Obsessão MATA!!!

Esta me aconteceu quando eu trabalhava no supermercado (prefiro omitir o nome da empresa para não ter problemas).

Eu trabalhava como operador de caixa, mais ou menos oito horas por dia, ou quase doze nos dias de grande movimento. Era engraçado, mas por mais que eu odiasse aquele trabalho nunca deixei que isto influenciasse no meu atendimento: eu sabia, ou alguma parte de mim o sabia, que as outras pessoas não tinham nada com minha frustração.

Naquela época meu maior sonho era ser fiscal (aquele pessoal que anda de patins de um lado para o outro, você deve conhecer). Eu simplesmente admirava meus colegas fiscais, e sempre fiz o melhor que pude para ser promovido.

Cheguei até mesmo a exercer a função, de forma não oficial, por quase um mês; mas, por certas rixas com outra fiscal, acabei sendo colocado novamente no caixa.

Ser rebaixado atraiu sobre mim um efeito totalmente maléfico: eu estava magoado e queria magoar os outros, eu simplesmente não suportava a idéia de ter perdido aquilo que eu mais queria, aquilo que era MEU por direito. Não me entrava na cabeça o fato de alguém exercer tanta influência na minha vida simplesmente por inveja.

Minha raiva começou a refletir não somente na minha vida profissional (pois comecei a ser grosso com clientes e colegas) mas também na minha vida social, entre numa espécie de “depressão pós rebaixamento” – em casa preferia ficar no quarto reclamando, ou quieto no meu canto. Com meus amigos eu era curto e grosso, e com minha namorada me tornei um verdadeiro monstro.

Não ter atingido meu objetivo fez com que todas as outras coisas que eu já possuía se afastassem de mim – e tudo ia piorar bastante.

Um mês depois foram abertas três vagas para fiscal de caixa na loja onde eu trabalhava. Foram escolhidos oito nomes, nenhum foi divulgado. Mas eu sabia que o meu nome corria entre os candidatos, e estava muito bem cotado.

Por alguma artimanha da mesma colega (se é que posso chamar assim) novamente eu não fui selecionado -desta vez, não só minhas relações, mas minha saúde se prejudicou.

Acordei uma madrugada com uma forte dor no peito, não conseguia nem me mover direito, e meu braço esquerdo doía levemente. Meus pais me levaram ao médico e acabamos descobrindo que eu estava para ter um ENFARTE! Minha pressão chegara à 17 ( o segundo valor eu não lembro).

Exatamente, não ter meus sonhos concretizados quase me matou. Eu me envenenava a cada dia e sabia disto. Mas não conseguia fazer nada a respeito. Parecia que aquele monstro ia me destruir por completo; de fato, ele me devorava lentamente, até atingir as entranhas de minha alma.

Foi numa terça feira, se me lembro bem, que um de meus chefes me chamou para conversar. Ele estava preocupado comigo, eu já não era mais o mesmo, não me dedicava como antes, e praticamente agia como uma estátua.

Quando ele fechou a porta, quase chorei.

Eu me sentia pequeno, já estava lá a dois anos, e o caixa estava me matando. Eu simplesmente não suportava a idéia de não ser escolhido.

Ele sorriu para mim, eu achei que ele não estava dando a mínima.

Meu chefe me mandou abrir o armário, puxei o molho de chaves e girei, tendo que puxar a porta levemente enferrujada.

No fundo, protegido por uma caixa modesta com o símbolo da empresa, estava um par de patins.

Os meus patins.

Meu sonho não estava tão distante assim.

Ainda guardo lembranças daquela época, como um álbum de fotos antigas no fundo do armário. Um ano e meio depois fui convidado a me tornar vice chefe da frente de caixa –pois eu era o melhor fiscal da equipe.

Meus sonhos nunca me destruíram, mas minha obsessão quase conseguiu.