Neblina e a Ninja capítulo 9: Os romenos e o Jujuba entram em cena

 

CAPÍTULO 9

 

 

OS ROMENOS E O JUJUBA ENTRAM EM CENA

 

(No capítulo anterior vimos como, na residência de Madeira, Neblina concedeu uma entrevista coletiva e um dos repórteres, Alcântara Buzardo, provocou a vigilante, duvidando que ela sozinha pudesse ter dominado dois bandidos perigosos. E desafiou-a a enfrentar um conhecido lutador numa luta pública. Neblina recusou o desafio, por descabido, e o incidente trouxe um clima pesado para a entrevista. "Z" não gostou nada do acontecido e disse a Neblina que o repórter em questão agira de forma suspeita, buscando desacreditá-la.)

 

 

No mesmo dia — uma quinta-feira — em que a revista “Novidades” publicava um ferino artigo assinado por Alcântara Buzardo, com muitas aleivosias contra Neblina, finalmente o Primeiro-ministro da República saiu de seu silêncio e emitiu um pronunciamento pelo rádio e pelo laser a cabo. Às 19 horas de Brasília a figura grisalha e cheia de covas de Darci Orégano apareceu e deu início ao seu discurso:

“Senhoras e senhores, cidadãos do Brasil, especialmente Nova Brasília:

O país está sob ameaça mortal. Uma quadrilha estrangeira, com um poder até então desconhecido entre nós, abateu-se sobre nós. Assassinatos, sequestros e atos terroristas de uma crueldade e violência inauditas vêm se sucedendo, num direto desafio às autoridades constituídas. (Nesse ponto Darci tirou umas jujubas do saquinho sobre a mesa e abocanhou-as. Manducou um pouco e continuou a falar.)

No último dia 20 de março foi assassinado o cônsul da Romênia em nosso país, o diplomata Tadeu Popescu. O ato foi assumido como uma vingança da quadrilha dos Bandidos Negros, chefiada pela criminosa conhecida como Ninja, quadrilha essa que fôra expulsa da Romênia... desde então muitos outros crimes se sucederam, com uma petulância incrível. Ao que parece a megalomania desses facínoras leva-os a crer que podem se apossar até do governo de um país organizado.

Pois bem: estamos combatendo. Alguns elementos da quadrilha foram mortos. Um único, até agora, foi preso. Mas começamos agora a receber preciosos subsídios da parte de agentes da Polícia Federal Romena, que já se encontram em Nova Brasília. Peço que todos liguem seus gravadores de relevo, pois vou mostrar agora as fotografias holográficas de vários integrantes da quadrilha.”

Darci serviu-se de uma talagada e mastigou outras jujubas. Pôs-se então a exibir as holofotos, com destaque para um dos mais perigosos integrantes da caterva: Nicolau Bizâncio, homem de elevada estatura (cerca de 1,85m) e grande crueldade. Apareceu uma das lugares-tenentes da Ninja: Sonia Camarinha, portuguesa dos Açores. Um preto chamado Altino, de sobrenome desconhecido, era o mais avantajado de todos: quase dois metros e braços volumosos; ostentava uma grande gilvaz na face esquerda.

Quanto à Ninja, não havia fotos dela disponíveis, a não ser fotogramas do conhecido e chocante vídeo... Ao que parecia, nunca estivera presa. Jujuba mostrou alguns, mas não a cena de violência.

Na residência de Madeira, Robson, sentado ao lado de Neblina, observou:

— Será que ele acha mesmo que isso vai adiantar?

— Ele está fazendo o possível, Robson... a revelação desses nomes e dessas figuras é um tento para nós.

— Ele demorou demais — disse Madeira. — Se ele não bebesse tanto... que “premier” nós temos!

Neblina despediu-se. Tinha pressa, pois “Z” a esperava para uma entrevista. Robson ofereceu-se para acompanhá-la até a saída.

Quando chegaram até o veículo posto à disposição de Neblina, o policial observou:

— Que é que esse “Z” quer tanto com você? Há tanto mistério nessas entrevistas...

— “Z” é o meu mentor, você sabe. Ele próprio é um beneficiário do Estatuto...

— Eu sei, mas você fica sozinha com ele nessas entrevistas, e no escuro...

Neblina fitou-o, muito séria.

— Nada a ver, Robson. Mas por que se importa com isso?

— Eu gostaria de vê-la sem a máscara. Nem que fosse por um instante... poderia mostrar-me o seu rosto?

Ana sorriu.

— Talvez um dia, Robson. Não hoje. Deixe-me ir.

Ao despedir-se Robson beijou-a como pôde, já que a maçã do rosto estava descoberta.

 

 

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— Você não pode forçar a situação... para que ataquemos os redutos da Ninja?

“Z” respondeu de imediato:

— Você não sabe em que país está, menina. O meu poder é muito mais limitado do que eu gostaria. Agora o Jujuba já fez a sua mise-en-cene e já paralisou devidamente as iniciativas. Concedeu poderes demasiados aos romenos e agora eles estão “estudando a situação”. Entre um trago e outro o Jujuba convoca o Secretário de Segurança mas não tomará nenhuma atitude positiva enquanto os conselheiros romenos não se pronunciarem.

— Eles não quiseram nem ver a minha sombra.

— Certamente eles não podiam ignorá-la. Vou falar com Hélio a respeito disso.

— A quadrilha anda muito silenciosa...

— Demais. Madeira passou a pente fino a cidade e limpou bem a área, mas não estamos podendo ir no perímetro liquidar esse assunto.

— Na verdade já fomos algumas vezes...

— Sem o devido planejamento.

Um aparelho cônico sobre a mesa de “Z” começou a brilhar. “Z” apanhou-o e escutou-o.

— Temos serviço, Neblina. A Ninja acabou de ocupar uma estação de tv. A Vórtex.

Neblina levantou-se.

— Ela está transmitindo?

— Sim. Vamos ver.

“Z” ligou o aparelho da parede.

Havia três pessoas na tela, sentadas atrás de uma mesa. Uma delas Neblina reconheceu como Sonia Camarinha, à esquerda. Sentada à direita, com temor nos olhos, amarrada e amordaçada, estava a repórter Iracema Guaracy. E no centro, a ominosa figura da Ninja.

— A polícia não tem coragem de penetrar em meus redutos — ia dizendo Sybilla. — E todos os dias eu recebo reforços. Assim, Nova Brasília está cercada e é uma questão de tempo ocupá-la. O ridículo Jujuba, se quiser continuar com seu cargo, terá de mudar para outra cidade... enquanto é tempo. Podemos fazer um acordo temporário. Quanto à população, deve nos ajudar. Precisamos da população, temos grandes planos para essa cidade. Somos conquistadores, e conquistadores também podem fazer grandes obras. Por exemplo, a segunda torre energética, que Darci em seu pão-durismo não consentiu fosse construída...

Neblina voltou-se para “Z”:

— Vou lá. É a nossa chance de pegá-la.

— Não quer assistir o que ela tem a dizer? A polícia deve estar indo para lá.

— Até você? Assista você e depois me mostre a gravação. Tchau!

 

Os acontecimentos voltam a esquentar. Na sequência o caos toma conta quando o Primeiro-ministro do Brasil resolve intervir nos acontecimentos com a sua guarda pessoal, atrapalhando o trabalho da pólícia, e Neblina é obrigada a improvisar para socorrer a repórter Iracema Guaracy, a mesma que pedira plenos poderes para a vigilante de máscara.

No próximo capítulo: "Batalha em Nova Brasília".

 

 

 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 13/08/2023
Código do texto: T7860758
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