Não gosto de ler
“Tu conheces, leitor, o monstro delicado.
– Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão”
(BAUDELAIRE, 1857. As flores do mal – ‘Ao
leitor’. In Poesia e prosa. Trad. I.
Junqueira & outros. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1995, p. 104).
Não gosto de ler palavra
Uma idéia há que existir.
Não gosto de ler oração
Uma crença deve exprimir.
Não gosto de ler frase
E, sim, a colcha conceitual.
Não gosto de ler parágrafo
Mas tear em ato no cipoal.
Não gosto de ler poesia
Prefiro sorver o vidario.
Não gosto de ler romance
Mas seres quais desvario.
Nenhum livro vale algo
Se o existir não o aniquila.
Gosto transgressivo o meu
Transgride qual uma sina.