As luzes de Alice, capítulo 3: Presença da morte

 

CAPÍTULO 3

 

PRESENÇA DA MORTE

 

(No capítulo anterior uma psicóloga se opôs agressivamente às investigações de Alice; agora também o médico local, Dr. Clooney, demonstra tolerância zero à presença de Alice; todavia, imperturbavel, ela mantém os seus avisos. Agora, com a terceira vítima, o que decidirá Buckley?)

 

Buckley ordenou uma rigorosa análise físico-química dos dois cadáveres, com cintilogramas e tomografia de varredura, até chegar a uma conclusão sobre a perda na composição mineral denunciada por Alice. Embora lhe repugnasse acreditar na corretora, a segunda morte deixara-o assustado. Agora resolvera portar uma carabina-laser, pois já não se sentia em segurança.

E o resultado não se fez esperar: potássio, magnésio e iodo estavam faltando em nível assustador. No caso do potássio, 90% do que seria de esperar.

O Dr. Harrington Clooney entregou o relatório a Buckley, conservando uma expressão absolutamente séria por trás dos bigodes grisalhos.

— E qual é a sua opinião? — indagou Buckley.

— O cozinheiro foi assassinado com lâminas afiadas em forma de pinças ou foices, provavelmente de aço inoxidável ou de vacuosin e provavelmente manejadas por duas pessoas. Afinal, houve luta e Sebastian era um homem vigoroso.

— E os minerais que faltam?

— Sobre isso qualquer opinião é inútil no momento. Não temos ainda elementos para entender o porque dessa anomalia. Sugiro que todos tenham suas composições químicas analisadas. Pode estar acontecendo um fenômeno causado por nossa exposição ao vácuo sideral...

— Dr. Clooney, mas e o que diz a clarividente?

— Temia que perguntasse isso. Mas veja bem, Sr. Administrador: a clarividência é uma fraude, uma exploração da credulidade humana. Além disso, é impossível que exista a criatura à qual ela se refere. Portanto, a explicação é fantasista e não deve ser levada em consideração.

— Mas doutor, e as evidências físicas?

— Tem que ter uma outra explicação. Que diabo, homem, você acredita em monstros?

— Não sei no que é que eu acredito. Mas o que eu não posso é fechar os olhos aos fatos. Duas pessoas morreram em circunstâncias horríveis e a única coisa que sugere terem sido crimes humanos é o seu argumento de que não pode ter sido outra coisa. Acho uma forma muito bitolada de tentar descobrir a verdade.

O Dr. Clooney disse um palavrão e explodiu:

— Não existe vida orgânica que sobreviva no vácuo! Não existem entidades cósmicas, e nem demônios! O Necronomicon é um livro supersticioso, e você sabe disso! Pessoas racionais não acreditam no sobrenatural!

O intervisofone avisou que Alice estava na ante-sala e desejava falar com Buckley. Este fez acender a tela e deparou com um rosto aflito e angustiado.

— O que houve?

— Sr. Buckley, sinto que houve uma terceira vítima. Vai ser logo descoberta. O que está esperando? Eu o ajudarei. Vamos atrás da criatura... vamos desentocá-la... antes que ela nos mate a todos!

O médico interferiu:

— Pare, sua louca! Empenho a minha reputação de médico e de homem de ciência em como não existe terceira vítima, e você não passa de uma charlatã!

Ela fitou, da tela, tristemente, o médico:

— Por que às vezes as pessoas tomam atitudes tão insensatas?

 

 

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— Ela deve estar por trás dos crimes. — disse o cirurgião.—Senão como poderia ela saber?

O corpo da menina estava na banheira, rodeado de sangue, e o sistema de ar condicionado achava-se arrombado no local.

— Foi por aqui que a criatura entrou — disse Alice, apontando o tubo estraçalhado. Ela está em algum lugar, no sistema.

— Pare com isso! — gritou Harrington, já histérico.— Não existem criaturas! NÃO EXISTEM, ouviu bem? Não repita isso!

Buckley e Robinson se entreolharam e o primeiro falou taxativo:

— Se você está disposta a nos guiar, vamos fazer a expedição imediatamente. E com armas pesadas.

A psicóloga, que também estava presente, segurou o braço de Buckley:

— Dê uma chance à Ciência. Você sabe que é impossível que essa mulher tenha razão. Vai comandar uma expedição à procura de nada? Sua própria carreira estará comprometida. E no meu relatório ao Ministério de Colonização Espacial, terei que falar na sua atitude...

— Isso — reforçou Clooney.— Eu também terei que denunciá-lo, senhor Buckley, por falta de decoro na direção desta estação...

— Vocês dois podem ir para o inferno — sentenciou Buckley, já bastante irado.— Venha, Alice.

 

(A expedição será feita. A parte oculta do satélite será vasculhada. Mas a criatura poderá ser enfrentada? E qual será o papel de Alice no confronto, ela que não possui sequer autorização para utilizar armas pesadas? Não percam o próximo episódio, o de número 4:

A EXPEDIÇÃO)

 

imagem wikipedia

 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 22/05/2024
Código do texto: T8068892
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