[A Proporção das Partes]
[Olha só: pra mim, cê perdeu o seu tempo, pois de suas letras grandonas, coloridas, eu li quase nada, quase nada, viu?]
Nestes tempos avermelhados, enquanto se avultam e se adensam as lembranças do passado, intensifica-se o senso de urgência de viver o que se apresenta, ou, melhor aquilo que se "presenta" na vertigem dos gerúndios. A efemeridade me mata pau, me deixa escornado nos becos da vida que se vai; fico ainda de carnes pululantes, experimentando aquele último gozo... E neste tempo tingido de poentes, se posso, eu deixo de lado experiências desagradáveis, corto volta; pois há inúmeras possibilidades de prazer, inúmeras, e o meu tempo avança, louco, louco... o tempo: este cão cérbero que vem famintando o meu ser!
Chego logo ao ponto: agora, não sei por que motivo, várias pessoas deram de escrever e-mails, poemas, etc. com letras gigantes, coloridas, causando-me irritação, cansaço, sono, displicência. Ao que parece, essas pessoas perderam o senso de proporção de coisa com coisa: até o par supremo da Terra, pênis e vagina, deve ter proporções adequadas para uma relação de prazer intenso, e sem incômodos! Mas algumas pessoas, que talvez não tenham experimentado o prazer das proporções equilibradas, passam por cima dos requisitos mínimos de uma apresentação eficaz de mensagens! Os meus olhos se perdem buscando a essência do texto, que, por puro exagero, mania besta, etc, vai, desnecessariamente, aparecer apenas várias telas abaixo do topo! Um absurdo! Desse zoom paquidérmico, eu leio apenas umas 7 linhas "grandonas" por tela... dou um clic, e desisto do resto!
Ao longo de minha carreira científica, presenciei seminários que pecavam pelos dois extremos: numa mesma tela, as informações eram demais, e em letras miudinhas, ou então, exageradamente extensas, em letras enormes, em várias telas. Eu simplesmente preferia o bate-papo no café!
Quando vejo um texto assim, em zoom, penso logo na "floresta do alheamento", perco-me na saturação da informação mal-proporcionada ao campo de minha visão, agora, sou um liliputiano em terra de gigantes, árvores altas, formigas gigantes marchando em armaduras de hoplitas, galinhas monstruosas, lagartixas do tamanho de crocodilos do Nilo, porcos do tamanho de hipópotamos!
Fujo da monstruosidade absurda, vou ler um texto que forma um "par de prazer" no campo do meu mundo reles, ou seja: no máximo, em corpo 14 do Times New Roman, ou algo assim! Se há tantas leituras prazeirosas [grafadas] em tamanho adequado, ou seja na medida boa para o meu gozo ser mais completo, por que eu perderia meu tempo com monstruosidades? Cansei de ficar copiando e colando textos em tamanho "normal" - agora, simplesmente corto volta, pois eu estou morrendo, o meu tempo é curto, e como eu disse, tenho urgência de curtir as presentificações agradáveis deste mundão...
[Sou assim, e até hoje, nunca morri de ser assim!]
[Penas do Desterro, 11 de julho de 2008]