Pensamentos de um Vampiro Insone

Segunda-feira, dia 20 de Outubro:

Embora as noites modernas tenham mais vida (e vítimas), eu gostava das noites antigas, pois suas densas trevas encerravam mais mistério, e com mais mistério, mais terror e, por serem mais terríveis, os humanos te respeitavam mais.

Atualmente o mito do vampiro é desprezado por qualquer pessoa com um pouco mais de estudo, os normais, a civilização, ou pelo menos, deveria ser.

Existem ainda muitos mortais que buscam nas trevas os chamados "vampiros reais", vampiros psíquicos, vampiros energéticos, vampiros viróticos, vampiros ritualísticos e outros tipos de vampiros. Todavia o vampiro mítico não passa na mente e nos corações dos mortais como nada, além disso, um mito.

Eles nos ignoram, pois o mundo está na sua mente. Como eles não aceitam a nossa existência, para eles nós não existimos. Se alguém pudesse provar que existimos, passaríamos a existir, como num passe de mágica, mas ninguém pode nos provar reais, visto que precisamos existir no mundo das idéias plausíveis antes de nos materializarmos no mundo "real". Assim é o humano, ele não busca evidencias a respeito de algo que, em sua mente, ele pensa não existir, exceto para prova-lo irreal. E acreditando-o irreal nega toda eventual prova da existência do seu objeto de repúdio, ainda que a tal prova seja material, evidente e "inquestionável" (visto que o ser questionável ou inquestionável está necessariamente no plano abstrato e não no real).

A maior parte de nós não se envolve com eles mais do que o estritamente necessário, eis porque nunca se interessaram em provar-nos verdadeiros.

Houve um tempo, nas noites antigas, em que existíamos para alguns deles. Hoje, porém, nem nós existimos, nem os que criam na nossa existência são dignos de algum crédito. Isso não se deveu a nós, mas ao próprio humano, pois aquilo que era conveniente em uma dada época acreditar, deixou de sê-lo e, portanto, foi desacreditado.

O homem é o único animal que pensa e, pensando, é o único que depende do pensamento para trazer a existência coisas facilmente experimentáveis. Por exemplo, não preciso idealizar para comprovar a existência de um tijolo, basta que o toque e que o veja, pois eu não necessito ter nenhuma idéia prévia a esse respeito. O humano, porém, precisa de uma idéia a respeito do tijolo, precisa de um motivo para que ele exista, precisa compor uma possível estrutura, um organograma talvez, precisa encaixar o tijolo no universo, precisa que o tijolo seja coerente com esse universo e precisa ser conveniente que ele exista para que o tijolo, de fato, venha a existir. O tijolo não pode simplesmente ter matéria e ocupar um lugar no espaço, ele precisa fazer sentido para existir, e precisa fazer sentido segundo a idéia que se formou a respeito dele, a pressuposição que existia antes do tijolo e a respeito do tijolo, pois do contrário, o tijolo não existe, embora eu possa toca-lo e vê-lo.

Nós somos assim para o homem. Não existimos porque não fazemos sentido segundo os seus padrões. E embora ele possa nos tocar (e, mais importante, nós possamos toca-lo) ele não admite a nossa existência, portanto, não existimos.

Terça-feira, 21 de Outubro:

Não há nada de novo debaixo da lua, embora a engenhosidade humana lhe tenha dado conforto (e nada mais do que conforto), não há novidades no humano. As modas passam, um estilo deixa de ser bem quisto enquanto outros retornam, mas o humano continua sendo apenas "humano". Eles continuam apegados às suas idéias de superioridade racial, acham que obtiveram a "resposta suprema" (eis outra razão para não existirmos. Somos superiores a eles, mas eles têm a idéia fixa da própria superioridade, portanto não podemos existir, pois nada pode ser superior ao homem), ante a qual todas as perguntas ou são respondidas, ou são ignoradas.

A nossa verdade por outro lado é de fácil comprovação, é obvia e pode ser experimentada por qualquer um de nossa raça. Nossa verdade não nos liberta, antes nos aprisiona. Nossa verdade não é uma abstração transitória, mas é concreta e eterna. Nossa verdade é demonstrada mediante a experimentação, não mediante a argumentação. A nossa verdade, nossa verdade soberana é o Sangue. Imediatamente acessível a qualquer um de nós, os únicos cujo paladar pode realmente apreciar (qualquer humano pode provar o sangue, mas só o vampiro pode se tornar eterno com ele) e inevitavelmente inacessível a todos os outros.

Somos os predadores dos homens, temos uma mentalidade predatória e, enquanto o homem deixou seus instintos de caçador chafurdarem na lama do sedentarismo inútil, nós a desenvolvemos, a refinamos, evoluímos segundo nosso instinto mais primordial. Toda criatura (não gosto dessa palavra, pois supõe um Criador) existe com instintos e sobrevive por causa deles. Os instintos são parte necessária, obrigatória, vital (que é de suma importância para a manutenção da vida), de capital, de preponderante importância para a continuidade da existência. Negar esses instintos é desejar a anulação da existência, é desejar a destruição, é cortejar a obliteração. E o ser humano o fez, assim o desejou, ele quer ser destruído, mas nós o salvamos desse instinto suicida, o preservamos para nosso deleite e sobrevivência, porquanto dele subsistimos. Nós, porém não negamos nossos instintos, somos altamente instintivos, altamente intuitivos e altamente conectados ao meio, à carne, ao mundo.

Nosso mundo não foi criado dentro dos nossos crânios, não nos escondemos por trás de idéias como faz o humano, nós abrimos as "portas da nossa alma", os sentidos e absorvemos as informações sensoriais. Nós não as deturpamos segundo nossas proposições dogmáticas, porque não precisamos adequar para experimentar, tal qual o humano. Nós "somos", muito mais do que "sabemos", ou "entendemos", ou "fazemos". O humano tira conclusões a partir de uma abstração, ou pressuposto dogmático, nós experimentamos e depois abstraímos. Não precisamos faze-lo, pois o humano o faz.

Somos altamente parasitários e o nosso hospedeiro é o humano, assim como o planeta é hospedeiro de todas as criaturas e, principalmente, do humano que a destrói para seu próprio conforto, muito mais do que para sua sobrevivência. O humano acha o ser parasitário desprovido de valor (como se os parasitas ligassem para a moral humana), embora o próprio humano seja parasita de si mesmo e, ao final, parasita do planeta. Somos altamente ligados ao humano, fazemos nossa ninhada no cerne da carne humana, infiltramos nossos "ovos" no meio da sociedade humana, nascemos "humanos", evoluímos e nos tornamos vampiros (há um erro de interpretação nessa frase, pois supõe que todo humano possa se tornar um vampiro com sua evolução, mas não ocorre assim. O hospedeiro não se torna o parasita, o cão não se torna a pulga, o macaco não se torna o verme que há dentro dele, nem o humano pode se tornar o vampiro que habita no seu meio).

Quarta-feira, 22 de Outubro:

Por que o humano deseja destruir-se?

Por culpa, creio eu, porque seu sistema de valores não suporta sua própria natureza, porque se ilude. Eis o porquê.

O humano baseia a realidade em idéias (por vezes errôneas) de como as coisas funcionam. O conceito mais destrutivo que o humano engendrou e a causa principal da sua queda foi o conceito de bondade.

O que é bondade senão algo que se estimula sem que haja, para termos de realidade, nenhuma utilidade prática? Diz-se que a sociedade implodiria caso fosse excluída de seus termos a bondade, a moral, a ética, visto que de tais coisas a sociedade se baseia para existir.

Em um primeiro momento cria-se em um Deus bom e numa natureza que refletia sua perfeição e bondade. A natureza mostrou-se, porém, incompatível ao conceito. Os animais matavam-se, contendiam, às vezes sem motivo, praticavam atos de aparente crueldade e nem sempre em prol da própria sobrevivência, havia homossexualismo, canibalismo e todo tipo de malignidade. Enquanto a Igreja determinava o conceito de realidade nada se notou, mas advindo a Ciência, pode-se percebe-lo. Havia a necessidade de mudar alguns conceitos para que a realidade se adequasse à idéia de bondade. Falou-se então que o homem, superior como era aos animais, não deveria descer ao caldo primordial, à natureza selvagem e instintiva, mas deveria portar-se como a criatura cordata, evoluída que era.

Da bondade adveio a culpa. Sim, pois o humano não estava à altura do seu próprio conceito de bondade, portanto era o homem mau. Daí a culpa. Com a culpa veio a necessidade de punição. Da necessidade de punição, a autodestruição. Eis de onde vem o instinto suicida do humano.

Pode-se objetar que esse seja um mal exclusivo do sistema religioso judaico-cristão, mas não é. Em qualquer cultura, busca-se o bem e busca-se a destruição do mal, ou antes, sua rejeição, já que o mal é eterno, como o bem o é de igual modo. Pode-se chamar evolução, carma, reciprocidade, transcendência, mas lá está os conceitos de bondade e maldade. Ora antagônicos, ora complementares, mas ainda assim existentes.

Eis que bem e mal são conceitos abstratos, puramente ideológicos e existentes somente na mente humana assim como o são os conceitos de Céu, Inferno, Reino de Deus, Nirvana, Iluminação, Carma, etc.

Não digo isso por causa da falta de matéria (que existe e ocupa lugar no espaço), ou do conceito de matéria (que por si só também não existe, mas é uma abstração), porque muitas coisas que existem não possuem matéria. Mas o bem não existe, é uma tradição. Enquanto tradição poderia ser respeitável se não fosse nocivo ao próprio homem, se não o destruísse.

O mal advém do bem, é o seu oposto, mas ele não existe senão em função do outro. O bem não existe em função do mal, mas o mal em função do bem. Portanto não é o mal que se deve combater, mas o bem.

Para salvar-se deve o homem combater a virtude.

Como se combate a virtude senão com a corrupção?

Portanto, o homem torna-se mais corrupto a medida em que evolui, em que se liberta dos preconceitos.

Infelizmente o planeta não sobreviveria à libertação do homem.

Portanto, é necessário e conveniente para nós que o homem não se liberte do bem, nem mesmo deseje faze-lo. Porém não se pode combater um organismo que deseja continuar existindo mesmo que a mente que nele há deseje destruí-lo. Além do que, toda essa disputa despeja no sangue do humano mais sabor, o que é bom, para nós.

Quinta-feira, 23 de Outubro:

Por que digo que a virtude é, com efeito, combatida pela corrupção?

Não o digo por ser a verdade absoluta, mas por causa do meu conhecimento prévio (não pré-suposto, mas experimentado) acerca da natureza humana. Não digo também que a virtude deve ser combatida pela corrupção, nem que ela deve ser combatida, mas voltarei nisso mais tarde.

Diz-se (e isso é uma Lei da Física) que toda ação gera uma reação de igual intensidade, mas de sentido oposto.

Ora, a tirania da Virtude só pode gerar (como reação, contrária e de igual intensidade) a Corrupção, pois esta é a reação mais efetiva daquela. Cria-se então a tirania da Corrupção que é tão destrutiva (mas não mais destrutiva) do que a tirania da Virtude.

Para o humano, em geral, existem somente duas direções: cima e baixo, direita e esquerda. Não se concebe, em geral, as diagonais.

Consegue-se imaginar o preto e o branco. Alguns, mais perceptivos, imaginam o cinza. Quase ninguém consegue ver as cores.

Por que digo que não se deve combater a Virtude, visto que ela causa tanta destruição na vida do homem?

Não se deve combate-la, pois não é a Virtude em si, nem a Bondade em si que causa a ruína do homem, mas o conceito absolutista de Virtude e o conceito absolutista de Bondade.

Ora, o conceito de Bem Absoluto é Deus.

Deve-se combater Deus?

Vamos admitir, para termos de discussão, que as Sagradas Escrituras da religião judaico-cristã estejam absolutamente certas (o que não é, para todos os propósitos práticos, uma verdade), que tudo quanto está escrito é correto absolutamente e que nela não haja contradições (não julgo o mérito, há quem diga que elas existem. Toda tradução perde um pouco do seu sentido original, todo tradutor sabe disso). Vamos admitir que Deus criou Adão.

Como Deus criou Adão?

Deus criou Adão segundo a sua imagem e conforme a sua semelhança (vide Gênesis).

Deus não tem um corpo físico: não tem mãos, nem pernas, nem cabeça, ou olhos. Portanto, não criou Adão semelhante a si mesmo no sentido físico.

Deus é espírito (vide evangelhos), portanto Deus criou em Adão um espírito semelhante a si e lhe deu um corpo físico.

Semelhante não é igual. Por isso Adão não era igual a Deus: não era onipotente, não era onisciente, não era onipresente, não era presciente.

Devo entrar em uma questão puramente teológica aqui. Existem duas correntes de pensamento, pelo menos, no que diz respeito às questões espirituais. Em uma acredita-se que o espírito e a alma sejam uma coisa só e na outra se acredita que o espírito é uma coisa e a alma é outra. Existe a idéia de que o espírito tem consciência. E existe a idéia de que o espírito é simplesmente a energia vital que mantém o humano vivo.

Vamos usar o seguinte conceito em nossa pequena experimentação: Deus criou uma mente no homem, um sistema de pensamento que é semelhante ao sistema inerente ao próprio Deus.

Deus não admite a existência de ninguém superior a si.

O homem também não admite ninguém superior a si.

Isso pode ser chamado de rebeldia, ou coerência?

Eu já, no passado, debati longamente essa questão com um sem-número de mortais, quase todos retrucavam da mesma forma: "Mas o homem não é o ser supremo, portanto deveria ser submisso a Deus".

Ora, se crio em alguém uma mente segundo a semelhança e imagem da minha própria. E eu não admito receber ordens. Como esse alguém poderia ter uma mente a tal ponto diferente da minha e admitir o que eu não admito?

O que é mais antinatural, segundo esse ponto de vista, do que a servidão?

Deus é bom?

As Sagradas Escrituras judaico-cristãs dizem que sim.

Ele é bom para todas as criaturas em todo o tempo?

Ele pode ser bom para o tigre lhe dando alimento, mas não parece ser bom para a corsa que serve de alimento para o tigre.

Ele pode ser bom para os israelitas ao lhes dar a Terra Prometida, mas não parecia ser bom para os povos que lá foram dizimados pelo "povo de Deus".

Se admitirmos que Deus não é bom para todos o tempo todo e admitirmos que o homem foi feito segundo a imagem e semelhança de Deus. Deve o homem ser bom para todos o tempo todo?

Isso segundo o pensamento de orientação religiosa judaico-cristã.

Sejamos mais humanistas, neguemos tanto a existência de Deus, quanto a hipótese da Divina Criação, bem como da Divina Intervenção e, com esta linha de pensamento analisemos o conceito de bondade.

Por que o homem necessita ser bom?

Para viver em sociedade, mas para se viver em sociedade é preciso também, conforme nos pode mostrar qualquer sociólogo, uniformidade. A uniformidade é conseguida através do controle. Controle demanda sofrimento. Uniformidade demanda perda de identidade individual e ganho de identidade social. Sociedade demanda Servidão Voluntária.

Existe um problema básico, fundamental com a homogeneidade que todas as sociedades procuram incutir no humano: Nenhum humano é igual.

Por mais que se queira catalogar o humano em castas, em cores, em sistemas e orientações religiosas, enfim, em estereótipos, o humano demonstra sua diversidade, destruindo qualquer pretensão social.

Cada humano é único, tem características que o tornam único, não aceita ser uniformizado, rebela-se contra qualquer sistema político, ou social, ou religioso que pretenda arrancar-lhe a individualidade e isso é inerente à própria natureza humana.

O conceito de bondade como parâmetro absoluto é um instrumento de controle social. E é um instrumento não só ilusório (que tem como base a manipulação), mas também ineficiente.

O conceito de bondade determina a preservação ou a destruição dos homens. Se for mau, logo deve ser destruído, se for bom, pode ser preservado.

Quando se julga um homem como sendo mau, automaticamente ele deixa de merecer a preservação. Assim não se preserva a aptidão à sobrevivência, como se faz naturalmente, mas a virtude: a bondade. Mas o que é bom hoje pode não sê-lo amanhã e vice-versa. A lei julga o comportamento, mas a consciência julga o individuo. Comportamentos destrutivos podem ser corrigidos, mas indivíduos "maus" devem ser castigados. O castigo, diferente da correção, não existe para endireitar, mas tão somente para punir, para destruir o mal.

O "mal" e o "agente do mal" devem ser destruídos.

Esse conceito simplista e absolutista gera uma justificativa cômoda para praticamente qualquer coisa que se deseje fazer.

A devastação de paises "maus", o estupro de suas mulheres, a destruição de suas casas é plenamente justificado pela "destruição do mal".

Tem-se, por exemplo, o conceito de que bondade é a virtude suprema que obscurece todas as outras virtudes. Que um homem seja burro, isso se aceita se o mesmo for "bom", que ele seja insensato, ou totalmente incapaz de administrar, tudo se perdoa se o mesmo tiver um "coração bom". Em contrapartida, ao homem "mau" não existe perdão.

Adolf Hitler fez pela Alemanha coisas muito mais construtivas do que a maioria das pessoas do mundo está disposta a admitir. E por quê? Porque ele era "mau". Sendo "mau" não lhe era possível fazer mais nada senão "maldade", ou ainda, não se admite que ele possa ter feito outra coisa ou tomado outro rumo.

Matar um homem "mau" não se trata de maldade, mas de "justiça", tortura-lo é chamado de "castigo", despoja-lo de sua dignidade trata-se por "retribuição" e ao torturador chama-se "herói".

A base da guerra é o engano e destruição, mas enganar o homem "mau" é uma virtude, e o destruir o "mal" é uma obrigação de todo homem "bom". Se for teu vizinho engana-o, denuncia-o; se confiar em ti e tu o traíres serás exaltado como um homem de muitas "virtudes". Se, todavia, fores tomado por "mau" acautela-te, pois te darão tua carne aos cães para seres devorado vivo em nome da "bondade".

Disso tudo se constitui a Tirania do Bem, que é preconcebida, inflexível, intolerante, totalitária, mesquinha, altamente egoísta e traidora, mas é boa.

Sexta-feira, 24 de Outubro:

Parece-me que cada vez que escrevo algo nego o que escrevera anteriormente, como se um pensamento fosse em mim uma entidade separada e em guerra contra seus antecessores. Algumas idéias, de fato, somente se cristalizam alguns parágrafos depois de escritas pela primeira vez. Todavia, não as apago, pois desejo manter as portas abertas atrás de mim.

A idéia de individualidade está em oposição à da complementaridade. Se alguém deseja afirmar sua singularidade deve negar a nação, o conjunto, a religião, o Estado e tudo o mais que lhe negue essa mesma individualidade.

Se dissermos que cada homem é único, logo não podemos dizer que são todos iguais. Se não são iguais, então devem negar-se para viver em sociedade.

Ora, a unanimidade nada mais é do que a negação dos anseios e idéias particulares em virtude de um anseio e idéia comuns a todos os envolvidos, ou seja, é a negação de todos as pessoas envolvidas como indivíduos. O humano gosta de usar a expressão "maior", como em "propósito maior", ou "bem maior", porque não deseja negar a si mesmo em favor de algo indigno.

Se a Lei não for comum a todos, ou se alguém afirma sua individualidade negando a Lei (sabendo que a afirmação primeira de individualidade é a negação), logo esse tal deve ser expurgado da sociedade. O tal libertou-se da sociedade, negando-lhe a Lei. Logo, a Lei não se aplica sobre ele, nem o protege. Essa negação não vem senão da mente, mas torna-se evidente através de palavras e atos.

Logo o humano não pode ser ao mesmo tempo sociedade e indivíduo, pois para viver em sociedade deve negar-se a si próprio.

A concordância e a vida em sociedade deixa o homem profundamente frustrado. Eis o porquê: O homem sente a necessidade de alianças, até mesmo por causa da sua necessidade natural de expressar-se (como se expressar uma vez que não há quem ouça? Porém, de que adianta ouvirem se não há quem entenda?), todavia não deseja abrir mão de si mesmo para ter aliança com outrem. Tal é o dilema do humano e por causa desse dilema ele sofre.

O vampiro, porém, não admite par. Sabemos que cada um de nós é totalmente alienígena um ao outro. Não abrimos mão de nós mesmos, nem desejamos nos ajustar a uma sociedade, porque sabemos não haver benefício que compense o sacrifício de assim procedermos.

O vampiro não é somente um predador extra-espécie, mas também intra-espécie. Ele é um canibal. Falarei sobre isso mais tarde.

Há quem diga que essa é uma forma primitiva e amoral de existir, mas o vampiro é primitivo (e por jamais ter conspurcado sua primitivismo sobreviveu às eras melhor do que o homem) e não existe submisso à moral. Ele existe indiferente a ela.

Um vampiro existe para si mesmo, existe para acumular poder para si mesmo. O vampiro é um fim em si mesmo. Ele é o seu próprio planeta e tem sua própria gravidade.

Alguns satélites que são atraídos por sua gravidade, mas o vampiro só aceita como semelhantes (semelhante não é igual) aqueles com o mesmo nível de poder que ele. Os fracos devem ser abatidos e os fortes alcançados.

Existindo entes mais poderosos que o vampiro não angariam com isso a sua simpatia ou sua antipatia, pois o vampiro acumula constantemente forças e não as usurpa de entidade alguma. Ele sabe que forças de propriedade alheia envenenariam seu próprio poder.

O vampiro jovem é impetuoso como o tigre, se sobreviver aos séculos adquirirá a sabedoria da serpente e se conquistar os milênios se tornará majestoso como o dragão. Na infância ele gravita em torno de planetas, na idade adulta torna-se um planeta, quando ancestral se transmuta em estrela e, por fim, tornar-se-á um buraco negro.

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REFERÊNCIA FILOSÓFICA E LITERÁRIA

O CÉREBRO DO PSICOPATA (SOCIOPATA)

Os sociopatas são caracterizados pelo desprezo pelas obrigações sociais e por uma falta de consideração com os sentimentos dos outros. Eles exibem egocentrismo patológico, emoções superficiais, falta de auto-percepção, pobre controle da impulsividade (incluindo baixa tolerância para frustração e limiar baixo para descarga de agressão), irresponsabilidade, falta de empatia com outros seres humanos e ausência de remorso, ansiedade e sentimento de culpa em relação ao seu comportamento anti-social (...)

Robert Hare, um dos maiores especialistas do mundo em sociopatia criminosa, os caracteriza como "predadores intra-espécies que usam chame, manipulação, intimidação e violência para controlar os outros e para satisfazer suas próprias necessidades. Em sua falta de consciência e de sentimento pelos outros, eles tomam friamente aquilo que querem, violando as normas sociais sem o menor senso de culpa ou arrependimento".

Os sociopatas (...) são incapazes de aprender com a punição, e de modificar seus comportamentos. Quando eles descobrem que seu comportamento não é tolerado pela sociedade, eles reagem escondendo-o, mas nunca o suprimindo, e disfarçando de forma inteligente as suas características de personalidade. Por isso, os psiquiatras usaram no passado o termo "insanidade moral" ou "insanité sans délire" para caracterizar esta psicopatologia (...)

O individuo sociopata não mostra sintomas de outras doenças mentais, tais como neuroses, alucinações, delírios, irritações ou psicoses. Muito poucas pessoas mesmo após um contato duradouro com os sociopatas, são capazes de imaginar o seu "lado negro", o qual a maioria dos sociopatas é capaz de esconder com sucesso durante sua vida interia, levando a uma dupla existência. Vítimas fatais de sociopatas violentos percebem seu verdadeiro lado apenas alguns momentos antes da sua morte (...)

Os próprios sociopatas se descrevem como "predadores" e geralmente são orgulhosos disto. Eles não têm o tipo mais comum de comportamento agressivo, que é o da violência acompanhada de descarga emocional e nem ativação do sistema nervoso simpático. Seu tipo de violência é similar à agressão predatória, que é acompanhada por excitação sem emoção. Isto está correlacionado com um senso de superioridade, de que eles podem exercer poder e justificar o uso do que quer que eles sintam para alcançar seus ideais (...)

O fato dos sociopatas possuíram pouco empatia para o sofrimento dos outros tem sido demonstrado experimentalmente em muitos estudos os quais têm mostrado que eles exibem um processamento anormal de aspectos emocionais da linguagem, e que geralmente eles possuem resposta fisiológica fraca a imagens, palavras e situações de alto conteúdo emocional. Como acontece com os predadores, os sociopatas são capazes de uma atenção extremamente alta em certas situações (...)

Uma hipótese provável é que quando não existe punição, ou quando a pessoa é incapaz de ser condicionada pelo medo, devido a uma lesão no córtex órbito-frontal, por exemplo, ou devido a baixa atividade neural nesta área, então ele desenvolve uma personalidade anti-social (...)

Seres humanos normais aprendem muito cedo na vida a evitar comportamentos anti-sociais, porque eles são punidos por isso e também porque eles possuem circuitos cerebrais para associar o medo da punição à supressão do comportamento. Este parece ser um elemento chave no desenvolvimento da personalidade.

Muitas das características da personalidade dos sociopatas poderiam ser explicadas por déficits emocionais. Por exemplo: eles têm pouco afeto com os outros, são incapazes de amar, não ficam nervosos facilmente e não mostram remorso ou vergonha quando eles abusam de outras pessoas. Assim os cientistas têm feito hipóteses há muito tempo que os sociopatas têm uma deficiência em suas reações aos estímulos evocadores do medo, e esta seria a causa de sua insensibilidade e também de sua incapacidade de aprender pela experiência.

Os sociopatas não mostram alteração na freqüência cardíaca, na reação galvânica da pele e nem na freqüência respiratória quando submetidos ao stress. Esta é a razão porque eles mentem tão bem e porque eles não são detectados pelos equipamentos de detecção de mentiras.

No entanto isso não significa que os sociopatas não tenham emoções. Eles têm, mas em relação a eles mesmos, não em relação aos outros. De fato, tais indivíduos são incapazes de sentirem emoções "sociais" tais como simpatia, empatia, gratidão, etc. Isto pode explicar porque os sociopatas são tão desejosos de infligir sofrimento e dor em outras pessoas sem sentir qualquer remorso. Para eles as emoções de outras pessoas não tem qualquer importância; eles são "incapazes de construir uma similitude emocional do outro".

Indivíduos normais ativam os chamados "estados somáticos" em resposta à punição associada às situações sociais. Por exemplo, uma criança quebra alguma coisa valiosa e é punida severamente por seus pais, evocando estes estados somáticos (alterações na freqüência cardíaca e respiração, dilatação das pupilas, sudorese, expressão facial, etc.). Da próxima vez que ocorrer uma situação similar, os marcadores somáticos são ativados e a mesma emoção associada à punição é sentida. De modo a evitar isto, a criança suprime o comportamento indesejado.

Pessoas com danos no lobo frontal são incapazes de ativar estes marcadores somáticos. Isto depriva o individuo de um dispositivo automático para sinalizar conseqüências deletérias relativas a respostas que podem trazer a recompensa imediata. Isto explica também porque os sociopatas e pacientes com danos no lobo pré-frontal mostram poucas respostas autonômicas a palavras condicionadas socialmente e imagens com conteúdo emocional, mas têm respostas normais a estímulos incondicionados.

A VERDADEIRA COMPREENSÃO

As condições sob as quais sou compreendido, sob as quais sou necessariamente compreendido conheço-as muito bem. Para suportar minha seriedade, minha paixão, é necessário possuir uma integridade intelectual levada aos limites extremos. Estar acostumado a viver no cimo das montanhas e ver a imundície política e o nacionalismo abaixo de si. Ter se tornado indiferente; nunca perguntar se a verdade será útil ou prejudicial... Possuir uma inclinação nascida da força para questões que ninguém possui coragem de enfrentar; ousadia para o proibido; predestinação para o labirinto. Uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas. E um desejo de economia em grande estilo acumular sua força, seu entusiasmo... Auto-reverência, amor-próprio, absoluta liberdade para consigo... Muito bem! Apenas esses são meus leitores, meus verdadeiros leitores, meus leitores predestinados: que importância tem o resto? O resto é somente a humanidade. É preciso tornar-se superior à humanidade em poder, em grandeza de alma em desprezo...

Um doloroso e trágico espetáculo surge diante de mim: retirei a cortina da corrupção do homem. Essa palavra, em minha boca, é isenta de pelo menos uma suspeita: a de que envolve uma acusação moral contra a humanidade. A entendo - e desejo enfatizar novamente - livre de qualquer valor moral: e isso é tão verdade que a corrupção de que falo é mais aparente para mim precisamente onde esteve, até agora, a maior parte da aspiração à "virtude" e à "divindade". Como se presume, entendo essa corrupção no sentido de decadência: meu argumento é que todos os valores nos quais a humanidade apóia seus anseios mais sublimes são valores de decadência.

Trecho de "O Anticristo" de Friedrich Wilhelm Nietzsche

A MORAL É SUJEITA À SOCIEDADE

O sujeito do comportamento moral é o indivíduo concreto, mas, sendo um ser social e, independentemente do grau de consciência que tenha disto, parte de determinada estrutura social e inserido numa rede de relações sociais, o seu modo de comportar-se moralmente não pode ter um caráter puramente individual, e sim social. Os indivíduos nascem numa determinada sociedade, na qual vigora uma moral efetiva que não é a invenção de cada um em particular, mas que cada um encontra como dado objetivo, social. Esta moral corresponde a necessidades e exigências da vida social. Por esta relação entre moral e sociedade, a ética não pode prescindir do conhecimento objetivo das estruturas sociais, de suas relações e instituições.As relações econômicas influem na moral dominante numa determinada sociedade. O sistema econômico no qual a força do trabalho se vende como mercadoria e vigora a lei da obtenção do maior lucro possível gerando uma moral egoísta e individualista que satisfaz o desejo do lucro. O conhecimento desta moral

tem de se basear nos dados e nas conclusões da economia política a respeito desse modo de produção, ou sistema econômico.

Trecho de "Ética" de Adolfo Sánchez Vázquez

O INTERESSE DA SOCIEDADE É A UNIFORMIDADE

Sociologicamente falando é do interesse da sociedade que seus membros adquiram uma maneira de vida uniforme. Assim, cada sociedade procurará por meio de seus grupos de socialização inculcar em seus indivíduos os seus padrões para maior homogeneidade social. Cada indivíduo, sendo conhecedor dos modos de agir da sociedade que participa, estará então sujeito a cumprir seus próprios objetivos segundo os padrões dessa sociedade, de forma que os meios que se utilize serão reconhecidos como socialmente válidos.

Transformar o indivíduo - inicialmente apenas um organismo vivo - em pessoa humana é função primordial da sociedade dos homens. Ao processo pelo qual isso ocorre damos o nome de socialização. A importância do processo de socialização advém do fato de ser por meio dele que o indivíduo aprende os papéis que se tem na sociedade. Isso é de extrema importância, já que na aquisição desses papéis está implícito todo um conjunto de normas que resultam em uma série de obrigações, as quais implicam claramente o controle social. Controle este que se refere aos vários meios utilizados por uma sociedade (por via individual ou grupal) sobre o comportamento de seus membros, no sentido de manter-se uniformidade em relação aos padrões sociais. O controle social se constituirá sempre em um processo no qual, sob determinados estímulos, uma pessoa ou grupo serão levados a uma resposta que resultará em ajustamento. Dessa forma, podemos ver o controle social como um conjunto de princípios reguladores da sociedade, gerados pelo gru

po que regula a interação de seus membros uns com os outros e consigo próprio.

Trecho de "REFLEXÃO SOCIOLÓGICA DE 1984" de Leonardo Queiroz

A VELHA CONCEPÇÃO DE UM MUNDO MECANICISTA

O pensamento ocidental é todo estruturado em valores (...) de auto-afirmação, competição e análise, em detrimento dos valores (...) de integração, cooperação, síntese e conhecimento intuitivo. Tem como base os valores e a visão de mundo dos séculos XVI e XVII, com as descobertas de Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Isaac Newton. Pode-se falar nesse período como sendo a Idade da revolução científica, com a derrubada de mais de mil anos de aceitação da teoria geocêntrica e de dogmas da Igreja Católica.

O novo método de investigação se baseava na descrição matemática da natureza postulada por Galileu, combinada ao método de raciocínio analítico de René Descartes. Esse método considera as propriedades como forma, quantidade e movimento, que podem ser medidas e qualificadas, e excluem outras características como som, cheiro ou sabor, por serem de ordem subjetiva. Assim sendo, exclui também todas as características da sensibilidade humana, como a estética, a ética, os valores, a qualidade e a forma, e toda a gama de sentimentos e motivações que delas derivam.

Fancis Bacon, filósofo inglês, defendeu vigorosamente esse novo método empírico de investigação científica e chegou a formular uma teoria, a do procedimento dedutivo, que expressa bem o objetivo dessa nova ciência e para a qual verdadeiramente foi criada. Se, na Antiguidade, a ciência buscava a sabedoria, a compreensão da natureza e suas leis, depois do século XVII houve uma radical inversão desses propósitos. O alvo passou a ser o domínio e o controle da natureza, sem a mínima preocupação ecológica.

Segundo Bacon, a natureza deveria ser escravizada e reduzida à obediência. Para defender sua opinião não poupava termos agressivos, como extrair da natureza sob tortura todos os seus segredos, bem ao gosto da época, que era de caça às bruxas. (...).

René Descartes completou essa visão com a crença de que tudo o que há no universo pode ser descrito matematicamente e que só se deve acreditar em coisas que são perfeitamente conhecidas e sobre as quais não pode haver nenhuma dúvida.

Essa visão de mundo dividia a natureza em dois reinos separados, o da mente e o da matéria. Essa visão cartesiana fez com que o homem ocidental se identificasse apenas com a mente, provocando uma profunda cisão entre mente e corpo, interior e exterior, fragmentando todo o processo de conhecimento do mundo dividido em compartimentos isolados, que mais competem entre si do que se auxiliam. A Física clássica sem dúvida favoreceu o pleno desenvolvimento da tecnologia, mas o fez de forma unilateral, acabando por prejudicar outros setores da vida humana.

A noção newtoniana de espaços vazios, inertes e absolutos, nos quais os elementos - pontos dotados de massa que se moviam nesse espaço - deram origem a leis fixas que respondiam a todas as mudanças ou todos os fenômenos observados no mundo físico. Era por isso mesmo extremamente determinista, pois o mundo era visto como uma máquina governada por leis imutáveis e dessa maneira podia ser compreendido de forma objetiva por qualquer observador. Essa forma de compreender o mundo provinha de uma base filosófica introduzida por Descartes, que marcava a divisão entre mim e o mundo.

Nas três primeiras décadas do nosso século, a Ciência sofre uma radical transformação e mudança no rumo das suas descobertas com Albert Einstein e sua Teoria da Relatividade. Ela mexe em conceitos estruturais como tempo e espaço - conceitos básicos para a descrição dos fenômenos naturais - quebrando um dos pilares da Física Clássica, ou newtoniana (...).

Inaugura-se uma nova Física, baseada na Teoria Quântica, ou teoria dos fenômenos atômicos, desenvolvida por cientistas, vinte anos mais tarde. Nessa teoria, tempo e espaço não são vistos mais separados e são vinculados a uma concepção única. Não se pode falar em tempo sem se falar em espaço. A menor partícula que podemos imaginar na natureza, chamada partícula subatômica, se apresenta de uma forma dupla, como partícula e como onda, ou seja: como partícula, desenvolve sua natureza ondulatória, às custas de sua natureza de partícula, e vice-versa, sofrendo assim transformações contínuas de partícula para onda e de onda para partícula.

Assim, podemos dizer que nenhuma dessas partículas possui característica própria e desvinculada do seu meio. Por essa razão, sempre são descritas de forma complementar ou inter-relacionada. Ou como nos explica o físico Niels Bohr: As partículas materiais isoladas são abstrações, e suas propriedades são definíveis e observáveis somente através de sua interação com outros sistemas. Portanto as partículas não são coisas, mas interconexões entre coisas, que por sua vez são interconexões entre outras coisas.

A teoria quântica, com a sua noção de unidade básica do universo, conseguiu pôr abaixo os conceitos da Física clássica com suas noções de objetividade, de determinismo e de universo fragmentado.

O mesmo, porém não se deu em relação à Ciência da qual ela emerge, com um referencial ainda fundamentado nas bases filosóficas de René Descartes, que propõe um observador e um mundo para ser observado, um mundo fora de nós. Em ciência o homem é uma máquina; ou se não é, então não é absolutamente nada.

Com o estudo das partículas atômicas e subatômicas, a Física se torna base da ciência natural e influi em todos os setores da vida humana. Como, por exemplo, em toda a estrutura política, pela sua utilização industrial, inclusive pela sua utilização como instrumentos de poder, através de pesquisas que possibilitaram ao mundo um poderoso e perigoso arsenal bélico.

Pensar a natureza através da noção de complementaridade foi extremamente esclarecedor também para os fenômenos biológicos e psicológicos, ainda que o modelo cartesiano predomine.

As ciências naturais influenciaram também outras ciências e tecnologias, como a Biologia, a Medicina, a Psicologia e as Ciências Sociais.

Recentemente pudemos observar o movimento de alguns cientistas no sentido da unificação das ciências naturais, que tem como base a Física, com as Ciências Sociais, o que tem gerado controvérsias, mas que sem dúvida significa a esperança de um novo paradigma. Enfim, a criação de um novo background conceitual (...) o que significaria uma real (...) transformação nos rumos da humanidade.

Grandes físicos como Robert Oppenheimer, Niels Bohr e Werner Heisenberg fizeram observações a respeito dessas relações, da semelhança das características básicas da visão de mundo dessa Física cujo universo é um todo inseparável e inclui o observador. Onde tempo e espaço, matéria e vazio, objetos isolados, causas e efeitos não tem significado algum. É a Teoria Geral dos Sistemas, uma concepção de mundo baseada na inter-relação e interdependência de todos os fenômenos.

(...) A própria comunidade científica já começa a admitir que a ciência não é de forma alguma neutra, que é influenciada por valores que precisam ser reexaminados, pois a estética, a ética, a política não podem estar ausentes, nem da formação nem da prática de alguém que representa ou é porta-voz da verdade instituída.

Pois se o ideal da objetividade científica já não pode mais ser sustentado, os cientistas poderão se mostrar humanos, moral e intelectualmente responsáveis pelos seus inventos. Assim, com certeza se sentirão no dever de pensar um novo referencial, que propicie novas descobertas, sim, mas que venha a ajudar principalmente no equilíbrio das nossas estruturas sociais e políticas.

Contudo, o dualismo originado por um pensamento que separa espírito e matéria deixou sua marca e atua (...) até hoje na mente do homem ocidental e na sua forma de apreender o mundo.

Trecho de "O Caminho do Guerreiro" de Vera Lúcia Sugai

A SERVIDÃO VOLUNTÁRIA

Mas, ó Deus, o que pode ser isso? Como diremos que isso se chama? Que infortúnio é esse? Que vício, ou antes, que vício infeliz ver um número infinito de pessoas não obedecer mas servir (...) Chamaremos isso de covardia? Diremos que os que servem são covardes e moídos? É estranho, porém possível, que dois, três, quatro não se defendam (...); poder-se-á então dizer com razão que é falta de fibra. Mas se cem, se mil agüentam (...) não se diria que (...) não se trata de covardia? Ora, naturalmente em todos os vícios há algum limite além do qual não podem passar; dois podem temer um e talvez dez; mas mil, um milhão, mil cidades, se não se defendem (...), não é covardia, que não chega a isso, assim como a valentia não chega a que um só escale uma fortaleza, ataque um exército, conquiste um reino. Então, que mostro de vício é esse que ainda não merece o título de covardia, que não encontra um nome feio o bastante, que a natureza nega-se Ter feito, e a língua se recusa nomear?

Trecho do "Discurso da Sevidão Voluntária" de Pierre Leonárd

A COMPAIXÃO

A compaixão está em oposição a todas as paixões tônicas que aumentam a intensidade do sentimento vital: tem ação depressora. O homem perde poder quando se compadece. Através da perda de força causada pela compaixão o sofrimento acaba por multiplicar-se. O sofrimento torna-se contagioso através da compaixão; sob certas circunstancias pode levar a um total sacrifício da vida e da energia vital - uma perda totalmente desproporcional à magnitude da causa (...) A compaixão contraria inteiramente lei da evolução, que é a lei da seleção natural. Preserva tudo que está maduro para perecer; luta em prol dos desterrados e condenados da vida; e mantendo vivos malogrados de todos os tipos, dá à própria vida um aspecto sombrio e dúbio. (...) Através a compaixão a vida é negada, e tornada digna de negação (...) Permita-me repeti-lo: esse instinto depressor e contagioso opõe-se a todos os instintos que se empenham na preservação e aperfeiçoamento da vida (...) compaixão persuade à extinção (...) É claro, ninguém diz "extinção": dizem "o outro mundo", "Deus", "a verdadeira vida", Nirvana, salvação, bem-aventurança (...) O instinto vital deveria nos incitar a buscar meios de alfinetar quaisquer acúmulos patológicos e perigosos de compaixão (...) para que ele estoure e se dissipe... Nada é mais insalubre, em toda nossa insalubre modernidade, que a compaixão cristã.

Trecho de "O Anticristo" de Friedrich Wilhelm Nietzsche

A NEGAÇÃO DO QUE É NATURAL

Denomino corrompido um animal, uma espécie, um indivíduo, quando perde seus instintos, quando escolhe, quando prefere o que lhe é nocivo. Uma história dos "sentimentos elevados", dos "ideais da humanidade" - e é possível que tenha de escrevê-la - praticamente explicaria por que o homem é tão degenerado. A própria vida apresenta-se a mim como um instinto para o crescimento, para a sobrevivência, para a acumulação de forças, para o poder: sempre que falta a vontade de poder ocorre o desastre. Afirmo que todos os valores mais elevados da humanidade carecem dessa vontade - que os valores de decadência, de niilismo, agora prevalecem sob os mais sagrados nomes.

Trecho de "O Anticristo" de Friedrich Wilhelm Nietzsche

O DEUS DE ISRAEL

A história de Israel é inestimável como uma típica história de uma tentativa de deturpar todos os valores naturais: exponho três fatos corroboram isso. Originalmente, e acima de tudo no tempo da monarquia, Israel manteve uma atitude justa em relação às coisas, ou seja, uma atitude natural. O seu Iavé era a expressão da consciência de seu próprio poder, de sua alegria consigo mesmo, da esperança que tinha em si: através dele os judeus buscavam a vitória e a salvação, através dele esperavam que a natureza lhes desse tudo que fosse necessário para sua existência - acima de tudo, chuva. Iavé é o Deus de Israel e, conseqüentemente, o Deus da justiça: essa é a lógica de toda raça que possui poder em suas mãos e que o utiliza com a consciência tranqüila. Na cerimônia religiosa dos judeus ambos aspectos dessa auto-afirmação ficam manifestos. A nação é grata pelo grande destino que a possibilitou obter domínio; é grata pela benéfica regularidade na mudança das estações e por toda a fortuna que favorece seus rebanhos e colheitas. - Essa visão das coisas permaneceu ideal por um longo período, mesmo após ter sido despojada de validade tragicamente: dentro, a anarquia, fora, os assírios. Mas o povo ainda conservou, como uma projeção de sua mais alta aspiração, a visão de um rei que era ao mesmo tempo um galante guerreiro e um decoroso juiz - foi conservada sobretudo por aquele profeta típico (ou seja, crítico e satírico do momento), Isaías. - Mas toda a esperança foi vã. O velho Deus não podia mais fazer o que fizera noutros tempos. Deveria ter sido abandonado. Mas o que ocorreu de fato? Simplesmente isto: sua concepção foi mudada - sua concepção foi desnaturalizada; esse foi o preço que tiveram de pagar para mantê-lo. - Iavé, o Deus da "justiça" - não está mais de acordo com Israel, não representa mais o egoísmo da nação; agora é apenas um Deus condicionado... A noção pública desse Deus agora se torna meramente uma arma nas mãos de agitadores clericais, que interpretam toda felicidade como recompensa e toda desgraça como punição em termos de obediência ou desobediência a Deus, em termos de "pecado": a mais fraudulenta das interpretações imagináveis, através da qual a "ordem moral do mundo" é estabelecida e os conceitos fundamentais, "causa" e "efeito", são colocados de ponta cabeça. Uma vez que o conceito de causa natural é varrido do mundo por doutrinas de recompensa e punição, algum tipo de causalidade inatural torna-se necessária: seguem-se disso todas as outras variedades de negação da natureza. Um Deus que ordena - no lugar de um Deus que ajuda, que dá conselhos, que no fundo é meramente um nome para cada feliz inspiração de coragem e autoconfiança.

A moral já não é mais um reflexo das condições que promovem vida sã e o crescimento de um povo; não é mais um instinto vital primário; em vez disso se tornou algo abstrato e oposto à vida - uma perversão dos fundamentos da fantasia, um "olhar maligno" contra todas as coisas. Que é a moral judaica? Que é a moral cristã? A sorte despida de sua inocência; a infelicidade contaminada com a idéia de "pecado"; o bem-estar considerado como um perigo, como uma "tentação"; um desarranjo fisiológico causado pelo veneno do remorso.

Trecho de "O Anticristo" de Friedrich Wilhelm Nietzsche

O PODER E O ACUMULAR DE FORÇAS

O que é bom? Tudo que aumenta, no homem, a sensação de poder, a vontade de poder, o próprio poder.

O que é mau? Tudo que se origina da fraqueza.

O que é felicidade? A sensação de que o poder aumenta de que uma resistência foi superada.

Não o contentamento, mas mais poder; não a paz a qualquer custo, mas a guerra; não a virtude, mas a eficiência.

Os fracos e os malogrados devem perecer: primeiro princípio de nossa caridade. E realmente deve-se ajudá-los nisso.

O que é mais nocivo que qualquer vício? A compaixão posta em prática em nome dos malogrados e dos fracos

A VERDADEIRA AFIRMAÇÃO DE PODER

- O verdadeiro poder, o poder pelo qual temos de lutar dia e noite, não é o poder sôbre as coisas, mas sôbre os homens.

Fez uma pausa e por um momento tornou a assumir o ar de mestre-escola interrogando o aluno esperto:

- Como é que um homem afirma o seu poder sôbre outro, Winston?

Winston refletiu.

- Fazendo-o sofrer.

- Exatamente. Fazendo-o sofrer. A obediência não basta. A menos que sofra, como podes ter certeza de que êle obedece tua vontade e não a dêle? O poder reside em infligir dor e humilhação. O poder está em se despedaçar os cérebros humanos e tornar a juntá-los da forma que se entender. Começas a distinguir que tipo de mundo estamos criando?

Trecho de "1984" de George Orwell

A GUERRA É OPOSIÇÃO À SUBMISSÃO

Deve, pois, um príncipe não ter outro objetivo nem outro pensamento, nem tomar qualquer outra coisa por fazer, senão a guerra e a sua organização e disciplina, pois que é essa a única arte que compete a quem comanda. E é ela de tanta virtude, que não só mantém aqueles que nasceram príncipes, como também muitas vezes faz os homens de condição privada subirem àquele posto; ao contrário, vê-se que, quando os príncipes pensam mais nas delicadezas do que nas armas, perdem o seu Estado. A primeira causa que te faz perder o governo é negligenciar dessa arte, enquanto que a razão que te permite conquistá-lo é o ser professo da mesma.

Francisco Sforza, por estar armado, de cidadão privado que era, tornou-se duque de Milão; os filhos, para fugir às fadigas das armas, de duques passaram a simples cidadãos privados. Porque, entre as outras razões que te acarretam males, o estar desarmado te obriga a ser submisso, e isso é uma das infâmias de que um príncipe se deve guardar.

Trecho de "O Príncipe" de Nicolau Maquiavel

O ENGANO NA GUERRA

A arte da guerra se baseia no engano. Portanto, quando és capaz de atacar, deves aparentar incapacidade e, quando as tropas se movem, aparentar inatividade. Se estiveres perto do inimigo, deveis fazê-lo crer que estás longe; se longe, aparentar que se está perto. Colocar iscas para atrair ao inimigo. Golpear o inimigo quando está desordenado. Preparar-se contra ele quando está seguro em todas partes. Evitá-lo durante um tempo quando é mais forte. Se teu oponente tem um temperamento colérico, tente irritá-lo. Se é arrogante, trata de fomentar seu egoísmo. Se as tropas inimigas se acham bem preparadas após uma reorganização, tenta desordená-las. Se estiverem unidas, semeia a dissensão entre suas filas. Ataca o inimigo quando não está preparado, e aparece quando não te espera. (...) Se conheceres os demais e te conheces a ti mesmo, nem em cem batalhas correrás perigo; se não conheces os demais, porém te conheces a ti mesmo, perderás uma batalha e ganharás outra; se não conheces a os demais nem te conheces a ti mesmo, correrás perigo em cada batalha.

Trecho de "A Arte da Guerra" de Sun Tzu.

CITAÇÕES

"Uma sociedade de carneiros acaba por gerar um governo de lobos".

Victor Hugo

"Todo o mal vem da fraqueza".

Jean-Jacques Rousseau

[OBS: De igual modo "todo bem vem da força (poder)"]

"Prefiro morrer [em pé] a viver de joelhos".

Franklin D. Roosevelt

"Por que você se assusta? O que acontece para a árvore, acontece também para o homem. Quanto mais deseja elevar-se para as alturas e para a luz, mais vigorosamente enterra suas raízes para baixo, para o horrendo e profundo: para o mal".

Friedrich Wilhelm Nietzsche

"Amor: uma perigosa doença mental".

Platão

"Quem é sábio pode serenamente admitir aparências de tolo; mas o tolo tem de evitar solicitamente essas aparências e assumir ares de sábio, para que a sua pseudo-sapiência não sucumba ao impacto da sua insipiência".

Mahatma Gandhi

"Ou os homens são bons , ou os homens são maus. Se são bons, então não precisam do Estado e das leis. Se são maus, não podem ter Estado nem leis".

Aristóteles

[OBS: Por uma questão de coerência lógica, admitir o homem como mau é admitir a conseqüência que não pode governar, e será a negação do Estado e do Governo, de todo Poder instituído, pois se tu vês os humanos assim, e tu também és humano, fazes parte deste conjunto, então tu és mau, como todos os homens. Logo, se todos os homens são maus e fazem o mau, seria eleito para governar e castigá-los de cima, um destes homens maus. Então ele fará o mau com seu poder sobre os outros. Não te enganes com a abstração do Estado, pois o chefe de estado será um homem mau; nem te justifiques com as leis, pois seriam escritas por políticos profissionais, que são homens maus. Entretanto, por outro lado, já se acreditares que o homem é bom, pode viver em liberdade , pois reinará a amizade e solidariedade, sendo o Estado e as leis desnecessárias, inúteis.]

"Para mim, o consenso parece ser o processo de abandono de todas as crenças, princípios, valores e políticas para se buscar algo em quem ninguém acredita"

Margaret Thatcher

[OBS: O consenso, a concordância, a unanimidade certamente são os fundamentos da sociedade atual, onde todos devem ceder no interesse da sociedade]

Pergamasco
Enviado por Pergamasco em 05/05/2005
Código do texto: T14842