A Escada de Jacó


Em Gênesis 28, 10-17 encontramos uma passagem maravilhosa, conhecida como a escada de Jacó, que demonstra mais um dos caminhos trilhados pelo povo de Deus. Essa passagem nos contempla com uma profunda reflexão que liga diretamente ao texto de Marta e Maria de forma brilhante. Repare que este encontra-se no Antigo Testamento e o outro no Novo Testamento. Mas a espiritualidade é a mesma.

Nessa passagem, Jacó nos conta um sonho que ele teve. Um sonho muito especial. Indo para Harä ele parou em um determinado local para pernoitar e sonhou com “uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela; e eis que o Senhor estava em cima dela ...”.

Mais um momento de Revelação gerado pelo Senhor, ao qual São Boaventura (expoente da escolástica) interpretava como sendo a possibilidade de duas formas de contemplação. Uma dirige-se ao interior, meditando sobre a divindade de Jesus. A outra, dirige-se ao exterior em busca da Sua humanidade. Essa a razão da escada e essa a razão dos anjos subindo e descendo por ela. Quando sobem temos a meditação divina, quando descem temos a meditação humana. Ambas, nos levam à confirmação de que Cristo era cem porcento humano e divino.

Santo Agostinho nos proporciona uma interpretação diferente, aliás outras. Em princípio, ele entende que a escada de Jacó nada mais é do que a reprodução da vida humana, quando sobe progredimos no bem, quando desce, temos a perda do bem, pois assim é a vida do povo de Deus. Depois, ele interpreta essa passagem sob a ótica de São Paulo, entre Adão, que inaugurou o pecado e Jesus que inaugurou a salvação. Meditava o bispo : Adão caiu no paraíso diante do Senhor, Cristo desceu para nos redimir. Cair é fruto do orgulho humano, descer é fruto da misericórdia divina inseparável a Jesus. E é isso que temos que aprender.

Em outra pregação, Agostinho vai além, diz ele, os anjos que sobem significam os homens que progridem na compreensão das Escrituras. Os anjos que descem simbolizam os mensageiros da Palavra que vão ao encontro dos pobres e lhes dão alimentos para que possam suportar a caminhada. O cristão torna-se capaz de subir, porque houve uma descida divina para estreitar as relações dos homens com Deus.

A escada mistica de Jacó é agregada ao cristianismo como forma de demonstrar o valor da contemplação e do serviço pastoral, pois um segue o outro. É aqui que Agostinho costura, de maneira magnifica, a ligação dessa passagem com o texto de Marta e Maria no Novo Testamento. Leia um e depois o outro e você perceberá suas ligações.

Em outro momento, ainda apoiando-se na escada de Jacó, o Bispo de Hipona volta a colocar São Paulo na berlinda, quando cita o grito de alerta do Senhor para com o ainda Saulo de Tarso, perto de Damasco :

  • Saulo, Saulo por que me persegues ? (At 9, 4)


Esse grito do Senhor vem do alto da escada, vem do céu ! Vem do “topo”.

O “por que me persegues ?”, mostra que o Senhor também está aqui em baixo, entre nós.

Podemos tirar outro significado da escada de Jacó, que representa o diálogo entre os homens e Deus. Qual é a diferença entre profeta e sacerdote ? Profeta é o mensageiro de Deus junto aos homens. E sacerdote é o representante dos homens junto a Deus.

Assim, o profeta desce a escada de Jacó para trazer aos homens a mensagem do Senhor. E o sacerdote sobe a mesma escada para levar ao Pai as suplicas dos homens. É o diálogo do transcendental com o ser transcendental. Criador e criatura.

Qual é a fonte da Revelação? A Palavra de Deus! Portanto, não há revelação sem a Voz do Senhor. E essa Palavra é eterna, não se esgota, jamais. E o que é eterno? É aquilo que não tem começo ou fim. O eterno não tem passado e nem futuro, pois é ETERNAMENTE presente.


Leandro Cunha



Leandro Cunha
Enviado por Leandro Cunha em 20/05/2011
Reeditado em 20/05/2011
Código do texto: T2982067
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