Democracia é para poucos

É flagrante como os discursos mais importantes são afastados das grandes mídias. Nunca vi um debate sério e contundente sobre o real valor da democracia. Que é defendida por muitos como melhor sistema. Diria eu que é o menos pior. E por isso devemos colocar em panos limpos exatamente os entraves práticos e teóricos que sobressaem rapidamente ao analisar o problema superficialmente.

A democracia é um sistema em que o voto da maioria determina quem governa. A simples base que indica que muitos idiotas sabem melhor que poucos inteligentes é exaltada ao máximo. Se não vejamos. A democracia é capaz, pela simples vontade da maioria de instituir uma ditadura, aprovar leis desumanas, e coisas do tipo. Basta que a maioria se mova em prol disso para que uma minoria se veja totalmente embaraçada pelas decisões daquela. O caso recente de apoio de traficantes da Rocinha a um candidato, proibindo qualquer propaganda de outros candidatos dentro da favela, diz exatamente a que tipo de perigo está a democracia exposta. Contando, aproximadamente, que a Rocinha possui 600 mil habitantes, é de muito bom senso declarar que ela sozinha pode influenciar o resultado de uma eleição. Elegendo, então, um político que irá brigar legalmente pelos interesses criminosos.

Agora não nos pautemos pela hipocrisia socialmente aceita, que diz que tudo de lá é ruim e tudo de cá é bom. Estamos a mercê de grupos criminosos muito mais gigantescos que colocam periodicamente políticos nas cadeiras possíveis para lutarem pelos seus interesses. A dinâmica é exatamente a mesma, mas enquanto os criminosos declarados são mal vistos os criminosos disfarçados são tidos como normais. É normal que um lobby de madeireiras eleja um deputado que irá legislar a favor do comércio de madeiras das formas mais sujas e anti-éticas possíveis, e ninguém ouve nada no noticiário, mas basta que os criminosos apóiem um político para que o escarcéu seja estabelecido. A indignação não é nada mais que mera representação, para em uma ação dupla, indignar-se aqui e apoiar acolá, ficar flagrante que o comportamento indignado não seja nada mais que fachada, para dizer-se bom moço, enquanto nos bastidores é-se o cidadão mais sórdido possível.

A democracia abre essa brecha, e se todos se baseiam na constituição federal para dizer que grupos não podem pela maioria passar leis anti-humanas ou criminosas, basta dizer que o povo está acima da constituição. Essa só serve enquanto ratificada pelo apoio popular, basta que a maioria queira algo diverso para rapidamente aquela se ver inutilizada. Mas, vejamos bem, essa realidade não é vislumbrada, crê-se que a maioria por determinação auto-imposta é sábia o suficiente para não efetuar um ato deste. Em um país com mais da metade da população analfabeta (funcional) e tantos outros com o mesmo interesse em política que possuem pela física quântica, dizer que a maioria é sábia ao determinar os rumos do país, é algo que só vale parcialmente.

O próprio conceito de justiça, que é tão exaltado em regimes democráticos, é uma falácia das mais visíveis. Pela simples observação da realidade vemos como uma idéia pode cegar bilhões de pessoas e moldar o modo com que vêem a vida de fato. Coisa mais natural e simples, e podemos ver pela organização social que tínhamos como sociedade até antes do fim da Idade Média, é perceber que as pessoas são diferentes, e por isso únicas. A determinação de que pessoas são iguais, todas iguais, não passa de uma idéia que tem que prevalecer sobre a realidade. E por isso é sistematicamente difundida, protegida e erigida em lei. Pois o que de mais claro há é a realidade que diz que as pessoas são diferentes, únicas e desiguais.

Querer dar igualdade para desiguais nada mais é que um plano social defendido por um regime socialista e comunista. Se o regime democrático protege os mais fracos, em relações de poder desiguais, é por isso mesmo mais um motivo para cremos nessa realidade tão dispare da ideal. Mas o modo de vida que temos agora só funciona, e só pode funcionar, se exatamente defendido por essa falácia. O valor da verdade como determinante de nossas vidas só pode ser colocado em segundo plano se acreditarmos que a opinião da maioria é melhor em qualidade que a verdade. E assim o sistema democrático que antes funcionava como o menos pior, é atacado a cada dia por uma estrutura anti-democrática cada vez mais presente em nossas vidas.

Como podemos ressaltar pela simples constatação dos fatos os grupos minoritários que lutam incessantemente pela defesa de algum interesse são exatamente aqueles que nos dizem que a democracia é falha e se cada grupo individual tem, por merecimento nato, direito a privilégios nada mais tem-se a declarar sobre o ataque ao sistema democrático. Quando minorias conseguem impor valores à maioria, essa que não compartilha daqueles, a única coisa que se pode criar é cisão e divergências das mais elementares à vida cotidiana. Quando em um país de maioria cristã-católica, mesmo que não efetivamente militante, consegue-se impor valores homossexuais acima de tudo a direção que isso toma é clara, um ataque sistemático aos valores aceitos e praticados pela maioria. E quando isso acontece diz-se exatamente que a democracia, em relação aos valores, de nada vale se leis são passadas contrariamente ao interesse da maioria.

Dar proteção à minoria não significa exatamente dar proteção aos mais fracos em relação aos mais fortes. Proteger cidadãos em relações de poder não é o mesmo que legislar em prol de valores. São duas coisas completamente diferentes. À legislação se prestaria um papel de reguladora e não de imposição. Usar um princípio democrático contra ele mesmo é uma das mais famosas armas de desestruturação que se conhece. E ainda mais quando isso é feito sub-repticiamente. É o clássico “dividir e conquistar”.

Mas voltando ao nosso ponto básico. Defender a democracia em prol de uns e quando outros se prestam a querer entrar no processo democrático mostra a notável falha estrutural que esse sistema possui. Se antes de qualquer valor a democracia vale como reguladora de valores, não seria pelos valores que se oporia a uma entrada no molde democrático. Em outras palavras. Ao defender o homossexualismo como valor em relação aos valores clássicos da sociedade diz-se que a lei está acima da moralidade da maioria. Mas quando a maioria apoiada por uma moralidade duvidosa é rechaçada e impedida de entrar no processo democrático, quando criminosos apóiam políticos declaradamente, isso passa a ser ruim.

A falta de princípios é importantíssima para poder ver claramente o que se passa nos dias de hoje e como que utilizando de pontos completamente diferentes busca-se uma coesão do sistema, essa coesão é nada mais que impossível e por isso mesmo é clara a forma como que grupos se utilizam dessa impossibilidade para minar qualquer respeito e valor democrático e causar descrédito da política. Se não partirmos em direção contrária a vigente e começarmos a nos pautar em valores sólidos para lidar com as nuances do dia a dia acabaremos acatando as formas mais visíveis da revolução em curso e essa revolução não vai acabar de maneira nenhuma em um sistema democrático, mas sim em uma sociedade forçadamente socialista e globalmente controlada.