Mike, a Amazônia, O circo, o batom e Eu.
Até que enfim encontro um espaço para retratar o que se afoga no lago do peito.
Levanto bem cedo e me pego a pensar em coisas importantes como a segunda vinda de Cristo, a devastação da Amazônia, a educação da minha filha...a prestação do carro que vai vencer.
Olho em volta e vejo uma casa vazia, o cinzeiro sujo e alguns copos na pia.
Noite fria foi ontem! penso comigo pois não há ninguém aqui para falar sobre o tempo.
Escovando os dentes me preocupo em deixar a torneira fechada (a água do planeta vai acabar um dia) e vindo para a cozinha ouço latir o cãozinho que fica preso no corredor.
_ Pobre cachorro! eu sei, Mike, como é dura a solidão.
Num lampejo de identificação abro a porta e vou renovar-lhe a água e a comida.
É...penso eu, será que minha vida tem ido muito além disso? ás vezes me sinto como ele (guardadas as devidas proporções). Fico presa em meu destino do "ganha-paga" , essa roda viva sem vida, essa mesmice piegas. Nãooooo! Eu não quero isso para mim.
Ontem fui ao circo e acho que esse texto deve ser efeito colateral. Sempre que vejo alguma manifestação artística minhas veias começam a se apertar.
Aqueles corpos coloridos que se contorcem, voam e expõem toda loucura que habita no inconsciente. Fico tentando imaginar o dia-a-dia, a rotina desses artistas. (na verdade é um circo bem vagabundinho, talvez eles nem se considerem artistas) mas todo aquele público está ali para vê-los.
O café está pronto, minha estrelinha dorme plácida na cama quente e nem imagina o tamanho que tem o mundo. Será que um dia ela será assim profusa como eu? No íntimo fico a desejar que sim, mas que REALIZE. Sei que são as expectativas da minha própria vida, porém sonho que a herdeira dos meus genes possa ir á Europa, descubra segredos e viva grandes paixões. Desejo que ela não precise passar por tantas dores quanto passei.
Sabe, é o desconexo que me incomoda e encanta. Afinal para quem escrevo e o que espero quando publico aqui? Eu não escrevo só para mim, senão fazia no caderno e guardava (ou rasgava, como tantos já rasguei). Acho que faço isso numa esperança desvairada de posteridade, tentando guardar nalgum lugar distante de mim aquilo que fui e que flui tão sincero.
Ninguém quer viver para ser esquecido, principalmente em vida, até porque após o túmulo é previsível que isso ocorra.
Daqui a pouco saio para trabalhar e as questões que me incomodavam há meia hora serão apagadas da memória imediata. E os problemas continuarão dando crias pela casa.
O cachorro precisará voltar para seu corredorzinho, (sorry Mike) eu vou passar um batom e pensar que tudo passa.
Mas não é verdade.