Ao aprisionar-se na ilusão de certezas, a universidade aprisiona seu espírito criativo. Por isso, a universidade tem de assumir a dúvida.”

 

As certezas são sempre uma ilusão porque, invariavelmente, continuando a trilhar o caminho do conhecimento, de uma certeza serão geradas novas dúvidas. Para alguns, este parece um círculo vicioso, sem o qual haveria o advento do novo.

Entretanto, penso que se houve a geração de novas dúvidas, significa que avançamos, pois as dúvidas não são as mesmas: são novas.

Novas dúvidas, inevitavelmente, abrem nossos olhos a novos caminhos. Deste modo, o novo está continuamente batendo à nossa porta, nascendo a cada momento em nossas vidas. Não é isso intrigante, instigante e, ao mesmo tempo, maravilhoso?

Todos temos dúvidas, que são ocasionadas exatamente pela nossa ignorância (reconhecida ou não, admitida ou não). A ignorância proporciona a sensação de certeza. Vamos, então, acumulando algumas “certezas” - que nada mais são que quimeras, ilusões, que nos enlaçam e enganam.

Temos uma vaga noção de que as ilusões nos impedem de adquirir o verdadeiro conhecimento. Mas acreditamos caminhar livres delas, cremos mesmo  estar a seguir no caminho do descobrimento “sem” incertezas.

Mas o perigo reside sempre no pensar que as causas para as incertezas foram eliminadas.  Ao acumularmos “certezas”, deixamos, de modo inconsciente, que as ilusões nos enlacem - continuamente.

As nossas “certezas” impedem que o nosso espírito criativo se expanda, fechando-nos, assim, ao novo. Estagnamos. Não evoluímos, porque estacamos e, não raro, descarrilhamos.

Por isso é importante assumir a dúvida, isto é, manter a porta aberta ao novo, ao que está por vir – que pode, ou não, confirmar o nosso pensamento anterior.

A dúvida que deve ser assumida pela universidade, portanto, não se confunde com a ignorância, com a dificuldade para se decidir, com a hesitação; não é a incerteza acerca de equações matemáticas, de ser a Terra redonda, ligeiramente achatada. É a dúvida que permite a discussão, que não impeça que novas questões sejam apresentadas, que não tome determinadas proposições como incontestáveis e indiscutíveis.