A CIDADE DO TERROR capítulo 1: A ceia das iluminadas

 

CAPÍTULO 1

 

 

A CEIA DAS ILUMINADAS

 

Na introdução a esta novela, vimos como quatro garotas, Cindy, Celeste, Eliana e Rosa, entraram clandestinamente num museu em plena meia-noite para examinar um monolito misterioso e como algo misterioso aconteceu com elas. Agora revemos as quatro, tempos depois, neste Rio de Janeiro confuso e violento que existirá daqui a mil anos. Um Rio de Janeiro cheio de torres enormes porém dominado pela violência extrema, contrastando com a Tóquio de Cristal, no Japão, onde reina Sailor Moon...

As quatro garotas se reuniram para conversar e assistir a apresentação da cantora cigana Gipsy Green.

"A cidade do terror" é uma fanfic cruzada nos universos ficcionais de Sailor Moon (Naoko Takeuchi, Japão) e Necronomicon (H.P. Lovecraft, Estados Unidos).

 

 

 

Havia-se passado um ano desde os acontecimentos atrás narrados.

Certa noite, em que o Rio de Janeiro era castigado por uma nevasca, quatro garotas reuniam-se numa mesa, numa bela leiteria da Torre de Berilo, onde se realizava um festival da canção. Eram lindas e brejeiras, e tão risonhas quanto são as garotas na flor da idade e cheias de alegria de viver. Elas eram a imagem de um mundo normal e sem problemas. Contudo, Eliana Macambira estava pensativa:

— Desde aquele dia nós nunca nos reunimos, as quatro... não é extraordinário?

— Andávamos com medo de nos ver — disse Cindy, fechando de subito o sorriso. Seus cabelos eram cor de ouro, assim como seus olhos. Seu rosto era magro e tão limpo como em desenhos japoneses.

— É — disse Rosa Gonzaga, morena e de rosto travesso como de uma criança. — Parece que é tabu entre nós... mas porque? Vamos falar daquilo, meninas!

Celeste Delfim pegou o cardápio.

— Por favor, meninas. Vamos primeiro pedir uma pitza, alguma coisa para beber... eu estou com fome!

Cindy chistou: — Você não mudou nada.

Cindy sorria, divertida. Fizeram os pedidos e, conscientes de que a zoeira do local as protegeria de ouvidos indiscretos, começaram a conversa. Eliana entrou no assunto:

— Vocês se lembram... nós fomos envolvidas por uma luz intensa, devoradora... alva, depois com bordas cor-de-rosa, depois foi ficando violeta, amarela... cambiante, lembram? De súbito parecíamos flutuar... enxergávamos dentro de nós mesmas... nossa compreensão do universo aumentou...

Rosa acrescentou: — Eu tinha medo, mas aos poucos... ganhei coragem. Era como se um poder benéfico nos inundasse com a sua sabedoria... eu compreendi num relance a frivolidade deste mundo, meu Deus, eu... eu me encontrei.

— Todas nós mudamos e encontramos nossos caminhos — lembrou Celeste. — Eu me tornei poeta e romancista, e iniciei uma carreira-relâmpago. Surpreendi a todos na família, quando publiquei dois livros. Você, Eliana, tornou-se pintora da noite para o dia e já expôs, já deu entrevistas. Rosa descobriu a pesquisa arqueológica, a linguística, vai ser uma grande pesquisadora... e você, Cindy, você se ligou nos jogos da Cosmonet... ganhou um campeonato...

— Esses súbitos interesses — disse Cindy — não são tudo. De vez em quando eu descubro coisas novas em mim... o que houve é que a nossa lucidez foi incrementada. Como se tivéssemos ganho um novo sentido...

— De um ano para cá — especulou Eliana — muita coisa aconteceu no Rio de Janeiro. A onda de crimes, por exemplo. Quando ouço falar que um ser misterioso conhecido como “O Espectro” está por trás disso tudo... desses atentados infames... fico imaginando... se a nossa experiência secreta apenas despertou coisas boas.

Cindy franziu a testa.

— O que você quer dizer, debiloide? Que uma de nós pode ser o Espectro?

— Que Deus nos livre disso, Cindy. Eu sei que eu não sou e amo todas vocês.

— E porque não a Centelha Negra, Eliana? Você não acha mais lógico? — interveio Rosa.

— Uma de nós, a Centelha? Acha isso possível, Rosa?

— Se for uma de nós, aposto que é a Eliana — opinou Celeste. — Afinal, ela é que luta judô e caratê... habilidades que ela aprendeu depois daquela noite!

Eliana sacudiu a cabeça.

— Mas não sou eu, não.

Cindy falou: – Eliana, seja quem for a Centelha Negra, ela negará se a perguntarem.

— Isso é verdade. Pode ser qualquer uma de nós, ou pode ser outra pessoa. Por que pensar que ela é uma iluminada?

Na véspera mesmo os jornais e noticiosos haviam abordado a última façanha da Centelha Negra. A vigilante do Rio aparecia em toda parte, desde as cúpulas de purificação atmosférica às grandes torres comerciais, e inclusive na Cidade Baixa, onde proliferavam as gangues. Dessa vez ela atacara no viaduto das Valquírias, onde membros dos Anjos Negros haviam bloqueado a via expressa e acossado dois carros com seus ocupantes, um casal de namorados e um executivo. Antes que a agressão se consumasse ela surgira aparentemente do nada, atirara seus projéteis inflamados sobre os transviados e os pusera em fuga. O líder do grupo não quisera se intimidar e, não tendo sido atingido na pele — usava um blusão de couro, e sobre ele a suástica — partira para cima dela. A Centelha Negra mostrara que era mais carateca que ele, e agora o rufião convalescia num hospital, já com a fiança paga pelo papai rico. Enquanto isso a polícia tinha ordem para prender a Centelha Negra, fosse ela quem fosse, e não se cogitava facultar-lhe uma fiança.

Cindy revoltava-se: — Eu lhes digo, isso não é justo! Uma Robin Hood moderna... sem direito à fiança! Ao passo que esses marginais... é revoltante!

Celeste, pegando mais uma fatia da pitza, observou:

— O que você quer? Veja por exemplo o Coutinho. É evidente que, para ele, o crime compensa. As famosas malas bancárias dos assessores dele...

— É — disse Rosa. — E sua tropa de macacos negros...

— Não me fale nos macacos negros! — protestou Eliana. — Amigos meus foram espancados por eles!

— Para o prefeito são apenas defensores da ordem e da justiça, caluniados pela mídia. Coitadinhos — ironizou Celeste.

— Gente — disse a Cindy — daqui a pouco a Gipsy Green vai cantar! Vamos apressar a coisa!

— Pois vamos! — Celeste animou-se. — Vamos pedir logo outra pitza e depois os pudins de cereja!

Um homem com cara de Mandrake sem fraque apareceu e se dirigiu a elas:

— Vocês não se misturam mais com a gente?

— Estamos em conferência — respondeu Cindy. — Há tempo para a gente se misturar.

— Somos as quatro mosqueteiras — disse Rosa. — E há muito tempo não nos reuníamos.

— Vão ver a Gipsy Green?

— Se Deus quiser — respondeu a Eliana.

— Viu o Carlos, Eleutério? — perguntou Celeste. — Andava querendo falar com ele...

— Eu o vi, mas perdeu-se na multidão. Bem, depois nós falamos! Estou vendo que isso é reunião de mulher!

— Que figura — observou Eliana, depois que ele se afastou.

A pitza chegou e foi devorada; celulares tocaram e foram atendidos; os pudins de cereja também vieram. Por fim dividiram a conta e se dirigiram para o teatro, onde Gipsy se apresentaria.

O local estava repleto e elas se sentaram no chão, perto do palco.

Gipsy Green era muito simpática, alegre e atraente. Morena de cabelos pretíssimos, apresentava-se bastante ciganada. Naquela noite usava uma blusa decotada, vermelha, saia comprida cheia de enfeites, e rodada, os pés descalços, enfeites diversos, tais como brincos, pulseiras e colares.

Celeste pensava: e o Carlos, estará aqui?

Gipsy cumprimentou o público, sob estrepitoso aplauso, e iniciou sua apresentação:

 

 

“Eu sou uma garota delgada, biruta e maneira

que ama o amor e os amigos...”

 

 

Cindy comentou: — Queria ter o autógrafo dela! Puxa, como está bonita hoje!

— Talvez seja fácil conseguir, ela é muito amável! — observou Rosa.

Apareceram Adriano e Aparecida, dois namorados. Eram muito beijoqueiros e fizeram questão de beijar as quatro:

— E cadê os garotos? — perguntou Aparecida. — Ou vocês estão pagando promessa?

— Temos nossas razões para uma reunião só a quatro hoje — informou Eliana.

Gipsy cantou dois, três, quatro números, desceu à plateia, brincou com o público. Rosa, a mais sapeca do quarteto, chegou a levantar da cadeira e dançar uns compassos de dança cigana, diante de Gipsy, que estalou os dedos e também se movia rápida.

— Olé! — riu Gipsy, beijando Rosa, e voltou para o palco.

As luzes estremeceram, piscaram, reacenderam... e apagaram definitivamente.

 

O que terá acontecido? E quem será a misteriosa Centelha Negra, a combatente contra o crime, mencionada na conversa das quatro garotas?

Calma, a história só está esquentando.

Não perca em breve nesta escrivaninha:

 

CAPÍTULO 2

O RAPTO DA CANTORA

 

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Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 24/09/2023
Reeditado em 25/09/2023
Código do texto: T7893211
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