A Saga de Godofredo Parte III – A Caçada

27.02.24

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Gottfried foi acordado pelo seu senhorio do profundo sono em que se encontrava, ouvindo ao longe uma voz:

-Acorde Herr Gottfried, preciso que me ajude a tirar esta armadura infernal para poder descansar um pouco, pois o Kaiser me convocou para uma caçada hoje à tarde junto com o Czar – balançando-o. Ele abriu os olhos empedrados, se espreguiçou e se levantou.

-Desculpe-me Herr Paul, mas tive um sonho com meus antepassados e perdi a hora – respondeu soltando as cintas do espartilho, liberando o abdômen do avô, que respirou aliviado. Depois, tirou-lhe as botas e as calças. Ele se deitou de lado na cama e suspirou dizendo a Godofredo:

-Grato Gottfried, agora preciso dormir até a hora do almoço. Acorde-me às onze horas e trinta minutos, certo?

-Sim Herr!

-Ah, deixe minha carabina pronta para uso, com sua capa e carga de balas, por favor.

-Perfeito! Já vou providenciar – disse, vestindo-se e saindo para o Paiol do Castelo, no qual todas as armas pertencentes aos soldados eram guardadas.

Lembrou-se, então, que sua mãe lhe dissera uma vez que seu avô fora escolhido para ser guarda do Kaiser por ter essa aptidão - ser ótimo atirador, pois o imperador adorava caçadas nos bosques do castelo e ele o acompanhava.

Chegou ao Paiol junto com outros valetes, mas requisitando fuzis, eram ele e outro, já que, quando o Kaiser atirasse e o animal fugisse, um dos dois o abateriam. Godofredo voltou com a arma em uma capa de couro marrom escuro e uma caixa de balas. Mas, ao chegar ao quarto do avô, ficou preocupado em como deixaria o fuzil pronto para uso. Indeciso, perguntou a Cons., agora a sua consciência, como faria.

-Fique tranquilo, pois o seu inconsciente tem todas as informações de manejo desta arma. Comece a desmontá-la e verá.

-Está bem! – respondeu mentalmente.

Ele tirou o fuzil, ou carabina, da capa - um “Mauser Gew 98 - 7mm”, com seu corpo em madeira de lei brilhante, quase dourada, olhando-o detidamente para aquele mortífero instrumento de caça em suas mãos. Levantou o ferrolho e puxou-o para trás até abrir toda a câmara de carregamento vazia. O mecanismo estava bem lubrificado e limpo. Olhou o cano de descarga para ver seu raiado e se as ranhuras eram homogêneas, limpando-o com uma escova especial o interior. Depois, verificou os carregadores, colocando cinco balas em cada um, deixando-os ao lado da arma. A carabina seria carregada ao chegarem à floresta. Estava tudo pronto, e o avô dormia a sono solto.

Acordou-o no horário e ajudou-o a se vestir, agora com roupa de caça, com calças de montaria, ou culotes, botas de cano longo, paletó com couro nos cotovelos e ombros e um chapéu em tecido grosso e quente, igual ao paletó e calças. Colocou as cargas prontas nos bolsos do paletó; estava pronto!

-Agora apronte-se rápido enquanto vou até a entrada do bosque aguardá-los. Leve minha carabina – ordenou a Godofredo.

Este, animado em poder participar do evento, logo estava também com roupas para caça. Alcançou seu senhor, andando dois passos atrás, que caminhava com determinação. Chegaram à entrada do bosque. O outro atirador do Kaiser já aguardava. Seu avô cumprimentou-o, fazendo o mesmo Godofredo. Ficaram perfilados um ao lado do outro, como estátuas. Os valetes, da mesma forma, um passo atrás. Ouviram-se vozes e risadas, como o som de passos sobre o piso em pedrisco. Eram os imperadores. Também, uma matilha de cachorros Waimaraner, de pelos cinza e olhos claros cristalinos - arianos, que latiam freneticamente arrastando os adestradores.

O Kaiser se aproximou dos dois soldados e disse ao Czar:

-Meu caríssimo primo Nicolau, quero lhe apresentar meus dois melhores atiradores, que nos ajudarão a torna a caçada quase perfeita – indicando com o braço estendido meu avô e seu companheiro, que bateram os calcanhares e fizeram continência.

O Czar se aproximou do meu avô e disse-lhe de forma jocosa:

-Espero que não me acerte! – fazendo o Kaiser rir alto e espalhafatosamente. Os dois soldados, permaneceram inertes, sem qualquer mudança em suas feições. Duas estátuas!

Adentraram pelo bosque de coníferas altas, com o vento zunindo entre suas folhas e a luz do sol filtrada pelo denso ar da mata como uma cortina dourada. Os passos eram sonorizados pelas folhas caídas, e que caiam, ao longo da estreita estrada. Godofredo estava ansioso e excitado, como os cachorros, que latiam e uivavam loucamente para serem soltos. Em dado momento, o Kaiser mandou que os soltassem. Saíram desembestados pela mata. A caçada seria de javalis, mas poderia aparecer servos, comuns naquele local.

Caminharam por cerca de uma hora mata adentro, quando se ouviu o latido intermitente dos cachorros, apontando alguma coisa. Meu avô me pediu sua arma, como o seu companheiro e ficaram à espreita, empunhando-as carregadas para o tiro. O Kaiser e o Czar reduziram sua marcha, atentos aos latidos dos cachorros, pois encurralando os javalis, estes poderiam sair raivosamente contra seus caçadores, de forma fatal. E foi o que aconteceu.

Um enorme porco do mato saiu desesperadamente da mata em direção ao Kaiser, que pego de surpresa, não teve reflexo imediato para atirar no animal. Godofredo ficou atônito, vendo que o imperador poderia ser morto pelo enorme javali. Então, ouviu-se um tiro, deitando o animal a poucos passos do Kaiser, e outro, atingindo o centro da cabeça, matando-o. Era meu avô que acabara de salvar a vida do Kaiser e do Czar.

O Kaiser, estupefato pelo risco que correra, e aliviado por ter ao lado um exímio atirador como meu avô, não perdeu a fleuma, dizendo ao seu primo russo com pompa:

- Não lhe disse que tenho os melhores atiradores de todo o império! Deixei de atirar no javali para lhe mostrar como são eficazes os meus caçadores, e assim, termos um pouco de emoção, não é mesmo? – voltando-se para o meu avô, dando-lhe uma piscadela de olho. Este, inerte nada disse ou se manifestou. Godofredo por sua vez, ficou indignado com o que disse o Kaiser, pois fora visível a todos que ele não teve qualquer reação necessária para atirar no animal.

O dia foi findando e voltaram com o enorme animal carregado em uma carroça. Ao entrarem no castelo, a guarda estava perfilada para recebê-los, como a família real, que ouvia o Kaiser se vangloriar da sua caçada.

Nota do Autor: obra ficcional, qualquer semelhança é mera coincidência.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 27/02/2024
Reeditado em 27/02/2024
Código do texto: T8008408
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