Neblina e a Ninja, capítulo 10: Batalha em Nova Brasília

 

CAPÍTULO 10

 

BATALHA EM NOVA BRASÍLIA

 

(No capítulo anterior vimos a tentativa de aproximação do policial Robson com Neblina e em seguida a entrevista dela com "Z", quando veio a notícia de que o bando da Ninja invadira uma estação de tv e fizera prisioneira a repórter Iracema Guaracy, que recentemente pedira que se dessem plenos poderes para a vigilante mascarada. Enxergando uma chance de pegar a Ninja - sua inimiga mortal - Neblina dirige-se à estação para se juntar às forças policiais. Mas algo de inesperado vai acontecer...)

 

 

Neblina zarpou em seu disco de flutuação, rumo ao Quarteirão Central de Nova Brasília. A quinhentos metros esbarrou com o cordão de isolamento. Desceu e encarou o gigantesco policial conhecido como Barracuda.

— Oh, é você! — disse ele, enfadado. — Madeira me deu uma função idiota. Não tenho nada a fazer aqui. Eu quero é pegar essa mulher1

— Compreendo, Barracuda. É o que eu quero também.

Passou por baixo do cordão.

— Ei, espere aí!

— Vamos começar tudo de novo? Você sabe que eu tenho permissão...

— Mas é loucura! Eles estão bem entrincheirados e você não tem armas!

— Discutirei isso com Madeira. Bom serviço, Barracuda!

Neblina correu com pernas rápidas enquanto pensava depressa. O edifício ocupado não confinava com a muralha ou morros. Ficava perigosamente perto da torre energética. Era muita audácia! O edifício era estranho, em forma de bola de cristal, mas cheio de mosaicos (janelas e decorações).

Sentindo súbita fome, Neblina tomou alguns tabletes de vitaminas e proteínas. Sabia que não substituiriam uma refeição completa, mas não tinha tempo para efetuá-la.

Adolfo em pessoa, Madeira, Fagundes e o reaparecido Lustosa lá estavam, atrás de barricadas móveis. O Secretário Adolfo, num assomo de ação, dera ordens rápidas para iluminar a estação com holofotes. Ao avistá-los, Neblina pulou como um menino treloso em sua direção:

— Salve! Eis-me aqui!

Madeira e Fagundes a cumprimentaram calorosamente e Lustosa, constrangido, observou: — Desculpe pela última vez.

— Está bem. Não se fala mais nisso.

Adolfo, porém, cumprimentou-a secamente.

— Preferia que você fosse embora. Achei negativa a publicidade daquela entrevista.

— Não enquanto o Estatuto estiver de pé.

Adolfo disse um palavrão. Neblina ignorou-o e dirigiu-se a Madeira:

— O que estamos esperando?

— Há reféns lá dentro.

— Está bem. Suponho que estejam havendo negociações...

Adolfo foi ríspido: — O que você supõe não interessa, menina. Nós não precisamos de suas lições.

Madeira, porém, já não concordava com atitudes anti-Neblina.

— Adolfo! Ela salvou a vida de minha filha, lembra-se? Vamos respeitá-la!

— Obrigada, inspetor — Neblina sorriu ligeiramente.

Súbito ouviu-se forte estrondo do outro lado do prédio, que estremeceu.

— Que é isso? Que é isso?

Adolfo e Madeira estavam entre os diversos autores dessa pergunta.

Em meio a novos estrondos, clarões e ruídos de vidros se quebrando, avistaram Isabela que corria como louca, tendo dobrado a esquina da escadaria que levava ao edifício globular. Outros policiais corriam mais atrás.

— Loucura! Que horror! — gritou ela, aproximando-se do grupo ao qual se juntara o Inspetor Cordeiro.

— Mas que foi? — perguntou Cordeiro, perplexo.

— A guarda pessoal do Darci está bombardeando a estação do outro lado! Estão usando bazucas de alta pressão e bombas incendiárias!

Por um instante a estupefação foi tão grande que ninguém ousou falar. Ofegante, Isabela prosseguiu:

— O Darci ficou maluco quando se viu assim desafiado na própria noite em que se pronunciou em público. Eu soube agora que ele não se entendeu com os romenos porque estes propuseram o envio de tropas militares, já que o Brasil não tem mais exército. Jujuba recusou e resolveu fazer algo grande para mostrar que é o tal.

Neblina protestou: — Mas vai matar as pessoas inocentes que estão lá dentro!

— E ele quer saber disso? Já tomou umas e outras...

Neblina quase rangeu os dentes de tanta raiva. Agora que tinham uma chance real de pegar a Ninja, aquele idiota apelava para a ignorância daquele jeito. Estragaria tudo! Ou causaria mortes desnecessárias...

Agora já se ouviam outros ruídos. Sem dúvida os Bandidos Negros, lá de dentro, estavam revidando com as armas pesadas que possuíam. Neblina chamou Madeira à parte:

— Mande evacuar. Não podemos mais ficar aqui perto, é muito perigoso.

— Como recuar, menina? Estamos aqui para pegar a Ninja...

— Estávamos, inspetor. Não percebe que fugiu ao nosso controle? Não digo para irem embora, mas ampliem a distância. Deixe-me falar!

Com um gesto de impaciência Ana cortou a palavra ao inspetor e prosseguiu:

— Ele não nos consultou para fazer isso. Portanto ele é o responsável pelo que vier a acontecer...

— Eu até concordo... mas cumpro ordens. O Adolfo não concordará...

— Disse o que eu tinha a dizer. Com licença, inspetor.

Neblina deu as costas para o Inspetor Madeira e correu de volta para o seu veículo.

A noite de Nova Brasília estava iluminada por fulgurações espantosas.

Ana entrou em seu disco enquanto se recordava das palavras generosas de Iracema: “Já há quem peça plenos poderes para a vigilante Neblina, única pessoa até agora...”

Tomando uma súbita decisão Neblina pôs o disco em movimento, sobrevoou o cordão de isolamento e dirigiu-se para o prédio, sem ouvir os gritos que Barracuda e outros policiais lhe dirigiam. O disco não podia na verdade voar livremente: só flutuar sobre um colchão gasoso. Mesmo assim Neblina conseguiu eleva-lo a dois metros do chão e, favorecida pela secreta energização que fizera do aparelho, arrebentou uma janela do prédio e entrou. Logo, com a ajuda dos sensores termobiológicos no painel de instrumentos, percorreu corredores e escadas ao encontro de quem estivesse lá por dentro.

Felizmente ela já conhecia um pouco o local e, chegando no estúdio B, um amplo espaço aberto rodeado de majestosas cortinas arroxeadas, surpreendeu sua inimiga que arrastava Iracema, seguida por vários cúmplices.

Os olhos de Neblina endureceram.

Imune aos projéteis que choveram em sua direção, Neblina avançou com seu minúsculo veículo sobre Sybilla que, surpresa, pulou fora – um pulo de ninja, espantoso – mas largou sua prisioneira. Do lado de fora vinha o fragor das explosões, e os quadrilheiros bateram em retirada. Neblina teria gostado de atropelar alguns bandidos negros, mas sua obrigação imediata era salvar a repórter.

Neblina estacionou o veículo e, certificando-se de que não havia inimigos por perto, puxou Iracema, que ainda estava manietada e amordaçada. Colocou-a dentro do disco, bastante apertado, fechou a porta e libertou-a rapidamente.

Iracema abraçou-a, aos soluços. Ana fez o que pôde para acalmá-la e por fim disse:

— Por favor, agora se acalme. Temos que fugir daqui!

Uma nova explosão sacudiu o prédio e uma cortina de estamenha desabou. Neblina pôs o carro em movimento.

— Neblina... e o pessoal? Prenderam todo mundo no refeitório!

— Faremos o que for possível para salva-los. Mas agora temos que sair daqui.

 

(imagem pinterest)

 

O episódio termina praticamente com a vitória da Ninja, propiciada pela desastrosa intervenção do Jujuba. Neblina apenas pôde resgatar Iracema. Mais uma vez as duas mulheres em guerra se avistaram, prefigurando o inevitável confronto...

Na sequência Neblina pela primeira vez visita a Torre Energética, o grande objeto da cobiça da Ninja, e que precisará ser defendida a todo custo...

 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 16/08/2023
Reeditado em 16/08/2023
Código do texto: T7862759
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