Eu desejo arriscar na escrita!

Sempre imaginei que um dia me sentaria nessa antiga cadeira de palha, com almofadas de crochê, para ficar olhando a vida passar. Não, isso não. Justo agora que passei dos quarenta? E, se bem me lembro nunca fui de ficar na passividade. Isso não faz parte de mim. Mas vejam só! É justamente isso que fiz. É digo fiz, há um minuto, pois agora já me levantei e estou aqui escrevendo essas passagens. Mas antes de qualquer outra coisa, devo dizer que nesses minutos que fiquei ali parada, eu viajei longe, muito longe, e foi ótimo!

Em primeiro lugar devo dizer que de vez em quando é muito bem-vinda a ociosidade, principalmente se nos últimos tempos a correria tem machucado os pés, as mãos, os olhos e a alma. Tem feito gastar muita sola de sapato, muito combustível. Já imaginou se o desgaste das ruas e das calçadas fossem visíveis ??

Pensando bem, se as coisas já tomaram esse aspecto, é conveniente repensar algumas outras. Quem sabe até dar uma caminhada na calçada em frente de sua casa? E quem sabe até cumprimentar o gato (animal mesmo) do vizinho, já que o vizinho também não tem tempo para isso. Você já reparou que cor tem a casa em frente à sua? Duro é quando não enxergamos mais as cores, nem as claras nem as escuras, muito menos os matizados.

Pior ainda é quando não enxergamos mais nada, a não ser o trabalho, o corre-corre, o relógio,etc...nosso umbigo, mundinho egoísta...

Pior ainda quando não ouvimos mais nada, a não ser o toque do telefone celular, o alarme do carro, as freadas de pneus enfurecidos, etc...os xingamentos...

Hoje é um dia como outro qualquer. Qualquer dia como outro qualquer, ou qualquer outro como esse mesmo dia. Como definir isso afinal, se tudo se parece como ontem, que é o hoje de amanhã? Já pensou nisso também?

Para que tudo isso afinal de contas? Vamos parar um pouquinho por aqui. Desacelerar, e refletir sobre isso. Para que afinal estamos vivendo assim? Para se obter um maior rendimento salarial? Isso é preciso, sem dúvidas. Mas para que todo esse atropelo? É para chegar mais cedo, sair mais cedo? Ora, o tempo não muda, é sempre o mesmo, pelo menos em tese – então fiquemos com essa idéia. Quem corre somos nós, atrás de uma coisa que parece estar cada vez mais longe de nós e quando percebemos ficamos para trás mais uma vez e assim nos colocamos numa corrida absurda contra nosso próprio tempo.

Bem, se o problema é correr atrás do tempo, então porque não parar aqui mesmo e esperar que na próxima volta, consigamos agarrar o tempo e segurá-lo em nossas rédeas.

Impossível? E o que te leva pensar assim? Talvez seja tua falta de tempo para parar e pensar melhor, repensar teu tempo.

Minhas filhas, uma no Mestrado e outra no último ano da faculdade, todos os dias me fazem perceber como é estressante lidar com tanto xérox, tantos textos que mais enchem caixas de papelão do que resultam em conhecimento, algumas vezes, eclareça-se isso. Bom mesmo é ter tempo para ler, tranquilamente. E é isso que quero passar para você.

Feliz é aquele que sabe ler, que pode ler, que tem tempo para ler. Que tem olhos para leitura e sabe aproveitá-los.

Lembro-me da minha fase de universidade, sempre havia uma enxurrada de textos selecionados, que mais interessavam ao professor cumprir conteúdo que despertar no aluno o entendimento do texto. Ainda hoje tenho guardadas, pelo menos umas vinte caixas grandes desses textos.

Sorte que meu interesse sempre foi por livros, na íntegra, senão...

Acredito desde então que nossa falta de leitura é resultante da falta da escrita, uma vez que quase todos se enchem de fotocópias e esquecem a caneta e o caderno. Perdem o domínio da escrita bem feita e conseqüentemente a habilidade para criar frases, versos, etc. É um desastre só o que se vê em épocas de vestibulares. Note bem você aí. O que mais oferece insegurança aos candidatos? O tema da redação? Então vejamos bem isso aí. O tema oferece certo grau de insegurança, pois nunca se sabe de antemão o que será solicitado no dia “D”. Mas penso que a questão do tema em si, não oferece o receio maior, pois quem lê revistas, jornais, assiste noticiários, documentários, etc., terá condições de comentar o tema/assunto. O que acontece, muitas vezes, ou na maioria das vezes é que o candidato não sabe colocar as palavras no papel. Não consegue transferir do pensamento para a escrita, as idéias que vêm (e são muitas). Nesse momento, não domina a organização das palavras de modo adequado e coerente, para poder se fazer entender. A grande dificuldade, então, não é o tema, mas sim escrever esse tema.

Isso, acredito é justificado pela falta do hábito da escrita, que é estimulada pela leitura. E quando falo em escrever, refiro-me ao ato de pegar uma caneta ou um lápis, uma folha em branco e criar textos que possam ser entendidos por todos.

Agora, eu fico aqui perguntando sobre essas coisas sem saber se você tem tempo para respondê-las. É, porque se tudo está tão corrido, talvez nem tenha tempo para ler isso, não é mesmo?

Mas o fato é que eu desejei arriscar!

NENINHA ROCHA
Enviado por NENINHA ROCHA em 08/05/2006
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