(Confissão)

Um tempo que se prolonga ao infinito e uma vontade enorme de tornar-me estaca. Mas não. O dia parece sempre o mesmo sem aquela coisa. Substituo cada segundo dês-prazeroso por esperanças de bom-futuro, por recompensas eternas. Mas às vezes me é tão duro enfrentar o hoje chateante, entediante, des-querido. Lá estão eles num final-de-semana, razão de tantas coisas. Razão que tem se revezado ao longo da vida em amores, amigos, livros, filmes e afins. As vezes viagens, passeios. Paixão, paixão. Como que para que suportar essa existência desprovida de significado, ou talvez tão cheia de significado nessas coisas que me movem. Mas e todo o resto levado, empurrado? De certo que não seria possível viver de paixões. Mas não deixo de ser isto em verdade. A verdade teve por cara um sorriso bonito, uma praia, os passeios mesmo quando para nada, um filme de madrugada, o abraço daquele antigo, a esperança de amores não completados, qualquer coisa. E o hoje é sempre a espera de novo momento, e quando vivido, vivido com intensidade as vezes acompanhada de uma já ausência deste. Saudade do passado e do futuro, quando não é o presente imediato o objeto real de uma vida vivida com realidade. Considerando que considero tudo aquilo feito com indisposição e sem vontade uma negação e ao mesmo tempo penso-me mimada e ridícula. Há tanta gente que faz e não pensa. Penso, existo, repenso, insisto. O consolo está no abraço do ser amado, que quando não se tem, se torna mais ausência. Está nos prazeres que me proporciono, está naqueles queridos tão conhecidos amigos, em toda coisa que faz sentir-me viva. Desta vez falando em primeira pessoa, tão raro é isto. Para falar deste cansaço, deste temor, desta vontade perpétua de enfiar-me embaixo de meu edredom azul meio pesado e tão tão aconchegante. Como um abraço de mãe. De pai.

Os minutos passam, cada segundo. Não, você não tem de que reclamar. Acreditar-ia se não detestasse essas frases feitas. Preguiça talvez, de viver. Mas que seria viver? Note que está fugindo ao meu estilo. É que também em falar de amor e destas angustias tão terrenas, há um conforto. Mas pensar na vida como existência tão infundada pode não ser tão estético. Sofrer as vezes é estético. Chocante, mas necessário ser dito. Há um amigo que pensa o mesmo. Há muitos outros, alem disso. Sem minimizar ambos os sofrimentos. Os minutos passam. Já já é enfrentar o frio e o medo. O medo cotidiano. Vencer a falta de vontade e entregar-se à vida como homem fez o favor de nomear. Pra uns vida é tal, pra outros não. Pra mim não. Ah, mas mediando vou. Os minutos se extinguem pouco a pouco enquanto correm os dedos pelas teclas aqui. Uma por uma, um por um. É um desconforto estar em desacordo. Mas as leis do mundo em que vivemos, ah, as leis! Vou-me. Mas levo um livro. E meu medo. E esta esperança que cada dia está ali. Chamo-na vida agora. Dou a minha vida o nome que quiser!

Elle Henriques
Enviado por Elle Henriques em 29/05/2008
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