Quando Ele nos encontra - Capítulo 2: Confidente

A manhã de quarta-feira começou chovendo, infelizmente, Natália amava os dias de sol, mas nesse dia teve que deixar de fazer as fotos que queria em um ambiente fora de casa.

Há algum tempo, ela começou achar que sempre existe uma maneira de alegrar o dia. No caso dela, usar uma roupa que realmente gostasse, e ela ama a cor roxa e outros tons assim. Já que o dia estava nublado, escolher um tom de lilás parecia que cairia bem naquele dia tão cinzento.

- A Júlia já saiu? - Perguntou para a sua mãe.

- Sim, hoje ela acordou bem animada e já foi bem cedo para a aula - Respondeu sua mãe Denise.

- Realmente, parece uma nova pessoa depois da conversa de ontem! - Respondeu rindo - Ela te disse que vai ir na igreja com os amigos dela?

- Ah, é verdade, ela disse, mas não me perguntou mais nada. Desde que ela passe a se comportar melhor, acho que é uma boa ideia. - Respondeu sua mãe, rindo.

Natália continuou rindo da irmã, mas sabendo que não devia reclamar dela para sua mãe, afinal, quem iria ficar sempre ao lado dela além da Júlia?

Depois do café da manhã e de ajeitar a cozinha, ela foi fazer seus posts e viu que tinha alguns produtos que precisavam ser atualizados. Realmente, muito trabalho a esperava nas próximas horas.

- Ufa, cheguei! - Disse Júlia. - Hoje teve aula de biologia, cheia de nomes estranhos, não aguento mais ler!

- Ah, é, e você quer me ajudar aqui com os cadernos? Tenho que atualizar o modelo deles para novas fotos. Eu já mudei as técnicas usadas, agora estão ainda mais perfeitos! - Natália disse orgulhosa do trabalho que tinha melhorado.

- Se eu disse que não aguento mais ler, muito menos ficar olhando para essas coisas miúdas! - Júlia respondeu asperamente, mas riu depois.

- Parece que o tempo nem passou depois que você saiu e já é hora do almoço. Realmente o tempo passa mais rápido depois que ficamos adultos. - Disse Natália.

- É, você deve estar ficando velha mesmo. - Respondeu Júlia desdenhando tentando irritar a irmã.

Depois do almoço, voltando ao trabalho, tem mais cadernos para atualizar, pedidos para fazer e entre um post e outro do Instagram, um verso de Eclesiastes postado por alguém, que dizia: "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu".

- Ah, verdade, já é de tarde e eu ainda não dei a Bíblia para a Júlia. - Disse ela.

Ela foi até a cozinha, onde sua irmã estava, levando a Bíblia com ela.

- Júlia, ontem eu achei essa Bíblia lá na gaveta que a vó me deu. Se você quiser, pode usar ela, já que só estava guardada!

- Hum, eu vou recusar! - Disse ela depois de engolir o café que estava tomando. - Eu acabei de chegar, fui comprar uma hoje. Tem vários aplicativos para ter a Bíblia no celular, mas para ler, acho melhor os livros físicos, aí já comprei uma.

- Poxa, você é mesmo apressada, hein! - Disse Natália virando os olhos. - Nem esperou um dia... Mas está bom então, vou levar ela de volta.

Caminhou de volta até seu quarto e se sentou para continuar seus posts, mas aí se perguntou: onde estava escrito aquilo mesmo?

- Ah, é, aqui no post, é Eclesiastes 3:1.

Natália pegou a Bíblia e foi procurar, com muito esforço, porque nunca tinha lido antes. Até que pensou em ver o sumário para descobrir onde estava Eclesiastes.

- Salmos, Provérbios, ah... Eclesiastes. Agora tenho que achar o capítulo.

Quando enfim achou o capítulo 3 de Eclesiastes, resolveu ler uma parte, que dizia:

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz."

Continuando a leitura:

"Que vantagem tem o trabalhador naquilo em que trabalha?"

- Uau, até disso se fala nesse livro? - Natália se perguntou.

"Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os afligir. Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração deles, sem que o homem possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim."

- Que coisa difícil de entender! - Exclamou Natália. - Vou ter que ler de novo.

- "também pôs o mundo no coração deles, sem que o homem possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim.", o que será que quer dizer pôs o mundo no coração deles? Vou pesquisar.

Pesquisando, encontrou uma resposta, que dizia que nessa passagem, mundo é a tradução do hebraico 'olam, significando eternidade. Ou seja, o ser humano, no seu íntimo, busca pelas coisas eternas, então as coisas terranas jamais satisfarão plenamente as pessoas.

- Ah, acho que entendi. Mas tem muita coisa aqui ainda para ler, o capítulo quatro fala sobre o quê? Os males e tribulações da vida... parece interessante, vou ver as hor... ah, já é tão tarde, ainda não terminei meu trabalho!!! - Disse Natália já jogando tudo para o lado para terminar os posts e voltar para o trabalho.

- Vou ter que separar um horário só para continuar lendo esse capítulo três. Mas isso vou deixar para outro dia. - Disse Natália pensando no seu trabalho.

- Vem jantar, Nat! - Gritou sua mãe.

Natália se lavantou e foi até a cozinha e disse:

- Acho que vou pegar aqui e vou ir comer enquanto termino, ainda tenho mais algumas coisas para fazer.

- Natália, você tem que parar um pouco de trabalhar, eu sei que está começando agora, mas já tem ido bem, você precisa se planejar melhor para poder cuidar de você também. - Disse sua mãe.

- Eu sei, mãe. - Suspirou Natália. - Vai ser só até terminar de atualizar os modelos, depois vou planejar melhor para não ficar mais nessa situação.

- Então está bem, mas hoje você vai comer aqui conosco! - Disse seu pai.

- Tudo bem então. Disse Natália, não querendo deixar ninguém triste naquele dia.

Depois de jantar e arrumar as coisas, ela foi continuar seu trabalho até que estava já piscando em cima dos cadernos.

- Sou obrigada a ir dormir. - Sussurou.

Na quinta-feira, já às nove horas da manhã, ela ainda não tinha acordado. Sua mãe então foi chamá-la.

- Natália, você não vai levantar hoje? - Perguntou.

- Hã? Porque você entrou aqui tão cedo, mãe? - Perguntou sonolenta, enquanto olhava as horas.

Se levantou rapidamente, já pegando as roupas que tinha que usar naquele dia.

- Não acredito que não acordei hoje com o despertador! - Disse Natália, andando de um lado para o outro. - Hoje era o dia que eu tinha que encontrar a dona da loja onde ia vender meus cadernos. A reunião é nove e meia.

- Uh, então vamos rápido, minha filha, já são nove horas! - Disse sua mãe indo procurar algo que ela poderia precisar.

- Sim, acho que vou ir com esse vestido pretinho mesmo, não é tão a cara da marca, mas eu não preciso passar ele, pelo menos. - Disse enquanto escolhia a maquiagem e sapato.

Vinte minutos depois, estava pronta e com os modelos separados que iria mostrar para a dona da loja que tinha sido aberta no bairro. Era uma loja de acessórios muito bonita, cheia de coisas fofas.

- Olá, bom dia, tudo bem? - Disse Natália, chegando apenas 2 minutos antes das nove e meia. - Meu nome é Natália, eu vim trazer os cadernos para você ver.

- Bom dia, tudo bom e você? - Disse a dona da loja. - Meu nome é Maria, prazer em te conhecer! Que bom que você já trouxe eles aqui hoje.

Elas se sentaram na salinha que tinha para reuniões. Então Natália pegou os cadernos que tinha feito, um a um, fez uma fileira para mostrá-los para a Maria. Maria também tinha uma funcionária que era sua amiga, Fernanda. As duas realmente ficaram impressionadas com a Natália, porque ela estava muito arrumada com um estilo um pouco diferente do comum.

- Ah, que fofos esses cadernos, você que faz? - Perguntou Fernanda.

- Sim, sou eu que faço, qual você mais gostou? - Natália perguntou.

- Hum, gostei desse de corações com pontinhos, parecem morangos, né? - Respondeu Fernanda.

- Muito bonitos mesmo, mas quanto que você quer vender esses cadernos aqui? - Perguntou Maria rapidamente.

- Eu vendo os mais simples no meu site por R$50,00, e os mais elaborados por... - Natália estava falando quando foi interrompida.

- Tudo isso? Você vende muitos cadernos desse? - Perguntou Maria.

- Sim, eu vendo vários cadernos, você quer ver o meu perfil do Instagram? Tem vários depoimentos lá. - Natália respondeu.

- Sim, eu estou vendo, mas é muito caro para vender aqui na loja, você não acha? Por quanto você quer vendê-los para nós? - Disse Maria.

- Eu pensei em vendê-los por R$40,00 reais, os mais simples, porque eu levo muito tempo para fazer até mesmo estes. - Natália respondeu.

- Ah, eu sinto muito, mas para vendermos eles aqui, teria que ser mais barato, assim eles ficam quase as coisas mais caras da loja e não tem muito lucro para nós. - Disse Maria.

- Sim, infelizmente eu não tenho como vender eles mais baratos também. - Respondeu Natália pensando em uma solução ou como poderia ficar mais barato.

- Então, vamos ficar assim por hoje, se tivermos como vendê-los futuramente, nós entramos em contato. - Disse Maria já se levantando.

- Tudo bem então. - Natália começou guardar os cadernos. - Nos vemos em breve, eu espero. - Disse sorrindo.

Maria e Fernanda a acompanharam até na porta da loja e se despediram. Natália estava voltando para casa um pouco triste, mas também feliz, porque elas também tinham gostado do seu trabalho. Foi quando se lembrou que tinha preparado uma lista dos materiais usados, que tornavam os cadernos de alta qualidade e não apenas bonitinhos, o que compensaria o preço.

Resolveu voltar na loja.

- Você também achou essa Natália sei lá, um pouco... falsa? - Perguntou Fernanda.

- Sim, achei tudo bem falso, o jeitinho, o visual todo arrumado, e ainda acha que vou colocar os produtos dela aqui. Tão caros, quem ela pensa que é? Uma celebridade? - Maria disse desdenhando.

Natália acabou ouvindo essa conversa e não entrou. Deu a volta e acabou batendo de frente com um rapaz que estava passando, mas ela não levantou os olhos nem pediu desculpas, porque estava quase chorando. Só continuou andando até em casa.

- Ah, Júlia, bem que você podia estar em casa hoje. - Disse Natália depois de entrar no quarto e fechar a porta. - Só você para me fazer ficar feliz. Eu tentei tanto mudar, ser simpática, estar sempre arrumada, e mesmo assim ouço que não sou boa o suficiente, e sim que sou falsa.

- Deve ser verdade mesmo. - Continuou falando baixinho enquanto olhava para baixo, quando viu sua Bíblia.

- Ah, é... os males e tribulações da vida. - Disse Natália enquanto folheava a Bíblia, até parar em Provérbios 17:22. - "O coração alegre serve de bom remédio, mas o espírito abatido virá a secar os ossos.". Faz sentido.

Nesse dia, foi a primeira vez que a Bíblia serviu de consolo para ela, que tinha sua irmã como confidente até então.