EVANGELIZAR

 

Falar de Deus é falar de amor, de caridade, de solidariedade, de justiça e de misericórdia. Falar de Deus é falar de esperança.

 

Mas como falar de Deus para uma criança violentada pelo pai, abandonada pela mãe, jogada em uma creche onde sofre outras tantas agressões?

 

Como falar de Deus para uma garota de 15 anos entrevada em uma cadeira de rodas vítima de bala perdida? Esperança é futuro e que futuro pode esperar essa jovem?

 

Como falar de Deus para as vitimas do terremoto que assolou o Haiti há 3 anos e que até hoje continuam sendo tratadas com desprezo e desrespeito pela comunidade internacional?

 

Como falar de Deus para uma família que tem um de seus membros viciado na droga do crack?

 

A primeira pergunta sempre será : - onde está Deus que permitiu isso?

 

Somos uma sociedade contraditória, fazemos transplantes de coração, de fígado, de rins e muito mais. Mas não sabemos ainda transplantar amor ao próximo, respeito ao ser humano, justiça e, principalmente, dignidade.

 

Evangelizar é muito difícil e complexo. Evangelizar é alimentar, curar e reviver a esperança na alma de seres humanos, resgatando, em alguns casos, o brilho nos olhos daqueles que perderam a fé em função das adversidades da vida. Mas esse é o grande desafio e devemos seguir as palavras de Jesus:

 

  • ... não são os sadios que precisam de médico, mas os doentes...

 

Evangelizar é estar com os olhos e ouvidos voltados para o “outro”. Evangelizar, no século XXI, é muito mais complexo. Temos que derrubar uma série de preconceitos que estão encrustados no cristianismo.
 

Como evangelizar nos dias de hoje?


Com o coração e a mente aberta. Levando em consideração o “respeito” à liberdade de vontade do “outro”. Eliminando as barreiras que nos conduzem a um processo de exclusão, de subjetividade fechada. Mantendo o foco no amor fraterno, na importância das pessoas, respeitando o espaço de todos.

 

Cada um é único, inimitável, irrepetível e insubstituível.

 

Evangelizar é seguir os passos de Jesus, que respeitou cada ser humano: cada homem, cada mulher e demonstrou o tempo todo o que quis dizer com: - amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. Jesus é “includente”; até na hora da sua mais profunda dor física, ele pensou nos outros. Lá estava ele, pregado na cruz e teve “compaixão” para com Dimas que lhe pediu: - Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino. E Jesus respondeu: - Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. Você agiria assim?

 

2.000 anos depois, continuamos evangelizando mal. Deixamos a “praga” do helenismo distorcer o cristianismo, sucumbimos ao dualismo e nos afogamos no “muro” que separa os homens dos seres humanos. O cristianismo é a única religião cujo Deus se fez homem para compreender a natureza humana e para mostrar que a existência tem sentido, pois há vida além da morte.

Temos que substituir o dualismo grego por uma articulação entre os opostos: corpo/alma, fé/razão, amor/ódio, etc. É preciso “estabelecer as relações” entre os pontos extremos de forma que, ao invés de excluir : inclua, una. É necessário derrubar muros e agir diferente, como um imã onde os “opostos se atraem”.

 

Evangelizar nos dias atuais, demanda aceitar e compreender as diferenças. Todas as diferenças do gênero humano. Não se fala de “evangelização” sem respeitar a diversidade. E para entendermos isso, basta olharmos para uma floresta.

 

O que é uma floresta? É um ecossistema (fauna, flora, águas e terra) que campeia uma região. Portanto, a unicidade da floresta encontra-se na beleza da diversidade que a compõe. Assim, a beleza da sociedade está na diversidade de seus componentes, dos costumes, da cultura, da religiosidade e tudo mais que a enriquece.

 

Como disse, somos seres relacionais. Mas de forma ampla, é preciso, primeiro, saber se relacionar consigo mesmo, depois com os outros, depois com a natureza e finalmente com Deus. Sem isso, o que fica é a intolerância, o preconceito, a arrogância, a imposição, o medo e o desrespeito.

 

Relacionar-se consigo mesmo, pois quem não conhece a si mesmo terá imensa dificuldade em conviver. Conhecer o outro é o importante exercício de saber ouvir e respeitar o direito dos demais. Conhecer a natureza, pois essa é a nossa casa, ela nos abriga, nos alimenta e nos dá segurança. Por fim, conhecer Deus, pois Ele é o princípio e o objetivo de toda existência, mas só é possível “conhecer” Deus conhecendo, primeiro, os demais. Conhecer, aqui, significa: AMAR.

 

Evangelizar é levar a Palavra de Deus aos nossos semelhantes. Mas antes da Palavra é necessário abrir os ouvidos e entender o que aflige o outro. Antes da Palavra é importante dar as mãos ao nosso irmão. Antes da Palavra é preciso adubar os corações com a semente da misericórdia. Sem isso, a Palavra não frutificará.

 

Nesse início de terceiro milênio, o processo de evangelização mais importante é derrubar todas as estruturas sociais injustas, que humilham o ser humano. O que deve prevalecer é o AMOR, a JUSTIÇA e a VERDADE.

 

Evangelizar é AMAR.

 

 

Leandro Cunha
nov. 2012