(Mensagem originalmente publicada na Internet em 19.12.2005)

Num mundo dominado pelas imagens, por que ainda se deve ler?
Num mundo dominado pelas imagens, por que ainda há quem escreva tanto (como eu mesma, por exemplo)?

Talvez escrevamos tanto para preservar a memória de tudo quanto ouvimos, vimos e saboreamos (ou repugnamos). Porque para continuar pensando o homem precisa da memória: não é possível pensar sem lembrar. É preciso lembrar para aprender, é preciso lembrar para raciocinar, é preciso lembrar para não andarmos em círculos quanto aos nossos erros. E a nossa herança cultural tem sido melhor preservada através da palavra escrita.

O ser humano só consegue ser realmente racional quando pensa por si mesmo. E quanto mais se lê mais independente torna-se o nosso pensamento. No início apenas repetiremos idéias, mas a leitura constante e diversificada nos concederá o discernimento entre o que é verdadeiro e o que é falso.

Talvez escrevamos tanto - num momento em que quase ninguém quer ler - pensando em gerações futuras que queiram por estes nossos pensamentos sapere - isto é, ter gosto.

Isso é esperança no AMANHÃ.

Eu sei que estamos numa época em que a maioria quer ver - fotos, imagens, principalmente se forem “picantes”, sexualmente “excitantes”. Ninguém quer ler pensamentos, reflexões de alguém desconhecido - e vivo! Eu tenho consciência disso.

Mas eu escrevo porque gosto de escrever. E - talvez - no quarto, ou no sétimo milênio, as pessoas estejam vivendo de uma maneira mais calma; talvez tenham curiosidade em saber o que os viventes (ou sobreviventes) do milênio anterior, ou do milênio distante pensavam - além de adorar se fotografar.

É claro que, sinceramente, agradeço muitíssimo a todos que, espontaneamente, lêem os meus textos e todos que os comentam. Porque a leitura de um texto deve sempre nascer de uma necessidade ou curiosidade, para que o nosso cérebro esteja apto a captar a informação nele contida; porque a leitura deve nascer de um interesse espontâneo para que nos abramos à assimilação do que realmente está escrito - para que possamos discordar ou concordar; porque a leitura, também – e, principalmente - deve ser um prazer.