A PARÁBOLA DAS DUAS PEDRAS

Certa vez duas pedras discutiam numa calçada pavimentada:

- Eu não sei por que você insiste em querer ser diferente dos demais – disse a primeira – perde um tempo danado tentando rolar para fora da calçada. Faça como eu e como os demais daqui, sei que sou assim mesmo e vivo tranqüilo curtindo esta paisagem.

- Eu não acredito nisto – retrucou a que se esforçava - sei que posso ser mais que uma pedra e com esforço, posso rolar até aquela terra e depois cair naquele riacho e sentir seu frescor e sua profundidade.

- Ah como você é tola! Para isto eu aguardo sempre a chuva que vem quando menos se espera. E mesmo assim, qualquer uma de nós pode ter um destino diferente! Acontece que, o que você não sabe, é que para isto ocorrer, precisamos que um sábio escultor passando por aqui nos escolha, faça um belo trabalho em nossos corpos, nos venda a uma rica madame e saia conosco a viajar pelo mundo.

- Isso poderia até ocorrer, oh sábia pedra – ironizou a pedrinha que quase alcançava a borda da calçada - mas não acredito que é preciso depender de outro para ser alguém. Sabe-se lá se realmente algum escultor irá justamente passar por aqui, irá justamente te escolher entre tantas formas de pedras, esculpi-la de uma maneira que goste e vende-la a alguém!

Nem bem terminaram esta conversa, a pedra que argumentava conseguiu rolar para fora da calçada, caindo numa depressão de terra. A pedra que se encontrava na calçada morria de rir, pois o riacho estava ainda muito longe e sua colega por sua ousadia ficaria ali para sempre.

Acontece que a cada dia que passava a pedra que caiu na terra estava afundando naquele diferente solo. Sua colega que via tudo de cima parou de tirar sarro, pois passou a ficar doente, seria saudade?

Passada uma semana, a pedra foi tragada pela terra e em seu lugar apareceu um pequeno broto. Um mês passou e aquele broto cresceu e alcançou a altura da calçada. Quando pode ver a pedra que jazia naquela calçada de cimento e já sem forças para se movimentar, o pequeno broto falou:

- Aquela pedra realmente foi tola achando que poderia alcançar aquele riacho rolando. Vou te contar o que lhe aconteceu: depois que caiu naquele buraco ela morreu. Acontece que ao cair na terra ela descobriu que aquela água que tanto a atraia, a fez descobrir o óbvio: sempre fomos sementes e não pedras.