LEIA: SERES IMPOSSÍVEIS DE AMAR

É impressionante como algumas pessoas optam por manter-se rasteiramente no nível mais baixo das possibilidades humanas. Não me refiro ao nível de conhecimento catedrático, mas à livre escolha do teor com que se denota enquanto Ser Humano.

Todos sabemos! Há pessoas simples, sem quase nenhuma instrução, que nos dão inexcedíveis exemplos de elevação da alma, vivendo sob a iluminação que o Cristo certamente desejaria divisar em todos. Não são tão poucos, já que mal ou bem todos ouvimos falar dessas almas de luz. Existem também pessoas de grande conhecimento e sabedoria, vivendo iluminados ao mesmo tempo em que conquistaram muito estudo. Esses, bem, esses não são numerosos. Infelizmente são raramente encontrados.

A grande massa humana é composta por seres assim como nós mesmos. Ainda bastante ignorantes, tanto quanto claudicantes na senda da elevação da alma. Mas com boa fé, boa intenção, força de vontade, dedicação, resignação, enfim, com os requisitos mínimos que Deus exige de seus réprobos em trabalho de recuperação na Escola da Vida.

Por isso é que eu me assusto, e muito, quando vejo pessoas que, tanto quanto os demais de nossa classe, estão na recondução de si mesmos, mas escolhem livremente a falsidade, a hipocrisia, a mentira, a dissimulação, ao invés do esforço devido na ascensão necessária. Sei de uma pessoa assim que adotou várias passagens bíblicas, que traz decoradas, jactando-se de enxergar nos seus desejos vis e maldosos a expressão elevada de uma verdade que Deus, creio eu, cunhou apenas para que ela pudesse ali pronunciar o sofisma pútrido de uma blasfêmia. Sei de alguém que citou, palavra por palavra, um trecho da Bíblia para fundamentar, em mal contido prazer, a morte de um desafeto... Disse-o ali, diante de mim, com um pequeno sorriso, assim como se apenas ela tivesse o dom de saber que Deus apenas pôs as coisas nos devidos lugares, um Deus, assim, que não hesitou em destruir emocionalmente toda uma família para que o castigo viesse firme e forte contra quem, afinal, não merecia outra coisa. Esse mesmo ser, sempre que tem a oportunidade, tenta atirar querosene nas mínimas fagulhas, semeando conselhos destruidores, cultivando o avesso da indulgência sob a certeza de estar apenas aplicando mais um daqueles trechos bíblicos que, deserdados do contexto, cultivam a insanidade de sua concepção satânica. Essa mesma pessoa, cuja face retrata a impossibilidade de harmonizarem-se as formas de uma essência dissonante, tem no olhar o veneno com que a herança trevosa teima em se denunciar.

O maior dos males de uma pessoa assim é espargir o tom desarmônico de sua alma por todos os que lhe suportam a convivência. Ela faz com que o tempo edifique ódio no coração dos que a cercam. Sim, ódio, ódio mesmo, ainda que travestido eventualmente de resignação ou silêncio, roupagens nobres com que os verdadeiramente nobres conseguem atenuar a própria ira.

O amor cristão aos inimigos é plenamente possível e fácil.

Impossível é amar víboras dissimuladas e venenosas como essas pessoas, falsas amigas, que não perdem a oportunidade de nos inocular veneno até a morte. Aleivosia... a traição sob falsa mostrança de amizade.