MAMAN — LOUISE BOURGEOIS (1988)
MAMAN — LOUISE BOURGEOIS (1988)
A VIDA É uma manifestação artística da ciência da Criação. Esta novela, uma manifestação literária, visa colaborar na visão que o leitor possui da realidade. Expandindo-a: a visão da realidade. O “Véu de Maia” é realidade invisível que esconde a si mesma, levando as pessoas à crença de que o que veem é suficiente para a compreensão do que estão vivendo. O que vemos é uma distração sensorial que esconde muito mais do que revela.
MÃEZONA E seu marido teciam uma teia de aranha no Inconsciente Coletivo familiar, na qual visavam prender os frutos de sua obscenidade ao gerá-los. Eram seres ignorantes e vulgares numa sociedade ignorante e vulgar. Uma sociedade que visava aproveitar-se dessa ignorância e vulgaridade em proveito próprio. Eu estava sendo criado como sendo um projeto de Hitler. Alguém a quem negavam os direitos mais básicos e fundamentais de existir, de modo que pensavam criar em mim um ser tão superlativamente revoltado, que fosse utilizado na política local, quem sabe na nacional, como um líder político possesso. Sedento de posses e poder. Igual a qualquer político comum.
PAIZÃO COISINHA, repito, costumava permitir-se usar o bigode do ditador alemão e fazer discursos elogiosos dele, enquanto atendia seus clientes. Por vezes essas arengas discursivas duravam dias inteiros. Para ouvir e reforçar suas falas, por vezes contava com companhias velhas de guerra, fascistas elogiosos da política, amigos tipo Leonildo Marinho e Tonho Rodriguez, entre outros. Ficavam horas e horas se emulando verbalmente, atiçando-se em seus falares de suposta erudição de pau de galinheiro.
SUAS FALAS auto emulativas, saíam de seus falares como se fossem produtos de estudos sociais, quando não eram mais do que o equivalente às penas eriçadas dos rabos de pavões pseudo intelectuais, dissimulando uma erudição que não tinham. Paizão excitava-se sobremaneira, assim como seus rebatedores de bolinhas verbais de pingue-pongue trivial, desprezível, ordinário. Praticado em seu consultório dentário.
AFINAL, FAZIAM parte de uma sociedade que mal havia saído do interior cavernoso das furnas subterrâneas de Platão. Seus filhos e netos reproduzem a alegoria da Caverna de Platão, nos dias de hoje em dia. Os jovens estão plugados nos celulares mantendo com eles uma relação de hominídeos neandertais que chegaram a primatas Homo sapiens e aprenderam os rudimentos de como manipular os avanços da tecnologia. São ignorantes do que significa estar a visualizar as informações veiculadas nas redes sociais e aplicativos. São como digitadores pulsionais que acessam redes sociais.
A RAZÃO neles não é reivindicada. O pensamento analítico inexiste. O espírito crítico jamais é invocado ou instruído. São simples atores a ignorar que estão sendo usados como massa de manobras de interesses políticos, econômicos e sociais que em nada contribuem para a evolução de uma educação pessoal e social em busca de melhores e mais afirmativos dias. As informações estão embutidas em camadas “arqueológicas” de comunicação e entretenimento que se repetem em digressões que não revelam a intenção de fazer ver, abrir os olhos, pensar a própria realidade em perspectivas construtivas.
CENTENAS DE novos jogos são lançados ao mercado com visualizações de situações em que personagens de combatem com violência cada vez mais extraordinária. Eles estão lá, plugados nas telinhas como se estivessem a fazer parte de uma comunidade que se prepara para um futuro em que só haverá conflitos, hostilidades, malignidade e virulência. A indústria de jogos está a faturar horrores. O que esses jovens aprendem, Realmente??? Estão sendo condicionados a aceitação do terror e de horrores futuros.
ELES APRENDEM a se entregar aos condicionamentos impostos pela tecnologia da distração, da desafeição a outros seres humanos, jovens ou não. Eles aprendem a cultura da hostilização mútua, da agressão gratuita. Eles aprendem a ver os outros como se fossem seres potencialmente hostis, aos quais estão preparados para reagir a provocações que certamente surgirão da proximidade entre eles.
A “FILOSOFIA” desses jogos é a das séries investigativas de Tv e do romance policial, em que as personagens são cada vez mais difíceis de identificar quem é mocinho quem é bandido. O incentivo à violência é incentivado por personagens vestidos à moda das fardas militares, armados do argumento dialogal da pólvora contra a pólvora.
A PRESENÇA do imaginário cristão inexiste. É como se estivessem a afirmar, nas palavras do genial Machado de Assis, em A Igreja do Diabo:
— “Sim sou o Diabo, repetia ele. Não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, mas o Diabo verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza, a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil e airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu desdouro, fazei dele um troféu e um lábaro, e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo...”. E essa juventude acredita que imitando o capeta terão tudo. Tudo. Tudo.
UMA REALIDADE de entretenimentos baianos, banais. Vejam os programas de auditório das redes de Tv. Os chamativos culturais das atrações e lazeres da música pop no rádio. Notem, os leitores, a preferência editorial por personagens que participam do Bigbrother ou de programas tipo “No Limite do Bigbrother”. Se algum desses personagens quiserem lançar um livro, os editores logo vão começar a balançar o rabo, como cães babões em busca de audiência editorial nas livrarias. Vão querer editá-los e investir neles.
MAS SE VOCÊ é autor e quiser contribuir com uma participação social realmente literária, nenhum deles se valerá da leitura avaliativa de seus originais. Nenhuma editora, que eu saiba, possui leitores com aptidão para avaliar textos literários. É como se dissessem, os editores, que a literatura que merece esta qualificação, inexistisse. Que o país não precisa de novos autores simplesmente porque não há educação pertinente para criá-los. É como se os autores realmente literários fossem vácuos dentro de vácuos, como diria Fernando Pessoa em “A Hora do Autor” nesta condição de intertextualidade:
— “A verdade, porém é que não existo. Nem eu nem outro autor qualquer. Todo esse universo literário, e todos os outros universos literários, com seus diversos criadores e seus diversos autores — mais ou menos perfeitos e adestrados — são vácuos dentro do vácuo. Nadas. Nadas que giram entre editoras. Satélites em órbita editorial inútil de coisa nenhuma: nadicas de nada”.
MEU CARO E raro leitor: permita-me nova intertextualidade. Desta vez a dialogar com aquele mineiro minerador de inventividades, João Guimarães Rosa, em texto lucrado de “Grande Sertão: Veredas”:
— “Digo ao senhor: o diabo do autor não existe. Ele não há. A ele eu vendi a alma. Cê me dê licença de dizer. Meu medo é esse. A quem vendi??? Medo meu é esse meu senhor leitor: a alma a gente que escreve vende só e sem comprador”.
MÃEZONA NÃO está presente apenas dentro do ambiente familiar. Ela está muito efetiva na contemporaneidade das editoras. As nacionais, principalmente.