A FACE OCULTA DA GALÁXIA capítulo 8: O pessimista

 

Atenção: quem se interessar pela história pode acessar em minha escrivaninha a categoria "novelas", as mais recentes postagens são os capítulos anteriores dessa narrativa.

 

CAPÍTULO 8

 

(No capítulo anterior, já na embaixada terrestre de Sombrio, o planeta dos sapoides, travamos conhecimento com Maturina, a seca, magra e antipática assistente do Professor Gaspar. Vésper amplia sua camaradagem com Licia, a neta "pestinha" do cientista. No presente episódio conheceremos outro dos quatro assistentes de Gaspar, o esquelético e sinistro Caveira. E um desagradável reencontro aguarda Vésper...)

 

 

O PESSIMISTA

 

 

 

Horas depois, no alojamento que havíamos recebido na embaixada, expus as minhas dúvidas ao Beng, numa reunião de nosso grupo original. Ele abanou a cabeça:

— Eu ainda não sei que complicações isso poderá nos trazer, mas já não podemos recuar. Esse professor é maluco.

— Eu já tinha percebido isso, chefe — disse Tenessee. E os assistentes dele são todos malucos!

— É por isso que ele os escolheu.

— Beng, como você explicou a presença da garota ao embaixador? — indaguei.

— Eu disse que ela de nada sabe. A equipe do Gaspar, conforme expliquei, está sendo usada como cortina de fumaça. A equipe da Cosmopol somos nós cinco, e nós é que iremos pegar o General Vichtis. Esse é um ponto muito importante: nós devemos matar esse sujeito!

Lá vem ele de novo, pensei, com essa história de matar o pobre do general...

— Quer dizer que nós vamos nos separar do Gaspar? Isso é bom demais para ser verdade! Eu quero distância dele e daquela pimentinha... — observou Rotterdam, enfático.

Recostada na confortável poltrona de magiplast vulcanizado, fiquei imaginando se naquele momento a Lícia não estaria ouvindo toda a nossa conversa, graças ao seu famoso bisbilhotômetro. Olhei para Valentina. Ela estava falando muito pouco. Provavelmente sentia falta de ação, que não acontecia desde o lance do circo.

Então, para minha surpresa, Valentina fez uma pergunta oportuna:

— Onde está o artefato?

Foi Beng, o bem-informado, quem respondeu:

— Na Baía da Morte Violenta, a trinta metros abaixo da linha d’água. Pelo menos essa é a informação que eu tenho.

— Você ligou o PPE? – lembrei de perguntar.

— Liguei!

— A quanta distância fica isso? – Valentina tentava ser prática.

— A uns cinco mil quilômetros para noroeste, no continente conhecido como Gepxertohort, seja lá o que isso signifique. Vejam, prestem atenção!

Ele ligou o projetor de hologramas e logo o mundo de Sombrio apareceu flutuando no meio de nós, rotacionando, e Beng fez logo projetar-se a ampliação da região desejada. Essa ampliação, naturalmente, cobria outras partes do mundo. Visualizei bem o aspecto geográfico daquela costa, que me pareceu bem acidentada. Nisso tocaram a campainha.

Beng desligou o holograma e abriu a porta por controle remoto. Entrou Gaspar, seguido por outro dos seus assistentes, o Caveira. Atrás deles vinha a Lícia.

Aquilo era meio intempestivo. Beng não queria misturar o nosso grupo com o do professor, até porque a briga entre os dois já durava há uns trinta anos. O Professor Gaspar, com as mãos nos bolsos, entrou e foi dizendo:

— Com que então, estão fazendo uma reunião secreta? Eu quero saber de tudo!

— Esse sujeito ainda vai por tudo a perder... — segredou-me Rotterdam.

Beng procurou contornar a situação.

— Você sabe o que estamos procurando.

O Caveira intrometeu-se na conversa.

— Nós sabemos, é claro, Beng. Nós vamos todos morrer por causa desse artefato, é claro. Sei do que são capazes os caras de Sombrio. Eles vão nos torturar até a morte.

Seguiram-se alguns instantes de silêncio. Então um mosquito-lanterna passou zunindo perto do meu ouvido direito e executou algumas evoluções aéreas diante de nós, que aproveitamos o constrangimento para segui-lo com os olhos, vendo-o acender e apagar com as luzes multicoloridas de sua cauda. Vendo que ninguém falava, o Caveira pôs as mãos nos bolsos do jaleco, macaqueando seu chefe, e prosseguiu com a sua sinistrose:

— Depois que sairmos da embaixada tudo poderá nos acontecer. Esses sapos chifrudos provavelmente já nos identificaram e já se prepararam para nos tocaiar. Em breve estaremos todos mortos.

Circunvagou o aposento com o olhar e por um momento acompanhou o vôo do mosquito-lanterna. Ele era um homem funéreo, com o rosto chupado e ressecado, olhos fundos num crânio ossudo, magro como um cabo de vassoura e com aspecto de fome.

Escutei Valentina cochichar para Tenessee:

— Ele pelo menos vai estar morto em breve se continuar com essa conversa, porque eu o mato.

Beng finalmente resolveu falar, quebrar o encanto daquele urubu. Abriu a boca para falar, mas eu jamais saberei o que ele ia dizer, porque jamais o disse. Antes que suas cordas vocais articulassem a primeira sílaba ouviu-se um ruído cuja onomatopeia poderia ser “PLAFT!”, e qualquer coisa se espatifou no chão, golpeada em cheio pelo célebre bastão de beisebol de Lícia.

— Peguei! — gritou a pestinha, pulando de satisfação.

Era o infeliz mosquito-lanterna. Era estranho, um inseto fazer barulho de troço quebrado. O Professor Gaspar adiantou-se, abaixou-se sobre o joelho direito e pegou o que restava da coisa:

— Isso é um aparelho transmissor! Alguém estava nos espionando!

O CAVEIRA: - É como eu disse. Eles vão nos matar, a todos nós.

Eu corri para a janela, galguei-a e me vi numa platibanda de pedra britada, já segurando minha arma de chama plásmica. Um vulto de capa e cartola já se esgueirava entre os cactos que formavam um bosque no jardim. Corri o mais que pude, contornei o tanque de seláquios e cerquei-o em frente ao bambuzal, por onde seria mais difícil fugir. Ele se voltou para mim, apontando-me a bengala.

— Você! — exclamei.

Ele disparou um jato da bengala sobre mim. Só tive tempo de responder ao fogo: nossas descargas energéticas se chocaram. Eu fui lançada ao chão e quando me ergui, ele sumira entre os bambus, depois de abrir caminho com a arma. Corri até lá. Havia fragmentos queimados de ultralã, certamente de seu fraque. Eu não tinha dúvidas: o homem de bengala, o falso velho da Petúnia, nosso mortífero inimigo, estava de volta.

Valentina veio correndo e, ultrapassando-me, enfiou-se entre os bambuzais. Eu sabia que meus companheiros já haviam acionado a defesa da embaixada, por isso hesitei em me meter naquele aranzel. Também me assaltou a ideia de sofrer um novo assédio sexual. O negócio era sobrevoar o bosque e tentar pegar o sujeito na saída; eu me lembrava de uma casinha onde ficavam guardadas as aeromotocicletas. Corri naquela direção; ao chegar lá, porém, havia um guarda sentado, lendo uma revista, creio que de palavras cruzadas. Ele se levantou sobressaltado:

— O que você quer?

— Tenho que pegar um assassino que entrou no bambuzal! Dá licença!

Fui pegando uma das motocicletas; mas ele me alcançou e me segurou:

— Parada aí, dona! Isso aqui só com autorização!

— Mas é uma emergência!

— Sinto muito, mas nem sei quem é a senhora!

— Permita que me apresente. Eu sou Vésper! — e assim dizendo dei-lhe uma cutelada no queixo, atirando-o longe, subi na motocicleta voadora e levantei vôo. Mas perdera preciosos segundos e na minha profissão isso pode ser o suficiente para determinar o fracasso.

Sobrevoei o bosque. Só o que pude ver, à distancia, foi um iate voador afastando-se a toda velocidade. Dirigi a minha pistola radascópica sobre o bambuzal e determinei a presença de meia dúzia de seres humanos e quatro cães, mas não havia nada semelhante a uma capa ou uma bengala. Concluí que o Dr. Azambuja não se encontrava mais no terreno da embaixada.

Dirigi-me para uma das pistas de pouso. Rotterdam e o Caveira me avistaram e aproximaram-se correndo. Quando me alcançaram eu perguntei ao que chegara primeiro:

— E aí, Caveira? Pegaram alguém?

— O meu nome é Paulo Eduardo, já disse! Não encontramos ninguém, e você?

Contei-lhes o que tinha acontecido.

— Eu sabia que não o pegaríamos — comentou o Caveira. — Esse caso é azarento. Não creio que nos reste muito tempo de vida.

 

imagem pinterest

 

(Após esse movimentado episódio, uma pausa para uma nervosa reunião com o embaixador terrestre, nada satisfeito com a presença dos agentes da Cosmopol; e uma nova revelação: Ataliba Yezzi, cérebro em informática e assistente do Professor Gaspar, consegue identificar o homem da bengala, o perigoso inimigo da Cosmopol que a equipe tem pela frente. Um inimigo poderoso que já matou dezenas de agentes e mercenários da Cosmopol. Alguém, nessa equipe, será capaz de derrotá-lo?

Em breve nesta escrivaninha:

 

A FACE OCULTA DA GALÁXIA capítulo 9:

RELATÓRIOS SÃO INDIGESTOS)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 17/01/2024
Reeditado em 18/01/2024
Código do texto: T7978584
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.