As mãos dos poetas

As mãos dos poetas devem ser lisas,

macias

O poeta não segura o lápis

O acaricia

As mãos dos poetas repousam tranqüilas

sobre a escrivaninha

Às vezes movendo de leve por causa da

brisa.

As mãos dos poetas não são como as

... minhas.

Grossas, calosas, de unhas compridas

Uma cicatriz, um queimado recente

Irregulares linhas

Mãos que trabalham tanto

Nesse vai e vem de vida

Talvez eu não seja

... poetisa.

Que vergonha!

Com cujas mãos, quem sequer

escreveria?

Mãos trêmulas, suadas,

frias.

Tento fazê-las bonitas

Compro um caderno pautado

Uma caneta de ponta fina

Mas nada vem, tudo fica

Bem parado, dentre os dedos

Calado por dentro

Estancado no osso

sedento...

(Obrigada, Altino)