É assim que acaba...

Me é extremamente desagradável saber que cheguei ao fim da forma que eu menos queria: renegando tudo o que sinto – ou melhor, que acredito ter deixado de sentir. Bastou-me juntar todos os acontecimentos, acrescentar as dores e as peças que o destino pregou. O resultado foi o esperado por todos, menos por mim: nada deu certo.

Chorei, chorei muito, chorei o desnecessário, chorei por pena de mim, chorei por raiva de mim, chorei por desespero, chorei por chorar… Bastou? Nunca! Pensei, por um instante, que nem digna de pena eu era. Mas era óbvio que não era isso: agir feito uma criança e fazer pirraça não ia me ajudar a trazer o que eu tanto desejava de volta. Cheguei a essa conclusão quando a tristeza chegou sem as lágrimas ou quando as insisti em afastar sentindo uma cólera descomunal da pessoa que as causava. Podia até ser ingratidão, mas precisei botar na minha cabeça que sou uma grande garota – ou, quem sabe, uma grande mulher – e que não posso mais chorar, não importam as circunstâncias… Estou longe disso (admito), mas quero me tornar essa grande mulher! Quero para não ter mais de sofrer diante das constantes e necessárias pancadas surdas que a vida dá. Provavelmente, as que acho que já tive não são nada diante das várias outras que virão; é um fato. Só espero adquirir – seja por reza ou por experiência, não me importo mais com os meios – sabedoria e coragem para enfrentar os obstáculos, dores e canalhas que surgirão na minha frente às pencas, sem mais chorar uma única lágrima…

Me lavei de tudo, até da chateação e do rancor, em um único banho. Olhando debilmente para o teto (como se meu olhar pudesse atravessá-lo e ir além do céu para encontrar o de Deus), deixando a água pingar e escorrer rapidamente de meu corpo jovem, pouco curvilíneo e nu, murmurei para mim mesma tudo o que eu precisei lembrar: ele me deixou; eu tentei inúmeras vezes trazê-lo de volta e ele sempre me negou essa suposta felicidade; quando ele vinha de bom grado, era eu quem o repelia, sentindo raiva da sua interminável confusão mental. As conclusões as quais cheguei foram óbvias: por mais que ele me dissesse que terminou tudo ainda sentindo algo por mim, só podia ser mentira – por mais que ele tivesse dúvidas ou medos, ficar ao meu lado seria suficiente para saber se realmente sentia ou se estava mentindo até a si mesmo; as milhares de vezes que me humilhei por novas oportunidades foram sempre frustradas – apesar de muitas terem tido alguma reação positiva, no fim tudo caiu por terra; a única vez que ele veio por si só e tentou acertar as coisas foi a gota que transbordou a água do copo: depois de ter me pedido para ficar bem longe dele, era tão simples ele atravessar um curto caminho, sentar ao meu lado e sorrir? A confusão fora demais para mim e eu estava farta, porém arrependida do modo como demonstrei isso – pareci louca quando tentei consertar tudo, com raiva e chorando.

Agora me repito várias vezes a mesma idéia: o último beijo dele não é meu! Ele foi viver, está conhecendo outras mulheres bem mais experientes do que eu e está feliz com isso. Seria suficiente para eu me conformar… E é! Inclusive porque meu último beijo também não é mais dele – embora ele tenha sido roubado por um momento em que eu estava chorando justamente por ele. Não há mais nada que nos prenda, nem as lembranças de nossos risos, beijos e prazeres. Está tudo no passado, que não pode mais se repetir no presente nem num futuro próximo ou distante; o “nunca se sabe” não pode se encaixar nessa situação. Esfreguei e arranhei cada centímetro do meu corpo, todos, a fim de que a lembrança dele se arrastasse junto com a água e descesse pelo ralo. As lembranças, todas elas, vinham a minha mente com ricochetes, com pequenos feixes de luz, mostrando que deviam ser lembrados pela última vez! Meus olhos arderam e umedeceram, mas joguei água sobre eles e os impedi de chorarem. Continuei murmurando para mim, como se fossem feitiços que eu estava lançando sobre minha alma e meu coração, que nada daria mais certo entre nós, que a única opção restante é a do definitivo afastamento. Minha vida agora é minha, e a dele já não se cruza mais com ela. Não temos mais nada a ver um com o outro, e também não sentimos mais nada um pelo outro. É a constante indiferença, como se não tivéssemos sido namorados e que somos meros desconhecidos um para o outro, sem precisar que o destino se encarregue de nos apresentar de novo…

Destino… Foi o destino que nos separou e nos manterá separados! O destino soube, Ele soube: tínhamos de tentar para ver que não daria certo! Mas como alguém que simplesmente não acredita em Deus vai acreditar no Destino? E como alguém que duvida da existência de Deus pode ser amado por mim, Sua filha e seguidora? Foi meu destino conhecê-lo, amá-lo e perdê-lo, mediante a testar minha própria paciência e recorrer a ajuda de Deus. O que sofri foi para guardar para o futuro, e não para sentir raiva do Destino! Agora eu compreendo…

Talvez eu ainda precise de mais paciência, de mais tempo, de mais beijos e de mais corpos – quem sabe, até de mais falta de vergonha na cara – para perceber que o que aconteceu foi fruto do que estava planejado. Deus tem um novo plano para mim, que não é me dedicar a lutar pelo que nossas próprias crenças e orgulhos insistem em separar. Tenho tempo de sobra para perceber que um futuro – talvez promissor – me aguarda, com novos caminhos, novos sorrisos, novos amigos e até um novo amor, que pode demorar o tempo que for, mas que será suficiente para que eu agradeça.

Como estou? Estou triste; pra falar a verdade, eu queria que tudo fosse diferente. Eu queria ter resolvido, queria ter sorrido, queria ter beijado e ouvido mais uma declaração. Não foi o que aconteceu e sigo em frente… Sinto falta daquele corpo, mas torço para que seja apenas isso! O que encontrei nele posso encontrar em outro homem (inclusive, posso não encontrar o que encontrei de ruim nele), basta-me fazer as coisas direito… As cartas serão queimadas, as fotos apagadas, as lembranças deixadas para trás e, de preferência, esquecidas. Não quero mais pensar se estou fazendo certo ou errado, que estou sendo drástica, que estou sendo tola ou que estou sendo racional. Estou apenas querendo voltar a ser eu para que outras coisas venham… Porque sei que elas virão…

Porque minha vida ainda continua…

E porque (espero!) meus sentimentos e lembranças foram levados pelo ralo…

Luiza Araújo
Enviado por Luiza Araújo em 21/08/2008
Código do texto: T1139238
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