A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE (REVELA AÇÕES) — XXXIII —
A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE
(REVELA AÇÕES) — XXXIII —
OS EXÉRCITOS de androides passeiam entre os girassóis nos jardins, ruas, avenidas, praças e parques nacionais. Os exércitos de androides plugados em seus celulares a visualizarem os entretenimentos do dia na política, na economia, nos esportes. Onde será que será o próximo show no fim de semana??? Quero ser o primeiro a comprar o ingresso para o Rap do momento. Vai rolar na festa, vai rolar. Esses seres humanoides, com essas expectativas de vida, são tão artificiais quanto robôs mecânicos. A diferença é que têm pai e mãe e se sentem protegidos por um negócio chamado família.
MAL SABEM eles e elas que há mais aflição e dor nesse mundo do que cada um deles ia capaz de suportar, se ousassem encarar a tarefa de se autoconhecer. Quantos jovens filhos de pais e mães orgânicos são capazes de empreender a jornada do autoconhecimento??? Todos estão cheios de medo e desejam proteção por debaixo dos cobertores. Por que a maldade preponderava naquela mulher com relação a mim???
TALVEZ PORQUE acreditasse que seria eu a criança que ela acreditava poder exercer uma dominação emocional tão completa, que seu corpanzil, relativamente ao meu, franzino e magérrimo, pudesse absorver de mim, de minhas sinapses, neurônios e neurotransmissores, todos os conteúdos possíveis de que fosse portador meu cérebro. Ela talvez acreditasse que lhe fosse possível sugar o cristal em meu crânio, a partir do qual ela pudesse apoderar-se do tempo passado, presente e futuro.
MINHA VIDA seria transferida para ela e/ou o marido, por alguma magia negra que extrairia de mim, através da tortura mental à qual me submergiam sem mínimo resquício de compaixão ou piedade, pelo sofrimento indizível que me causavam. Que defesas poderia eu ter contra essa infiltração de malignidade em minhas percepções de criança???
TALVEZ ELA acreditasse mesmo que fosse possível, sua mente tão passada, tão desesperadamente envolvida pela nuvem primitiva do cérebro reptiliano, ter acesso aos ritmos e conhecimentos aos quais, de outra forma, nunca teria acesso com tais recursos de sua mente embotada por seus carmas ancestrais, dos quais nunca saberia como libertar-se em seu desespero por ser outra pessoa. Porque a pessoa que ela era, era por demais reprovável e perversa.
MÃEZONA ERA um grande avestruz com a cabeça enterrada na sepultura de suas terras de cemitérios ancestrais. Quem poderia socorrer-me??? Quem se importava comigo??? A quem poderia recorrer e pedir ajuda??? Com que palavras eu me expressaria para me fazer compreender pela linguagem obcecada de adultos que não estavam nem aí para minhas reivindicações por uma oportunidade de sair da proximidade desse indescritível inferno de flagelos e bloqueios emocionais???
QUEM PODERIA descomplicar-me senão eu??? Mas como??? De que jeitinho brasileiro??? A mim não interessava ser mais outro travesti emocional da grande família de avestruzes brasileiros e brasileiras. Eu não queria, de jeito nenhum, ser mais um perdedor que vence o medo deles por agregar-me à exposição de motivos de suas perversões antepassadas. Não desejava ceder às contingências e eventualidades do Horizonte de eventos de suas infaustas e infortunadas ancestralidades.
EU VIA COM nitidez indescritível que estava sozinho. Não havia ninguém a quem eu pudesse pedir ajuda. Com que palavras eu poderia dizer que estava sendo trucidado por um casal de uma espécie em extinção, que via em mim alguém que não poderia servi-los para nada, exceto para potenciar seus problemas, pelo simples fato de ter nascido.
QUAL O PAPEL familiar de uma mãe??? Aquela mulher não tinha nenhuma responsabilidade em minha criação. O papel fundamental dela enquanto mãe, era, primeiramente, me anular completamente. Fazer com que eu não tivesse de defender nenhum direito e me orgulhasse em ser, desde criança, o irmão mais velho que se sacrifica pelos demais irmãos. Manter-me na coleira curta de necessidades básicas de sobrevivência. É como se ela estivesse sempre a afirmar:
— O que eu quero de você é que você goste que eu lhe faça sofrer. Sou sua mãe. Abasteci você nove meses em meu ventre. Eu sei o que é melhor para você. E o que é melhor para você é que esteja sempre disposto a se sacrificar por seus irmãos. Ser o cordeiro do sacrifício, o Bode Expiatório de toda a família.
EU NÃO SABIA como defender-me. Uma criança em mãos de uma mentalidade de mandingas, feitiços, sortilégios e necromancia. Que havia me escolhido para a prática de rituais de sofrimentos diários com a convicção psicótica de que esse era o caminho mais certo para ela se livrar das responsabilidades com minha educação formal. Eu ia à escola, mas por pressão da vigilância da vizinhança que os aconselhava que as crianças, filhos dela e de Paizão, precisavam de escolaridade para a garantia de algum futuro.
COMO REAGIR, como dizer que precisava de algum apoio emocional, de uma orientação interior que me proporcionasse incentivo a meus interesses de desenvolvimento intelectual. Como dizer que eu precisava da compreensão dela, da empatia dela, do incentivo que ela nunca poderia me fornecer??? Era uma sensação de impotência satânica proveniente do âmago de uma mulher que deveria ser minha mãe. Mãe no sentido de promover o bem-estar, a tolerância, a paciência, a dedicação. Onde estava a intuição materna dela??? Ela me via apenas enquanto vítima.
TODO DIA seguinte era um dia a mais de tortura silenciosa. De opressão emocional..
desonrosa. Eu me perguntava se ela havia herdado de seus ancestrais esse tipo de estilo de criação para a revolta e a sordidez de um filho que ela havia parido para oprimir com uma convicção absolutamente degenerada. Sua mãe, minha avó, havia criado um de seus filhos nessa condição: o tio Fred. A mãe dela, minha bisavó, minha trisavó, havia elas também sido as mentoras ancestrais dessa criatura desprovida de coração materno???
POR QUE EU nunca ouvi dela, por mais que buscasse um eco de sentimento materno nela, uma indicação de caminho em direção ao autoconhecimento??? Acredito que a razão disso estava em que ela sempre teve horror a se autoconhecer. O inferno interior dela devia ser tão tenebroso e intimidativo que ela nem sequer ousou.
“AMOR, SÓ DE mãe”. Nesse caso, onde estava a verdade dessa frase??? Sua feição e conteúdo de verdade inexistente??? Amor de mãe não deveria ser sinônimo de confirmação de uma amizade profunda entre ambos, mãe e filho??? De incentivo ao que de melhor ela poderia detectar em mim??? Por que nunca incentivou minha formação literária??? Ao contrário, dizia que escritores e artistas são propensos a patologias esquisitas e bizarrices sem sentido.
BOM, VERDADE É que recém-nascidos não têm como escolher não nascer de uma bruaca megera, esposa de um dentista maluco. Por que nunca ouvi dela a frase mágica:
— Eu te amo. Sim. Há pessoas que não nasceram para dizer “eu te amo”.
ELA ESTARIA em sua subjetividade delirante de descendente de deuses nórdicos, querendo criar alguém que se assemelhasse a um Hitler tropicalista??? O marido dela, não poucas vezes reproduzia a aparência daquele bigodinho tantã do ditador alemão dos anos 30/40 na Alemanha do século XX. Alemanha dos supremacistas vigentes. O século XXI ainda não chegou ao Brasil do Bozo. Nem aos EUA do Trumpqueiro. Nem à Rússia da Lagartixa Caucasiana que invadiu a Ucrânia.