A casa - I

É que agora – aqui dentro – a casa foi ficando meio empoeirada, como se toda essa mobília sentimental não tivesse sendo mais usada, a janela foi deixada aberta e tanto vento foi passando, levando as cores dos retratos e deixando o pó como ressarcimento.

Aqui em casa não tem mais conforto, tudo virou incômodo, e às vezes nem em casa eu me sinto.

Não tem mais abraço, não tem mais teto para pintar de sonhos toda a noite, nem tapete colorido para deitar no domingo.

Tudo daqui foi sumindo, não tem mais ninguém nessa casa, só um eco se espalha quando eu volto e os passos ficam rangendo o assoalho, e fica uma sensação estranha de ver cinza onde tudo foi festa e euforia.

Na porta de entrada eu sempre pedia um beijo, até que um dia o beijo foi de despedida.

Cáh Morandi.........

p/ Valeria Oliveira