Manifeste se

Se ainda há poesia em mim,

que se manifeste com urgência.

Se há, que ela me venha logo,

em meio a toda teorização e racionalismo;

em meio ao ateismo; à desesperança;

à crença única e exclusiva nas condições materiais de existência.

Manifeste-se com urgência, se ainda o trago comigo,

o sorriso daquele garoto adolescente que um dia fui,

cheio de sonhos e de crenças, e de amor.

Manifeste-se agora e traga de volta

a crença na ordem das coisas

e me faça esquecer esse caos.

Que me entorpeça,

e que eu me perca em delírios,

em sonhos novamente.

Que eu me afogue numa enchente de fé,

aquela que não se explica, apenas se sente.

Que eu me entregue a esse único instante de felicidade febril,

posto que estou em oposto

e me canso do racionalismo.

Ele me oprime.

Não me deixa ser como todos os outros.

E que tal loucura,

assim como o efeito de uma droga,

modifique toda a percepção que possuo das pessoas e do mundo.