A Sala Do Tesouro

A sala do tesouro

Havia um velho que vivia de guarda na sala onde estava o tesouro de seu chefe. Ele só enxergava com um olho, o outro era cego.

Ele não conseguia se mexer, então permanecia parado, apenas a observar e guardar em sua excelente memória tudo o que via. Quem entrava pelo lado que ele podia ver, fazia tudo da maneira correta. Pelo menos na maior parte das vezes assim tentava. E quando erravam, se afastavam do lado que enxergava, afim de não ser visto pelo velho. Dos Que entravam pelo outro lado, alguns lá estavam já para enganar o velho, pois sabiam que naquela entrada havia o olho cego. Outros entravam por lá sem perceber a outra entrada, mas agiam corretamente. Porém o dono da sala havia arranjado um jeito de ver tudo que ali acontecia, deixando escondido uma fresta na parede da sala, de onde tudo observava. E quando alguém errava, quando aquele que ali estava saia da sala, o dono batia na parede e falava o nome de quem saiu dizendo:

-Esse errou.

No final do dia, o dono perguntava ao velho se ele viu algo errado ali acontecer. O velho não errava ao responder. E nunca mentia, pois via o olho do chefe mexer na fresta que estava bem no meio do lado oposto da sala. E o chefe chamava pelo nome no final do dia um por um dos que ali entraram para ficar frente a frente com o velho, para saber como agiriam aqueles que erraram.

Então o velho falava:

“Vi entrar e não errou. “

Para outro dizia “errou mas se arrependeu e tentou consertar” e para outros dizia “errou olhando-me no olho”.

Como pela fresta o dono já havia visto todas as ações e avisado o velho, quando na sua presença estava alguém justo que entrava pelo outro lado, o velho dizia:

“Esse não errou”

E o homem ficava admirado. E via que o velho era justo. Mas quando entrava alguém que habia errado, o velho falava:

“Esse errou”.

E alguns pediam perdão e admitiam seus erros. E o dono, como entendia a situação em que cada um vivia, sabia quando era um arrependimento real, entregando o que era justo a quem havia errado.

Mas quando alguém que havia errado chamava o velho de injusto e mentiroso, o acusando de ver ele errar e não fazer nada, o dono ficava furioso, retirando tudo que o errado tinha, expulsando ele se sua presença.

O dono havia indicado aos primeiros por qual porta entrar, já para que fosse mais fácil ao ver o olho do velho, evitar o erro. E para chegar a outra porta, era necessário para passar fechar a primeira que ficava aberta pelos primeiros, para assim liberar a passagem e seguir pelo corredor que levava até a segunda. Pois a primeira porta estava sempre aberta quando quem entrava por lá saia e fechar essa porta é a única maneira de chegar na segunda. E o dono assim o quis, que a porta estivesse aberta e fosse por ela a única maneira de chegar até a segunda. E para aqueles que entravam pela primeira e eram justos, recebiam o que mereciam e permaneciam com o dono.

E os que entravam pela segunda e eram justos, recebiam o que mereciam e permaneciam com o dono.

Mas os primeiros, por terem olhado o velho e por terem visto o que ocorria com aqueles que fechavam essa porta, deixaram por escrito e permaneceram avisando com suas vozes que a melhor maneira era entrar pela porta que estava aberta. Pois era seu dever evitar que aqueles que fossem pelo outro caminho não soubessem o que realmente havia na sala. E quem havia lido o recado dos primeiros, facilmente abria a porta, mesmo que esta estivesse fechada. Quem ousaria entrar por ela e a fechar ao sair?

E alguns que entravam pela primeira porta e noutro dia iam pela segunda, percebiam que caminhavam mais atoa. Pois preferiam mesmo entrando pelo lado cego, ir para o lado que enxerga.

E aqueles que mesmo lendo, escolheram o lado cego, quando entenderem que na outra porta há visão, mais cedo ou mais tarde acabaram por entrar apenas por ela.

Pobre do que não leu nem ouviu, furtando tudo o que podia daquela sala, sem perceber o motivo da criação do caminho por onde pisava.

Essa é a primeira missão que acompanha a Santa Igreja Católica, deixar escrito e avisar com sua voz o que há na sala e como são os caminhos.