POBRES EM ESPÍRITO

Bem-aventurados os pobres em espírito! De fato, quem possui e não é possuído tem a dádiva maior de possuir legitimamente, seja qual for a fortuna que venha a ter. O grande problema do apego material é o fascínio causado pelos prazeres do terra-a-terra. A riqueza material comumente exerce sobre as pessoas a sedução do prazer carnal, ainda que de desafogo sexual não se cuide. Os pobres em espírito não se sentem presos por suas posses e lançam mão dos recursos abastados para as mais variadas realizações. Movimentam dinheiro e meios para finalidades úteis, práticas, que beneficiam os semelhantes em geral. À semelhança de um corpo saudável, mantêm a circulação da riqueza como o sangue que flui para alimentar todo o sistema. Não têm medo de perder, porque, se perderem, terá sido apenas dinheiro e não a oportunidade de fazer algo edificante e solidário. Têm a responsabilidade de manter a saúde do sistema, sendo diligentes com as finanças, mas não para o contínuo crescimento da riqueza, senão para que possam continuar alimentando o próprio sistema que, se crescer, crescerá como um todo e não apenas em cofres bem guardados.

Os pobres em espírito são também aqueles que, não tendo riqueza material, mantêm-se libertos da soberba e do risco de falência com o dever de desprendimento. Se não podem liderar obras de realização coletiva, sabem-se cativos do cuidadoso carinho da Providência Divina que os mantém longe da reincidência no erro crasso da egolatria sensorial.

Tanto o rico como o miserável, desde que pobres em espírito, são felizes por não estarem algemados ao ouro. Mas assim é somente se forem pobres em espírito. Caso contrário, arderão toda uma existência.

O rico malversará seu tesouro com o custo de inumeráveis prazeres supérfluos, desperdiçando preciosas oportunidades de distribuir realização aos seus semelhantes. Ou então apegar-se-á, enlouquecido, ao ouro apenas por ser ouro. Acumulará cada vez mais, obstruindo a circulação da riqueza até que tudo o mais pereça. Será uma artéria obstruída, causando a morte do órgão que deveria alimentar. Por outro lado, o miserável embriagar-se-á em egoística revolta, julgando-se legitimado às ações ilícitas para garantir-se no pretenso direito de conquistar o que a vida não lhe deu.

Por isso tudo, ser pobre em espírito é a postura cristã que todos os homens de boa vontade devem cultivar diante dos imperativos materiais da vida.

Marco Aurélio Leite da Silva
Enviado por Marco Aurélio Leite da Silva em 11/01/2009
Código do texto: T1379872
Classificação de conteúdo: seguro