Meu cariri.

Meu cariri tá seco. Há tempos que não ouço a rã rapando a cuia nem sapos coaxarem nos barreiros.

Meu cariri tá seco. Vejo tristezas nos olhos dos animais, desalento no balançar das folhas ressecadas.

Meu cariri tá seco. Desapareceram os exames de abelhas em busca do néctar das flores e os vaga-lumes que iluminam as noites de chuvas.

Meu cariri tá seco. Vejo cercas que dividem os roçados numa vermelhidão sem par.

Meu cariri tá seco. Sinto falta de cercas cobertas por pés de melão são caetano e maxixe se espalhando no chão.

Meu cariri tá seco. Não há umbu, marmeleiro nem tomate do mato nem mata- pasto cobrindo os campos.

Meu cariri tá seco. Vejo animais sendo saciados com água de poços e alimentados com capim de vazantes irrigadas sem cor.

Meu cariri tá seco, sem lavouras, sem animais, sem riquezas.

Meu cariri tá seco, mas vejo coragem e determinação no rosto curtido pelo sol no trabalho diário do agricultor.

Meu cariri tá seco, mas o agricultor, cuidando do seu quinhão, mantém viva sua esperança

Meu cariri tá seco. Quem vive da terra tá apertado, comprando ração pra criação e buscando água distante.

Pai, meu cariri tá seco, mas há fé, expectativas e luta naqueles que cultivam a terra para daí tirar seu ganha pão! Pai, que esse povo seja recompensado com a chegada de chuvas, que mudam a imagem da seca do meu cariri! Que o milho, o feijão e o algodão possam ser fecundados no seio da terra, protegidos pela força da mãe natureza.

Nanci Cordeiro Duarte

13 - 01 - 2015

Nanci Duarte
Enviado por Nanci Duarte em 19/07/2015
Reeditado em 20/07/2015
Código do texto: T5316089
Classificação de conteúdo: seguro