A Escolha é Sempre Sua!
 
            A psique humana é um paradoxo que ora nos apresenta inenarráveis pesadelos e outra nos brinda com pérolas do conhecimento humano que hão de desafiar qualquer moderna filosofia.
            Costumeiramente se me aprisionava a questões funestas, sendo vítima, prisioneiro, ou, o mais frequente, testemunha de eventos assombrosos que ousei descrever em minúcias através de textos e contos fantásticos em uma espécie de diário do fim do mundo, ou, mais apropriadamente do fim de um modo de viver e de pensar.
            Nenhuma metamorfose se faz de modo instantâneo e o Ser que transmuda, mesmo o homem, atravessa fases que são, a princípio, sutis aos olhos menos avisados. Sinto como se abandonasse uma capa densa e pesada, ficando registrada nos anais dos meus textos aquele período de negritude, o que não indica que novos fatos, relatos e testemunhos venham a brotar do inconsciente. Muito há que se limpar do poço de lodo, que por séculos criamos em nosso íntimo, antes que brote o diamante limpo das entranhas de nossa alma.
            Comumente, como prova disso, caímos em múltiplos pequenos equívocos que se manifestam através de um tom de voz mais áspero, sarcástico, ou até mesmo de palavras menos dignas. Para que surja o novo Ser, deve o velho morrer, como um cadáver que afunda no rio putrefato, sendo que o mesmo luta com todas as suas forças para manter-se na superfície e no ditame dos eventos humanos. Afoga-te ser, afoga-te, grita o novo elemento observando o acontecimento à margem do drama do seu duplo Eu. Mas o novo Ser, de tão bom, às vezes estende a mão ao antigo que, usando desse artifício, ainda sobrevive antes que evapore diante da força inevitável do progresso.
            Em um transcurso psíquico reluzente, vi-me novamente sobre os homens e os eventos, pairando sobre superfícies que tinham as cores dos mais diversos matizes. Seriam nuvens, mas eram mais sólidas e definidas, dançando sob os nossos pés como se fosse um curso d´água multicolorida e estimulante, mas que nos sustentava o peso.
            Na proximidade ouvia os conselhos nobres de um guia amoroso, cuja fonte de sabedoria parecia ser inesgotável. O guia contava uma história:
            - São muitas pessoas semelhantes aos vermes. Arrastam-se pelo mundo, escondendo-se de si mesmos, temerosos em enfrentar os eventos da vida, relutando em correr os menores riscos, abrigando-se, por vezes, até diante da própria sombra. Caminham assim, em meio à extrema cautela, evitando as experiências que, apesar de poder fazê-los sofrer, também seriam muito úteis no processo de crescimento interior. E, como vermes psíquicos, demoram-se a crescer e a evoluir, permanecendo estacionados por muitos anos nos cursos primários da vida...
            - Outros, no entanto, ousam sair dos próprios ninhos, batem as asas e alcançam as nuvens. Sabem dos riscos, dos perigos, das suas limitações, mas estão dispostos a pagar o preço pela ousadia e não abrem mão de sua liberdade. Lutam contra os predadores, desafiam o vento e as tempestades. Adquirem músculos psíquicos que possibilitam crescer em espiral diante da vida. Sabem que acima de si está um ser superior, que, como faz o sol, ilumina as suas existências. Mesmo que caíam, abatidos por alguma atribulação do ambiente, reerguem-se e tornam a voar. Não se intimidam diante dos percalços do caminho que reconhecem como naturais...
            Diante de tanta sabedoria eu me encontrava em êxtase, sem poder divisar os traços fisionômicos do meu guia, que sabia apenas estar envolto em tremenda luminosidade. Arrematando seu discurso, concluiu:
            - Não sei se tu és o verme ou aquele que escolhe voar, apenas você sabe a resposta. E, de qualquer forma, tenha a absoluta certeza: a escolha é sempre sua!
 
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