As aventuras de Honey Bel, capítulo 8: O bairro projetado

 

CAPÍTULO 8

 

O BAIRRO PROJETADO

 

(No capítulo anterior o trio Tina-Rick-Honey se vê perdido no labiríntico caminho dos dutos de ventilação da Terra II, até que Honey utiliza o seu poder de enxergar as coisas em diagramas e localiza a saída - mas sem revelar sua estranha habilidade. Mas saem no terraço onde já os aguarda a polícia da área portuguesa, que também está atrás da coroa roubada ao museu.)

 

 

— Estão todos presos e não tentem reagir — disse o capitão que comandava a patrulha.

— Perde seu tempo, capitão. Qual é o seu nome? — indagou Tina.

— Silêncio! Não admito atrevimentos, ô raios! Estendam suas mãos!

Mas Tina, após fitar cada um dos oito policiais, limitou-se a dizer:

— Cosmopol.

— É mentira! — gritou o capitão, e dois dos seus auxiliares o acompanharam.

— Eis minha identificação — respondeu friamente Tina, fazendo seu anel brilhar. O logotipo holográfico da Cosmopol ergueu-se em sua cor lilás, e Rick também expôs o seu.

— Ô raios... — murmurou o capitão. — E eu que tinha certeza que vocês estavam com a coroa...

— Ter certeza não é estar certo — disse Rick.

— Capitão, eu repito, qual é o seu nome?

— Oduvaldo, ô raios...

— Bem, Capitão Oduvaldo, eu sou a agente Tina, este é o agente Rick e esta jovem é a agente Honey.

O policial apontou o dedo para a garota:

— O que? Isto aí é uma agente da Cosmopol, ô raios?

— O que você quer dizer com isso, seu abusado? — gritou Honey, mas Tina tapou-lhe a boca.

— Ela é uma estagiária. E agora chega, porque nós temos que caçar o Grande Afanador e a sua parceira. O nosso helicóptero já está chegando, como podem ver.

Um dos ajudantes de Oduvaldo xingou e desabafou:

— Por que esses intrometidos da Cosmopol vivem na nossa cola? Só servem para atrapalhar!

— Dobre a sua língua — disse Tina com grande frieza. — Alguém precisa ter jurisdição internacional.

— Fica frio, Agnaldo — apaziguou Oduvaldo. — Deixa eles irem, ô raios. Mas dêem uma pista, vocês sabem para onde foram os pelintras?

— Estão no Bairro Projetado, na área brasileira. Já os estamos cercando por lá. Eu lamento, mas vocês não podem nos acompanhar. Teriam de pedir uma autorização especial, mas até lá nós já resolvemos.

— Pegaremos a coroa de volta, não se preocupem — acrescentou Rick, amavelmente. — Isso para nós é ponto de honra.

E logo o trio estava dentro do helicóptero, retornando à área brasileira.

 

 

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— Puxa, muito obrigada, Tina! Você foi muito legal, me aceitando na Cosmopol! Vai ser uma grande honra...

— Espere aí! — interveio Rick. — A Tina só estava brincando, ou melhor, enganando os lusitanos. Não é? — e o seu tom era, na realidade, algo inseguro.

Tina pilotava o helicóptero e Honey, como boa intrometida, metera-se no meio, entre Tina e Rick, e ficava encurralando o rapaz contra a porta do aparelho, que felizmente estava bem fechada.

— Para dizer a verdade... — observou Tina, sem parecer estar brincando — depois de tudo o que essa menina já viu de perto, se não a admitirmos na Cosmopol vamos ter que matá-la.

— Fala sério — pediu Rick.

— Na verdade essa garota tem predicados interessantes. Com um pouco de treino, dará uma boa agente.

— Eu sei disso! — exclamou Honey, eufórica. — Eu agora sou da Cosmopol, sou uma “cosmopolita”! Rick, meu querido Príncipe Encantado, já pensou como nós dois vamos ser felizes?

— Do que você está falando? — perguntou Rick, branco como cera.

— Responda rápido: você é marido, noivo, namorado ou qualquer outra coisa de alguém?

— Não, na verdade o serviço da Cosmopol me toma todo o tempo, por isso...

— Não diga mais nada! Nós vamos trabalhar juntos, então para mim você vai ter tempo!

— Mas...

— Vamos começar o planejamento do nosso lar! — e ela deu-lhe uma sacudidela de entusiasmo. — Por exemplo, vamos comprar uma mansão bem ampla, com jardins, pontes e lagos, e aí criaremos um pequeno zoológico! Adoro bichinhos de estimação e nunca pude tê-los! Mas agora haveremos de ter um monte deles! Pavões, patos, gansos, cisnes, uns ratos-cangurus... ah, e cavalos e cachorros também! E vamos tratar muito bem deles!

— Honey, por favor... — e Rick tentava se livrar do abraço da garota, que o enlaçara vigorosa e entusiasticamente. Mas Honey Bel parecia viver uma alucinação amorosa e não o largava de jeito nenhum:

— Ah, meu Príncipe! Meu Príncipe Encantado! Você gosta de bichos, não gosta?

— Sim, eu gosto, mas daí a...

— Eu sabia! E é claro que você gosta de crianças também! Eu ainda nem falei dos nossos filhos! Príncipe, quer parar de se debater? Tina, me arranja uma corda, ou barbante, ou um par de algemas? Qualquer coisa serve.

— Eu acho melhor — falou a mulheraça, em tom seco — vocês dois pararem com essas baboseiras, pois estamos em plena missão e temos dois meliantes para prender!

— Como assim, vocês dois? — exclamou Rick, indignado.

— Oh, você tem razão, Tina — disse Honey, aquietando-se e largando o pobre Rick. — Meu querido, vamos deixar o nosso idílio para depois.

Nesse momento soou o comunicador da aeronave e Tina atendeu:

— Pode falar, Victor.

— Os dois alvos se separaram. A área a procurar é imensa.

— Já estamos chegando lá e vamos encontrá-los.

— Tina, temos de evitar que eles escapem por tubulações subterrâneas; se eles passarem para outras áreas — a canadense, por exemplo — a coisa vai complicar e muito!

— Se ninguém puder achá-lo, eu o acharei! — gabou-se Honey.

— Quem falou aí?

— Depois eu conto — suspirou Tina.

 

 

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— Como é que vocês puderam rastreá-los afinal? — Honey estava intrigada.

— Muito simples — dignou-se a esclarecer Rick, penteando os cabelos desalinhados pelo assédio da garota. — Eu implantei um “chip” no aerocarro deles.

— Genial, querido Rick — disse Honey, afagando o braço do agente, que parecia estar mais acostumado àquelas efusões.

Tina verificou o altímetro e o velocímetro e lembrou-se de dizer:

— Vamos ter de lhe fornecer algumas armas e apetrechos, para que você possa fazer alguma coisa. O Fred não lhe forneceu praticamente nada, o que devia tê-la feito pensar...

— Não me fale no Fred. Nunca me decepcionei tanto com uma pessoa.

— Isso foi útil para você. Aprendeu a não ser burra.

O Bairro Projetado já estava repleto de quarteirões pré-fabricados porém inabitados. O “habite-se” viria para o bairro inteiro quando estivesse concluído, dali a alguns anos. E seria povoado principalmente através da imigração. Até lá, robôs cuidavam de sua manutenção.

Teoricamente ninguém habitava um bairro projetado, nem mesmo vigias noturnos. Engenheiros e arquitetos lá apareciam com seus auxiliares, mas só de dia. A noite já caíra quando a aeronave da Cosmopol se acercou do local. Honey estava quase chorando de fome:

— É mesmo verdade o que vocês me disseram? Que não tem nenhuma lanchonete aí?

— Honey, aguente firme — Rick esboçou um sorriso — agentes passam fome quando é necessário!

— Ah, não! Fome e frio eu já estou cansada de passar na vida!

— Mas você está mesmo com fome?

— Se estou, Príncipe? Não está ouvindo o meu estômago a roncar?

— Lamento. Se tem coisa que eu e Tina esquecemos de levar na bagagem, é comida.

— Você vai ter que mudar de hábito. Não é bom ficar muito tempo sem comer!

Tina colocou o aparelho na pilotagem automática e abriu um compartimento à sua esquerda, de onde tirou uma sacola que entregou à pequena.

— Que é isso? Tem comida aí?

— Seu kit de espionagem. Se vai atuar com a gente, vai ter que se equipar ou não servirá para nada.

Honey abriu o zíper e examinou os objetos. Pegou um par de algemas e olhou especulativamente para Rick.

— Não são para ele — observou ferozmente Tina. — É para quem você prender.

— Ué, mas é justamente isso...

— Refiro-me aos criminosos, especialmente essa dupla que estamos caçando.

— Ah, sim...

Honey lembrou-se, sufocando de despeito, da deslealdade que Fred fizera com ela.

— Ele não sabe o que é brincar com os sentimentos de uma gentil mocinha indefesa e frágil...

 

(Quem se preocupou com o final do capítulo anterior esqueceu que a Cosmopol não poderia ser detida pela polícia local, pois tem livre trânsito internacional. Mas será que a Sino Doce, que está com a cabeça nas nuvens por causa do Rick, seu novo Príncipe Encantado, estará à altura da tarefa, mesmo com seu poder secreto que nem ela compreende? E o que levou Tina a dar uma chance na Cosmopol a uma garota tão biruta? Tina enxergou nela as qualidades necessárias para tão difícil profissão? Pois agora é que começa mesmo a caça ao Grande Afanador! Acompanhe para ver como Honey se sairá:

CAPÍTULO 9

A VISÃO DIAGRAMÁTICA)

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 19/04/2024
Reeditado em 19/04/2024
Código do texto: T8045321
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