CAIXA DE PANDORA

Você já sentou debaixo de uma árvore, numa dessas colinas retratadas com extrema surrealidade pelo cinema americano, na companhia da solidão e se perguntou: “Quem eu sou? O que eu sou? Por que sou? O que estou fazendo aqui? De onde vim? Para onde irei?” Certamente deve ter se perguntado, talvez não no bucólico cenário, mas noutro; o que importa mesmo é que, sempre que possível, instigados pelo mistério de nossa origem, almejamos entender o mundo, a vida que nos preenche e o real motivo para estarmos aqui.

Muitas são as respostas, que vão desde o barro a extraterrestres, cada uma mais complexa e excêntrica que a outra, afinal, como afirmam as religiões seculares: “o mistério da vida é indecifrável, está guardado nas entranhas da caixa de Pandora; não compete ao homem vasculhar aquilo que não compreende, porque se o fizer, como numa dessas milhares de profecias de porta de mercearia, receberá o castigo dos deuses, versado na morte eterna...”

Talvez sejamos até mesmo caricatos em algumas respostas, todavia, vasculhar o sentido da existência humana é uma das válvulas de escape para compreendermos aquilo que nos angustia, que nos faz altissonar e temer os dias vindouros; é uma forma nada criativa de se encontrar justificativas para erros cometidos mais de uma vez, por distração ou destino, visto que a cada erro que cometemos, a certeza que nos resta, além da amargura que só cede ante ao pranto, é sensação de acrescentarmos alguma nova experiência positiva ao nosso legado.

Quando estou depressivo, olho-me no espelho, respiro fundo, e por dentro de minhas íris navego... São centenas de milhares de segundos espreitando pela porta de entrada de minha alma. Naquele instante, sinto-me como uma dessas personagens de novela, construído em minúcias para atuar diante de um palco gigantesco, cujo autor, um demiurgo às avessas, manipula a bel prazer, apimentando diálogos envolventes, modulando momentos históricos, reservando um epílogo nada previsível, com muitas reviravoltas e finais nem sempre felizes.

E se ao invés de novela, formos figuras tarimbadas de um show trash como o Big Brother, apreciado por espectadores afoitos, que torcem por nós ou nos repelem, sendo o prêmio algo melhor que o oferecido pela versão global: o direito de permanecer vivo, curtindo o que há de melhor nesta terra abençoada; cabendo aos perdedores, o cessar deste direito? Dá medo só em pensar!

Compreender a dimensão do laço que nos conecta à fonte vital não é um trabalho para simples mortais! Não para mim! Afinal, por mais que tentemos, mais desorientados ficamos, a ponto de desistirmos da empreitada, relegando os enigmas de nossa mais íntima essência às covas da História. Só desta forma o presente continuará interessante e o futuro menos apocalíptico! Ao menos é o que todos nós esperamos