O Sofrimento de um pai ou Os olhos vermelhos de um pai

Rio de Janeiro, 26 de junho de 2010

Deus, precisava conversar contigo sobre um pai sofredor.

Hoje, um plantão que tinha tudo para ser como outros que tirei. Calmo, dando tempo suficiente para eu arrumar as gavetas abarrotadas de papéis, organizar a mesa, a agenda da semana. Ao meio-dia fui para o almoço, no retorno, encontrei um senhor na portaria conversando com os guardas. A primeira coisa que notei foram os seus olhos vermelhos de tanto chorar. Quando o apresentaram a mim, soube que estava ali em busca de ajuda para o filho de 18 anos, Bruno. Ele estava internado em um hospital de Nova Iguaçu, fora operado de Apendicite, mas teve complicações pós- cirúrgica, ao reabrirem a cirurgia, descobriram vários nódulos que constataram ser malignos, e se desenvolviam de forma assombrosamente, além de estar com complicações renais. A médica deu uma possibilidade mínima de vida, porém indicou outro hospital para o tratamento especializado. Aquele homem relatava tudo isso de forma aparentemente calma, mas via-se o desespero de quem ama um filho. Falou que a mãe do rapaz estava no hospital, o filho no CTI e ele correndo atrás de um "milagre".

O rapaz fora encaminhado a um hospital de referência em câncer, mas não havia leito disponível, o jeito foi apelar para a ajuda do governo, que poderia de forma judicial, impor ao hospital a internação. Conversamos bastante enquanto acionava a pessoa que iria ajudá-lo da forma legal, ele falou sobre o rapaz cheio de vida, estudante, alegre, cheio de sonhos que jazia enfermo há vários dias. A petição foi expedida, ele seguiu para o Tribunal esperando a resposta do Juiz, foi orando o tempo todo, fiquei também intercedendo por ele, mas, depois de um tempo, o motorista ligou dizendo do indeferimento da petição, a alegação principal: A falta de maiores detalhes sobre a doença do paciente. O motorista e o pai do rapaz retornaram até nós.O pai, já nem lágrimas tinha, os olhos secos gritavam por ajuda. A quem recorrer? A doutora plantonista expediu Ofício ao hospital onde o jovem está solicitando mais um laudo médico, e, outro ao hospital que não pode internar o rapaz, para amanhã se fazer uma reapresentação judicial e despediu-se daquele pai torcendo que o seu filho sobreviva mais um dia e que amanhã o juiz de plantão por um instante pense em alguém que lhe é importante e defira a internação do jovem no hospital especializado. Com certeza, será um motivo para o pai ficar agradecido.

Enquanto descia com ele pelo elevador, perguntei se cria em Deus, disse que sim, que havia estado afastado, mas que agora tinha retornado aos braços do Pai. Falei de um texto bíblico que contava a cura do filho de um homem chamado Jairo, falou conhecer a história, então eu disse: Creia, Jesus é o mesmo daquela época, se Ele quiser, seu filho viverá. Ele falou- Eu creio, e seguiu em busca dos documentos necessários para a internação no hospital referenciado.

Vim triste para casa, mas sei que há propósitos para tudo nessa vida, Deus, Tu sempre escreveste certo em linhas certas, sabes todas as coisas, e, espero que com o Jovem Bruno as petições sejam atendidas.

Ainda fico vendo mentalmente os olhos daquele pai, sua alma chorando pelo medo de perder o filho, mas acredito que a Tua vontade é soberana a tudo.

Em oração te peço Pai do Céu, que eu nunca deixe de sentir misericórdia e amor ao próximo, que possa sempre estender a mão e abrir meus lábios para confortar os que estão precisando. Peço também que cuides da minha família, e, que os corações dos homens se encham de compaixão pelos que sofrem.