AQUI JAZZ

O ato de escrever é tudo o que me pertence, o que tenho de meu, só meu. Perco a fé em deuses, esqueço-a pelo caminho, mas no ato acredito e faço dele meu único ritual. Flores pra Iemanjá nunca levei. Ondas nunca pulei. Novenas nunca frequentei. Em terreiros nunca pisei. Mas religiosamente me entrego ao dever de traduzir em palavras escritas o meu entendimento do mundo. Me construo, como Pessoa, a ouro e sedas, e em salas supostas invento palco e músicas invisíveis. Vivo assim sonhos bem desenhados, porém contornados do que de mais efêmero pode existir: a sensação de entregar ao mundo o que um dia fui.

São Paulo, 23 de Junho de 2008.