Eu

Vá ate meu quarto, abra a segunda gaveta do meu guarda roupa e tire de lá um caderno. Folhas amareladas, uma capa desgastada, e cheirando a passado. Está nas suas mãos, a minha vida.

Pense muito antes de abri-lo, lembre do que você sabe sobra mim, lembre de tudo, tudo mesmo, e assim que tiver certeza, apague isso da sua mente. Você ainda não me conhece.

Na primeira pagina uma poesia triste, é um pedaço de dor que eu transformei em palavras... Não se deixe enganar por tamanha tristeza. Um poeta sempre sente tudo ao extremo. Comigo não seria diferente.

Uma data. E então com letras mal desenhadas, se desenrola minha historia. Não há mentiras, porque em um monólogo, não há a quem enganar, e enganar a si mesmo é pura tolice.

Não falo dos outros, não conto fofocas, nem relato meu dia-a-dia... Abstenho-me dos detalhes, e dos fatos que não modificaram minha vida.

Amores e sonhos... Meus temas preferidos, e praticamente únicos.

Às vezes fria, e às vezes sentimental de mais.

Frases soltas e assuntos inacabados, que com certeza guardam algum segredo. Não se pode confiar numa folha de papel... Nem nas pessoas...

Não sou boazinha, porque não preciso agradar ninguém, não penso nas conseqüências das palavras, porque nunca permitiria que alguém as lesse.

Talvez isso até seja um defeito, não permitir que as pessoas me conheçam, ou pelo menos não conheçam a pessoa que eu realmente acredito ser.

Dias intercalados por longos períodos de tempo, às vezes lembrava de escrever sobre momentos felizes, mas me prendia ao meu caderno normalmente apenas em momentos de aflição. Por isso eles parecem muitos, e por isso quando releio aquelas paginas, me julgo mais infeliz do que de fato sou.

Não se deixem enganar.

Pensando bem... Meu medo não me permitiu nunca, escrever naquelas linhas, tudo da maneira como é. Ou seja, você não me conhece, e depois da ultima pagina lida, vai achar que me conhece menos ainda. Por isso não se surpreenda, se você nunca o ler.