Quem sou afinal.

Meus cabelos são canela enrolada e cansada, sopram com o vento e se aquietam com o silencio e falta de toque

Minha cor é o tempo entre o arder do sol e o eterno luar sem meios e com vários começos sou todo e tudo de todos

Tenho o corpo marcado por cores, amores e dores, tenho as cores da vida e de cada historia marcadas feito rupestres na epiderme até a carne, que marcou por sua vez de tantos amores e suas dores ou o contrario, carrego e experiência dos trinta muito bem vividos e sou ameno, ponderado e na maioria das vezes profundo e intenso, da forma que só quem prova pode saber.

Meus olhos, são o outono em decadência, no fim e seco, transparente e marcante, com o ar de sossego e tranqüilidade do sono, caio ao despertar meus dias e abrir as portas de minha alma entreabertas para o universo que segue.

Meu cheiro, passo do âmbar ao perfume seco da madeira, tenho o ar de longas raízes que não se fixaram a lugar algum, carrego o patchouli em minha essência ao fundo marcando com o móvel velho e resistente que encanta o moderno e se mistura ao ambiente predominando sua existência entre tantas outras sem cor, cheiro e sabor.

Minha alma é encanto, duvidas e fragmentos de tantas outras que jamais saberei, tenho parte grande em outra alma que não sei por onde anda... testei a fé de muitos e não questionei quando fui testado, pequei com sabor e prazer sem medo de qualquer futuro ou castigo. Tenho a alma que não espera arder em lugar algum, queima diariamente junto com tudo o que quero, meu desejo é o tempo ente Sade e o amor puro do século dezenove, passeio pela irresponsável forma de querer ao desejo do amor único, passo a passo, alma a alma, sou tudo o que quem não quer tem, e tudo o que quem quer não pode ter, sou assim, não pertencente a mim mesmo e fragmentado ao mundo.

Meu sexo é pleno e completo, sou de marte, Venus ou o bairro da esquina, explorei as possibilidades do prazer e banalizei por vezes a importância do toque impar e querido, único e almejado na esfera de todo amor. Soube o casual ao intenso e infinito beijo. Dei as mãos por muitas vezes e me perdi em paixões vulgares e românticas. Amei, fui amado mais vezes que isso. Envelheci, andei sozinho, esperei, chorei e mesmo assim, continuei.

Meu caráter, divergiu do coração, seguiu flexível e malicioso dentro de todo universo que caminhei, soube ter um bom coração, só não encontrei a rédea que doutrinasse meu espírito e caráter inquieto e mundano.

Minhas palavras são minhas e de mais ninguém, vivi os tais mil anos em dez, e aprendi que nada adianta tudo fazer se quando sobra os anos alem dos dez, você ainda esta ali, de mãos dadas ao vento e espírito soprando ao leste, sul, oeste e procurando qualquer norte.

Sou mais que qualquer texto que escreva, sou homem e mulher, sou demônio e anjo, sou água e fogo, e pior que tudo, eu sei disso.

Espero o sol de cada noite e a lua de cada dia, nunca vejo o que os olhos vêem, sempre sinto o que todo ser não vê. Testo a vida e todos quanto puder, me divirto assim, espero a alma completar seu ciclo, que volte e desfragmente meus mosaicos vividos em um só vitral novamente, todos textos e historias, tudo que não sou e o que fui, e o que ainda vou ser. Serei ainda muitos, em um só, como sempre, também, saberei disto.