Apreciar o amor

É uma arte saber amar, quem desconhece esse sentimento talvez nunca consiga entender o êxtase de se doar inteiramente para alguém sem ao menos se importar com o que ganhará com isso. Não falo de submissão ou dedicação extremada, mas do ato de simplesmente entender a outra pessoa pelo olhar, pelo falar, pelo gesticular... Hoje, depois de amar tanto, perder tanto e ganhar na mesma proporção, conheço bem o amor, todavia não apenas aquele lascivo o da loucura ou do deleite, mas o passional e sem pretensão de ser o melhor, no entanto, o mais castiço, aquele na qual você se dispõe a reconhecer-se numa outra pessoa, aquele em que você não se sente abespinhada por qualquer motivo, mas sabe exatamente quando recuar para ver o bem estar do amado em um momento de euforia, saber ouvir mais ou puramente fazer de conta que está aceitando a conversa do outro para numa outra oportunidade retomar seu ponto de vista, falo do amor que faz doer e lamentar o que se perdeu quando um grande amor se vai sem saber se vai voltar, falo daquele amor que quando você tem certeza de que não voltará seu corpo adoece, a mente amolece e você sente que desaparece... Desaparece sua alegria e o medo de não mais saber caminhar sozinha jugula suas certezas e transforma em regresso tudo o que um dia você não supunha passar, enfim, falo do amor austero, quieto, sincero...

Hoje consigo contemplar melhor o que é amar... Sinto que a quietude transforma em força as dores acumuladas pelas tentativas perdidas; o amor me visitou e me deixou algumas vezes no meu percurso, acredito que cada dor sentida, cada lamentação dita, desilusão e transformação me permitiram apreciar com mais qualidade o amor por inteiro, aquele em que eu respeito o desejo das outras pessoas, contudo, o mais importante, hoje eu aprecio o meu desejo e respeito a mim em primeiro lugar.