A CIDADE DO TERROR capítulo 7: A batalha do Rio de Janeiro

 

CAPÍTULO 7

A BATALHA DO RIO DE JANEIRO

 

(Vimos no episódio anterior que Cindy revelou às suas três amigas ser ela a Centelha Negra e ao mesmo tempo passou poderes para elas, formando assim o quarteto das Centelhas. Elas não podem descansar, pois o crime e a violência não dão tréguas no Rio de Janeiro, a "Cidade do Terror" no século 30...)

 

 

 

O plano inicial da Centelha Negra era armar uma cilada para os sequestradores de Gipsy Green. Mas esta estava em São Paulo e provavelmente em risco bem menor. Seria bom contactá-la, saber se persistiam as ameaças; para tanto Cindy resolveu se comunicar com Virgil Limusine, que lhe parecia a pessoa ideal para tal caso.

Cindy procurava expor às outras toda a abrangência da situação:

— Vejam bem: eu tenho que dedicar algum tempo aos estudos e aos campeonatos da Cosmonet. Tenho o Gilson. Vocês têm seus namorados e suas atividades. Mas temos que fazer alguma coisa. Temos que nos encontrar todo dia, nem que desmarquemos às vezes outros compromissos, até mesmo com os garotos, porque temos que atacar essas gangues que estão aterrorizando o Rio. Temos que conter o crime, dar um alívio à população, impedir esses assassinatos. E quando a coisa estiver mais tranquila aqui em baixo, iremos lá para cima... para ver o que está de fato ocorrendo, antes que a maldade se espalhe.

 

 

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— Nós não podíamos ficar mais tempo juntos? Ainda é cedo.

— Eu sou muito jovem, Gilson.

— O que você quer dizer com isso?

— Que talvez... eu não devesse namorar ainda. Procure entender, eu gosto de namorar. Mas às vezes eu acho que tenho muitas coisas para fazer na vida antes de me unir com alguém.

— Você nunca falou essas grilações antes... há qualquer coisa errada com você.

Cindy riu.

— Há sim, querido. Tenho dormido pouco. Me deixe ir.

Ela o beijou com carinho... e se foi, tomando o metrô aéreo, furtando-se a mais explicações.

 

 

 

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Virgil Limusine, entregue à sua misantropia, bebericava um conhaque diante do computador e de livros espalhados numa escrivaninha desarrumada, quando escutou um ruído estranho. Voltou-se e avistou a figura de máscara.

— Sabia que você um dia viria me procurar — falou displicentemente.

— Quero que você dê um recado a Gipsy Green. Estou muito ocupada para procurá-la em São Paulo.

— Pode dizer.

— Diga a ela para marcar um encontro com os sequestradores, se tornarem a contactá-la. Eu os pegarei quando tentarem receber o dinheiro.

— Por que tem que ser a Gipsy Green? Ela já está muito marcada. Há muitos artistas que vêm sendo achacados e podem colaborar.

— Quem, por exemplo, Virgil?

— O Caetano Falla, por exemplo, o Maestro Leporino Araújo... a Lucinha Magdalena... o Parmezoni...

— Isso é estarrecedor. Diga... você gosta da Gipsy?

— Adoro ela. Se não fosse um misantropo celibatário, juro que casaria com ela.

Cindy sorriu.

— Bobo. Você é um bobo. Espero que mude de idéia: você e ela são pessoas decentes.

 

 

 

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Na noite seguinte nuvens tempestuosas corriam sobre a cidade e, num dos mergulhões da parte baixa, algo dramático começou a acontecer. Um casal jovem, ao tentar retirar seu carro num estacionamento, foi cercado por um grupo de Anjos Negros, ostentando uniformes decorados com a suástica.

— Não, por favor — disse o rapaz. — Fiquem com o dinheiro, mas deixem a gente em paz!

— Cala a boca, ô cara — disse um barbudo corpulento. — Queremos teu dinheiro, mas queremos também a tua gata.

A garota abraçou-se ao rapaz.

— Não, isso não! Vão embora!

O homem tentou abrir a porta. Um sujeito altão — ao todo eram quatro atacantes — agarrou seu braço direito e puxou-o com força; outro golpeou seu estômago com uma chave de fenda.

A jovem gritou, e o quarto gangster esbofeteou-a ruidosamente.

Nisso a primeira faísca brilhou no ar e atingiu em cheio a mão do esbofeteador. Ele gritou de dor e todos olharam...

Eram quatro figuras. A da frente, majestosa em sua estranha roupa, adiantou-se e falou:

— A noite estrelada é bela para o amor... não a enfeiem com o crime e a violência. Deixem que os amantes se amem... e que o mundo siga em paz o seu destino.

— Ao ataque! — comandou o barbudo.

As quatro centelhas se moveram... e cada uma escolheu o seu adversário. Rosa, habitualmente tão medrosa, agora se transmudara: suas centelhas eram amarelas, e fizeram recuar o mais alto... até jogá-lo contra a cerca. Celeste atacou o atarracado que batera na moça: com descargas azuis, derrubou-o entre gritos de dor e medo. Eliana, com centelhas verdes, cuidou do atacante da chave de fenda. Este foi quase eletrocutado, pois a descarga pegou na ferramenta. Cindy, dispensando o seu poder elétrico, encarou o barbudo no caratê, jogando o pé, numa guinada de corpo, contra o seu queixo. Os quatro bandidos amarelaram e fugiram em pânico, quase sendo atropelados por outro carro que passava.

— É uma pena que não tenhamos o poder de polícia... — observou Cindy — e esses caras fiquem livres!

— É estranho... — ia dizendo Rosa, mas Cindy interrompeu-a. Era melhor conversarem com as vítimas.

O jovem casal não era de namorados, mas de esposos. Eles agradeceram muito às quatro paladinas.

— Pensávamos que era somente uma Centelha Negra — disse o rapaz.

— Estamos nos multiplicando — respondeu Cindy, sorrindo. — Agora, é melhor vocês voltarem para casa. O seu carro voa?

— Infelizmente não — disse a garota. — Jorge, bem que eu digo que é melhor colocar um motor volante...

— Bem, mas que diferença fará, Sue?

— Meu amigo — observou Cindy — não se deve subestimar essas quadrilhas. Na atual situação do Rio de Janeiro, quanto mais mobilidade e recursos de defesa vocês tiverem, melhor. Vocês se importam... se nós ficarmos com os seus dados pessoais? Queremos ter alguma notícia das pessoas que nós socorremos, e por motivos óbvios não podemos dar nossas direções.

— É muita bondade da parte de vocês — disse a Sue. — Por que o prefeito e sua equipe não são assim? Por que não podemos contar com a polícia para nos proteger?

— Alguns policiais são bons — respondeu Eliana. — Mas estão de mãos atadas.

Depois que o casal se foi as vigilantes subiram rapidamente pelas rampas e colunas da cidade inferior, e subitamente foram focalizadas pelas luzes de um holofote. Uma voz grossa se fez ouvir por um microfone:

— Rendam-se, vocês! Ou nós atiraremos!

Uma chuva de meias-luas foi a resposta. Pareciam fogos de artifício, iluminando o cenário gótico do Rio de Janeiro com luzes multicoloridas. Os macacos negros desistiram e bateram em retirada. Elas subiram por um prédio em construção, com pequenos vôos, e Cindy lembrou-se de uma coisa:

— Rosa, o que é que você dizia que é estranho?

— Que as nossas meias-luas possuem cores diferentes. O que significa isso?

— Eu sou a Centelha Negra, ainda que as minhas centelhas sejam douradas. Acho que é porque vocês têm que ter nomes diferentes. Vocês serão a Amarela, a Azul e a Verde.

— Que legal! — disse Celeste. — Isso sim, é que é dar um novo sentido à vida!

 

 

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Joe Bigodudo acendeu um cigarro de maconha, coçou a sua velha e remendada blusa e dirigiu-se ao sujeitinho sentado no barril:

— É isso aí, Verter. Essa muamba vai servir para a gente dar uma baita melhorada nessa porcaria de vida...

— Eu só não quero é sebo com a polícia. Tu tem certeza que os macacos não vão incomodar a gente?

— Tu tá doidão. Só se a gente não incrementar o pedaço deles...

— Quanto é? É vinte por cento?

— É mais ou menos por aí.

— Que beleza de conversa... — interrompeu uma voz feminina, irônica.

Os dois malandros olharam, assustados, para cima. Onde antes só havia um bichano velho, quatro figuras de máscara e capa postavam-se, sobre o muro. A líder do grupo falou:

— Quando eu era criança mamãe me dizia para não andar à noite. Porque, dizia ela, à noite andam os bichos e os malfadados.

“Há uma grande verdade nessas palavras.

“É uma pena que vocês desperdicem assim, a vida que tão generosamente Deus lhes deu.”

Joe e Verter tentaram sacar suas pistolas. As centelhas, porém, não deixaram e os atacaram sem vacilação, com seus projéteis elétricos. Desesperados, eles pediram misericórdia. Adiantando-se, com Eliana, Cindy deixou Rosa e Celeste vigiando nos dois lados.

— Pois bem, meus caros: quero saber alguma coisa mais sobre o que vocês falavam.

— O que vocês querem saber? — indagou Joe.

— O que são esses Macacos Negros, afinal. Que ligação vocês têm com eles e com o Espectro.

— Louca, não temos nada com ele! — exclamou Verter, assustado.

— Então contem o que sabem sobre ele!

— Moça — disse Verter, já tremendo — esse assunto é dinamite!

— Vocês vão falar! Nós também somos perigosas. Pois agora são quatro centelhas — a Negra, a Verde, a Azul e a Amarela — como vê pelos nossos alamares. E se vocês não falarem... não vai ser bom para vocês.

— Mas o que vocês são? — arriscou Joe. — Vocês são a favor de que? Vocês também são foras-da-lei!

Cindy agarrou-o pelo colarinho.

— Cara, não vou discutir esses detalhes com você. O Rio de Janeiro está um nojo por causa de gente da sua laia. Já sabemos que vocês têm tratos com os Macacos Negros do Prefeito. Vocês dois podem escolher entre falar o que sabem ou ir para o nosocômio mais próximo.

— O... o que você disse?

— Eu não devia falar difícil com você. Quero dizer, o hospital mais próximo. E então, vão falar?

Eles falaram.

 

 

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E nos dias seguintes muitas notícias:

 

 

“AS CENTELHAS NEGRAS ATACAM NO RIO”

“AS MISTERIOSAS CENTELHAS TRAZEM O PÂNICO ÀS QUADRILHAS”

“MULHERES SALVAS DE ESTUPRO PELAS CENTELHAS”

“PREFEITO ACUSA AS MASCARADAS DE SEMEAREM O CAOS”

“A MILÍCIA MUNICIPAL INICIA CAÇADA-MONSTRO”

 

 

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Na Praça Afonso Pena, vazia àquela hora da madrugada, uma mulher jovem empurrava um carrinho de bebê, pela grama. Um homem de paletó se aproximou e disse:

— O tempo vai estar lindo.

— Os trevos de quatro folhas vão florescer — respondeu ela.

— Trouxe o envelope?

— Está aqui.

Ele o agarrou bruscamente e falou, rápido:

— Agora vá embora e não olhe para trás!

Afastaram-se mutuamente. Quando, ao sair da praça, o receptador aproximou-se de um Ford Galaxial azul-claro, o ataque começou. Duas das centelhas (Rosa e Eliana) surgiram das moitas e lançaram seus projéteis. De dentro do veículo partiu uma rajada de X-23, mas o fluxo de faíscas a deteve desastrosamente, fazendo com que as balas revertessem. O sangue espirrou do carro, que tinha dois ocupantes. Um planador Big Giant surgiu a uns dez metros do solo, disparando raios laser. Rosa e Eliana não conseguiram segurar de todo o ataque e foram arrojadas ao chão, chamuscadas. A terceira centelha, Celeste, surgiu e atacou o veículo aéreo com toda a força dos seus raios azuis. O planador vacilou e desceu estrepitosamente sobre umas palmeirinhas, explodiu e pegou fogo. Por fim, Cindy adiantou-se e pegou o envelope caído ao chão. O homem de terno ergueu-se colérico e com uma pistola preta na mão. Cindy agarrou-lhe o pulso e torceu-o com força, quebrando-o.

— Cadela — disse ele.

— Canalha — respondeu ela, derrubando-o com um safanão decidido.

— Vamos embora, garotas! — comandou a Centelha Negra.

Cindy era, sob disfarce, a mulher do carrinho de bebê — onde não havia nenhum bebê de verdade. O que ela fizera fora levar o dinheiro extorquido sob ameaça da cantora Lucinha Magdalena, conforme a dica de Virgil. Agora os Anjos Negros amargavam pesadas baixas.

Pessoas normais já se multiplicavam pela via pública. As quatro paladinas voaram até o alto das primeiras torres de acesso à cidade superior, já escutando as sirenes da polícia.

— E agora? — perguntou Rosa, meio assustada.

Cindy explicou: — Vou lhes dizer. Se os Macacos Negros se meterem com a gente, vamos mostrar a eles quem somos! O contrário seria nos rendermos!

— Veja, Cindy! As câmaras se mexem para nos focalizar! — alertou Celeste, apontando.

Cindy, encolerizada, alvejou as câmaras móveis, fixadas em cabos de magiplast flexível — geringonças que inundavam a cidade do Rio de Janeiro, de alto a baixo.

— Você as destruiu! — admirou-se Eliana.

— E há muito mais para fazer! Me acompanhem, amigas: vamos acabar com os olhos espiões de Caetano Coutinho!

Elas se moveram rapidamente pelos antros do Rio de Janeiro, entre andaimes, passarelas, plataformas, colunas e torres, derrubando e calcinando as lentes “Big Brother” que infestavam a cidade. Quando começaram a ser perseguidas pelos dirigíveis, já haviam neutralizado centenas.

Agora, na região da Depressão, uma chusma de dirigíveis formou uma nuvem anestésica direcionada para as revoltosas. Elas já estavam cansadas e com dificuldade para manter cerrada a barreira protetora das meias-luas, e foram compelidas a descer, aproximando-se de uma verdadeira praça de guerra, tomada por policiais comuns e pela Milícia Municipal. Uma mulher alta e magra, de cabelos negros curtos, com uniforme de capitã, liderava os Macacos Negros.

— Quero essas bandidas vivas, para que nos contem tudo... como fazem essas coisas. Ouviu, Tenente Gonçalves?

— Perfeitamente, Capitã Mercia. Elas não perdem por esperar.

A Capitã Mercia ergueu o megafone:

— Atenção, Centelhas Negras! Rendam-se ou será pior para vocês! Rendam-se ou morrerão!

— E agora, Cindy? — falou Eliana. — Nossa energia não será suficiente para derrotar essa tropa!

— Vai ser sim! Demo-nos as mãos! Vamos unir os nossos poderes! É assim que as sailors fazem!

Em pleno ar elas se deram as mãos e um fulgor espantoso, espécie de aurora boreal, emanou delas e lançou por terra toda a tropa que as esperava. Aproveitando o torpor dos seus inimigos, Cindy tomou o megafone de Mercia. As quatro esvoaçaram até uma pracinha próxima e, do alto de um teatro, Cindy discursou:

- Atenção, cariocas! Não aceitem mais este prefeito corrupto e perverso! Seus Macacos Negros aterrorizam a população e têm ligações com os achacadores de artistas, como os que tentaram sequestrar Gipsy Green! Nós somos as Centelhas Negra, Amarela, Verde e Azul, e denunciamos: o Prefeito é o temido Espectro, o líder dos Anjos Negros e, mais discretamente, o bruxo que manipula o livro das trevas, o Necronomicon, que é uma obra de satanismo. Abaixo Caetano Coutinho — vamos livrar o Rio de Janeiro dessa praga!

Depois daquele dia o crime caiu vertiginosamente no Rio. Os marginais estavam atemorizados, jugulados, e a Milícia Municipal, apavorada. Lucinha recebeu o seu dinheiro de volta e não foi mais incomodada; Gipsy Green voltou à cidade e começou a ser vista com Limusine.

Numa reunião com as companheiras, Cindy considerou que a Questão do Presente — aliviar a população do Rio de um inimigo que não lhe dava tréguas — estava resolvida. Agora chegara a hora em que teriam de encarar a Questão do Futuro.

A temida Questão do Futuro.

 

 

imagem pinterest

 

Este capítulo termina com uma grande vitória das Centelhas Negras contra as forças despóticas do Prefeito Caetano Coutinho. No entanto resta resolver a Questão do Futuro, ou seja, se o mundo ficará na Luz ou nas Trevas. A verdadeira batalha ainda não começou...

Mas, a esta altura as vidas particulares das nossas heroínas apresentam problemas.

Em breve nesta escrivaninha:

 

CAPÍTULO 8

HEROÍNAS TAMBÉM TÊM PROBLEMAS

 

"A Cidade do Terror" é uma fanfic cruzada nos universos do Necronomicon (de H.P. Lovecraft, Estados Unidos) e da Sailor Moon (de Naoko Takeuchi, Japão).

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 29/10/2023
Reeditado em 29/10/2023
Código do texto: T7919619
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