Neblina e a Ninja capítulo 15: Ao encontro da Ninja

 

CAPÍTULO 15

 

 

AO ENCONTRO DA NINJA

 

 

 

Sozinha na ampla cobertura, a Ninja desenvolvia uma intensa atividade. Um último obstáculo a impedia de se apossar da caixa dos cristais: as inúmeras ligações com o alto da torre e os planos inferiores. As tubulações, os braços mecânicos, os parafusos de segurança, tudo isso não podia ser desmontado à força. Sybilla retornou ao seu veículo e trouxe de lá um maçarico de solda e outros instrumentos e pôs-se e agir febrilmente, disposta a desmontar todos os elementos de fixação que ainda lhe barravam a tomada do poder.

Colocando óculos de proteção, ela acendeu a chama do maçarico e fixou-o sobre um dos braços, repletos de fios embutidos, que ligavam a caixa e a mesa aos painéis de instrumentos. Enquanto a chama agia, ela pegou uma chave múltipla e atacou um dos parafusos, que prendiam os rebites da caixa à mesa.

Não era um trabalho fácil.

 

 

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O bip de Neblina, transmitido pelas ondas hertzianas, foi reproduzido no interior de uma rocha, no perímetro sul da cidade. Estranhamente uma parte da rocha negra começou a se mover, como um painel, correndo para trás do paredão lítico.

Surgiu uma abertura e algo aventurou uns apêndices para fora, umas patas com almofadas de aterrissagem.

Então a coisa toda pulou para fora e flutuou no ar. Um pequeno disco volante, com quatro patas articuladas para o pouso.

O minúsculo aparelho aéreo pôs-se então a voar, atendendo ao chamado do bip.

 

 

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Mais um parafuso rolou no chão.

 

 

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Neblina afastava-se meio à francesa, parecendo preocupada e desanimada. Afastava-se aos poucos da multidão de agentes, e olhava para um trecho mais vazio do passeio.

 

 

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A chama do maçarico tornava rubro o metal do braço articulado.

 

 

 

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Em Nova Brasília luzes começavam a piscar, a falhar, e o prefeito dava ordem para acionar as baterias de reserva.

 

 

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Um novo ataque coordenado por Adolfo distraiu a atenção geral quando o disco volante finalmente surgiu à vista e planou em direção a Neblina, pousando a um metro de um pequeno poste de iluminação de aspecto pitoresco. A mascarada olhou para trás e encaminhou-se para a máquina voadora.

- Neblina, o que é isso?

Neblina voltou-se e sorriu.

- ISSO, inspetor, é uma das minhas invençoezinhas.

Ruiz, que estava mais próximo, moveu-se na direção de Ana — mas uma pesada mão fechou-se como garra em torno de seu braço.

Era “Z”.

— Nem pense em detê-la — disse com autoridade.

Madeira, porém, já corria na direção da vigilante.

— Espere aí, Neblina! Você não pode enfrentar aquela mulher sozinha!

— Desculpe, Inspetor Madeira, mas aqui só há lugar para uma pessoa.

Tendo aberto a porta com o controle remoto, ela entrou e trancou-se.

Robson precipitou-se e pulou em cima do veículo, ficando estendido de bruços;

— Ah, não! Sem mim você não irá!

Ana agarrou um microfone e falou para o exterior:

— Robson, seu idiota! Saia de cima do aparelho! Eu vou decolar e você vai se machucar!

Madeira estendeu os braços, agarrou Robson pelo ombro e puxou-o com violência:

— Ela tem razão! Você não poderá impedi-la! Afaste-se!

Impassível, o volante negro começou a subir diante de olhos esbugalhados.

— Deus a proteja — murmurou o Inspetor Madeira, enquanto Robson estremecia de desespero. A alguma distância da patética cena, “Z” mantinha a calma.

O aparelho subiu e, num abrir e fechar de olhos, arrebentou o vidro obturante da gigantesca cúpula e subiu, subiu, subiu, rumo ao alto da grandiosa Torre de Energia. Em seu interior Neblina, com a expressão sombria e compenetrada, observava a paisagem selvática de araxás, despenhadeiros, restos de savanas, canhões gerados pela erosão, cúmulos-nimbos a grande distância... mas seu alvo era bem menor: a cúpula da torre.

Neblina manobrou para a descida na varanda.

 

 

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A Ninja puxava, impaciente, os braços de aço galvanizado que ainda prendiam a caixa ao painel. Depois, sentindo que assim não resolvia, voltou ao maçarico. Várias conexões já estavam rompidas, e fumegavam.

 

 

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Lá embaixo funcionavam as baterias de reserva. Logo porém teria de haver racionamento.

 

 

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O besouro aéreo de Neblina pousou suavemente e quase sem ruído por trás do frigorífico. Desligou a máquina, fez o sinal-da-cruz e saiu do veículo, a capa sacudindo ao vento das alturas. Um fenômeno estranho, pois o vento das profundezas era quase inexistente...

Ana correu. Sabia que o tempo era curto. E que não devia se impressionar com os meteoros do céu.

 

 

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No interior da cobertura, um estalido marcou a definitiva separação da caixa de energia. Livre das amarras, ela agora estava nos braços da Ninja. Esta, triunfante, não pôde evitar um gesto patético, monologando:

— Minha... a caixa dos cristais finalmente é minha... toda minha...

Nesse exato momento Neblina encostou-se no vidro e, colando o rosto e as palmas das mãos, olhou para o interior. A Ninja, abraçando a caixa, percebeu o movimento, voltou-se e encarou a mascarada que a fitava com firmeza.

Sybilla fez uma “banana” para Neblina. Esta, indiferente ao gesto obsceno, recuou, protegeu a cabeça com a capa e pulou, atravessando o vidro que se obturou logo em seguida.

Ana fez um gesto incisivo. Em sua atitude nem sombra havia de medo:

— Sybilla, entregue-me essa caixa.

A Ninja escarneceu, bancando uma voz melosa:

— Ah, você quer a caixa? Que gracinha... tão bonitinha que ela é... pois venha tomá-la de mim, sua vaca! Se você se julga mulher bastante para isso!

Neblina, que ouvira as chalaças com os braços cruzados, pôs-se a esfregar lentamente as mãos e respondeu num tom de voz que traduzia toda a determinação do mundo:

- Pois bem, Ninja. Coloque então esta caixa em cima da mesa... e vamos resolver agora qual de nós duas é a melhor!

Bateu com o punho direito na palma esquerda, acompanhando as últimas palavras. A Ninja colocou a caixa sobre a mesa e ambas puseram-se a caminho, transpondo os poucos metros que as separavam.

 

(Atenção: o próximo capítulo, 16, é o último desta novela; depois ainda haverá um epílogo.

Então, a dramática guerra travada na futura capital subterrânea do Brasil, Nova Brasília, terá o seu inesperado desfecho reduzido, em termos de decisão, a duas pessoas. Nenhuma delas poderá ser ajudada por seus aliados. Os Bandidos Negros não podem ajudar a Ninja, pois encontram-se encurralados no andar térreo da Torre Energética; não podem subir porque, antes de morrerem, os três guardas que vigiavam os cristais energéticos conseguiram desativar o elevador e bloquear magneticamente o acesso à escada. Quanto aos policiais, não poderão socorrer Neblina por estarem retidos do lado de fora; mesmo que tenham meios de reativar o elevador e a escada, o térreo está interditado pelos Bandidos Negros, bem armados e entrincheirados.

O destino de Nova Brasília e provavelmente de todo o Brasil depende agora do que vai acontecer com a caixa de cristais de energia.

E isto será resolvido no confronto entre duas mulheres igualmente poderosas, porém colocadas em posições antagônicas e inconciliáveis.

E não poderá haver empate.

Não perca, em breve nesta escrivaninha, o último capítulo desta novela policial e de ficção científica:

NEBLINA CONTRA A NINJA: O DUELO FINAL NO ALTO DA TORRE

 

(imagem pinterest: a Batgirl)

 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 11/09/2023
Código do texto: T7882866
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