Reflexão sobre o Evangelho de 12/03/2023

No evangelho deste domingo temos a passagem da samaritana à qual Jesus pede água para matar sua sede. Espantada, a samaritana questiona como aquele judeu desconhecido quebra o hábito e dirige-lhe a palavra. Mais espantoso ainda é que Jesus não só continua como ainda lhe diz que se ela soubesse com quem falava, pediria ela mesmo pela água viva. A mulher, ainda sem entender, questiona como ele tiraria a água sem balde e pergunta-lhe se ele é maior que Jacó. Jesus então começa a mostrar-lhe quem verdadeiramente é, afirmando finalmente que é o próprio Cristo, o Messias esperado por todos. Então muitos samaritanos converteram-se após Jesus não apenas falar com os samaritanos, rejeitados anteriormente pelos judeus, mas ficar com eles durante 2 dias.

A Igreja propõe ainda uma primeira leitura onde já está presente a referência a água que, evitando a morte dos israelitas por causa da sede, mostra-se claramente como a água viva que, curiosamente, surge do meio de uma pedra, simbolizando também o pontificado de Pedro e de seus sucessores, água esta que se misturou com o sangue na imolação do Cordeiro de Deus.

Esta mistura de água e sangue, ou entre água e vinho transubstanciado quando da celebração da missa, é a mistura do amor que, por consequência, tem um sabor agridoce. No entanto, hoje não aceita-se o amargor pelo medo do sacrifício. Evitando-se o amargo, evita-se também o doce e resta apenas a água insípida, sem sabor, de uma vida vazia e sem objetivo.

Buscamos então ressaltar o sabor temperando-a em exagero, resultando numa salmoura desgraçada. Qualquer um, após uma breve pesquisa, pode descobrir que, mesmo sob desidratação intensa, não se deve tomar água salgada pois ela desidratará mais ainda, atrapalhando ao invés de ajudar. Pois a vida fora da Igreja é justamente esta; uma multidão de desidratados tomando salmoura para matar a sede. Estão mortos, mas ainda não sabem que morreram. Rezemos por eles.

Um dia, uma pessoa me disse que não queria ter filhos; que sabia que caso tivesse amá-los-ia com o maior amor do mundo, mas, mesmo assim, não queria. Ora, o que é esta sanha moderna de não ter filhos? É simplesmente a falta de vontade para o amor.

É claro que precisamos aqui refinar um pouco, explicar melhor, o que é este amor, pois, normalmente, se tem como amor um afeto muito forte por outra pessoa e isto não é inteiramente correto. Este sentimento até faz parte da definição de amor, de certa forma, mas amor é ação, não apenas sentimento. Quem ama é aquele que faz algo para favorecer o próximo, que lhe faz um bem. Justamente, um dos maiores bens que podemos fazer por outra pessoa é dar-lhe a vida. Quem, em sã consciência, diria a uma pessoa que ela não deveria existir? Pois uma árvore que se nega a dar frutos é um um alguém que nega a outrem a chance de existir. Tenhamos paciência e não condenemos; todos nós pecamos de uma forma ou de outra. Além, é preciso deixar claro que uma coisa é uma árvore que não pode dar frutos e outra diferente é uma árvore que não dá frutos simplesmente porque não quer.

Porém, como todos sabem, o amor dói. Quanto a isto não há argumento, não há resposta. Qualquer pai, mãe, marido ou esposa que realmente ama sabe que o amor dói; e dói muito. E, no fundo, aqueles que não querem filhos na verdade não querem amar. Ou melhor, querem amar mais a si do que ao próximo, não querem o sacrifício de ter filhos.

Entretanto, o que é o sacrifício? É a entrega pessoal, através da mortificação, que nos santifica, sacrificar é tornar sacro, que vem de SACER, sagrado. Olhar para o próximo nos sacraliza, olhar para nós nos idiotiza. E quem mais próximo do que o nosso filho, carne da nossa carne, sangue do nosso sangue? Ninguém. E este é o laço de amor mais forte que há, o amor por um filho, principalmente por parte da mãe. Como dizem, ser mãe é padecer no paraíso. É uma dolorosa delícia. Pelo menos é o que me parece ser pois nunca poderei ser mãe. Sou pai e, pelo menos isso, posso afirmar que é muito bom. Bom, peçamos a Deus que nos dê da sua água e que tenha paciência com nossos pecados. Amém.