Abraço do vento

O relento molhou meu corpo com o orvalho da noite sangrado da terra e consagrado em direção ao céu, não retruquei esse instante e nem fugiu do momento esperei o ultimo pingo cair na minha face para ver se meu cansaço ia embora, lá fora meu ser parece inabalável, outrora, na condição interna, vive um ser frágil e intolerante, mas, depois de certo tempo percebi que esse resultado era causado pelo medo, pela dor, pela solidão e o que poderia fazer para que minha vida alertasse meu desejo de viver e minha intenção pedisse perdão ao meu jeito de ser.

Ao meditar percebi o que poderia fazer, ia me livrar do intimo condenado, o eu que só queria flagelar o corpo e a mente, diante da situação não fugi mais, esperei os abalos, refrigerei os laços e cutuquei o destino para ver se lá no fim existia algum hino celebrando minha vida. Corri para não deixar a seiva pegar, mas, quando fui tocado pelo odor da rosa, não uma rosa comum, apenas um girassol, uma flor de aspecto avermelhado com lisas pétalas sombreando seu talo de amor.

O primeiro instante que a flor bela me tocou, abracei o vento e deixei o meu alento me carregar para onde meu coração guiasse. Sequei meu corpo, molhei minha mente com o acumulo da vontade, molhei minha semente com a escassez assolada esperando que um fio de novidade reagisse diante do solo tão petrificado, não pela vontade da natureza, apenas pelo ambiente que cerca o terreno, então cobriram o céu, esticaram minha vida e minha intimidade aflorou no talo da flor.

O suor que vai sair dos meus poros alimentará de sais a sua vida, que vida, sofrida por seu fio, no começo do broto, descascou a barreira que se fez na vontade de viver e viveu e vive, sonha, pensa e brinca. Soletra o suave vôo das borboletas apaziguando a vida que sua flor cativou, ajudou, melhorou e dissolveu o perigo no destino sem prisão. De repente chega o beija flor, o mediador, com suas batidas de assas intocáveis, toca com a língua no cálice da rosa e nela suga o doce que transforma a vida desse simples pássaro, no entanto, fica marcado no rastro da vontade todo sereno que a língua do beija flor deixa no suor da saliva que sai e mistura ao néctar um essencial sabor para a flor e a sensibilidade une dois seres diferentes e ao mesmo tempo viventes no gosto em comum.

ZUKER
Enviado por ZUKER em 26/08/2008
Reeditado em 26/08/2008
Código do texto: T1147655
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