

“ Meu Deus, Sara. O que ele deve ter sentido…”

“ O que? Estás preocupado com ela? Minha mãe sofreu por anos por causa dela e da mãe. “ Filipe falou furioso.

“ Hey, Sara é tão inocente quanto tu nestas historia.”

“ Uau, ela conseguiu até virar meu melhor amigo contra mim.” Filipe falou magoado.

“ Agora estas a ser infantil. O único culpado aqui é teu pai e tu sabes disso.”

Ele andava de um lado pro teu, completamente fora de si.

“ Devias por um fim nessa relação. Não precisamos dela em nossas vidas. Meu aniversário teria sido perfeito, mas terminou com minha mãe em lágrimas e eu a segurar meu pai pra não ir atrás de Sara. “

Eu nem queria acreditar no que ouvia. Ele estava a passar dos limites.

“ Eu não vou terminar coisa nenhuma. Não quero me meter nos problemas da tua família, mas não vou abrir mão dela.”

“ Só podes estar a gozar ! Somos amigos desde sempre e estas a dizer-me que preferes uma mulher que mal conheces?”

“ Eu não disse nada disso. Mas não me faças escolher…”

“ Terás que escolher. Eu ou ela.”

Eu estava tão indignado que não vi o momento em que Sara chegou a sala.

“ Não precisas escolher, Tiago. Eu te liberto desse fardo” ela falou aproximando-se de mim.

“ Sara..”

“ Obrigado por tudo, por esta noite. Não posso deixar que uma amizade de anos acabe por minha causa. “

Com lágrimas nos olhos ela aproximou-se e beijou-me. Aquele beijo tinha o sabor amargo a despedida e num gesto desesperado eu a segurei firme para não deixa-la escapar.

“ Sara, não.”

“ É melhor assim.”

Filipe continuava no seu canto, assistindo a cena em silencio.

“ Filipe esta nervoso. Ele não falou a sério. Não vás. “ implorei, desesperado.

“ oh eu falei muito sério Tiago. Eu ou ela.”

Eu virei pra Filipe e o ameacei com o olhar.

“ Esta tudo bem, eu entendo. Tu vais esquecer-me e a vida seguirá seu rumo. Adeus Tiago”

Ela deu-me um beijo carinhoso no rosto e libertou-se do meu abraço. Eu a vi caminhar pra fora do meu apartamento, pra fora da minha vida. E não tive forças para impedi-la.

“ Sou obrigado a concordar com ela. Foi melhor assim.” Filipe falou depois que a porta fechou.

“ Foi melhor pra quem?” falei furioso.

“ Existem milhões de mulheres no mundo. Vais esquece-la, tenho certeza”

Mas eu não quero esquece-la. E não quero outra mulher. Filipe estava a deixar as dores que sentia dominarem seu bom senso. Ele era como um irmão pra mim mas, isso não lhe dava direito de me encostar na parede.

“ Já fizeste o suficiente por hoje. Peço que saias por favor.”

“ Tiago, nós somos amigos a mais tempo. Tu não podes ir atrás dela. Não podes trair nossa amizade.”

“ Fora, Filipe.” Gritei perdendo a paciência.

Ele caminhou até a porta e abriu, mas não saiu de imediato. Respirou fundo e virou-se pra mim.

“ Tu tens que ficar do meu lado. Mal a conheces.”

“ Se fosses realmente meu amigo, não me farias escolher.”

“ O que queres dizer com isso?”

“ Que se tivesse que escolher, escolhia Sara. “ falei e vi a expressão no rosto de Filipe endurecer.

“ Acabaste de fazer a tua escolha.” Ele falou e saiu batendo com a porta de forma agressiva.

Estava sozinho, em meu apartamento, com dificuldades em assimilar tudo que havia acontecido nas últimas 24 horas.

E pensar que eu a tive nos meus braços horas atrás, e agora não sabia se ela me deixaria chegar perto. Que injustiça.

Mas eu não podia desistir agora. Eu vou lutar por ela, por nós. E apesar de não querer perder a amizade de Filipe, eu vou ariscar e vou atras de Sara. Ela é igualmente importante pra mim e Filipe precisa entender e aceitar isso.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 16

SARA

Não tinham passado nem dez minutos desde que entrei em meu apartamento e ouvi alguém bater na porta .

Tudo que eu queria era voltar pra cama e me esconder la o resto do dia. Pensei em ignorar e seguir com meu plano , mas a pessoa batia cada vez mais forte.

Caminhei até la e quando abri tive vontade de voltar a fechar a porta. Mas não fui rápida o suficiente, pois Filipe entrou no mesmo instante.

“ O que queres?” falei sem sair da porta. Tinha esperanças que seja la o que for que ele tenha vindo fazer fosse ser rápido.

“ Clarificar algumas coisas.”

“ Clarifique e depois , vá embora. “ falei num tom agressivo.

“ Conheço Tiago desde que eramos crianças. Somos inseparáveis desde sempre. Ele agora pode estar encantado contigo mas logo a novidade vai passar. E quando isso acontecer ele vai te culpar por ter sido obrigado a abrir mão de parte da sua vida. Eu e minha família , somos parte da vida de Tiago quer queiras ou não e ao ficar contigo ele esta a abrir mão disso. Se realmente gostas dele e te importas vais te afastar.”

“ Achei que tivesse deixado claro que estava a afastar-me.”

“ Ah por favor!!! Aquela cena a boa samaritana que fizeste pra ele não convence ninguém. Tiago é o único cego pela paixão. Eu conheço bem esse jogo e a mim não enganas. Ele vira atrás de ti, esta enfeitiçado e não me admira sendo tu filha de quem és.” Ele falou num to ácido.

“ Não dê voltas , diga na minha cara o que pensas sobre mim e minha mãe.” Falei furiosa.

“ Preciso?? Duas feiticeiras, encantadores de homens. Mas já tiveram o meu pai e não tenho como recuar no tempo e desfazer o que foi feito. Mas Tiago , não. Fique longe dele , fique longe de nós.”

“ Tiago sabe que estas aqui a salvar a sua alma? “

“ Nem precisa saber. Um dia ele ira agradecer-me.”

Abanei a cabeça e soltei um riso nervoso. E pensar que eu o achava boa pessoa e até gostava da sua companhia. Não sabia que no fundo vivia este monstro.

“ E se eu não quiser abrir mão de Tiago. Eu não posso impedi-lo de me procurar.”

“ Tiago contou-me como vocês se conheceram. Não vai ser difícil juntar algumas provas e subornar outros pra denunciar esse vossa rede de ladrões. Se quiseres conservar tua liberdade sugiro que desencorages Tiago em continuar a procurar-te.” Ele falou esboçando um sorriso mas seus olhos denunciavam a maldade por detrás daquelas palavras.

Eu perdi a cabeça a me vi a esticar meu braço pra lhe dar um estalo. Ele segurou meu braço a tempo de evitar o golpe.

“ Filho da mãe” praguejei furiosa.

“ Com muito orgulho. E tu? Tens orgulho da mãe que tens?”

“ Vai a merda Filipe.”

“ Lamento desapontar-te irmãzinha. Mas não me misturo com gente da tua laia. “ ele falou em tom de deboche e soltou-me empurrando-me pro sofá.

Ele caminhou até a porta e virou uma última vez.

“ Nem penses em contar ao Tiago sobre esta nossa pequena conversa. Ele pode até zangar-se comigo, mas depois faremos as pazes . Agora tu , não sei se Tiago vai continuar contigo quando estiveres atrás das grades.”

Ele saiu e foi melhor assim porque se ficasse mais um minuto eu era capaz de mata-lo.

Fui pro meu quarto me sentido destroçada. Eu sabia que este dia chegaria, em que tudo iria desmoronar a minha frente e eu nem conseguiria apanhar os pedaços.

O momento em que acordei com as vozes de Filipe e Tiago, discutindo na sala eu sabia que havia algo errado. Mas ouvir Filipe encostar Tiago na parede o fazendo escolher foi doloroso. Foi como se alguém tivesse espetado uma faca em meu coração. Foi preciso muito autocontrole pra entrar na sala e me despedir de Tiago. Doeu , mas sabia que era a coisa certa a fazer.

Deitei na cama e abracei a almofada e chorei até adormecer. Acordei horas depois e Tiago estava sentado na cama , seus olhos fixos em mim.

“ Oi” ele falou esboçando um sorriso.

“ O que fazes aqui?” perguntei colocando-me sentada.

“ O que achas? Vim ver como estavas.”

“ Tiago, não podemos continuar.”

“ Se é por causa do Filipe , é melhor parares por ai. Eu sou adulto e decido quem eu quero na minha vida. Quando ele recuperar e deixar de agir como uma criança a fazer birra saberá onde encontrar-me. Entretanto, eu não vou abrir mão do que temos, Sara. É bom demais.”

“ Tu és tão teimoso que as vezes dás-me raiva.” Falei frustrada.

“ Olha só quem fala.” Ele respondeu com um sorriso no rosto.

“ Eu não quero me sentir culpada pelo fim da tua amizade com Filipe. Nós nos conhecemos a pouco tempo e talvez isto entre nós seja apenas fogo de palha. E depois me culpes também.”

“ Sara para de falar da nossa relação como se estivesse condenada ao fracasso.” Ele falou colocando a mão no meu rosto e acariciando levemente. E vi tristeza em seu olhar e tive certeza que ele sofria tanto quanto eu.

“ Estamos a falar do teu melhor amigo, como achas que me sinto estando no meio?”

Ele inclinou e beijou-me. Eu tentei não retribuir, tentei ficar indiferente. Mas ele não parou e , eu me entreguei ao momento incapaz de resistir por mais tempo.

“ Não me deixes..” ele murmurou entre meus lábios e aprofundou mais o beijo, acabando com o resto de sanidade que me dizia pra correr pro lado oposto.

Mas eu precisava liberta-lo, não por causa das ameaças de Filipe. Se eu fosse presa seria por culpa dos meus actos. Mas eu sabia o que era estar sozinha, sem ninguém do meu lado. Depois que briguei com minha mãe e sai de casa , levou muito tempo pra eu confiar e deixar que outra pessoa entrasse em minha vida. Não desejo isso ao Tiago. Ele precisa de Filipe, e não tenho certeza se nossa relação vai ser suficiente pra fechar esse vazio que o amigo vai deixar. E não quero que Filipe se transforme num vilão a tentar me tirar da vida de Tiago e a amizade deles se destrua pra sempre. Não iria conseguir viver com tamanha culpa.

“ Lamento , mas acho que nós paramos por aqui. Eu quero distancia de tudo próximo ao meu pai. Infelizmente tu fazes parte desse universo. Não espero que entendas , mas pra mim não será possível fazer de contas que nada mudou. “

“ Sara, por favor”

“ Isto é o adeus Tiago. Peço que respeites a minha decisão.”

Levantei da cama e sai do quarto. Fui até a sala e a cada passo segurava meu choro que ameaçava sair a qualquer momento. Em algumas horas minha vida tinha mudado completamente e só me restava colar os pedaços do meu coração partido.

Tiago apareceu minutos depois e seus olhos brilhavam com as lágrimas que se formavam. Meu coração se contraiu em meu peito e tive vontade de abraça-lo pra fazer desaparecer toda dor que eu sabia que ele sentia. Mas fui forte e me mantive a uma distancia segura.

“ Eu ainda não acredito nisto. “ ele falou magoado.

Eu continuei em silencio, com receio que minha voz me traísse e deixasse Tiago ver o quão destroçada eu estava.

De cabeça baixa ele caminhou até a porta e saiu, me deixando completamente sozinha.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 17

TIAGO

Saí do apartamento de Sara completamente dormente. Parecia que meu coração havia sido arrancado do meu peito me deixando vazio. Entrei no carro e conduzi por horas até parar em frente a casa dos meus pais. Bati na porta e o sorriso da minha mãe, quando abriu a porta, trouxe um pouco de luz a minha vida.

“ Boa tarde mãe” falei abraçando-a.

“ Tiago, é tão bom ver-te. “ ela falou me abraçando de volta.

Tentei esboçar um sorriso, disfarçando meu estado, mas minha mãe me conhecia bem demais.

“ Vem, vou fazer-te um chocolate quente pra melhorar essa cara triste.” Ela falou caminhando a minha frente em direção a cozinha. Eu a segui em silencio.

Em pouco tempo ela tinha duas canecas e me entregava uma. Sentamos na pequena mesa redonda num canto da cozinha e ela falou primeiro.

“ Em que posso ajudar?”

“ Eu não vim a procura de ajuda.” Falei olhando pro liquido na minha caneca.

“ Esta bem. O que procuras então?”

“ Não sei…Acho que só precisava do teu abraço.” Falei com sinceridade.

“ Hum…” ela murmurou sem tirar os olhos de mim.

“ O que foi?”

“ Uma mãe sempre fica feliz por os filhos precisarem dela mesmo já crescidos. Mas não me agrada nada ver essa tristeza no teu rosto. Queres contar-me o que se passa?”

Soltei um longo suspiro e me abri com ela. Ela ouviu sem me interromper e quando terminei ela levou nossas canecas pra encher.

“ Mãe , já tomei chocolate quente que chegue” protestei

“ Bobagem. Precisas tomar outra caneca pra compensar pelos dias que não estive perto pra preparar-te uma caneca. “ ela falou num tom de brincadeira.

Recebi a caneca e ela voltou a sentar-se.

“A vida é uma aventura e , portanto, carregada de surpresas. Nem todas são boas, e temos que nos preparar pra quando esses momentos chegarem. Eu não posso dizer-te o que fazer, mas se essa mulher é importante pra ti tens que lutar por ela. “

“ Ela me colocou pra fora da vida dela” falei magoado.

“ Tu tens certeza dos sentimentos dela por ti?”

“ Tenho, mas…”

“ E os teus por ela?” ela falou cortando-me.

“ Sim, mas…”

“ Nada de mas. Se ela for a mulher da tua vida mais um motivo pra não desistires. Se não for, vais ter aprendido uma lição valiosa e estarás melhor preparado quando a tal chegar.”

“ Ela desistiu de nós. Como posso lutar sozinho?”

“ Ela deve estar com medo, talvez precise de um empurrão. Se te vir a lutar por vocês talvez ela perceba o quão importante ela é pra ti. Nem todos somos corajosos , Tiago. Alguns precisam de alguém que lidere o caminho. “

Inclinei e dei um beijo carinhoso na testa da minha mãe.

“ Obrigado.”

“ E quando poderei conhecer a mulher que roubou o coração do meu filho?”

“ Primeiro preciso convencê-la a voltar pra mim. Depois, prometo que a trarei.”

Levantamos e ela acompanhou-me a porta. Ia segurar a maçaneta pra abrir quando ouvimos batidas na porta. Trocamos um olhar de espanto e abri a porta.

“ Ham…boa tarde”

Parado a nossa frente, estava o pai de Filipe e Sara, visivelmente nervoso.

“ Boa tarde, Paulo esta tudo bem?” minha mãe falou sem reparar na tensão entre nós dois

“ Sim. Eu vi o carro do Tiago aqui e precisava mesmo falar com ele” ele falou olhando pra minha mãe.

“ Estou de saída. “ falei sem conseguir esconder minha irritação.

Minha mãe segurou minha mão e deu um ligeiro aperto me fazendo olhar pra ela

“ Tenho certeza que ele não vai tomar muito do teu tempo filho. Não é, Paulo?” Ela falou virando sua atenção para o homem parado a nossa frente.

“ Sim, sim. Alguns minutos apenas.” Ele falou atrapalhado.

“ Por favor, entre. “ minha mãe falou sem me dar tempo pra protestar.

Afastei-me pra dar espaço para o homem entrar e os três fomos ate a sala.

“ Vou deixar-vos conversar.” Minha mãe falou e depois desapareceu pelo corredor nos deixando a sós.

Continuei em pé e ele sentou-se no sofá sem conseguir me encarar.

“ Ham…não sei por onde começar.” Ele falou depois de alguns minutos em silêncio.

Eu cruzei ao braços encostando-me na parede.

“ Eu era jovem quando conheci a mãe da Sara. Ela e a mãe tinham uma banca de frutas próximo a casa dos meus pais. Não foi difícil ficar completamente encantado com a beleza dela e nos envolvemos. Crescemos em meios sociais diferentes e meus pais não estavam satisfeitos com a relação. Quando tive que ir a faculdade foi doloroso me separar dela, mas ela prometeu esperar por mim. Mas nesse tempo conheci minha esposa e meus pais gostavam dela. Não sei como mas ficamos noivos logo que terminamos a faculdade.”

“ Não sei porque me esta a contar tudo isso?” falei cortando seu discurso.

“ Por favor, deixe-me terminar “ ele falou e respirou fundo antes de continuar

“ Não via a mãe da Sara ha anos. Mas a reencontrei as vésperas do meu casamento e tudo o que eu sentia por ela voltou em força total. Tentei cancelar o casamento mas talvez não tentei o suficiente. Nunca foi minha intenção manter as duas. Mas a minha esposa ficou gravida e Filipe nasceu complicando as coisas. E depois veio Sara e a vida foi seguindo até eu não mais ter controle da situação. Não me orgulho do que fiz, mas eu amo meus filhos.”

O homem praticamente chorava a minha frente e eu não sabia o que fazer. Hesitei mas depois fui ate ele e tentei acalma-lo.

“ Sara não fala comigo e brigou com a mãe depois que descobriu sobre a outra família. Não sei o que fazer .”

“ Ainda não entendi porque me contou tudo isto. “

“ Eu te conheço praticamente desde que nasceste e sei que te tornaste num bom homem. A minha Sara merece um bom homem. Ela gosta de parecer forte para as pessoas, mas é frágil como uma flor. Eu sei que a fiz sofrer e sei que vocês separaram-se depois da confusão no jantar. Vim lhe pedir, vim implorar para que não desistas dela “

“ E o que faço com Filipe?? Ele tomou dores da mãe e me fez escolher.”

“ Filipe é um homem feito. Ele tem muita gente. Sara só te tem a ti. Ela não me deixa aproximar, então não tenho como cuidar dela, como protege-la. Faz isso por mim.”

O olhei por alguns instantes e a expressão de culpa e desespero estampada no seu rosto disse-me tudo que precisava saber. Apesar de tudo, ele amava sua filha e sofria com a distancia que Sara colocou entre eles. Eu sabia que Sara também sofria com isso, mesmo fazendo de tudo para esconder.

“ Se ela não me quiser do seu lado, nada poderei fazer” falei sem querer dar falsas esperanças ao homem.

Afinal de contas nossas situações não eram tão diferentes. Ela havia me colocado pra fora da vida dela. Eu estava decidido a correr atrás , mas não tenho como prever o futuro. Neste momento, não me sinto optimista.

Mais calmo, ele levantou-se e despediu-me. Levei-o até a porta e depois regressei a cozinha pra despedir-me da minha mãe. Ela não fez perguntas, apenas abraçou-me e desejou-me boa sorte.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 18

SARA

Minha vida sem Tiago havia ficado estranha. Sentia sua falta mas me segurava pra não ligar pra ele. Passavam alguns dias depois da nossa conversa mas parecia uma eternidade.

Eu e Maura nos preparávamos para mais um evento naquela noite. Ela animada como sempre e eu me sentindo uma fraude esboçando um sorriso para camuflar minha dor.

Saímos do apartamento depois das oito da noite e pedimos ao taxista que pisasse no acelerador pois estávamos atrasadas. Quando o táxi parou em frente ao local do evento pagamos e saímos a correr, esbarando em algumas pessoas pelo caminho. A reunião já havia começado e nos misturamos sem chamar a atenção. Mas Lola , que nos viu chegar nos chamou de lado quando a reunião terminou.

“ Sabem o que penso dos atrasos meninas. Não sou vossa mãe pra dar sermões, mas este é o único aviso que terão. Próximo atraso e estão fora.”

Apenas acenamos com a cabeça e voltamos pro grupo para saber como seria a distribuição. As pessoas começaram a chegar dando inicio aa nossa jornada de trabalho.

Estava a meio do trabalho quando uma das garçonetes informou-me que Lola queria falar comigo. Era estranho mas deixei minha travessa no bar e fui até a área de serviço onde Lola estava.

“ Ola Sara.” Ela falou quando me viu chegar.

“ Algum problema?” falei dispensando as regras de boa educação.

“ Infelizmente teremos que dispensar-te. Iremos pagar-te por completo por esta noite mas peço que saias do recinto imediatamente. Não poderemos mais trabalhar contigo.”

“ Porquê? Fiz algo errado?” falei confusa.

“ Um cliente exigiu que assim fosse “ ela falou sem dar mais detalhes.

“ Eu preciso deste trabalho.” Falei aflita.

Ela segurou minhas mãos com empatia.

“ Eu sei , meu bem. Mas ele ameaçou denunciar a empresa como cúmplice de roubos e outras actividades ilícitas. Espero que entendas que tive que sacrificar-te para manter o emprego das outras. “

“ Entendo” falei encolhendo os ombros.

“ Vou indicar-te a empresas de alguns amigos meus. O pagamento não será igual , mas é melhor que nada “ ela falou esboçando um sorriso.

“ Obrigada”

Despedi-me dela e passei pelo local onde nossas bolsas estavam guardadas e levei a minha. Mandei uma mensagem pata Maura, informando-a da minha saída repentina.

Sem animo nenhum , decidi caminhar para acalmar meus nervos. Eu sabia que tinha dedo de Filipe na minha mais nova desgraça mas, sem provas não podia confronta-lo.

Ouvi meu celular tocar na bolsa e olhei pros lados e senti um calafrio ao ver a zona sinistra onde me encontrava. Silenciei o toque e de imediato procurei um táxi.

Quando o táxi parou em frente ao edifico onde morava , vi Tiago sentado a entrada. Paguei e saí do carro. Logo que me viu ele levantou-se e veio ao meu encontro.

“ Onde estavas? Liguei-te e não atendeste.” Ele falou preocupado

“ O que fazes aqui?”

“ Maura ligou-me e estava preocupada contigo. Pediu-me pra vir ver como estavas”

“ Ela não tinha nada que ligar pra ti” falei irritada enquanto caminhava em direção a entrada do edifício.

“ O que aconteceu? Maura parecia aflita quando me ligou.”

“ Nada. Apenas perdi o emprego.” Murmurei pra mim.

Ele segurou meu braço me obrigando a parar.

“ O que aconteceu Sara?” Ele perguntou e a expressão no seu rosto endureceu.

Respirei fundo e pensei por alguns instantes se devia contar-lhe.

“ Fui demitida. Lola dispensou-me permanentemente. “ falei por fim

“ Lamento. Tenho certeza que consegues melhor” Ele falou calmamente.

Eu soltei um riso e libertei meu braço. Entramos no elevador e viajamos em silencio. Cheguei a porta do meu apartamento e virei antes de abrir.

“ Pra onde pensas que vais?” falei encarando-o.

Ele arregalou os olhos surpreso pela minha pergunta.

“ Tinha esperanças que me fosses convidar a entrar.” Ele falou aproximando-se.

Eu dei um passo pra trás e fui de encontro a porta. Devia ter aberto a porta, pensei irritada comigo mesma.

“ Ham…eu estou exausta e preciso descansar.” Falei me atrapalhando no discurso.

“ Nesse caso, vou deixar-te descansar.” Ele falou sem tirar os olhos dos meus lábios.

“ Ok…ham..boa noite.” Minha voz saiu ofegante e me odiei por deixar transparecer o quanto ele me afectava

“ Sara…” ele sussurrou com aquela voz rouca e grave.

Eu estava encurralada entre ele e a porta e não conseguia pensar em nada, completamente enfeitiçada pela proximidade e o os olhos que me devoravam.

Ele encostou seus lábios nos meus, esfregando de leve e murmurou meu nome novamente. Eu estava por um fio, precisando só de um leve empurrão. Ele passou seu braço por trás do meu corpo, envolvendo minha cintura e beijou-me. Era o empurrão que precisava , pois meus braços foram pro seu corpo, segurando seus ombros e puxando-o mais pra mim.

Minha mente ficou em branco e as sensações dominavam meu ser. Eu soltava pequenos gemidos e sentia que só o encorajava mais.

“ As chaves” ele murmurou entre meus lábios.

Coloquei a mão na bolsa , procurando por minhas chaves e quando encontrei ele arrancou-as da minha mão abrindo a porta. Tropeçamos e caímos ao chão e ambos soltamos uma valente gargalhada. Mas o riso foi desaparecendo aos poucos e nos encaramos em silencio, ele deitado por cima de mim.

“ Tive tantas saudades tuas.” Ele falou primeiro.

Ele passou a mão no meu rosto e inclinou pra beijar-me novamente. Nos perdemos no momento até que ouvimos alguém limpar a garganta atrás de nós. Olhei por cima do ombro de Tiago e vi a senhora que vivia no apartamento ao lado parrada na porta com cara de poucos amigos. Tiago levantou-se e em seguida ajudou-me a sair do chão.

“ Boa noite. Ouvi um estrondo e achei que estivessem a arrombar-vos a casa. “ Ela justificou-se

“ Desculpe pelo barulho. Esta tudo bem.” Falei envergonhada

“ Optimo. Tentem namorar em silencio” ela falou e desapareceu pro seu apartamento.

Eu e Tiago nos olhamos e tive que levar a mão a boca para abafar o riso que ameaçava sair.

Deixei a bolsa por cima da mesa enquanto Tiago fechava a porta.

“ Já viste que estou bem. Podes dar o relatório a Maura.” Falei sem olhar pra ele

“ Não foi sô por isso que vim”

Eu sabia pra onde aquela conversa ia. Mas precisava corta-lo.

“ Já falamos sobre isso. Minha decisão mantém-se “

“ Então deixa-me ajudar-te com o emprego.” Ele falou, surpreendendo-me.

“ Como vais ajudar-me ?” perguntei céptica

“ Voltas a trabalhar pra mim mas desta vez com salário.” Ele falou esperançoso

“ Não é boa ideia”

“ Porque não?”

Pensei por alguns instantes e não me ocorria nem um motivo. Droga!!!

“ Então, estamos combinados.” Ele falou vitorioso.

“ Esta bem. Eu preciso do dinheiro. Agora vá embora.” Falei praticamente o empurrando até. Porta.

“ Até amanha Sara.” Ele falou exibindo aquele sorriso de orelha a orelha.

Fechei a porta depois que ele saiu e encostei nela , pensativa. Tinha todas as razoes pra dizer não e no entanto no momento decisivo meu coração batalhava para ser ouvido. A quem quero enganar. Eu tinha saudades dele também e estou ansiosa por vê-lo amanha.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 19

SARA

Nos dias que se seguiram eu e Tiago adotamos uma rotina que beneficiava a ambos. Ele conseguiu convencer-me a caminhar com ele e eu o convenci a deixar espaço na minha agenda para trabalho voluntário. Confesso que nos primeiros dois dias eu queria mata-lo por submeter-me as dores do exercício físico, mas aos poucos meu organismo habituava-se a rotina.

Ele respeitou os limites por mim impostos e não forçou nenhuma aproximação romântica. O pouco tempo que passávamos na companhia um do outro era sempre o ponto alto do meu dia. E quando voltava a casa no fim do dia , era com muita tristeza que dormia abraçada a minha almofada desejando que fosse ele do meu lado. Mesmo sem beijos e abraços , Tiago derrubava todas as barreiras que havia colocado a volta do meu coração e eu o queria mais do que nunca.

Depois que ele saiu pro trabalho, fiquei sentada no sofá a estudar alguns processos. Ouvi batidas na porta e fui la.

“ Bom dia Matilde” falei esboçando um sorriso.

“ Bom dia , Sara.” Ela respondeu retribuindo o sorriso.

Ela passou por mim e foi trocar de roupa pra começar a trabalhar. Fiquei na sala deixando-a a vontade para arrumar o resto da casa. Ela reapareceu meia hora depois e começou a arrumar e limpar a cozinha.

“ Hoje não tens trabalho na rua?” ela perguntou vendo-me sentada no sofá.

“ Tenho. Estou a atrapalhar-te?” perguntei desviando minha atenção pra ela

“ Não. De forma alguma, apenas fiquei curiosa. Sempre que chego estás com a bolsa posta e de saída. É a primeira vez que te vejo sentada e sem pressa.”

Eu soltei um riso abanando a cabeça.

“ Hoje o chefinho não tinha nada pra eu fazer.” Falei entre risos.

“ Ele nunca tem nada pra fazeres. Eu o conheço desde criança. Trabalhei para seus pais e quando ele se mudou a mãe pediu-me que trabalhasse pra ele. “

“ Eu sei. Ele só me quer ajudar. Mas eu faço questão de fazer algumas coisas sem ele me pedir.”

Matilde murmurou algo revirando os olhos . E deu meia-volta, pra continuar com suas tarefas.

“ O que foi Matilde?” perguntei levantando-me pra ir ao seu encontro.

“ Vocês jovens gostam de procurar problema em tudo. Precisa ser cego pra não ver o que se passa entre vocês dois. O que esperam pra assumir essa vossa relação?”

“Não existe relação nenhuma.”

“ Tudo que fazes é o que uma esposa faria. Cuidas das compras, das roupas, das contas da casa. Estás aqui a supervisionar meu trabalho e a garantir que a casa fica limpa e arrumada. Fazem refeições juntos e são bons amigos. Já fazes a parte mais difícil que é cuidar. E deixam de fora a parte mais divertida. Dois idiotas se querem saber.”

Parei por um instante, analisando as palavras de Matilde e sabia que no fundo ela tinha razão. Mas o meu lado covarde se negava a concordar.

“ Acho que já estudei o suficiente” falei e fui até ao quarto que Tiago dispensou pra mim e troquei de roupa. Voltei a sala minutos depois e Matilde cantarolava limpando o pó.

“ Até daqui a dois dias , Matilde. “ falei caminhando pra porta.

“ Podes até fugir de mim , mas sabes que disse a verdade. Pra quê esperar quando a felicidade está ao teu alcance? Se fosse comigo eu a agarrava com toda a força e nunca mais deixava escapar.” Ela falou esbofando um sorriso.

Retribui o sorriso sem saber o que dizer. Saí e fui ao gabinete onde trabalhava. Precisava de algo pra preencher minha mente e parar de fantasiar com coisas impossíveis.

Tiago ligou-me horas depois perguntando se me juntaria a ele para almoçar e inventei uma desculpa pra não ir ao seu encontro. Tinha que reduzir as vezes que ficava na sua companhia. Sai do tribunal depois de uma sessão difícil. Estava indisposta e sem fome. Caminhei pro meu apartamento , mal disposta e com uma dor de cabeça infernal.

Fui ao banho logo que cheguei e fiz um chá pra acalmar a dor de cabeça. Tiago voltou a ligar-me e decidi não atender a chamada.

Segundos depois uma mensagem entrava em meu celular. Sem precisar abrir a mensagem já tinha ideia de quem seria. Peguei no celular pra ler a mensagem.

Tiago: Oi. Esta tudo bem contigo? Senti que algo estava estranho quando falei contigo mais cedo. Liga-me quando vires esta mensagem.

Deixei o celular de lado e aconcheguei-me no sofá, adormecendo de seguida. Quando acordei horas depois vi duas chamadas perdidas de Tiago.

“ Ola bela adormecida” Maura falou sentada na mesa de jantar .

“ Oi. Não te ouvi chegar.”

“ Acho que estavas apagada. Não ouviste muita coisa.”

Franzi a testa apos ouvir seu comentário.

“ Tiago ligou-me e diz que esta a tentar falar contigo há horas.”

Levantei do sofá e levei a chávena de chá que havia deixado por cima da mesa de centro. Fui a cozinha e vi Maura seguir-me.

“ O que se passa? Ele parecia aflito, Sara.”

“ Nada. Apenas precisava de algum tempo pra mim.” Falei sem olhar pra ela.

“ E informaste ao Tiago que precisavas de um tempo pra ti?”

Abanei a cabeça respondendo a sua pergunta.

“ Pelo amor de Deus, mulher!! O tipo praticamente se arrastando aos teus pés e você finge que não vê. Vive torturando o pobre coitado. Sabe, as vezes tenho vontade de dar-te uns estalos pra ver se acordas.” Maura falou irritada.

“ Maura…” falei e ela cortou-me de seguida

“ Espero que não te arrependas quando ele desistir e seguir com sua vida. Tudo tem limite.” Ela falou saindo da cozinha e me deixando sozinha pra pensar na minha vida.

Larguei tudo que fazia e fui pro meu quarto. Troquei de roupa peguei minha bolsa e sai. Co segui um táxi logo que cheguei a rua . Estava uma pilha de nervos e quando o carro parou em frente ao edifício onde Tiago vivia tive vontade de dizer ao taxista pra dar meia-volta.

Mas procurei coragem e sai do carro. Quando finalmente cheguei a porta de Tiago respirei fundo e bati.

A porta abriu e nada me preparou pra encontrar Tatiana a minha frente.

“ Sara…” ela falou com desdém

“ Boa noite, o Tiago está?” falei de forma educada.

“ De momento ele esta no banho. Podes deixar recado se quiseres” ela falou me olhando dos pés a cabeça.

“ Ham…volto outro dia.” Falei hesitante.

“ Preferia que não o fizesses. Não sei o que houve entre vocês e nem me interessa. Mas eu estou na corrida agora e estou a poupar-te o desgosto te avisando. Eu não costumo entrar em competições pra perder, linda. Portanto, poupe-nos e desapareça.”

Eu a olhei furiosa. Ela podia ser até mais sofisticada e ter mais dinheiro que eu , mas isso não a tornava melhor que ninguém. Dei um passo e parei a poucos centímetros dela desafiando-a.

“ Olha aqui, mulherzinha desagradável, eu não tenho medo de pessoas que se acham donas do mundo. Eu deixei-te falar naquela noite porque de certa forma de ti dependia meu trabalho. Aqui você não manda em nada. Só Tiago pode dizer-me pra desaparecer e agora decidi esperar ele sair do banho.” Falei cruzando os braços.

“ Melhor pra mim. Já que decidiste esperar pra ver a evidencia do que acabou de acontecer.” Ela falou em tom de deboche.

Olhei pro interior do apartamento e havia papeis espalhados no chão e moveis afastados. Dois copos na mesa de centro e um deles tinha uma marca de batom. O batom dela.

“ Sim, como podes ver, somos mais que apenas colegas e se não fosse por tua causa eu teria me juntado a ele no banho. Mas esteja a vontade pra olhar na cara dele enquanto perguntas tudo que acabei de dizer.” Ele falou com uma expressão de victoria estampada em seu rosto.

Lágrimas começaram a formar-se em meus olhos e eu não ficaria ali para ela ver-me a desmoronar a sua frente. Dei meia volta e caminhei de volta pro elevador. Ouvi a porta do apartamento fechar enquanto eu esperava o elevador chegar.

As palavras de Maura me assombravam naquele momento. Tiago seguiu com sua vida com quem estava disposta a estar com ele. E Tatiana deixou claro que ela estava disposta. Eu havia perdido minha oportunidade.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 20

TIAGO

Quando liguei pra Sara senti que algo não batia certo. Tive certeza quando minha mensagem não foi respondida e não atendeu mais minhas chamadas. Parecia que tudo corria bem e de repente ela parece recuar mais passos do que os que avançamos. Era frustrante tê-la tão perto e ao mesmo tempo senti-la distante.

Cheguei a casa depois de um dia cheio de imprevistos e reuniões atrás de reuniões pra tentar conter os danos provocados por um incendio num dos armazéns da empresa. E pra piorar Sara nem sequer me deixava falar com ela. Decidi não insistir e esperar pra conversar com ela pela manhã.

Ia entrar no banho quando ouvi batidas na porta. Tive esperanças que fosse Sara mas pra minha decepção Tatiana estava parada na porta , sorridente.

“ Oi Tiago. Posso entrar?”

Eu queria dizer não, mas tive que ser educado e dizer sim. Ela passou por mim desfilando a sua classe , indo em direção ao sofá. Colocou a mochila que trazia no chão e tirou alguns papeis e seu laptop.

“ Temos trabalho a fazer querido. Não vim com intenções de seduzir-te .” Ela falou sem desviar o olhar do que fazia. Fechei a porta e juntei-me a ela.

Quando não estava preocupada em tirar-me a roupa, Tatiana era uma excelente profissional e uma líder excepcional. Forte e determinada e nunca se deixava intimidar com situações que outros diziam impossíveis, como a que temos em mãos.

Se queria descansar, precisava despachar isto. Então juntei-me a ela e começamos a analisar documento por documento. As horas passaram e nem nos demos conta. Afastamos o sofá e sentamos no chão e cada papel analisado era posto de lado.

“ Tens alguma coisa forte pra beber?” ela perguntou levantando a cabeça por um instante.

Levantei-me e servi dois whiskies pra nós. Voltei e entreguei-lhe um copo , sentando-me de seguida. Uma hora depois eu não aguentava mais. Precisava de uma pausa.

“ Preciso de um banho. Meu cérebro não esta mais a funcionar como deve ser.”

“ Ok. Eu continuo sem ti.” Ela falou completamente submersa em papeis.

Fiz o possível pra não levar muito tempo e quando saí voltei a ligar pra Sara, engolindo meu orgulho e a voz que dizia pra não a pressionar. E ela não atendeu. Atirei o celular pra cama sentindo a frustração a tomar conta de minhas emoções. Nenhuma mulher me fez correr atrás dela como Sara. Mas ela não é uma mulher qualquer.

Voltei pra sala e encontrei Tatiana em pé, longe dos papeis.

“ Algum problema?” perguntei olhando em redor.

“ Não. Cansaço apenas e sinto meus músculos rijos e tensos.”

Ela falou naquele tom que deixava meus sentidos em alerta. Lá vamos nós outra vez.

“ Tatiana…” eu comecei a falar e ela colocou a palma da sua mão em meus lábios.

“ Acho que já trabalhamos o suficiente. Podíamos relaxar um pouco.”

Ela estava próxima demais. E eu dei um passo pra trás dando distancia entre nós dois. Sua expressão mudou logo que o fiz.

“ Já percebi que gostas de ser difícil. Vá la, vamos divertir-nos um pouco.” Ela insistiu

“ Não é nada disso. A sério, não estou interessado.”

Mas isso não a fez parar. Neste momento odiava o quão determinada essa mulher era. Quando dei por mim eu estava entre a parede e ela.

“ Tatiana, eu tenho alguém.” Falei desesperado.

Ela afastou-se e franziu a testa mas logo sua expressão voltou a ficar neutra e ela voltou a carga aproximando-se mais.

“ Eu sei que Sara deixou-te”

“ Não sabes o que dizes." falei empurrando-a.

“ Ouvi Filipe falar com uma das recepcionistas que tinha posto a tua miúda pra correr e que o caminho estava livre pra ela. Pelos vistos és um homem concorrido.” Ela falou irritada

“ Droga!!” murmurei juntando os pontos.

Só podia ser por isso que ela estava estranha. Esta noite não podia fazer nada, mas logo pela manhã ia fazer uma visita a Filipe.

“ Vejo que já não estas com ânimo para o trabalho e eu preciso descansar Tatiana. Peço que vás embora.” Falei sem querer faltar-lhe com respeito mas me segurava por um fio.

Ela não protestou e caminhou ate a mesa de centro e arrumou seu laptop , deixando os papeis espalhados no chão.

De mochila na mão veio ao meu encontro.

“ Tu mereces melhor que a Sara.” Ela falou , séria.

“ Mas é Sara que eu amo.” Respondi sem pestanejar.

Ela saiu do meu apartamento e eu respirei fundo , aliviado. Arrumei os papeis e fui a cama. Acordei a hora de sempre e fui preparar-me pra caminhada.

A hora que normalmente saio pra caminhar não havia sinal de Sara. Lembrei do que Tatiana havia dito e sem pensar duas vezes levei meu celular e chaves e sai do apartamento. Furioso , caminhei até o edifício onde Filipe vivia e em poucos minutos batia sua porta como se fosse derruba-la. Ele abriu e vi a surpresa no reflectida em seu rosto.

Não lhe dei tempo pra falar, meus dedos fecharam-se num punho que foi de encontro ao seu rosto. Ele foi ao chão no instante seguinte.

“ Estás louco??!!” ele gritou levando a mão ao lugar onde meu punho colidiu com seu rosto.

“ Fique longe de Sara.” Falei furioso.

Ele levantou-se e encarou-me, desafiando-me com o olhar.

“ Ela deixou-te .” ele afirmou.

“ Eu sei que tem teu dedo nisto.”

“ Foi isso que ela te disse? E acreditaste nela? Somos amigos há anos e preferiste acreditar nela. Uau”

“ Sara não tem culpa dos erros do teu pai. Devias exigir dele uma posicionamento. Para de te comportares como uma criança” falei irritada

“ Ela roubou-me o amor do meu pai e agora vai tirar-me o meu melhor amigo. Eu quero que ela vá pro inferno.” Ele gritou como um louco.

Eu não conseguia acreditar no que ouvia. Este não era o Filipe que eu conhecia. Não era o meu companheiro de uma vida inteira. Não podia ser.

“ Tu precisas de ajuda”

“ Eu preciso que ela desapareça das nossas vidas. Desde que ela apareceu tudo mudou. Tu não precisas dela Tiago. Tens me a mim. “

“ Eu nunca vou deixar de ser teu amigo. Mas eu amo Sara.”

Ele parou por uns instantes e olhou-me incrédulo. Era inútil negar. Eu amo-a e tudo farei pra tê-la do meu lado.

“ Nesse caso , nossa amizade acaba aqui. Fora do meu apartamento. "ele falou e virou desaparecendo pelo corredor. Eu não o segui, pois ambos estávamos com os nervos a flor da pele.

Sai do seu apartamento e fechei a porta. Tinha outra missão agora. Mas antes voltei ao meu apartamento pra preparar-me pro meu dia de trabalho. Se Sara pensa que vou deixa-la escapar-me entre os dedos, esta enganada. Eu lutarei ate a morte , se preciso for.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 21

SARA

Quando acordei na manhã seguinte , decidi que era hora de parar de brincar as casinhas com Tiago. Precisava arranjar trabalho se pretendia ajudar Maura com as contas. Os últimos dias me fizeram repensar no rumo que dava a minha vida . Sentada no sofá e com o laptop no colo comecei a procurar por websites de anúncios de vagas e concorri a todas que encontrei da minha área. Com a experiencia no gabinete de assistência jurídica tinha certeza que conseguiria alguma coisa. Quando achei que já tinha distribuído currículos para um dia deixei o laptop de lado e fui a cozinha preparar algo pra comer.

Voltei pra sala depois de arrumar a cozinha e comecei a estudar os processos com os quais havia me comprometido. Quando ia fazer a pausa pro almoço decidi consultar meu email e para minha surpresa havia um não lido. Quando abri fiquei sem palavras ao ver que era de uma firma de advogados e queriam agendar uma entrevista o mais urgente possível.

Imediatamente respondi informando da minha disponibilidade. A resposta não tardou e perguntavam se podia estar no endereço que enviaram em trinta minutos.

Era muito apertado, mas respondi que sim e levantei a correr pra me trocar e sai disparada dez minutos depois.

Quando o táxi parou em frente ao edifício só me restavam dois minutos paguei e , praticamente corri até a recepção. Me apresentei e fui conduzida até uma sala de reuniões onde duas pessoas me esperavam.

A entrevista não foi fácil e sai de la sem grandes esperanças. Quando cheguei a casa voltei a consultar meu email na esperança de ter alguma resposta de outros lugares onde havia enviado meu currículo. Mas nada havia mudado na minha caixa de entrada. Fechei o laptop e ia deixa-lo no quarto quando oiço batidas na porta. Deixei o aparelho por cima da mês de jantar e fui a porta.

“ Oi , Sara” Tiago falou logo que abri a porta.

“ Oi”

“ Posso entrar?

“ O que queres?” falei um pouco mais agressiva do que pretendia.

Ele franziu a testa parecendo surpreso pela minha atitude. Sinceramente o que ele esperava?

“ Quero conversar. Acho que precisamos esclarecer algumas coisas.”

Afastei para deixa-lo passar. Fechei a porta e caminhei até ao sofá.

“ Esperava ver-te esta manhã, mas entendo teus motivos. Lamento que tenhas ouvido todas aquelas coisas. Há tanta coisa que eu gostaria que tivesse sido diferente.”

“ Tudo bem. Eu também não soube me posicionar com tanta coisa a acontecer. Mas depois da conversa creio que concordamos que mereces melhor.” Falei com mágoa.

“ Concordaste?? Não achas que tu és o melhor pra mim?”

“ Ela é dez vezes mais o teu estilo de mulher.”

“ Ela?? De que estas a falar?”

“ Da Tatiana. “

Ele passou a mão pela cabeça nervoso.

“ Agora fiquei confuso. Eu falava do Filipe. Soube ontem que ele te procurou pra convencer-te a te afastares de mim”

“ Ele ameaçou entregar-me a policia se não ficasse longe de ti.” Falei num desabafo

“ ELE FEZ O QUE? “ Tiago perdeu a calma e vi seus dedos fecharem-se num punho.

“ Hey…eu o entendo. Vocês são praticamente irmãos e ele me odeia e tudo que eu represento.” Falei tentando justificar o injustificável.

“ Ele não tinha o direito…” ele falou irritado e fez uma pausa.

“ E quando falaste com Tatiana?”

Hesitei por um momento. Não tinha a certeza que queria assumir que fui atrás dele a noite passada. Ter visto evidências do seu envolvimento com Tatiana ainda deixava um sabor amargo.

“ Não vem ao caso.” Falei encerrando o assunto.

“ Sara…” ele falou aproximando-se

“ Não vai mudar nada. Eu apenas desejo que sejas feliz com ela.”

“ Que diabos estas a falar? Eu não tenho nada com Tatiana.”

Soltei um longo suspiro e o encarei .

“ Eu tive a ideia idiota de ir ao teu apartamento a noite passada. Pensando bem, foi melhor assim. Porque pude ver com meus próprios olhos.” Falei irritada

“ O que viste, Sara? “

“ Ela me abriu a porta e disse na minha cara que vocês estavam juntos. Teve a ousadia de deixar-me ver a bagunça que haviam feito depois que vocês…” as palavras ficaram presas na garganta s não consegui terminar a frase.

“ Estiveste em meu apartamento…ontem??” ele falou espantado

Acenei positivamente com a cabeça. E ele segurou minhas mãos colocando uma encostada em seu peito do lado onde seu coração batia descompassado.

“ Eu juro que eu não tenho nada com a Tatiana. Ela mentiu-te , Sara. Meu coração é teu desde o primeiro momento em que nossos olhares cruzaram-se. Eu sou teu, de corpo e alma.”

“ Então como explicas a presença dela? Ela abriu-me a porta e tu estavas no banho. “ falei sem me importar em abrir meu coração pra ele. Eu estava com ciúmes e nesta fase não me importava que ele soubesse.

“ Ela veio terminar um trabalho. Mas claramente ela tinha outra agenda. Eu vou resolver com ela depois. Mas agora , eu preciso que acredites em mim.”

Não respondi de imediato . No fundo eu confiava nele, mas o ciúme havia me cegado.

“ Sara, és a única mulher que quero. “ ele sussurrou.

“ Eu confio em ti.”

Ele respirou fundo e esboçou um sorriso de orelha a orelha.

“ Só mais uma coisa. Não vou mais aceitar ter-te pela metade. Quero tudo, Sara. Já castigaste-me o suficiente. “

“ Ok. Então agora não vou mais trabalhar pra ti.” Falei entre risos.

“ Não. Ia pedir-te em namoro mas, não vou correr o risco de dizeres não. Portanto, querendo ou não , a partir de hoje és minha namorada.”

“ Alguém esta muito autoritário hoje.”

“ Contigo as coisas só funcionam deste jeito. És teimosa demais.”

“ Como se tu fosses diferente.” Falei em tom de gozação.

“ Cala-te e beija-me” ele falou puxando-me pra ele.

Eu obedeci feliz por matar saudades daquela boca que era minha perdição. E Tiago não decepcionou, beijando-me com paixão e urgência de um homem apaixonado.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 22

TIAGO

Depois de tantas tempestades era bom estar em paz. Sara passava a maioria dos dias em minha casa e apesar de eu insistir que ela devia mudar-se pra morar comigo, ela sempre recusava. Ela estava feliz, eu conseguia ver no. Seu rosto e no sorriso que era uma constante em seu rosto. E me enchia de orgulho saber que eu era parte da razão dessa felicidade. A outra devia-se ao facto de ela ter conseguido um emprego numa firma de advogados. Ela já não tinha tanto tempo para fazer voluntariado. Mas parecia feliz em aprender novas coisas.

Eu estava feliz por ela.

Pra minha felicidade ficar completa só faltava fazer as pazes com Filipe. Mas ele afastou-se mais quando soube que eu havia assumido Sara como minha namorada. Queria que as coisas fossem diferentes, mas já deu pra ver que ele é tão cabeça dura quanto Sara. Deve ser mal de família..

Sai do trabalho feliz por voltar a casa. Sabia que tinha Sara a minha espera. E quando abri a porta do apartamento fui recebido com um abraço e vários beijos.

“ Acho que não quero esperar muito pra casar” falei sem disfarçar o riso.

“ Porquê a pressa?”

“ Quero ser recebido assim todos os dias”

Sara soltou uma gargalhada e plantou um último beijo nos meus lábios.

“ Já estou mal habituado e é culpa tua.” Falei apertando-a contra mim.

“ Nunca reclamaste. “

Depois de tudo que passamos , merecíamos toda esta felicidade. Dei-lhe um beijo carinhoso na testa e afastei-me pra ir ao quarto trocar. Mas não dei dois passos e ouvi batidas na porta.

“ Eu vou lá” Sara ofereceu-se.

Entrei no quarto e comecei a desabotoar a camisa quando Sara veio veio ao meu encontro.

“ Tens visitas..” ela falou séria.

“ Quem é?”

“ A mãe do Filipe.”

Olhei pra Sara preocupado pois ela não me parecia bem. Eu sabia que não deve ter sido agradável pra ela estar frente a frente com a esposa do seu pai. Abotoei a camisa e sai do quarto em direção a sala. Sara seguiu-me em silencio.

“ Desculpe incomodar. Mas eu não tive opção.” A senhora falou logo que entrei na sala.

“ Esta tudo bem. Pareces aflita, o que se passa?”

Antes que ela pudesse responder , Sara falou primeiro.

“ Vou deixar-vos conversar.” Ela aproximou-se e deu-me um beijo rápido despedindo-se.

“ Sara, e o nosso jantar?” protestei.

“ Falamos pela manhã. Não quero apressar a vossa conversa.”

Sara pegou sua bolsa e saiu em seguida. Lá se foi o meu plano para esta noite.

“ Não queria atrapalhar. Sei que sou a última pessoa que ela queria ver mas eu precisava falar contigo , Tiago.”

“ Tudo bem.”

Indiquei pra que sentasse no sofá e sentei-me do seu lado.

“ Em que posso ajudar-lhe?”

“ Tenho receio que Filipe faça uma besteira. Ele ouviu-me a falar com uma das minhas irmãs que eu o pai estamos a separar-nos. Ele ficou tão alterado que não vi outra opção senão contar a verdade. “

Ela fez uma paus para puxar o ar.

“ Filipe não reagiu muito bem a noticia , como deves imaginar ,e desde então ele não atende minhas chamadas. Sei que vocês estão de costas voltadas por causa da Sara, mas por favor fala com ele. Ele precisa de um ombro amigo neste momento. “

“ Eu vou tentar encontra-lo. Depois digo-lhe algo.”

“ Obrigada, filho.” Ela falou e abraçou-me.

Ela despediu-se minutos depois e eu enviei uma mensagem pra Sara explicando a situação. Ela respondeu minutos depois me incentivando a ir atrás de Filipe. Ter o apoio de Sara era importante pra mim. Não perdi mais tempo e saí. Havia um lugar onde eu e Filipe íamos sempre que precisássemos fugir do mundo, e foi pra la que fui primeiro. Respirei de alívio quando vi o carro de Filipe próximo ao parque. Estacionei ao lado e sai do carro. Vi Filipe sentado no canto, de costas pra mim. Caminhei até la e ele virou-se quando me ouviu aproximar.

“ O que fazes aqui?” ele falou irritado.

“ Preciso de um motivo pra vir aqui?” respondi , sentando do seu lado.

Ele virou e ficou a olhar pro vazio. Ficamos em silencio por algum tempo. Eu decidi esperar que fosse ele a falar primeiro.

“ A vida gosta de gozar com a nossa cara.” Ele finalmente falou.

“ Concordo.”

“ Meu pai saiu de casa. Pelos vistos ele decidiu ficar com a outra. “

Levei minha mão ao seu ombro em gesto de consolação. Não imagino o que essa revelação deve ter feito com ele.

“ Eu sou única razão que os fez ficar juntos. Ele sempre amou a outra .”

“ Isso não é verdade. Ele não ficaria apenas por obrigação. E isso não o livra da culpa. Duas mulheres sofreram pela sua atitude. Os filhos de ambos os lados sofrem. “

Ele olhou-me espantando por minhas palavras.

“ Sara sofreu com a ausência do pai. Ao menos tu o tiveste por mais tempo. Ela sofreu quando descobriu a verdade e tu também. O único culpado é teu pai. Tua mãe esta preocupada contigo. Devias atender as chamadas dela. Ela já sofre com a separação, não aumentes a sua dor.”

“ Tens razão.” Ele falou soltando um longo suspiro de seguida.

“ E agora?? O que faço?”

“ Primeiro tens que parar de pensar que isto só afecta a ti. Apoia tua mãe e encontra lugar no teu coração pra perdoar teu pai. Ele deve estar a tentar corrigir seus erros , e não esperes que acerte a primeira. Tens que lhe dar tempo”

“ Obrigado por estar aqui. Sei que não tenho sido o melhor dos amigos, mas tu largaste tudo por mim. “

“ Sara convenceu-me a vir.”

Houve uma breve pausa e esperei ele absorver a mensagem.

“ Confesso que não esperava por isso. Mas também não a conheço muito bem. Deve ser por isso que estas de quatro por ela.” Ele falou e conseguia ver um sorriso se formar.

“ Não nego, sou louco por ela. E gostaria que vocês pudessem entender-se. “

“ Isso é estranho, estas a pedir-me pra me entender com minha irmã.” Ele falou entre risos.

“ Se o gene da teimosia não fosse tão forte na vossa família eu não precisaria estar a pedir-te o obvio. Mas porque amo a ambos, tenho que me submeter a esses papeis ridículos. “ Falei soltando um riso.

Ele levantou e eu fiz o mesmo. Nos abraçamos e caminhamos até onde deixamos os carros.

“ Para onde vais agora?” perguntei depois de destrancar o carro.

“ Falar com minha mãe. Ela deve estar preocupada. “

“ Fazes bem. “

“ Obrigado, por tudo.”

“ És como um irmão pra mim. Nunca te deixarei só.”

Cada um entrou em seu carro e seguiu seu caminho. Eu queria ver Sara mas decidi deixar-lhe em paz esta noite. Foi um dia emotivo pra mim também e precisava acalmar minhas emoções. Mas quando cheguei a casa liguei-lhe e falamos por quase uma hora. Não falei sobre meu encontro com Filipe e ela também não perguntou. Se estava curiosa não me deixou notar, apenas respeitou minha vontade e quando desliguei a chamada me sentia bem melhor. Tinha cada vez mais certeza que era com ela que queria passar o resto da minha vida.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 23

SARA

No instante que abri a porta e vi aquela mulher a minha frente, sabia que algo se passava. Mas preferi sair e deixa-los conversar a vontade. A confirmação das minhas suspeitas veio horas depois , quando Tiago ligou-me a explicar o motivo da visita da mãe do Filipe. Senti que ele estava dividido, seu amor por mim e a lealdade que tinha com Filipe. Eu fiz o que qualquer pessoa sensata faria, o incentivei a ir atrás do amigo. Apesar das nossas diferenças eu sabia que Filipe precisava do amigo mais do que nunca.

“ Se vais ficar com essa cara de cachorro abandonado toda noite acho melhor voltares pra casa do Tiago.” Maura falou, notando meu silencio exagerado.

“ Desculpa” falei esboçando um sorriso.

“ Não sei o que esperas pra mudares pra la.”

“ Começo a achar que me queres ver pelas costas.” Falei em tom de brincadeira.

“ Eu quero ver-te feliz. E sei que Tiago é o tal.”

Soltei um riso e aconcheguei-me no sofá. Eu concordava com ela, Tiago era realmente o tal. Nossa relação evoluía a cada dia e não havia um só momento que não ansiava estar com ele.

“ Talvez esteja a espera de me casar pra me mudar. “

“ Hum…nunca pensei que fosses do tipo que acredita em casamento.”

“ E não era . Eu olhava pros meus pais como base e olha, ele era casado e mantinha outra mulher escondida. Não tinha muitos motivos pra acreditar. Mas Tiago mudou minha forma de encarar a vida . Ele torna tudo tão simples, tão leve e não vejo-me a amar outro com a mesma intensidade.”

“ Fico feliz por ti amiga. Tu mereces toda a felicidade do mundo. “

Fui a cama horas depois , e felizmente Tiago ligou-me antes de adormecer. Perdi noção do tempo que fiquei a falar com ele e quando nos despedimos eu não queria terminar a chamada. Eu não me cansava dele.

Acordei na manhã seguinte com boa disposição e preparei-me pra me juntar ao Tiago na nossa caminhada matinal. Abri a porta e quase fui de encontro com Filipe que estava em pé a minha porta.

“ Bom dia” ele falou segurando-me impedindo minha queda.

“ Oi.” Respondi espantada.

“ Podemos falar por alguns minutos?”

Olhei pra ele e hesitei por alguns instantes.

“ Juro que vim em paz.” Ele insistiu

“ Ok.” Falei e afastei-me da porta dando espaço pra ele entrar.

Ele fechou a porta e deu dois passos. Eu cruzei os braços e esperei.

“ Muita coisa mudou nos últimos dias. Não sei se sabes mas meu pai…digo, nosso pai finalmente tomou uma decisão. “ ele soltou um riso nervoso.

“ Tiago falou-me por alto. Adianto que não tive nada haver com isso.” Falei na defensiva

“ Eu sei. A verdade é que eu já tinha tanta mágoa acumulada por anos, desde que soube que ele traía minha mãe. E descarreguei na pessoa errada. Devia ter confrontado nosso pai mas tive medo de ser a causa da separação dos dois e não queria magoar minha mãe.”

Ele respirou fundo e fez uma pequena pausa.

“ Devo-te um pedido de desculpas, Sara. Mas vou entender se não me perdoares, mas precisava dizer-te o quanto estou arrependido pela forma como me portei contigo. Peço perdão.”

Agora eu estava boquiaberta. Uma mudança da água pro vinho. Era inacreditável.

“ Estás perdoado.” Falei em seguida.

E falei de coração. Eu não o culpava pelos erros do nosso pai. Ele era tão vitima quanto eu. E há muito tempo que decidi não mais meter-me nas decisões e erros dos meus pais.

“ Deves estar feliz , agora que teus pais estão finalmente juntos.” Ele falou , a incerteza estampada em seu rosto.

“ Sou indiferente. Decidi manter-me distante das loucuras dos velhotes.” Falei esboçando um sorriso.

“ Quem me dera. Ainda custa-me engolir tudo o que se passa. Nada contra a tua mãe, mas espero que entendas o meu lado.”

“ Acredita, entendo o teu lado bem demais.”

Houve um breve silencio e nos olhamos sem saber o que dizer. Felizmente alguém bateu na porta e quebrou o gelo.

Abri a porta e Tiago olhava-me da cabeça aos pés. Esbocei um sorriso quando o vi.

“ Estás atrasada pra nossa caminhada. Se achavas que te deixaria ficar , não me conheces muito bem.” Ele falou muito sério.

Dei-lhe um beijo leve nos lábios e afastei deixando-lhe ver Filipe no interior do meu apartamento.

Ele olhou pro amigo e depois pra mim, visivelmente confuso.

“ Esqueci-me de te avisar que tinha visitas, mas já que aqui estás…”

Ele entrou e foi ao encontro de Filipe.

“ Vim em paz” Filipe tratou de esclarecer de imediato.

“ Acho bem, ou levas com um punho nesse teu focinho.” Ele respondeu em tom de brincadeira.

Os dois abraçaram-se , felizes por finalmente todas as peças estarem a encaixar-se.

“ Vocês caminham juntos?” Filipe perguntou reparando nos nossos trajes.

Eu acenei com a cabeça e ele riu-se.

“ Céus, Deus me livre de me apaixonar. Não quero acabar como tu , Tiago.”

Tiago soltou uma gargalhada e puxou-me pra ele abraçando-me por trás.

“ Quando descobrires o que perdes, vais desejar tê-lo feito mais cedo. Não há melhor coisa no mundo que amar e ser amado.”

“ Parece que já não sou necessário aqui. Vou deixar os pombinhos namorarem em paz. Não te atrases , Tiago.” Filipe falou esboçando um sorriso enquanto caminhava pra porta.

A porta fechou e Tiago virou-me pra olhar nos meus olhos.

“ Não interrompi nada, pois não?”

“ Não. Chegaste no momento certo. “

“ Então, esta tudo bem entre vocês?”

“ O tempo dirá, mas já é um começo ele ter vindo aqui conversar”

Ele esboçou um sorriso, me apertando mais contra ele.

“ Já te disse que te amo , hoje?” ele sussurrou tocando meus lábios com os seus.

“ Acho que não.”

Ele beijou-me lenta e suavemente. Ele nem precisava dizer mais nada. Senti, naquele beijo , todo o seu amor.

“ Amo-te” ele sussurrou entre meus lábios e me derreti toda em seus braços.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO - CAPÍTULO 24

SARA

Estava uma pilha de nervos enquanto Maura me ajudava a escolher o que vestir. Tinha chegado o dia de conhecer a família do Tiago e não me sentia nem um pouco preparada. Ele tentou tranquilizar-me, dizendo que eu não tinha motivos pra me preocupar.

“ Modéstia a parte , eu sou boa nisto.” Maura falou me devolvendo ao presente.

Olhei pro meu reflexo e concordei com ela. Tinha feito um trabalho excepcional no meu rosto e no meu cabelo. O vestido que escolhemos era amarelo com pequenos pontos brancos. Era aberto da cintura para baixo e terminava um pouco abaixo do meu joelho. A parte de cima tinha um decote redondo e umas mangas quase inexistentes. Estava vestida pra conhecer a sogra.

Ouvimos batidas na porta e imediatamente levei a bolsa e o celular , e fui la. Abri a porta e os olhos de Tiago acenderam-se ao ver-me. Ele abriu um sorriso e eu fiquei sem ar diante de tanta beleza.

“ Estou sem palavras..” ele falou e aproximou-se, beijando-me.

Não sei quanto tempo durou o beijo , mas nos afastamos quando ouvimos Maura limpar a garganta atrás de mim.

“ Oi Maura” ele falou esboçando um sorriso.

“ Oi. Cuide bem da minha amiga. “ ela falou fazendo uma cara ameaçadora.

“ Sempre…” ele respondeu entrelaçando nossos braços.

“ Vamos?” ele perguntou olhando nos meus olhos.

Acenei com a cabeça e nos despedimos de Maura. A viagem de carro até lá foi uma tortura. Eu ficava cada vez mais nervosa. Tiago segurou minha mão e deu um leve aperto, tentando me tranquilizar.

“ Vais adorar minha família , e eles a ti.” ele falou sem desviar o olhar da estrada.

Tentei relaxar um pouco mas, quando o carro parou todo nervosismo voltou. Ele saiu do carro e deu a volta pro meu lado abrindo a porta pra mim. Segurei sua mão e juntos caminhamos até a porta. Nem chegamos la e a porta abriu-se e duas mulheres vinham ao nosso encontro.

“ Ola maninho” a mais jovem falou e Tiago soltou minha mão para abraça-la.

“ O que fazes aqui?” ele falou espantado.

“ Quando soube que trarias a namorada para apresentar a família , decidi que não perderia isso por nada. Cheguei esta manhã.” Ela falou animada.

“ Sara, apresento-te minha irmã e minha mãe. " Ele falou virando-se pra mim.

Estendi minha mão mas para minha surpresa a mãe puxou-me pra um abraço.

“ Bem vinda , filha. “ ela falou com um sorriso no rosto.

“ Obrigada” respondi sem graça.

A irmã olhou por uns instantes e estendeu a mão.

“ Prazer. Sou a Milena.”

“ Vamos entrar” a mãe falou e caminhou a nossa frente .

Tiago colocou sua mão nas minhas costas e me guiou para o interior da casa. Entramos na sala e o homem, que assumi que era seu pai veio ao nosso encontro. Abraçou Tiago e virou-se pra mim.

“ Então esta é a sereia que enfeitiçou o meu filho.” Ele falou em tom de brincadeira.

“ Sara, muito prazer” falei esboçando um sorriso.

“ Prazer, Sara. Pedro ao seu serviço.”

A Família de Tiago esbanjava simpatia e boa disposição , acabando com todas minhas inseguranças. O almoço foi animado e a irmã contou várias histórias da infância de Tiago , claro que escolheu os mais embaraçosos. Mas Tiago não fez caso e riu-se o tempo todo. Quando nos despedimos a mãe me fez prometer que voltaria sem Tiago.

Entramos no carro depois de quase meia hora a despedir.

“ Tinhas razão, amei tua família. São tão simpáticos e divertidos.” Falei entre risos.

“ Sim, claro. Quando não estão a tentar embaraçar-me em frente a mulher que amo.”

Soltei uma gargalhada e ele juntou-se a mim.

“ Pensei que não te importasses.”

“ Parei de importar-me há muito tempo. Eles não vão mudar e eu gosto deles daquele jeito.”

“ Deu pra ver que há muito amor entre vocês.” Falei com alguma tristeza lembrando da minha própria família.

Ele segurou minha mão e ficamos em silencio por algum tempo.

“ Teus pais amam-te Sara. E tenho certeza que vocês irão entender-se um dia”

“ Como podes ter tanta certeza?”

“ Porque tu mereces ser feliz, meu amor. E eu tudo farei para que assim seja.”

Ele levou minha mão para seus lábios e plantou um beijo.

Soltei um suspiro e virei olhando a paisagem fora do carro. Ele não me levou pra casa, quando vi entravamos no estacionamento do edifício onde ele morava.

Entramos no elevador e Tiago abraçou-me. Saímos do elevador , quando este parou no seu andar e ele tirou as chaves do bolso.

“ Tenho uma surpresa pra ti. Fecha os olhos.” Ele falou quando chegamos a sua porta.

“ Tiago..” protestei.

“ Por favor” ele implorou.

“ Ok.”

Fechei meus olhos e ele segurou minha mãe. Ouvi o som da porta abrir e caminhei , Tiago guiando meus passos.

“ Não abras ainda” ele falou quando paramos .

Ele soltou minha mão e desapareceu por um par de minutos.

“ Não abras ainda. “

“ Estás a matar-me de curiosidade” falei entre risos.

“ Sara, desde o nosso primeiro encontro que deixaste uma marca em mim. “ ele falou e soube que ele estava parado a minha frente.

Estiquei o braço e toquei seu rosto.

“ Desde lá, fui ficando mais viciado e quando dei por mim estava completamente apaixonado.”

“ Tiago…” sussurrei , minga voz carregada de emoção.

“ Podes abrir os olhos” ele falou e eu obedeci.

Eu estava parada no meio da sala. Os moveis encostados em um canto e as luzes apagadas. Havia pequenas velas no chão fazendo um desenho de um coração e nos no meio dele. Eram a única iluminação no espaço.

“ Tu és a mulher com quem quero passar o resto dos meus dias e tive que segurar-me pois já queria ter feito isto há mais tempo.”

Tiago ajoelhou-se a minha frente e tirou do bolso uma caixa vermelha.

Oh. Meu. Deus.

Lágrimas se formaram em meus olhos e levei a mão pra boca para abafar o choro.

“ Sara, eu quero que sejas minha companheira pra vida inteira, a mãe dos meus filhos e avó dos meus netos. Minha melhor amiga e minha amante . Casa comigo. "

Eu abanava minha cabeça , emocionada e incapaz de dizer uma única palavra.

“ Eu preciso que digas sim, amor.”

“ Sim….sim…oh mil vezes sim.” Falei entusiasmada.

Tiago levantou-se e colocou o anel no meu dedo. Colocou a mão em meu rosto e beijou-me, selando nosso amor e prometendo me amar por todos os dias de nossas vidas.

ASSALTO AO CORAÇÃO DESARMADO – EPÍLOGO

SARA

Já estava a morar com Tiago há quase um mês e hoje seria a primeira vez que receberíamos nossa família em nossa casa.

Sim, depois do noivado não quisemos mais ficar longe um do outro. O casamento virá, mas sem pressa.

Maura veio mais cedo pra ajudar-me a organizar tudo.

“ Eu termino aqui, vai tomar teu banho e colocar-te apresentável. Não tarda nada e começam a chegar os convidados.”

“ Está bem. Não me demoro.”

Felizmente já tinha preparado o que ia vestir , então não levei mais que vinte minutos para estar pronta.

Quando entrei na sala , vi Filipe conversando animado com Maura. Tiago veio ao meu encontro logo que viu-me entrar na sala.

“ Uau, linda como sempre meu amor.” Ele falou e beijou-me em seguida.

Me derreti em seus braços e esquecemos do mundo por alguns instantes.

“ Não sei como aguentas estar perto destes dois. “ Maura falou se dirigindo a Filipe.

Nos afastamos notando que os dois haviam se aproximado.

“ Eu estou sempre com o Tiago. Mas parece que ele já não consegue andar sem ela. “ Filipe reclamou , mas o sorriso em seu rosto mostrava que ele no fundo estava feliz por nós.

“ Talvez assim te animes e arranjes alguém. Assim seremos quatro e nem sequer notarás a nossa presença.” Tiago respondeu entre risos.

O som da campainha interrompeu a conversa e Tiago ofereceu-se pra ir abrir. As vozes animadas da sua família encheram a casa.

“ Sara minha querida. Como estás?” a mãe de Tiago falou e caminhava ao meu encontro de braços abertos.

“ Estou bem e feliz por recebe-los em nossa casa. “ falei abraçando-a.

“ Eu nunca vi meu filho tão feliz. “ ela falou olhando em direção a Tiago que conversava com seu pai e Filipe.

“ Lembra da Maura?” falei desviando minha atenção pra Maura que estava do meu lado.

“ Claro. Devias traze-la mais vezes lá pra casa.” Ela falou abraçando Maura que foi pega de surpresa.

Minutos depois chegavam meus pais e irmãos. Ele e Filipe ainda estavam reconstruindo sua relação. Não foi fácil passar por cima de tudo , mas eu e Filipe estávamos bem e conseguimos juntar os irmãos dos dois lados pra que nos conhecêssemos. E por unanimidade decidimos não deixar que os erros dos nossos pais afectassem a nossa relação.

E hoje conseguíamos estar no mesmo espaço sem hostilidades.

Servimos o almoço e todos desfrutaram da refeição que foi acompanhada de boa conversa e risos.

Depois de tantos altos e baixos , merecíamos alguma paz.

Tiago teve que deixar seu emprego. Depois que contei pra ele que Tatiana havia mentido pra mim a respeito da relação dos dois ele não quis mais continuar a trabalhar com ela.

Ele já vinha pensando em sair e ela deu o empurrão que ele precisava. E eu confesso que me senti mais segura sabendo que ele não será assediado constantemente por ela.

“ Sei que vocês jovens nunca tem pressa de nada , mas nós queremos ver o casamento acontecer. Não nos restam muitos dias sabem?” A mãe de Tiago falou dramatizando um pouco.

“ E queremos netos quanto antes.” Minha mãe acrescentou.

Filipe olhava pra Tiago e tentava disfarçar o riso. Tiago virou-se pra mim ignorando Filipe.

“ Por mim eu casava hoje mesmo. “ Tiago falou sem hesitar.

“ Tiago…” comecei a falar mas ele cortou-me.

“ Eu sei que um mero papel não quantifica o nosso amor. Mas eu quero honrar-te, quero que o mundo saiba que és minha, que és a dona do meu coração. Quero que nossas famílias e amigos testemunhem o momento em que jurarei amar-te eternamente. “

Tiago como sempre, deixou-me sem argumentos. Quando ele decide abrir seu coração me deixa sem acção, completamente rendida a seus pés.

“ Depois desta declaração de amor, até eu casava hoje.” Maura falou em tom de gozo.

“ Tomei nota.” Filipe falou surpreendendo a todos e deixando Maura sem graça.

“ Então , Sara, quando será o casamento?” Minha mãe perguntou e toda a atenção estava agora virada pra mim.

“ O mais rápido possível. “ respondi e o sorriso que se abriu no rosto de Tiago deixou-me sem ar.

Todos aplaudiram e Tiago plantou um beijo casto em meus lábios.

Eu havia deixado de acreditar em contos de fadas, mas hoje, sei que encontrei o meu príncipe. E apesar de todos os obstáculos que tivemos pelo caminho, acredito que seremos feliz para sempre.

FIM

Lilly Maxwell
Enviado por Lilly Maxwell em 11/08/2020
Código do texto: T7032300
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