FELICIDADE NÃO SE PLANEJA

Felicidade não se planeja

Nem se enseja ou se aguarda

Não se é feliz por decreto

Por méritos ou créditos bancários

Não há felicidade na espera

Às vezes a encontramos no ócio

No mais puro vazio, no cio

A felicidade também não é absoluta

Não é condão da madame ou da puta

Pode perdurar por meses ou esvair-se em segundos

Não é privilégio dos ricos

Não habita só os palácios

Posto que se é feliz sem ter posses

Por menos tempo, é verdade

Mas é possível

Afirmam alguns infelizes

Não é feliz o impassível

O indiferente à dor, às alegrias ou aos desgostos

Porque também será indiferente à felicidade

Acham-se felizes os beatos

Mas seu gozo é apenas espiritual

Alguns se fartam e acham bastante

Não me incluo entre estes

Pois preciso apalpar, sentir a pele eriçada

São felizes os messias, pois crêem cegamente

Suas ovelhas nem tanto posto que são subjugadas

A felicidade pode estar na morte

Quando se encara uma existência de mazelas

Pode caber na palma da mão

Ou estar difusa nas partículas do ar que respiramos

Há felicidade no grito e também no murmúrio

No ardor do golpe de um punhal

E na curvatura do ramo de trigo