Projetando-me nos demônios

Esta noite, ao dormir, uma milícia de anjos teve por bem visitar-me. Na qualidade de bom anfitrião, dei-lhes abrigo e recebi-lhes as novas. Mas... Ai! Era o batalhão de Satanás. Tarde demais. Já tinham guarida no meu peito imundo. Isso significa que meu próprio ser os precede, e não justamente o contrário, como querem alguns fazer crer.

A despeito de tudo, não é bom que eles inexistam e a extinção deles talvez coincida com a nossa. Porquanto são eles demônios, eu não. Amam a si antes que tudo, eu não. São bons para o fim de matar, eu não. E assim são eles: existem da maneira que – graças a Deus! – não existo; desejam como abomino o desejar; procedem tão proporcionalmente – e de modo idealizado – quanto me é vedado o proceder. E fazem jus ao evento que se lhes atribui como causa de estar entre nós: “caíram do céu”.