O REI POLÍCRATES

Vivemos numa sociedade baseada no consumo descartável, de transbordo transitório e efêmero, que nos passa a falsa idéia de vivermos num mundo capitalista global de abundância e fartura, que proclama pelo direito à felicidade através da mais plena satisfação que alimenta a um só tempo todos os desejos. Que cruel subversão impôs a sociedade industrial aos mais nobres e altruístas valores d'alma humana.

Às vezes a idéia da felicidade incorpora a de culpabilidade, tão bem representado pelo mito do anel de Polícrates. 

"O rei Polícrates era feliz. Tão feliz que não havia nada que pudesse desejar. Pensou, então, que seu destino era bom demais para estar conforme com a lei do mundo; sua felicidade só poderia ser destruída se não conjurasse o destino infligindo a si  próprio um sofrimento. Entre suas riquezas havia um belo anel, que ele amava sobre todas as coisas. Decidiu sacrificá-lo ao mar. Mas os Deuses recusaram a oferenda: um peixe engoliu o anel que, ao ser encontrado por um pescador, foi reconhecido e restituído ao rei. Polícrates, vendo nessa inconveniente restituição um sinal dos deuses, tentou, em vão, desembaraçar-se do fetiche mas, sem jamais consegui-lo, perdeu nesse desesperado esforço, um a um, seus bens e sua tranquilidade".

Que temeroso destino teve o rei Polícrates diante da plena satisfação de todos os seus desejos.

Felicidade sim, Polícrates não!

SERRAOMANOEL - SLZ/MA - TRINIDAD - 24.06.2008.
ILUSTRAÇÃO TELA BY ANTONIO CARLOS BARROS/86.
serraomanoel
Enviado por serraomanoel em 24/06/2008
Reeditado em 19/12/2008
Código do texto: T1049439
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