A antiga saudade de devagar

Hoje eu não recebi. Não recebi nada! Hoje eu não recebi nada que venha de você. Um telefonema, uma mensagem, um oi, um adeus, nem mesmo eu vai pro inferno seu grande verme. Nem isso eu recebi.

Á quanto tempo não recebo uma visita? Digo uma visita sua. Talvez eu tenha mais culpa nisso, afinal eu acabei deixando o pacto, de ser sempre eu quem faz a visita, quem procura, quem se aproveita da boa vontade, ou da covardia, dos obsoletos senhores da bondade relativa. E eu inclusive me esqueci de quando esse pacto foi firmado.

Mais acredito que, ainda haverão muitas ligações, mais digo não pela fé que tenho na humanidade, afinal essa eu não tenho, e cada vez, tenho menos, não pelas desilusões, mas sim por cada dia conhecer um pouco dela, digo que aquelas ainda existirão porque tenho a certeza de que ainda existem muitas cobranças a serem feitas.

Eu não tenho disposição para nenhuma, apesar de ter imensa vontade, porque me falta a humanidade suficiente para atitudes asas desumanas, como tal. Mais hoje eu sou um condutor amparado pela lei. Quem sabe uma carona? Uma xícara de açúcar? Um bolo é sempre bom. Mais ainda existirão bolos? Sim, a vida continua e os bolos fazem parte, com todos os seus ingredientes, dos saudáveis aos nefastos, dos coloridos aos cinzentos.

Sempre fui meio avesso a paladares sortidos, mais a cada dia me desse mais fácil os sapos no meio do bolo, até mesmo os que se debatem sem a menos chance de escapar, coitados, seres inajuízados invariavelmente.

O, incomodo amargo e o intolerável aperto cardíaco, aos poucos vão partindo e seus cirúrgicos golpes de espada letal, cada dia mata menos de mim. Espero que um dia ele sessem, sei que sessarão, só não sei se por razão de sua ausência de força ou por causa da falta de alvo.

Não escrevo pra ferir ninguém, mesmo porque sou perito nessa arte, não tenho prazer nisso, e tão pouco sou vingativo ou precise me fazer notar, porque sempre amei o anonimato, e sempre me destaquei por isso. Escrevo porque as linhas me chamam e a inspiração me acorda aos gritos. E também que até mesmo um sapo que tenho passado 10 anos por perto sabe que o meu silêncio é o pior que se pode esperar de mim. Hoje eu calei por uns instantes o meu silêncio, mais ele continua falar.